INEXPRESSÃO



Mais um cachorro morto e dessa vez em frente ao ponto de ônibus, o intestino dele pra fora tem o mesmo cheiro que o hálito podre da pessoa a minha frente que também está a espera do coletivo, também esperando pra cumprir as 8 horas de trabalho, também a espera do salário pra pagar a conta do telefone, também a espera de um ônibus não muito cheio....
E enquanto o ônibus não chega permanecemos lá, ao lado do cachorro com o intestino pra fora, incrível como os mortos vivos não se incomodam com o cão morto com a boca arreganhada e com a merda e o sangue saindo do seu cu. O único ser vivo que vejo tão incomodado quanto eu com o cão morto é justamente outro cão que passa e da uma cheirada e uma lambida na boca aberta do falecido...
E o ônibus finalmente chega, subo, felizmente tem um banco disponível, sento abro um livro já na página 75 e sigo pra cumprir as horas determinadas por sabe lá quem; Mas ainda tenho a imagem do cão na cabeça, amanhã mudarei de ponto.

Autor: Janaina Nunes


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