Um País de Mentiras e de Mentirosos









CONSIDERAÇÕES



O objetivo do presente trabalho é descrever as vária mentiras que têm sido divulgadas desde a época do descobrimento do Brasil até os nossos dias.

Para tanto resolvi desenvolvê-lo em várias épocas conforme abaixo:

- descobrimento;
- colonização;
- escravidão;
- monarquia (reinado e império);
- república velha;
- nova república.

















UM PAÍS DE MENTIRAS & DE MENTIROSOS




AUTOR: MARCOS MARINHO
Data: MARÇO/2004













APRESENTAÇÃO




A
idéia de escrever este livro surgiu, quando indignado com uma série de observações em fatos comentados nos diversos veículos de comunicação de nossa mídia escrita e falada em:

a) entrevistas concedidas por políticos candidatos ou não a cargos públicos;
b) empresários comprometidos com o sistema, pertencentes a uma elite brasileira;
c) comentaristas políticos e econômicos;
d) artistas/apresentadores "pseudos-intelectuais",
e) historiadores e,
que não têm a coragem de desmentir esses fatos ou até mesmo de darem sua opinião pessoal sobre os diversos assuntos de interesse da opinião pública, transmitem os mesmos, para uma maioria desinformada, com promessas que jamais serão cumpridas, distorcem a verdade e até inventam frases atribuídas a intelectuais ou estadistas como a atribuída ao presidente francês Charles Degoulle de que "O BRASIL NÃO É UM PAÍS SÉRIO", verdades essas que só estão a vista para as pessoas que estão realmente interessadas no desenvolvimento sócio-econômico e cultural do nosso país.

Essa idéia se fortaleceu mais quando ao pesquisar o assunto em livrarias me deparei com um livro com o seguinte título: MENTIRAS E OS GRANDES MENTIROSOS QUE AS CONTAM ? AL FRANKEN ? W11 EDITORES LTDA ? SÃO PAULO ? SP.

Nesse livro, que Michael Moore classificou como leitura obrigatória para todos o que se empenham pela democracia e pela transparência das opiniões políticas, AL FRANKEN exercita sua imaginação subversiva sobre a cena política contemporânea, que desmascara todas as ações da direita americana e da mídia que a acompanha na descarada tarefa de ludibriar audiências e eleitores (qualquer semelhança com outros países que conhecemos é mera coincidência).
Inspirei-me também, para esse estudo em frases publicadas na imprensa escrita ou divulgada pela mídia de um modo geral, como as seguintes:

"As grandes massas do povo são mais facilmente vitimadas por uma mentira grande do que por uma mentira pequena" (1).
"A sociedade tem até mesmo o direito de errar. Pois como diria o filósofo espanhol, Unamuno, "mais vale o erro em que se crê do que a realidade em que não se crê pois não é o erro, e sim a mentira que mata a alma".
"Mentira é a religião dos escravos e senhores" ? Gorki (2).
"Com relação à política para o turismo no Brasil: "ou seja; não têm política, mentem, enrolam, jogam, brincam e não planejam " (3).
"As mentiras rolam, das bocas dos senadores como a vazão dos rios amazônicos na cheia" (4).
"O Brasil é uma farsa. É uma falsa democracia porque não é uma democracia ......A democracia racial é outra farsa......A economia também é uma farsa......"(5).
"È preciso esperar o bolo crescer para depois repartir" (6).
"Forças ocultas me obrigaram a renunciar"(7).
"Saio da vida para entrar na história"(8).
"Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação diga ao povo que fico" (9).
"Esse negócio de reeleição foi realmente a única reforma política que testemunhei na minha existência, as outras eram ou mentirosas , ou parciais, ou efêmeras"...10).
"Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás"(11).
"Como ex-presidente, FHC é perfeito. Mente com categoria em relação ao governo que fez as ponto de ninguém ter como desmentir" (12).
"No meu governo serão criados 10.000.000 de empregos"(13).
"No meu governo serão criadas as condições para a criação de 10.000.000 de empregos (14).
"Mas a elite não engole estar se dando tão bem com esse governo, deve ter medo de ser feliz. Mentira, mentira, como disse o ex-deputado e futuro deputado Severino"(15).

"Alguém se recorda do principal argumento para as privatizações no governo passado, o único exemplo conhecido no mundo de venda do patrimônio do Estado financiado pelo próprio Estado? A desculpa pela pressa e para a pressa e para os métodos nada transparentes? Elas iriam abater a dívida pública, que depois só se multiplicou A razão era hipócrita, mas da categoria da hipocrisia crônica, comum, sem apoteose. Portanto do tipo que ninguém lembra, ou cobra."(16).
"Políticas e mentiras via web: "Claro, o ex-diretor (Furnas) vai mentir , vai negar, mas, creio, melhor assim do que deixar no ar assunto de tal magnitude pairando dúvidas"
"O país não tem um projeto, não tem partidos que façam projetos. Não tendo projetos, eu não sei para onde vou. Não sei qual é a melhor política." (17).
"Compreendemos os problemas relacionados aos custos públicos, privados e domiciliar do aumento, mas existem mecanismos de compensação possíveis. Só não aceitamos a cantilena enfadonha e mentirosa do défict da seguridade social (com relação ao aumento real do salário mínimo)" (18).

(1) Frase do ditador Hitler.
(2) Publicado no jornal A TARDE (SSA/BA), sob o título: Inflação "de novo" no Brasil ? Marco Luna.
(3) Publicado no jornal A TARDE (l4.11.98 ?SSA/BA).
(4) Mentiras e Roubos ? Márcio Moreira Alves ? jornal A TARDE (SSA/BA).
(5) Joel Silveira ? jornalista ? Revista ISTOÉ número l825 (29.09.04).
(6) Delfim Neto ? Revista ISTOÉ número l825 (29.09.04).
(7) Jânio Quadros (1961).
(8) Getúlio Vargas ? Carta Testamento (1954).
(9) D. Pedro I.
(10) João Ubaldo Ribeiro ? publicada no jornal A TARDE (10/10/2004).
(11) De acordo com Tirso W. Saenz, vice-ministro da pasta de economia de Cuba amigo e confidente de Che Guevara, essa frase nunca foi dita por ele.
(12) João Ubaldo Ribeiro ? publicado em sua coluna no jornal A TARDE de 20/1/05.
(13) Promessa feita pelo presidente Lula, segundo a imprensa de um modo geral e políticos da oposição.
(14) Segundo palavras do presidente veiculadas nos jornais noturnos da rede Globo em 07.12.05.
(14) Publicado no coluna de João Ubaldo Ribeiro no jornal A TARDE (SSA) em 25.09.2005.
(15) Luis Fernando Veríssimo: publica do na coluna Veríssimo do jornal A TARDE do dia 05.02.06.
(16) Samuel Celestino: publicado no jornal A TARDE de 05.02.06.
(17) Elimar Pinheiro do Nascimento (sociólogo, prof. Da UnB) publicado no jornal A TARDE em 02.03.06.
(18) Heloísa Helena, senadora, publica da na revista ISTOÉ nº 1903 de 12/04/06.




























INTRODUÇÃO




UM PAÍS DE MENTIRAS E DE MENTIROSOS (*)


A
imprensa de um modo geral tem exaltado o "milagre econômico" ocorrido no Brasil com a implantação do Plano Real, que como conseqüência trouxe a falsa impressão que houve uma melhora de vida para a classe média baixa e as classes menos favorecidas.

Pessoalmente acho que os artistas que criaram esse plano até agora só têm os seguintes méritos: a falsa estabilidade dos preços, pois na realidade o que existe é uma liberação dos preços e é só se fazer uma pesquisa séria para se constatar tal fato; um efeito psicológico muito grande, levando a crer que os produtos estão baratos quando na verdade estão superfaturados; a falsa idéia de que possuímos uma moeda forte, equiparada ao dólar, quando qualquer iniciante em economia não pode imaginar que uma economia em desenvolvimento, simplesmente exportadora de produtos agrícolas pode ter uma moeda forte. O exemplo está aí pelas recentes cotações da moeda americana.

E dá-se o "milagre". De repente os "descamisados?? e excluídos passam a viajar mais; sua mesa passa a ser mais farta, pois farta tudo. Acontece o "milagre" do frango e do iogurte. Até os pobres estão podendo colocar dentadura, sem dúvida para sorrir de alegria e felicidade pelo "milagre econômico".

Diariamente somos informados pela imprensa escrita, falada e televisada do crescente número de inadimplência , no comércio, de um modo geral, e do crescente número de cheques sem fundos nas diversas praças. Uma melhor distribuição de renda, quero crer, implica diretamente no aumento do poder aquisitivo.

Acreditar que está havendo uma melhor distribuição de renda é acreditar que a grande maioria do povo brasileiro (não incluindo aqui os políticos) é caloteira por natureza.

Desde os tempos do ilustre deputado Delfim Neto, então ministro da área econômica, se não estou enganado, que os "luminares" de nossa economia vinham apregoando que os responsáveis pelos problemas inflacionários eram os reajustes salariais (que na verdade não são aumentos e sim reposição de perdas) bem como o crédito fácil para o consumidor , daí as medidas restritivas aos mesmos.

Atualmente contêm-se os salários e liberam-se os preços e o crédito ao consumidor e o "milagre" acontece: a queda constante da inflação. Será que mudou o Natal ou mudamos nós ?

A recente política dos supermercados de vender gêneros alimentícios a prazo em prejuízo dos feirantes e pequenos comerciantes do setor se deve ao aumento da distribuição de renda ou pela falta da mesma? As classes menos favorecidas que ganham o piso salarial, quando ganham, e que não possuem contas bancárias, estão deveras se alimentando melhor. O povo está comprando para pagar a prazo é por que sua renda melhorou, ou para ter acesso aos bens que se não fosse por essa forma nunca teriam?

Recordo-me de algumas medidas políticas que em suas épocas se diziam necessárias para dar governabilidade ao Brasil e que na realidade só serviram para fortalecer as corporações políticas e econômicas, senão vejamos: os seis anos para o Sarney, que depois resultaram em cinco (e não é que tem gente que está querendo a sua volta); a constituição de 1988, que mesmo antes de serem regulamentados os seus artigos já estão precisando de reformas; privatizar ou não privatizar as empresas estatais, etc.

Agora as nossas sumidades políticas descobriram a pólvora querendo institucionalizar a figura da reeleição (o que de fato conseguiram) não para favorecer o desenvolvimento do país e sim para garantir suas corporações e privilégios. Devo esclarecer, no entanto, que não sou contra a instituição da medida para aplicação em um país sério o que não é o nosso caso.

Feito esse desabafo devo salientar que é preciso que se conscientize o nosso povo, levando a esse a informação correta e não distorcendo os fatos para garantir privilégios e publicidades pagas, e a imprensa tem que ter um importante papel nesse momento.
Esse livro tem ainda como objetivo mostrar para os interessados na formação da opinião pública, que esses fatos, até mesmo históricos, vêm se repetindo ha séculos, sendo responsáveis pela má informação de nosso povo o que tem contribuído para o atraso no nosso desenvolvimento econômico e sócio-cultural.

Diante do exposto procuramos estudar os acontecimentos ocorridos desde o descobrimento (?) do Brasil até nossos dias e que tem contribuído para o descrédito dos nossos homens públicos e que dirigem o destino do nosso país.


(*) Artigo publicado na coluna Espaço do Leitor do jornal A TARDE (SSA/BA), em 29.10.97).














O DESCOBRIMENTO




T
udo começou com o descobrimento do nosso país. Lembro-me perfeitamente quando iniciei meus estudos primários, lá pelos idos da década de cinqüenta, ao ter as primeiras informações sobre nossa história , que me ensinaram que o Brasil foi descoberto por acaso.

Diziam os historiadores da época, que o ilustre português, um nobre da corte, escolhido para comandar a frotas dos desbravadores, pelo rei de Portugal ao ser colhido por calmarias foi forçado a desviar sua rota, que era para as Ìndias em busca das especiarias, e chegou as costas brasileiras e particularmente baiana, dando-se assim o descobrimento.

Obra do acaso, como nos foi ensinado durante muito tempo nas escolas? Ato intencional, segundo as evidências? Qual teria sido a verdade do descobrimento?

Alguns historiadores, todos eles homens ilustres e de grandes conhecimentos, encarregaram-se de colocar mais " lenha na fogueira", aumentando mais ainda as dúvidas sobre esse fato.

Segundo um artigo publicado no jornal A TARDE (Salvador/Ba), no seu caderno L&I, na coluna Fique por Dentro, de autoria do ilustre jornalista Fernando Hupsel, em 16/04/2000: "um deles referindo-se à viagem de Cabral, que resultou no descobrimento chegou a afirmar: "Esta expedição não passou de um ato político, porquanto os portugueses já estavam conhecedores dessas terras; impunha-se, porém guardar ciosamente tal segredo".

Ainda no artigo acima vemos citações de um depoimento dado por Gago Coutinho que juntamente com Sacadura Cabral, um dos heróis da histórica travessia do Atlântico, em 1922: "é aceitável a hipótese de Cabral ter sido desviado para a costa pela corrente equatorial. Se o tivesse deveria ter avistado terra na altura de Pernambuco, ou mesmo para o ocidente do cabo de São Roque. Tampouco é de aceitar aquela outra conjetura que faz sorrir os românticos: Cabral apesar de levar consigo homens experientes como eram Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho, Duarte Pacheco, teria perdido a rota em busca da nau que se extraviara. Somos assim levados a aceitar que Cabral fosse navegando de propósito fora da rota usual e a terra prevista não faltou".

Para outros historiadores, segundo ainda o mesmo artigo, a carta de Pero Vaz Caminha é a melhor prova de intencionalidade do fato. Lembram a propósito que a viagem de Cabral, desde Cabo Verde até as costas da nossa terra, não mereceu observação de Caminha, como se aquilo fosse o fato mais natural do mundo e estivesse determinado nas instruções de El-rei.

Relata ainda o jornalista, em seu trabalho, que segundo o historiador Carlos Malheiros Dias, "a falta do sentimento surpresa por parte de Caminha, ao se defrontar com a terra, deixando entendida a possibilidade do conhecimento antecipado". E conclui : Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa para a Índia, levando também a incumbência de formalizar a descoberta do Brasil".

A história:

Segundo alguns historiadores tinha a esquadra de Cabral, o objetivo de complementar a missão de Vasco da Gama, que havia encontrado o caminho para a Índia, e portanto, impor as diretrizes comerciais e políticas que o mesmo, com sua pequena frota não conseguira estabelecer.

E então a 9 de março de 1500, partia a expedição em meio a uma grande expectativa. O destino era a Índia, mas está em alguns livros didáticos aquela história do desvio da rota para fugir às calmarias da costa da África, que resultou no descobrimento(?).

Como podemos observar através da leitura do livro A Viagem do Descobrimento-A verdadeira história da expedição de Cabral ? Eduardo Bueno ? Coleção Terra Brasilis, o seu autor fomenta algumas dúvidas. Ora ele afirma através de citações de vários autores a sua intencionalidade. Ora ele cita outras observações que levam ao acaso, conforme abaixo:

Página 20: "nas instruções que o rei lhe passara, estava escrito claramente "ireis ancorar em Calicute com vossas naus juntas e metidas em grande ordem, assim bem armadas, como de vossas bandeiras e estandartes, e o mais louçãs (elegantes) que puderdes".

Página 109: "o fato de Cabral não ter trazido consigo nenhum padrão de pedra ? com os quais, desde os tempos de Diogo Cão os lusos assinalavam a posse de novas terras ? já foi apontado como uma prova de que o descobrimento do Brasil foi fortuito e que a expedição não pretendia descobrir novas terras, mas, subjugar as já conhecidas".

Página 127: "na segunda metade do século XVI, quando o rei D. Manuel, o capitão-mor Pedro Alvares Cabral e o escrivão Pero Vaz de Caminha já estavam mortos havia mais de duas décadas, começaria a surgir em Lisboa a tese de que o Brasil fora descoberto por acaso. Tal teoria foi obra de cronistas e historiadores oficiais da corte:
- Fernão Lopes de Castanhedo, em sua História do Descobrimento e Conquista da Índia (1541);
- Damião de Góes, Crônica do Felicíssimo Rei D. Manuel (1558);
- Gaspar Correa, Lendas da Índia (1561).

Afirmaram todos, que a descoberta de Cabral fora fortuita e involuntária.

Página 129: "Joaquim Norberto de Souza e Silva, lançou a tese da intencionalidade, na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1854.

Página 130: A tese da intencionalidade (defendida por vários autores) e as teses da descoberta casual, não puderam e talvez jamais possam ser definitivamente comprovadas. Por mais profundas e detalhadas que sejam as análises feitas sobre os três únicos documentos originais relativos à viagem (as cartas de Pero Vaz de Caminha, do mestre João e do "piloto anônimo"). Elas não são suficientes para provar se o descobrimento obedeceu a um plano preestabelecido ou se foi meramente casual.

Página 132: para acirrar ainda mais a polêmica o mesmo autor (Eduardo Bueno) no livro acima citado, nos dá conta de que de fato tanto Vicente Yanez Pizom quanto Diogo de Lopes navegaram por costas brasileira entre janeiro e março de 1500.

Por fim no mesmo livro o autor informa que o incêndio provocado pelo terremoto que abalou Lisboa em 1775, poucas cartas relativas ao descobrimento (viagens) sobreviveram.

Boris Fausto ? História Concisa do Brasil ? Editora da USP ? pág.14: "Desde o século XIX, vem-se discutindo se a chegada dos portugueses ao Brasil foi obra do acaso, sendo produzida pelas correntes marítimas, ou se já havia conhecimento anterior do novo mundo e uma espécie de missão secreta para que Cabral tomasse conta da nova terra, tomando o rumo do ocidente. Tudo indica que a expedição de Cabral se destinava efetivamente às Índias. Isso não elimina a probabilidade de navegantes europeus, sobretudo portugueses, terem freqüentado a costa do Brasil antes de 1500".

Gilberto Cotrin ? História do Brasil ? Para uma Geração Consciente ? Unidade I ? Capítulo I ? item 5 ? O Descobrimento do Brasil: Início da Conquista ? pág.20: "Diante do sucesso dessa expedição (Vasco da Gama), o rei de Portugal, D. Manuel, resolveu enviar às Índias uma poderosa esquadra, a fim de estabelecer uma sólida relação comercial e política com os povos do oriente".

Ainda no mesmo livro, pág.21, encontramos uma opinião de Antônio Sérgio ? Breve interpretação da história de Portugal ? Lisboa ? Sá da Costa ? 1981 ? pág.64: "o descobrimento foi por acaso ou intencional? Todavia se quisermos penetrar nessa controvérsia, tudo leva a crer que o descobrimento foi obra perfeitamente planejada, metódica, intencional".

Também o referido autor confirma, no trabalho acima: "acrescente-se a isso que nas narrativas da viagem possuímos como, por exemplo a carta de Caminha, o contato com o Brasil não é tratado como algo imprevisto".

História do Brasil ? Luiz Koshiba/Denise Manzi Frayre Pereira ? Atual Editora (1982) ? pág.21 ? Povoamento e Colonização do Brasil ? Período Pré-Colonial: O interesse pelo Oriente. A armada de Pedro Álvares Cabral que se dirigia à Índia chegou ao Brasil em 1500...

História do Brasil ? Pedro Leonel Ferreira ? Editora Àtica (1995) ? Capítulo 2: Os primeiros tempos ? 1. O descobrimento do Brasil e os primeiros contatos com a nova terra: Pouco depois do retorno de Vasco da Gama a Portugal, o rei D. Manuel, o Venturoso, mandou organizar uma esquadra com o objetivo de garantir a supremacia portuguesa na Índia...Para comandá-la o rei escolheu Pedro Álvares Cabral ...Não se sabe ao certo o que teria levado Cabral a se afastar da rota estabelecida. Alguns autores admitem que ele teria instruções de D. Manuel para procurar terra no lado ocidental do Atlântico... No entanto a escassez de documentos sobre o assunto impede que se afirme categoricamente a intencionalidade ou não do descobrimento.

Professor Damião Peres, que também é historiador: segundo ainda o artigo do jornalista Hupsel, citado acima, "de que o próprio Vasco da Gama tivesse navegado por águas brasileiras e que as aves mencionadas no diário de Álvaro Velho, integrante de sua expedição, anunciava terras nas proximidades e que essas terras não foram procuradas porque as instruções eram para chegar à Índia. Já Cabral, teria saído de Lisboa com ordens secretas para descobrir a nova terra".

Rocha Pombo , em um dos trechos de sua História do Brasil: Conclui que Cabral ao descobrir o Brasil , "não fez mais que um reconhecimento".

Pedro Calmom, em um dos seus debates, observa que Cabral "não levou, na sua viagem, o clássico "padrão de pedra" que assinalava as descobertas contentando-se em marcar a posse com uma cruz. Mas esses argumento que segundo alguns autores, que a primeira vista, parece beneficiar a tese do acaso, bem analisado está perfeitamente sintonizado com a política de segredo dos reis portugueses da época".

Pedro Magalhães Gandavo, no capítulo inicial de sua História da Província de Santa Cruz (1576) atribui a descoberta a obra do acaso.

Pedro de Mariz, em obra impressa em Coimbra (1594) também é da mesma opinião.

Como podemos observar nas opiniões acima as controvérsias perduram até os nossos dias. Por quê tanta controvérsia? A quem interessa essas dúvidas? Creio que já passou da hora de se estabelecer a VERDADE para as novas gerações.


















A COLONIZAÇÃO DO BRASIL




É
de conhecimento geral, quando nada nas classes menos esclarecidas e, até mesmo, em alguns casos, nas classes com maiores esclarecimentos e conhecimentos sobre a história do Brasil, que as mazelas que nos afligem até os dias atuais, se devem ao fato de termos sido descobertos (?) por portugueses que trouxeram em suas naus, degredados (criminosos políticos e marginais de todas as espécies) para povoar o Brasil e que também se valeram dos nativos índios, no princípio, e dos negros escravos (ignorantes), para eles, justificando assim, a preguiça e indolência, principalmente do povo nordestino.

Para contestar estes conceitos, vali-me da obra de Darcy Ribeiro (O povo Brasileiro) e de outros autores citados no decorrer dessa análise para defender esse povo e mostrar o porquê de tanta submissão da maioria do povo brasileiro, conforme veremos a seguir:

Lendo o livro A Viagem do Descobrimento ? A verdadeira história da expedição de Cabral ? Coleção Terra Brasilis ? Eduardo Bueno ? Volume I (1998) observei que Cabral em sua comitiva trouxe apenas dois degredados, que foram deixados em terra para tomarem conhecimento do novo mundo e que foram resgatados vinte meses depois. O referido autor também nos dá conta de que ficaram em terra alguns desertores, conforme descrição a seguir:

"Vinte meses após seu comovente choro na praia, Afonso Ribeiro e seus companheiros (os degredados) foram resgatados pela expedição que D. Manuel mandara para reconhecer a nova terra e na qual ia, como piloto, o florentino Américo Vespúcio. Levados de volta os dois condenados (degredados) tiveram de comparecer perante o tabelião Valentim Fernandes para dar um depoimento minucioso sobre a permanência de quase dois anos na Bahia.

No livro De Lisboa a Vera Cruz pág.22: na nau capitanea com capacidade para 250 tonéis , seguiam além de Pedro Álvares Cabral e de sua guarda pessoal (formada provavelmente por um pelotão de besteiros) cerca de 80 marinheiros e 70 soldados, aos quais se somavam 33 outros passageiros entre eles 7 serviçais, 2 degredados, 8 frades franciscanos e oito interpretes... Ao todo havia cerca de 170 homens a bordo. O referido livro não nos dá conta se nas demais naus haviam outros degredados.

Página 112: no instante em que os navios içaram as velas, Afonso Ribeiro e o outro degredado, deixado em terra se puseram a chorar em tão altos brados...

Além dos degredados ficaram em terra dois a cinco desertores, possivelmente para fugir dos maus tratos recebidos a bordo.

"Como podemos observar, surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos

Dessa confluência sobre as raças se exige do português matizes raciais diferentes e tradições culturais diversas que se misturam para dar lugar ao povo brasileiro.

Surge assim um Povo Novo (Ribeiro-1970). Um povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária que inaugura uma forma de organização societária fundada num tipo renovado de escravismo e uma servidão continuada ao mercado.

Ainda assim essa mistura de raça consegue se integrar como raça nacional constituindo assim um só povo incorporado a um estado uni-étnico.

Para os índios era uma tranqüila função da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária.

No estudo dos índios (nativos da região) podemos notar o seu esforço para o cultivo de plantas, dando os primeiros passos da revolução agrícola que se aproximava com o cultivo da mandioca para sua sobrevivência (preguiçosos, não?).

Além da mandioca, cultivavam várias espécies de vegetais, tais como milho, a batata doce, o feijão etc. E para isso era necessária a derrubada e queima de árvores para fazer os seus roçados (como eram preguiçosos!) Quando esses produtos escasseavam se dedicavam a pesca e a caça.

Tudo isso se explica em uma ausência de uma classe dominante ativa. Os que cumprem esse papel, seja na qualidade de agentes da exploração econômica seja na qualidade de gestores da hegemonia política , são na realidade prepostos da dominação colonial.

O índio ao contrário do negro escravo, era tido como um trabalhador ideal para transportar cargas ou pessoas por terra e por água, para o cultivo de gêneros e preparo de alimentos, e para a pesca, conforme relata Darcy Ribeiro.

A documentação oficial destaca por igual, as aptidões dos índios para ofícios artesanais, como carpinteiros, marceneiros, oleiros. Nas missões jesuíticas tiveram oportunidade de se fazerem tipógrafos, artistas plásticos, músicos e escritores.

Milhares de índios foram incorporados por essa via à sociedade colonial. Incorporados não, para se integrarem nela na qualidade de membro, mas para serem desgastados até a morte, servindo como bestas de carga a quem deles se apropriava.

Concentrando-se em grandes massas nas áreas de atividade mercantil mais intensa, onde os índios escasseavam, cada vez mais, o negro exercia o papel decisivo da sociedade local.

Sem ser normal era aquela anomalia de uma comunidade ativa que nem existia para si nem de regra por uma lei interna de desenvolvimento de suas potencialidade, uma vez que só servia para os outros e era dirigida por vontade e motivações externas que o queriam degradar moralmente e desgastar fisicamente para usar os seus membros como bestas de carga e as mulheres como fêmeas animais.

Nenhum povo que passasse por isso como rotina, através de séculos sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós brasileiros somos mãos possessas que os supliciou. A doçura mais terna e crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida, sofrida que somos e a gente insensível e brutal que também somos.

Talvez se os índios continuassem aos cuidados dos jesuítas poderiam ter mudado seus costumes, pois pára esses eles seriam mais racionais, mais transviados. Postos em corpos livres, mas carentes de resguardo e vigilância. Estando com eles, deviam trabalhar para seu sustento e para fazer prosperar a comunidade de que passavam a fazer parte.

Os brasileiros frutos da miscigenação entre portugueses, índios e africanos aprenderam com os índios técnicas eficazmente ajustadas ás condições locais e às diferentes estações do ano, relativas ao cultivo e preparação de variados produtos, à caça e a pesca. Aprenderam ainda a fabricar utensílios de cerâmica, a trançar esteiras e cestos para compor os utensílios domésticos e de serviço, a tecer redes de dormir e tipóias para carregar crianças.

Foi também com os índios que aprenderam a construir casas com os materiais da terra, a fabricar canoas. Sobre essa base é que acumularia a herança tecnológica européia que modernizando a sociedade brasileira nascente permitiria integrá-la com os povos de seu tempo.

Para os seus pais, o negro escravo forro, bem como o mulato, e o branco são também o que há de mais reles, pela preguiça, pela criminalidade inatas. Todos eles são consensualmente como culpados de suas próprias desgraças, explicando como característica da raça e não como resultado da escravidão e da opressão.

A Amazônia era toda ocupada, originalmente por tribos indígenas de adaptação especializada à floresta tropical. A maioria deles dominava as técnicas de lavouras praticadas pelos grupos Tupi do litoral atlântico com que se depararam os descobridores. Em algumas várzeas e manchas de terra de excepcional fertilidade e de fácil provimento alimentar, através da caça e da pesca floresceram culturas indígenas de mais alto nível tecnológico como os Marajó e Tapajó, que podiam manter aldeamento com alguns milhares de habitantes.

A mudança de maior espanto ocorreu com os próprios índios, cuja atitude geral de submissão e humildade, que se seguio ao estabelecimento de relações pacíficas está dando lugar muitas vezes a uma postura orgulhosa e afirmativa.

A atividade mineradora, que mantinha esse fausto urbano, propiciou também a criação de uma camada intermediária entre cidadãos ricos e pobres trabalhadores das lavras. Eram artífices e músicos, muitos deles mulatos e pretos que conseguiam alcançar um padrão de vida razoável e livrar-se das tarefas de subsistência para só se dedicarem a suas especialidades.

Outro resultado dessa integração mássica de trabalhadores estrangeiros foi a de retardar a proletarização e conseqüentemente politização como operários fabris dos ex-escravos que só teriam oportunidade de ascender aos setores mais dinâmicos da economia moderna depois de esgotadas a disponibilidades de mão-de-obra européia.

Duas outras características distintas, teriam porém efeitos inesperados. Por um lado a sua eficácia destribalizadora, que permitiam atrair milhares de índios rapidamente para os núcleos missionários. Por outro lado sua eficácia econômica na produção de artigos para os mercados regionais e externos que permitiam às missões manter um ativo intercâmbio comercial mediante o qual se proviam de tudo que não podiam produzir. Mas essa situação não interessava às elites que desencadearam furiosos ataques as missões visando desestabilizá-las e leva-las novamente a escravidão, acabando por expulsar a Companhia de Jesus.

Se contrapondo a Gilberto Freire, Darcy Ribeiro faz os seguintes comentários:
Nas págs. 29/30: falando dos primeiros varões portugueses, ingleses, franceses e alemães que vieram dispersos pela costa brasileira dos quinhentos, Gilberto Freire os caracteriza como povoadores à toa, afeiçoados à vida selvagem em meio a mulher fácil e a sombra de cajueiros e araçazeiros. Assinala que a eles se deve a formação do primeiro núcleo híbrido que seria calço e forro da carne, amortecendo para os colonos portugueses ainda virgens de experiência exótica o choque vivente do contato com terras diversas da européia.

Opondo-se aqui as teses anti-luzitanas, correntes então, que caracterizavam os magotes de portugueses que primeiro chegaram ao Brasil como uma corte de exilados, criminosos e viciosos. Gilberto Freire os pinta como gente sã, degredada por ridicularias, deixada na praia como garanhões desbragados armados tanto de furores genésicos como de pendores eugênicos.

Na pág. 33, de CG&Z: voltamos a oposição negros x índios , encontramos entre outras essa jóia: deixemo-nos de lirismos......o índio não dava para escravo porquê incapaz e molenga. O negro sim. Sobretudo se disciplinado na sua energia intermitente pelos rigores da escravidão.

Gilberto entra então a debulhar as causas e se atola ainda mais. Recusa acertadamente a suposta oposição da altivez indígena à passividade africana como puro romantismo indigenista. Mas o faz apenas para cair em outro contraponto igualmente falso e da oposição entre uma cultura nômade e uma cultura agrícola . Não é assim. Índios e negros eram agricultores e os índios como agricultores contribuíram mais que os africanos em técnicas de lavoura e em plantas cultivadas para adaptação do Brasil ao trópico. O papel do africano aqui foi mais de força energética que de agente cultural.

Ainda na pág.93: "onde Azevedo Amaral nos parece lamentavelmente exagerado é em considerar todo aqueles povoadores (sobre os quais reconhece ser tão escassa e precária ...a informação acessível), uns tarados, criminosos e loucos, digo semiloucos. Refere-se principalmente aos degredados; não há entretanto fundamentos nem motivos para duvidar de alguns fossem gente sã, degredados pelas ridicularias porque então se exilavam súditos, dos melhores, do reino para os ermos".

Na pág.94: Diz Gama Barros...vindo para o Brasil antes os autores de delitos leves ou de crimes imaginados que a perspectiva criminal portuguesa da época deformava em atentados horríveis do que mesmo os criminosos de fato. Estes entretanto, devem ter vindo de número não de todo insignificante para a colônia americana; doutro modo não se teria ocupado tão veemente o donatário Duarte Coelho numa de suas muitas cartas de administrador severo e escrupuloso, rogando a el-Rei que não mandasse mais dos tais degredados: pois eram piores que peçonhas.

Na pág.224: Lery salienta nos indígenas seu grande vigor físico abatendo a machado árvores enormes e transportando-as aos navios franceses sobre o dorso nu. Gabriel Soares, descreve-os como indivíduos bem feitos e bem dispostos. Cardim destaca-lhes a ligeireza e a resistência nas longas caminhadas a pé, e o português que primeiro os surpreendeu, ingênuos e nus, nas praias descobertas por Pedralvares, fala com entusiasmo da robustez, da saúde e da beleza desses como aves ou alimares montês.

Se os índios de tão boa aparência fracassaram, uma vez incorporados ao sistema econômico do colonizador é que foi para eles demasiado brusca a passagem do nomadismo à sedentaridade; da atividade esporádica à contínua; é que neles se alterou desastrosamente o metabolismo do novo ritmo da vida econômica e de esforço físico.

Pág.304 CG&S: Gilberto Freire: Deixemo-nos de lirismo em relação aos índios. De opô-lo ao português como igual contra igual. Sua substituição pelo negro ? mais uma vez acentuamos ? não se deu pelos motivos de ordem moral que os indianófolos tanto se deliciam em alegar: sua altivez diante do colonizador luso em contraste com a passividade do negro. O índio precisamente pela sua inferioridade de condição de cultura, a nômade, apenas tocada pelas primeiras vagas e tendências para a estabilização agrícola, é que falhou no trabalho sedentário. O africano executou-o com decidida vantagem sobre o índio principalmente por vir em condições de culturas superiores. Cultura já francamente agrícola. Não foi questão de altivez nem de passividade moral.

Pág.376: o negro no Brasil, nas suas relações com a cultura e com o tipo de sociedade que aqui se desenvolveu, deve ser considerado principalmente sobre o critério da história social e econômica. Da antropologia cultural. Daí ser impossível - insistamos neste ponto ? sapará-lo da condição degradante de escravos dentro da qual abafavam-se nele muitas de suas melhores tendências criadoras e normais para acentuarem-se outras artificiais e até mórbidas.

Na pág.482: ociosa mais alagada de preocupações sexuais, a vida do senhor de engenho tornou-se uma vida de rede. Rede parada com o senhor descansando, dormindo, cochilando. Rede andando com o senhor na viagem ou a passeio debaixo de tapetes e cortinas. Rede rangendo com o senhor copulando dentro dela. Da rede não precisava afastar-se o escravocrata para dar suas ordens aos negros; mandar escrever suas cartas pelo cocheiro ou pelo capelão; jogar gamão com algum parente ou compadre. De rede viajavam quase todos sem ânimo para montar a cavalo deixando-se tirar de dentro de casa como geléia por uma colher.

Mas excetuando-se esses rompantes guerreiros a vida dos aristocratas do açúcar foi lânguida, morosa. Uma vez ou outra as "canas" e as "argolinhas", cavalhadas e danças. Mas raramente. Os dias se sucediam iguais, a mesma modorra e a mesma vida de rede, banzeira e sensual. E os homens e as mulheres amarelos de tanto viverem deitados dentro de casa e de tanto andarem em rede ou palanquim.

Desde a chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta para fugir da inferioridade que lhes foi imposta originalmente e que é mantida através de toda sorte de opressão. Dificultando extremamente sua integração na condição de trabalhadores comuns iguais aos outros, ou de cidadãos com os mesmos direitos.

Fala-se muito, também, da preguiça brasileira, atribuída aos índios indolentes, como ao negro fujão e até as classes dominantes viciosas. As causas desse descompasso devem ser buscadas em outras áreas. O ruim aqui é o efetivo valor caudal do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrado para servir a desígnios alheios e opostos aos seus. Não há, nunca houve aqui um povo livre regendo seus destinos na busca de sua própria prosperidade. O que houve e o que há é uma massa de trabalhadores explorada, humilhada e ofendida por uma maioria dominante espontaneamente eficaz na formulação e manutenção de seus próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma de ordem social vigente (Darcy Ribeiro ? O povo Brasileiro)".

Ao contrário é ao branco português ou de outra nacionalidade que aqui vieram para serem donos de engenhos que talvez se deva a preguiça, principalmente alegada como comportamento dos nordestinos e com especialidade ao povo baiano.

Como podemos observar nos diversos comentários feitos por diversos historiadores e antropólogos de renome a culpa da nossa morosidade não está


diretamente ligada aos nativos da terra que tinham seu modo de viver sem ambições consumistas e que cuidavam de sua sobrevivência com muito afinco a procura de alimentos, quer sejam eles animal , através da caça e da pesca, quer sejam através da cultura da mandioca, do feijão, do milho etc. e que de uma hora para outra se viram obrigados a se adaptarem a uma cultura completamente diferente da deles. Quanto ao negro, foram sempre considerados como um animal reprodutor, submetidos aos piores tratamentos físicos e moral, sendo substituídos à medida que iam se desgastando, sem nenhuma oportunidade de desenvolvimento mental capaz de contribuírem para a nova nação que esta se construindo o que ocorre nos dias atuais.
































A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO




A
introdução do negro no Brasil deu-se por volta de 1538. A caçada de negros da África, sua travessia e venda aqui passam a constituir o grande negócio dos europeus, em que imensos capitais foram investidos e que absorveria, no futuro, pelo menos metade do valor do açúcar e depois do ouro.

Segundo a Bíblia no seu antigo testamento, a escravidão existe desde a época das primeiras associações de povos, exercendo a forma de domínio entre nações, motivada pelas guerras, com o vencedor exercendo sua força sobre o vencido que era escravizado para executar os trabalhos menos nobres. Tal procedimento era até permitido (?) pelo Grande Arquiteto do Universo que além de incentivar os conflitos compactuava com este sistema, de acordo com as escrituras.

Antes de tornarem os vencidos escravos, esses eram mortos como oferendas aos Deuses. Quando os vitoriosos perceberam que, poupando-os poderiam escravizá-los sem oposição ou custos que não apenas o da sobrevivência, passaram a mantê-los em cativeiro. No seu atraso espiritual, para muitos escravos, trabalhar de sol a sol era uma forma de recompensa por sua situação.

"Já na Grécia antiga, bem como na Itália o tráfico tornou-se um próspero mercado que se manteve inalterado até eclodir com força total no descobrimento das Américas. A exploração econômica dos novos continentes elevou esses tráfico , utilizando os nativos da África, a espantosos números. Só para o Brasil, foram trazidos cerca de três milhões e quinhentos mil, número
esse contestado por alguns historiadores, como Pedro Calmon é um desses, citando outros números em seu livro História do Brasil, Livraria José Olímpio Editora (1959), 1° volume.

Dessa forma como podemos observar, a escravidão existe desde quando o homem observou que os vencidos poderiam ser escravizados e sua extinção projeta-se em um ponto futuro.

No Brasil já na época de seu descobrimento, através de registro de diversos autores, não foi diferente. Os nativos matavam os vencidos não só para sacrificá-los aos seus deuses, como também para absorver sua força e coragem, pois acreditavam que "degustando" sua carne absorveriam as qualidades dos vencidos. Sorte dos covardes que em muitos casos eram preteridos para não passarem suas covardias para os vencedores.

"O imenso negócio escravista raramente foi objeto de reservas. Ao contrário se considerava meritório realizar caçadas humanas, matando os que resistissem, como modo de livrar o negro do seu atraso e até um ato pio de aproximá-los de seu deus branco.

Após a abolição esse novo homem livre de fato e de direito, preto ou branco formado no mundo do engenho açucareiro com sua hierarquia remarcada, enquanto nele permanecesse mergulhado é quase tão igualmente respeitoso e servil ao senhor e feitor quanto o antigo escravo, mesmo porquê não conta com qualquer perspectiva de sobreviver fora das fazendas. Essa condição tornou o negro mais resignado com seu destino, e agora melhorado pela assunção do mundo que explica a ordem social como sagrada e a riqueza do rico e a pobreza do pobre como destinação inapeláveis.

Para o escravo a abolição representou a oportunidade de exercer opiniões sobre seu destino e de reconquistar a dignidade humana e o auto-respeito de que fora despojado. Essa liberdade seria, porém limitada pelo monopólio da terra que o obrigaria a engajar-se no serviço de algum proprietário de terra e ater-se ao subconsumo a que sempre estivera submetido".

A escravidão não se restringe hoje aos afro-descendente mais a toda classe menos favorecida, forçando-a a trabalhar as custas de baixos salários exigindo a execução de horas extras, nem sempre remuneradas e sem nenhuma perspectiva sem considerarmos o trabalho escravos pelas fazendas do interior.

Milhões de pessoas ainda encontram-se subjugadas a longos períodos diários de trabalho forçado. Muitos ricos, escravos da ambição, trabalham cada vez mais para adquirirem bens materiais, pessoais, em detrimento da coletividade. Quantos pobres que têm uma ocupação remunerada, compensam os baixos salários com horas extras e/ou venda de férias.

Aprendemos desde cedo, na escola primária, hoje denominada de ensino fundamental, que a abolição da escravidão se deve a um gesto magnânimo da princesa Isabel, que aproveitando-se do exercício do poder, pois D. Pedro II encontrava-se em viagem ao exterior, resolveu assinar a Lei Áurea, tornando livre todos os escravos, ganhando com esse gesto o título de "Redentora".

Não devemos, entretanto, esquecer a luta desenvolvida por vários vultos da nossa história tais como: José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Castro Alves e tantos outros que abraçaram a causa e contribuíram através de leis e de sua aprovação, ou através da imprensa e de trabalhos literários para minorarem o sofrimento deste povo, arrancado de sua cultura, até por seus próprios irmãos, onde eram reconhecidos até por títulos e lideranças, para executarem trabalhos forçados em terras estranhas.

A abolição da escravidão, no Brasil, deve-se muito mais a fatores externos do que a fatores internos, senão vejamos:

- a escravidão no mundo já tinha sido abolida há alguns anos, sendo o Brasil; um dos últimos países a tomar tal atitude , menos pela decisão tomada pela princesa Isabel e muito mais pela pressão da Inglaterra que colocou sua armada para seqüestrar os navios negreiros. Outro fator que estava pressionando foi o seu alto custo em comparação com a produção industrial emergente naquela época . O mais perverso é constatar que embora a escravidão sobre a forma de tráfico tenha sido abolida, subsiste até hoje com outras denominações;

- segundo Cristóvão Buarque (político) que exerceu vários cargos no governo brasileiro, tais como: Governador de Brasília e Ministro da Educação, em entrevista concedida a revista ISTOÉ, nº 1706/12.06.02: a Abolição não aconteceu para aumentar a renda do escravo nem para resolver um problema de crescimento econômico. Era uma questão de ética. Ainda na mesma entrevista ele diz: no Brasil só se aboliu a escravidão porquê já não era viável economicamente para o fazendeiro manter escravos;

- a integração mássica de trabalhadores estrangeiros retardando a proletarização e conseqüente politização como operários fabris dos ex-escravos que só teriam oportunidade de ascender aos setores mais dinâmicos da economia moderna depois de esgotadas a disponibilidade de mão-de-obra européia.

No livro História Concisa do Brasil, Boris Fausto, pág.63, vemos que os setores dominantes tratavam de limitar suas ambições, sendo, por exemplo, muito prudente no tocante ao tema da abolição da escravidão, que viria ferir seus interesses.

Joaquim Nabuco, no seu livro O Abolicionista, Coleção Dimensões do Brasil, Editora Vozes Ltda., pág.37, escreve: A escravidão no Brasil tinha de ser suprimida, quando não fosse pela alavanca do sentimento, seria pelo interesse político, que obedecia uma fatalidade histórica. No fim do século XIX tal instituição era o impedimento do surto de uma nação americana. Nesse século o fenômeno social mais expressivo foi a imigração dos povos. E a América foi o esplendido resultado desse fato novo. A imigração por sua expansão, reclama novas terras, onde ela se alargue. Ela não poderia existir com a escravidão, que seria o oposto da sua liberdade de movimento e de sua expansão.

Ainda no livro acima, na pág.63, Joaquim Nabuco, diz: No partido Liberal a sua corrente conseguiu, pelo menos, por a descoberto os alicerces mentirosos do liberalismo entre nós.

Desde que foi votada a lei de 28 de setembro de 1871 o governo brasileiro tratou de fazer acreditar ao mundo que a escravidão havia acabado no Brasil. Uma propaganda voltada para ele começou a espalhar que os escravos iam sendo gradualmente libertados em proporção considerável e que os filhos dos escravos nasciam completamente livres. A mortalidade dos escravos é um detalhe que nunca aparece nessas estatísticas falsificadas, cuja idéia é que mentira no exterior habilita o governo a não fazer nada no país e deixar os escravos entregues à sua própria sorte(O Abolicionista, referido acima, em sua pág.125). Como podemos observar a mentira já vem de longe.

Quantos nordestinos, principalmente, são aliciados pelo interior, para serem explorados nas fazendas para satisfazerem as ambições dos seus proprietários.

Tudo isso sem contar o trabalho escravo da criança, conforme denunciado em Nova Delhi, em maio de 1994, pelo Sr. Kailash Satyarthy , presidente da coalizão sobre a servidão da criança sul-asiática, o seguinte quadro:"nos países que passam pelo desenvolvimento econômico, 200 milhões de crianças estão sujeitas à escravidão. Estima-se que só na Índia haja pelo menos 55 milhões de crianças arrancadas a força de seus pais ou por eles vendidas como escravas para pagar dívidas ou engodadas pelo trabalho remunerado. Outras 10 milhões trabalham na agricultura ou pastoreio de gado. Um milhão trabalha em pedreiras, fábricas de fósforos, na produção de artefatos de vidros, fechaduras etc. Só a indústria de tapetes emprega 300 mil crianças, a maioria em regime de escravidão. Isso contudo não ocorre só na Índia, mas também em muitos países da América Latina, onde há 40 milhões de crianças de rua, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil há 7 milhões, vítimas de reacionários cansados da corrupção da sociedade e da interminável insegurança das ruas.

Ainda hoje, em pleno terceiro milênio, observamos no Brasil crianças de famílias carentes que deixam as escolas e vão para a lavoura, para as tarefas avulsas, não adquirindo qualquer formação profissional pelo que muitas delas são vilipendiadas até a morte. Todas essas pessoas, nessa situação, sem exceção, podem ser consideradas os escravos do mundo moderno. Assim podemos considerar que a escravidão ainda não terminou. Está agindo por esses Brasil afora (fonte: Fragmentos da História - Pela Ótica Espírita ? Euripedes Kuhl- Editora Petit ? 1979).

"A nação brasileira comandada por gente que achava a desgraça do negro devida a sua origem, nunca fez nada por essa massa que ajudara a construir. Negou-lhe a posse da terra, qualquer pedaço que fosse, para viver e cultivar, de escolas que pudesse educar seus filhos e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão".


O que vemos nos dias atuais é que a escravidão foi abolida de direito, mas não de fato, mudando seu foco para além dos negros importados, para os afro-brasileiros, lhes negando o direito de uma vida digna, principalmente, através de trabalhos forçados, com baixos salários, o acesso a uma melhor educação e conseqüentemente a uma melhor qualidade de vida.

A verdadeira Abolição da Escravidão (branca, negra e mestiça) que ainda ocorre nos dias atuais só se dará quando, principalmente as nossas "elites" introjetarem o pensamento do grande abolicionista Joaquim Nabuco, descrito no seu livro O Abolicionista ? Coleção Dimensões do Brasil ? Editora Vozes Ltda. ? pág.203:"a anistia; o esquecimento da escravidão; a reconciliação de todas as classes; a moralização de todos os interesses; a garantia da liberdade dos contratos; a ordem nascendo da cooperação voluntária de todos os membros da sociedade brasileira: essa é a base necessária para reformas que alteiam o terreno político em que existiu até hoje. O povo brasileiro necessita de outro ambiente, de desenvolver-se e crescer em meio inteiramente diverso.

Nenhuma das grandes causas nacionais que produziram como seus advogados os maiores espíritos da humanidade, teve nunca melhores argumentos do que a nossa. Torne-se cada cidadão brasileiro de coração, instrumento dela; aceitem os moços, desde que entrarem na vida civil, o comportamento de não negociar a carne humana; prefiram uma carreira obscura de trabalho honesto a acumular riquezas fazendo ouro dos sofrimentos inexprimíveis de outros homens; eduquem seus filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia, único meio de não ser sua própria liberdade uma doação gratuita do destino, e adquiram a consciência do que ela vale, e coragem para defendê-la".






Autor: Marcos Santos Marinho


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