Tristão e Isolda



Lenda da idade média, magnífica epopéia de amor que Ricardo Wagner escolheu para assunto de uma de suas mais admiráveis tragédias líricas (1865). Porém não vamos falar no célebre compositor ou na lenda Tristão e Isolda. A mulher Isolda hoje é senhora de meia idade, se bem que eu já não sei onde se encontra a meia idade. Isolda é filha de Fenelon, não me refiro ao ilustre acadêmico e prelado Frances, autor do célebre Telêmaco, livro cheio de críticas ao governo de Luiz XIV. O pai de Isolda é um dos maiores criminalistas do país. A mãe de Isolda é dona Joana Angélica, figura respeitável em nossa sociedade e uma das filhas de Isolda chama-se Tristana, menina alegre e belíssima. Isolda sempre teve uma inteligência acima da média e aos dezoito anos foi morar em Paris, foi fazer sociologia na renomada Sorbonne, onde se destacou como uma das alunas mais brilhantes. Terminado seu curso, foi trabalhar na UNESCO com uma missão muito importante em nosso país onde permaneceu por algum tempo. Ela viajou pela Amazônia, visitou as populações ribeirinhas e dirigiu um curta metragem onde fez denúncia de sérias irregularidades. No lançamento do curta na capital francesa Isolda conheceu um brilhante antropólogo e descendente de ilustre dinastia indígena. Ficaram amigos. Isolda permaneceu em Paris e continuou seu trabalho, porém sempre em contato com o seu amigo indígena. Eles costumavam trocar idéias e entre os dois havia uma empatia muito grande a ponto de resolverem tirar seis meses de férias de seu trabalho para fazer pesquisas entre outras tribos de outros países. Eles passaram pela América Central e Meridional. Costumavam se hospedar e conviver com todas as tribos que visitavam. Ficavam até altas horas trocando idéias e expondo seus ideais. Foram dias inesquecíveis. Ruani, este era o nome do brilhante antropólogo, incluía Isolda em todos os rituais. Ela foi aceita como um deles. Na volta eles resolveram ficar mais um tempo na cidade do México onde se hospedaram na residência de um amigo de faculdade de Ruani. O amigo era pessoa muito importante nos meios acadêmicos onde Isolda e Ruani fizeram excelentes amizades. Isolda ficou amiga de sua anfitriã e os casais fizeram longos passeios, visitaram locais paradisíacos. A recepção era muito calorosa. Em determinada expedição os homens foram na frente levando um arsenal de coisas, inclusive uma cama de casal que ao chegar no local Isolda descobriu que era para os hóspedes, pois as camas do casarão onde foram se hospedar não estavam a altura de figuras tão importantes. Isolda tentou explicar que eles não eram um casal, porém a cultura era diferente e Ruani achou que era melhor não dar explicações. Á noite Ruani dormiu no chão e Isolda na cama e no dia seguinte Isolda quis dar a cama para Ruani que recusou. A figura política mais importante do povoado ofereceu uma recepção para os visitantes; foi um jantar seguido de um show de danças típicas e música e baile. Isolda estava linda. No baile usou um vestido estilo charleston nude e nos cabelos uma tiara prata com pequeno arranjo de plumas e pedras, meias e sapatos da mesma tonalidade. Ruani apareceu pela primeira vez de terno, usou um elegante Armani. Ruani era tão lindo! Foi o que uma das moças presentes à recepção comentou e Isolda que estava perto ouviu. Ruani convidou Isolda para abrir o baile. O casal brilhou e dançou a noite inteira. Em determinado momento um dos nativos convidou Isolda para dançar. Ela pediu licença a Ruani e foi. O casal deu apenas uma volta e Ruani já estava a espera da sua dama a dez passos. Não se largaram mais, estão juntos até hoje e Tristana é o resultado da noitada mexicana. Isolda e Ruani fizeram certos acertos e Tristana é uma moça bem criada, linda, inteligente e tem mais duas irmãs, Twani e Potira. Tristana é loira de olhos claros como Isolda e suas irmãs são morenas de olhos negros. Tristana está cursando fotografia e cinema no Arts Institute. Twani quer ser criminalista como o avô materno. Potira quer fazer artes plásticas. Elas conhecem toda a cultura de seu pai. Tem orgulho de sua raça. São de opinião que o tupi guarani deve ser matéria obrigatória nas escolas. Até já perguntaram para o tio delas, irmão de seu pai que é político, se ele tem a mesma opinião. O tio diz que é só uma questão de tempo. Isolda já publicou três livros sobre a cultura indígena e Ruani já publicou mais de dez livros. Alguns relatando as atrocidades que os índios vêm sofrendo ao longo dos anos. A maioria dos seus antepassados sofreu toda sorte de violência. Hoje as coisas já estão mudando, porém a luta continua. Eles passaram por um processo de aculturação e conhecem os seus direitos devido o contato prolongado entre grupos de diferentes culturas. Os filhos de Isolda e Ruani têm muito orgulho de seus ancestrais, as famosas amazonas, mulheres que lutavam como os homens, povo fabuloso de mulheres guerreiras que habitavam as margens do rio e que queimavam o seu seio direito para melhor atirarem o arco. Nas margens de Maranhão foram denominadas rio das amazonas porque nas duas margens haviam mulheres lindas que combatiam como homens, mulheres valentes! O Rio Amazonas é também chamado Rio Solimões ao entrar no Brasil até a confluência com o Rio Negro. A bacia do rio, a Amazônia, cobre sete milhões de quilômetros quadrados, a maior parte em território brasileiro. O Amazonas foi descoberto em 1500 por Vicente Prinzon. Ruani hoje viaja todos os continentes dando palestras em universidades e Isolda administra sua agenda de forma que possa acompanhar o marido. Segundo ela, ela não é ciumenta, é uma mulher zelosa, ela tem zelo, porém cá entre nós quando aparece uma jornalista ou estudante meio insinuante, Isolda dá o seu famoso jeitinho de afastar qualquer nuvem passageira. Segundo Ruani, Isolda é como os melhores vinhos, com o passar dos anos fica melhor. E dona Joana Angélica não cansa de dizer para os netos que Isolda é um braseiro ardente, tal qual Dr. Fenelon! Quem diria, dona Joana Angélica com aquela carinha de santa! Das peripécias de Ruani nem é preciso falar, basta olhar para Isolda. Isolda aos cinqüenta e cinco anos parece irmã das filhas, as quatro são lindas, mas o que todos acham linda é o cacoete de Isolda de falar e baer suas longas pestanas ao mesmo tempo. E agora com a volta dos adereços de cabeça, ela tem uma coleção deles e Ruani se deleita com os penteados que ela improvisa. Ele mantém o hábito de usar camisas brancas e um pequeno amuleto de penas no pescoço que só tira para tomar banho. Segundo ele são suas raízes. Todo o seu povo usava o mesmo amuleto. Eles são a prova de que a felicidade existe!


Autor: Nadia Foes


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