O que agonizava Tolstoi também nos agoniza?



O que agonizava Tolstoi também nos agoniza?


Nossa singela reflexão terá como objetivo, demonstrar um dos problemas que atormentou certo período da vida de um dos maiores autores da literatura mundial, o russo Leão Tolstoi (1828-1910). Tolstoi foi um dos maiores escritores romancistas de todos os tempos. Suas obras mais conhecidas foram: ‘Guerra e Paz’, ‘Anna Karenina’ e, ‘O Que é Arte?’. Porém, a curiosidade que iremos nos ater concentra-se em sua Confissão (1882).
O que será de minha vida inteira? Próximo dos cinqüenta anos, famoso, feliz, com uma esposa bondosa e dedicada, bons filhos, bens que cresciam sem o menor esforço. Respeitado por amigos e elogiado por estranhos. Gozando de invejável vigor, físico e mental. Tolstoi levava uma vida que todos supostamente queriam ter.
Porém, uma pergunta auspiciosa feita por um Jornalista iria ‘tirar seu sono’ por longos tempos! “Muito bem, serás mais famoso do que Gogol, Pushkin, Shakespeare, Molière, mais famoso do que todos os escritores do mundo - e depois?”. (MURCHO, Desidério & Almeida, Aires. Textos e Problemas da Filosofia. Editora: Plátano, Lisboa, Portugal, 2006, p.158). E daí?
Em reflexão, ele não conseguia achar absolutamente nenhuma resposta a esta pergunta. O que mais se faz na vida quando já se conseguiu tudo que queria? Por que continuar a viver? Para curtir? O quê? E agora, o que fazer quando não se sabe como? Deve-se prosseguir? Quer mais?
Não foram poucas as vezes que Tolstoi pensou em se suicidar. Não via sentido na vida. Esta, ele a via como uma brincadeira de mau gosto por onde ‘alguém’ se divertia rindo-se a suas custas por o ver ter atingido a maturidade intelectual. Seus feitos, mais cedo ou mais tarde, seriam esquecidos. Para quê então fazer o que for? Sua morte chegaria e nada mais restaria a não ser podridão e vermes. Ele desabafa: “Como pode alguém não ver isto e viver?… Só é possível viver enquanto a vida nos intoxica; quando ficamos sóbrios não podemos deixar de ver que tudo isto é uma ilusão, uma estúpida ilusão! E isto não é divertido nem espirituoso; é apenas cruel e estúpido…” (Idem, p.159). Toda esta agonia com a vida e ele próprio, fez com que Tolstoi depois de muito refletir começa-se a crer em Deus, caso contrário, o suicídio não tardaria. A crença num ser superior acaba sendo moralmente viável. Existindo ou não.
Quase no término de sua nobre vida, Tolstoi aprende a serena lição de viver de forma simples. Passava seus dias, rodeado de camponeses. Ali, adquiriu a paz que tanto buscava. O curioso é que Tolstoi já não procurava conversar sobre assuntos de ‘ordem intelectual’. Vivia a cozinhar. Dedicava-se horas a se deliciar com as guloseimas e a simplicidade do povo do campo.
Ao ser procurado por um intelectual que necessitava muito de seus conhecimentos, Tolstoi, o ‘decepciona’. O jovem procurava pelo maior nome da literatura russa e estava empolgado por poder conhecê-lo. A questão é que quando chegou próximo a ele, Tolstoi apenas falava sobre batatas, cozidas, não cozidas etc., a simplicidade tinha tomado conta de seu Ser. Estranho? Não, quem supõe ser inteligente, tem que necessariamente aprender a ser simples. ‘Quantos intelectuais entendem de batatas?’
O que de repente pode agonizar as pessoas é saber pouco do simples e muito do complicado. Eis a agonia de Tolstoi e de muitos outros humanos. Aquele, no tormento de ter adquirido tantos conhecimentos e pouco ter resolvido, surge, com isso, um pensador Cristão e moralista, que conseguiu ao menos opor-se a vida fútil e pretensiosa da aristocracia (a qual fez parte), com a simplicidade camponesa sem ser esquecido. Pura ironia.

“Aos dias sem explicação que não são e não serão poucos...”

 


Autor: Bessani, Dinaldo


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