Encontro com o Passado.



Capítulo I ? Não custa viver, custa sobreviver.

Não se pode dizer que a minha vida é perfeita mas, também não se pode dizer que é horrível. Eu, Jasmine tenho uma vida suficientemente boa para me contentar com o que tenho. É bom que eu dê graças a Deus por ter uma cama para dormir, roupa para vestir e comida para comer apesar de eu ter muito mais do que isso. Eu tenho bem a noção de que a minha vida não é má de todo, sei que há muita gente a passar fome e frio.
Eu viva num apartamento T3, na minha opinião, bastante grande para um apartamento. Tem uma grande cozinha, um pátio, uma sala e as coisas básicas que uma casa deve ter, porque o essencial numa casa não é ser grande, mas sim ter as coisas básicas e essenciais.
Eu vivo com a minha irmã, Michelle, com a minha mãe, Ruby e com o meu padrasto George.
Vou admitir uma coisa: Não posso ver o meu padrasto á frente, somos inimigos declarados, mas de certa forma tenho razão em ter esse ódio por ele, e não tenho complexos nenhuns em admitir isso!
Sim, é verdade que eu tenho um feitio difícil, mas não podemos dizer que o do meu padrasto fica atrás. Na verdade, até é capaz de ficar uns bons quilómetros á frente. A minha irmã tem tudo o que sempre sonhou e mais do que isso. Desde que nasceu. Já eu tive uma infância que não foi propriamente boa.
Eu tenho uma Senhora a quem confesso tudo. A quem desabafo, a quem faço rir, a quem faço chorar. Mas apenas falo com ela por cartas. Nunca na vida a vi.
Naquele dia decidi escrever uma carta. Eu sabia que nunca iria manda-la para a tal Senhora, mas quem disse que só se podem escrever cartas se for para enviar?

" A minha infância não foi propriamente a vida que eu queria. Nessa altura podia dar graças a Deus por ter um tecto e arroz e bolinhos de bacalhau para comer. Cresci sem pai. Apenas com a minha mãe e os meus avós maternos. Vivia na garagem da casa da minha avó Rose. A minha sorte era que aquilo era suficientemente grande para caber lá uma cama e eu e a minha mãe também. A minha mãe trabalhava horas e horas, esforçava-se até ao limite para trazer uns tostões para casa para comer todos os dias arroz e bolinhos de bacalhau, ou arroz com pescada (é verdade que não aparenta ser nada delicioso, mas era o que se arranjava na altura). Chegava a casa e nem queria acreditar que o trabalho já tinha acabado. Mas esquecia-se que ainda tinha que cuidar de mim. Tinha que me dar o jantar, lavar-me, vestir-me um pijama que era dela em pequena, dar-me o leite e adormecer-me. Admito que era uma vida difícil para ela, sem a ajuda do outro. Do meu pai. Aquele... Senhor, que nem sei o que lhe hei-de chamar abandonou-nos quando eu tinha apenas um ano e meio. Advinha lá porque?
Se estás a pensar que ele fugiu com outra, estás errada. Foi muito pior do que isso. Meteu-se nas drogas. Sim é exactamente isso. Drogas. Roubava a minha mãe e chegou a ir ao trabalho dela pedir dinheiro, em frente aos clientes. Se a minha mãe não lhe desse dinheiro não é muito difícil de adivinhar o que acontecia.
Quando me lembro disso caem-me lágrimas sem querer dos olhos e penso: Porque a mim? Tinha que ser logo a mim que não fiz mal nenhum a Deus nem a ninguém?
Hoje, não tenho a vida que tive na infância e nem para lá caminho. Acho. "

É verdade que o meu padrasto influencia muito na vida que eu tenho hoje por ajudar a pagar a casa que tenho e a comida que como, mas as atitudes dele não compensam isso. A minha mãe costuma dizer que eu sou demasiado materialista e de certa forma tem razão, quem é que não gosta de ter um telemóvel novo, ou uma consola das novas tecnologias sensacionais? Eu sou muito sentimental e as atitudes do George não ajudam nada neste aspecto.
Quando eu tenho escola de manhã cedo, é George quem me leva. Eu digo Bom Dia e ele não responde. Eu digo Adeus e ele não responde e isto acontece SEMPRE. Não falha um dia. Quem é que não se farta de ser educado para as pessoas e elas não responderem ou ignorarem? Na minha opinião, toda a gente e sabem, eu também sou gente, e como as pessoas normais, farto-me quando as pessoas são mal-educadas e me ignoram, por isso deixei de cumprimenta-lo e despedir-me dele.
Não me dá prendas no Natal e eu fico amuada o resto da noite( aqui está uma prova como eu sou um pouco materialista), não me cumprimenta, ignora-me, põe-me de parte da Michelle.
Sim, eu não sou filha de George, apenas de Ruby, já a minha irmã é filha de George e de Ruby por ela é apenas minha meia-irmã, mas eu odeio quando as pessoas dizem isso porque eu considero-a irmã por inteiro.
Ela fartou-se do seu padrasto, mas o pior é que ele fazia exactamente o mesmo á sua mãe. Jasmine foi conversar com Ruby:
- Mãe, já reparaste no que é que o George nos faz? Ele ignora-nos.
- Jasmine, não penses assim dele por favor.
-Não penso assim dele? Então como queres que pense? Já viste o que ele nos faz? Não sei como consegues ser feliz com ele!
-Jasmine Grey, não te esqueças que já vivemos pior do que isto e se tens o que tens é com a ajuda dele porque se fossemos só eu, tu e a tua irmã não tínhamos a vida que temos, não podias ter metade das coisas que tens! Tinhas que te privar das coisas que mais gostas se quisesses ter para comer!
-Mas mãe ?
-Nem mas nem meio mas!
Ela deve achar que eu vim falar com ela sobre este assunto porque bati com a cabeça e apeteceu-me irrita-la!
A minha mãe odeia confusões por isso é que não se dá ao trabalho de ouvir, como ela diz, as minhas queixas.
Uma das provas que ela odeia confusões é de que, desde que o George se juntou com ela, nunca mais fomos passar o Natal á minha avó (eu não considero a mãe de George minha avó) e ela nunca diz nada.
Outra das provas é que ele cumprimenta sempre a minha irmã (a minha irmã é a filhinha perfeita dele. Deve ser por ser a única) e á minha mãe não. E o pior é que ela não comenta, não resmunga, não responde, NADA! E isto passa-se consecutivamente.
Não a consigo perceber! Juro que não por mais que tente não consigo!
Vou parar de falar no George e mudar de assunto.
Eu sou muito directa e não tenho problemas nenhuns em admitir isso! Até acho que isso é uma virtude.
A minha irmã, a Michelle é loira, tem olhos castanhos-esverdeados (deve ser da genética, eu e a minha mãe também temos!). É pequenina e inteligente.
A minha mãe, Ruby, é loira, não de natureza, os olhos já disse. Também é pequena (calça o 35 e tem 35 anos), organizada e perfeccionista. É cabeleireira.
Eu, Jasmine, tenho o cabelo castanho, os olhos são iguais aos da minha mãe, sou trapalhona, divertida, brincalhona, orgulhosa, sincera e um pouco tímida.
Um dos meus piores defeitos é que respondo muito quando as pessoas me repreendem.
O meu padrasto, George, acho que nem preciso de falar mais sobre ele. Acho que qualquer pessoa que seja minimamente inteligente descobrirá os seus defeitos e virtudes ao longo da história.
Agora vou falar das minhas amigas. Mia e Betsy. Betsy é um nome bastante estranho para ela na minha opinião. Betsy significa Pessoa Que É Muito Carinhosa, e ela, sinceramente, não é nada carinhosa. Se calhar lá no fundo, fundo até é, mas não o mostra de uma forma propriamente ? carinhosa. Agora a Mia. A Mia é aquele tipo de pessoa Anti-Social. Completamente.

Autor: Sofia Pacheco Martins


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