Roda pião, bambeia pião



RODA PIÃO BAMBEIA PIÃO
Neumar Monteiro

O Ano Novo entrou na roda, ó pião! Roda, Ano Novo, que é muito bom! Roda, Ano Novo, como um pião! Chegamos ao futuro sem novidades, bambeando o corpo cansado da luta costumeira e remendando a vida como costureira: um trapo de lá, um alinhavo de cá, respingados de cansaço e suados de pelejar.
Temos a novidade de nova dirigente, em forma de Presidente, que vem para o povo salvar. Piada nova não há. Somente aquelas de antes: que povo não passa fome tem escola e diversão, salário mínimo é bastante para sustentar a família, que brasileiro merece somente a graça da prece, que santifica a alma mas o corpo é que padece!
O pião entrou na roda, ó pião! Mostra a sua figura, ó pião! Faça uma cortesia, ó pião! Sapateia no terreiro, ó pião! Roda pião bambeia pião! O pião é brinquedo muito antigo, geralmente feito de madeira, com formato de pera e ponta metálica na parte afunilada. Chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses, mas Virgílio, um dos maiores poetas latinos, já fazia alusão ao brinquedo em sua famosa obra "Eneida". Tornou-se, assim, conhecido pelo mundo inteiro conquistando povos e raças de além-fronteiras, envolvendo em sua roda até mesmo Pítaco de Mitilene um dos sete sábios da Grécia e também as crianças da Roma antiga.
A realidade de hoje, principalmente em se tratando do Brasil, é uma verdadeira rodada de um pião. O povo, massacrado pelas dificuldades, bambeia as pernas atrás de emprego e do pão de cada dia - do dia de sempre fome! Assim, transforma-se num voraz jogador desafiando outros participantes, famintos como ele, intentando colocar o pião dentro de um círculo: o que significa ser vitorioso na vida, ser aplaudido e ser gente igual aos demais. Até o pião rodar devagar e tombar em pouco tempo cessando as palmas: Rei por um dia!...
Faça uma pirueta, ó pião, para ganhar o pão; trabalha bem ligeiro, ó pião, para agradar o patrão; para criar a família, ó pião, com goiabada cascão; sapateia nas esquinas, ó pião, vista a roupa de domingo, ó pião, chore bem de madrugada, ó pião, ensaboa a sua cara, ó pião, cria um riso bem bonito, ó pião, o palhaço está na roda, ó pião, pede arroz e macarrão; mendiga a sua vida, ó pião, calça larga na cintura, ó pião, faça muitas cambalhotas, ó pião, para ganhar um real, ó pião!... E dividir com o irmão, ó pião.




Autor: Jane Cotts


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