Trabalhos Arqueológicos na Quinta das Covas (Fundo de Vila; Tábua) - Resultados Finais das Sondagens Arqueológicas de Diagnóstico



Introdução

O presente Documento visa dar conhecimento dos resultados das intervenções arqueológicas realizadas na Quinta das Covas (Fundo de Vila; Tábua), sob a forma de sondagens de avaliação.
Os trabalhos arqueológicos, previstos no Caderno de Encargos da Empreitada de Construção «EN 337 ? Variante de Tábua (1ª Fase)», foram preconizados como medida de protecção patrimonial após a identificação de vestígios arqueológicos no âmbito do acompanhamento da Empreitada.
A primeira intervenção (sond. 1) foi preconizada após a identificação de uma possível estrutura, à qual se encontravam associados materiais de tipologias atribuíveis a cronologia romana, na área correspondente à zona de implantação da futura Rotunda 1, do Nó 1.
Posteriormente mostrou-se necessária a realização de uma outra sondagem de avaliação (sond. 2) uma vez que, aquando dos trabalhos de desmatação e decapagem nessa mesma zona se detectou, num dos cortes do talude, uma estrutura à qual se encontravam associados materiais de cronologia romana.
Relativamente à supra mencionada Empreitada, é dono da obra a EP ? Estradas de Portugal, S.A., sendo o seu empreiteiro executante a Rosas Construtores, S.A..
A intervenção arqueológica foi efectivada sob direcção, e coordenação, científica da Drª Raquel Caçote Raposo, fazendo cumprir a Legislação Nacional em vigor. A saber: Lei nº 13/85, de 6 de Julho (Lei do Património Cultural Português), com as posteriores alterações que lhe foram introduzidas pela Lei nº 19/2000, de 10 de Agosto; Decreto-Lei nº 270/99, de 15 de Julho (Regulamento de Trabalhos Arqueológicos), com as posteriores alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-Lei nº 260/00 e Lei nº 107/01, de 8 de Setembro (Património Cultural Português).
As intervenções arqueológicas de que, pelo presente, se dá conhecimento decorreram, entre os dias 1 e 11 de Julho (sond. 1) e 15 e 19 de Setembro de 2008 (sond. 2).

Antecedentes

Aquando do Acompanhamento Arqueológico das obras de construção da «EN 337 ? Variante de Tábua (1ª Fase)» foi identificada, pela Equipa de Arqueologia responsável em Campo, uma vasta área de dispersão de materiais arqueológicos romanos, nas imediações do arqueossítio Quinta das Covas.
A Quinta das Covas, também designada por Fundo de Vila, designação que lhe advém da localidade em que sita, encontra-se cadastrada no Endovelico, tendo-lhe sido atribuída a identificação de CNS 2725.
Há cerca de 20 anos atrás, enquanto procedia a trabalhos para plantação de vinha, o proprietário dos terrenos - Senhor Loureiro -, recolheu grande quantidade de material numismático , num filão ao longo do terreno.
Já em 1984, aquando da descoberta do tesouro monetário, se verificava que, por toda a área do terreno, se encontravam dispersos materiais arqueológicos romanos, entre eles fragmentos de cerâmica comum, material de construção (tegulae, imbricae e lateres), assim como mós.
Segundo informações do proprietário do terreno, o próprio havia verificado a existência de estruturas, compostas por muros, os quais não se encontravam visíveis. Nesse ano foram aí levados a cabo trabalhos de conservação e restauro, sob responsabilidade do Dr. Artur Côrte-Real, e cujos objectivos seriam o de definir a área arqueológica a preservar, bem como reunir todo um conjunto de dados que lhe permitissem obter uma visão global acerca do arqueossítio.
Em 1999, aquando da realização do Levantamento Arqueológico do Concelho de Tábua (PNTA/1999), foi realizada a prospecção arqueológica da área, averiguando-se a dispersão de materiais arqueológicos à superfície da Quinta agrícola. Posteriormente, em 2001, aquando da realização do Estudo de Impacte Ambiental do projecto de construção da Variante de Tábua (à EN17), foi realizada a re-prospecção arqueológica dos terrenos a serem alvo de impacte pela construção da referida via rodoviária, sob responsabilidade do Dr. Marcos Silva que, dado o elevado potencial arqueológico, preconizou o desvio da rodovia projectada, de forma a que a mesma não interviesse negativamente sobre a Quinta das Covas (designado em EIA como Elemento Patrimonial A).
Na 1ª semana de Março do corrente ano, numa das prospecções efectuadas, pela Equipa de Arqueologia responsável pelo Acompanhamento Arqueológico, ao referido local, foi verificado que haviam sido realizados pelo antigo proprietário, em área de terreno expropriada, trabalhos de arranque de árvores (oliveiras), sendo que numa das valas resultantes desse arranque foram identificados vestígios estruturais e materiais arqueológicos.
Após a devida comunicação à Direcção Técnica e Fiscalização da Empreitada procedeu-se à sinalização e vedação da área em causa, ficando o terreno condicionado à realização de sondagens de avaliação arqueológica.
Assim, e na sequência daquilo que atrás se explanou, foi preconizada, após reunião entre as partes intervenientes, a realização de uma sondagem arqueológica de avaliação, de 10x10 metros, manual, na zona de maior dispersão de materiais e no local do aparecimento da estrutura, a qual seria coadjuvada, em simultâneo, com a desmatação da sua envolvente.
Posteriormente, aos 29 de Agosto do corrente ano, foi identificada, aquando dos trabalhos de desmatação e decapagem na zona da Rotunda 1 do Nó 1, num dos cortes do talude, uma estrutura, à qual se encontravam associados materiais arqueológicos de cronologia romana.
Por se localizar no perímetro da área arqueológica da Quinta das Covas, e podendo a referida estrutura estar associada a outras existentes, e anteriormente identificadas aquando da realização da sond. 1, foi decidida a paragem da frente de trabalho, sinalização e vedação da zona de ocorrência dos vestígios de forma a preservar a sua integridade.
Conforme procedimento comum, após reunião com as devidas Entidades intervenientes, foi preconizada pelo Dono de Obra a realização de uma nova sondagem de avaliação, de 6x6 mts, manual, para compreensão e enquadramento crono-cultural dos vestígios.

Enquadramento Geral
Enquadramento Físico e Geo-Morfológico

A área física em que se insere o nosso estudo localiza-se na região Centro de Portugal, Freguesia e Concelho de Tábua, no Distrito de Coimbra, encontrando-se cartografada na Carta Militar de Portugal nº 221 (escala 1:25.000).
Naquilo que se refere à sua geologia, e características pedogénicas, a área insere-se numa zona dominada por granitos e granodioritos, porfiróides, de grão médio a grosso, rochas essas integrantes de um vasto maciço hercínico, tardi-pós Orogénico, e que se estende por várias centenas de Km², sem qualquer descontinuidade, para Norte da Bacia do Rio Alva até junto da cidade de Viseu.
Tanto as alterações dessas rochas, como as condições hidrodinâmicas da região em apreço, promoveram o desenvolvimento de um horizonte superficial de alteração pedogénica, composta por terra vegetal, e que apresenta larga representatividade ao longo da área afectada pelo traçado do Projecto da «EN 337 ? Variante de Tábua (1ª Fase)».
Toda essa zona apresenta características de montanha, de natureza, essencialmente, granítica, com orientação predominante Oeste-Este, inserindo-se numa área de transição entre uma zona com características de planalto e as de vertente, o que lhe confere uma topografia irregular, geralmente pouco acentuada.
Relativamente à caracterização hidrográfica, o Projecto em questão insere-se na Região Hidrográfica nº 7 ? Mondego e Vouga, na Bacia Hidrográfica do Rio Mondego, enquadrando-se entre as Bacias Hidrográficas das Ribeiras de Tábua e do Rio Cavalos, não atravessando nenhuma linha de água principal.

Enquadramento Histórico-Arqueológico

O território actualmente abarcado pelo concelho de Tábua foi intensamente ocupado pelo Homem ao longo dos tempos, facto comprovado pelos inúmeros sítios arqueológicos, datáveis de variados períodos crono-culturais, desde a Pré-História à Contemporaneidade.
No Endovelico encontram-se cadastrados 63 sítios arqueológicos.
Datáveis da Pré-História são os arqueosítios de Quinta do Vale da Orca (Póvoa de Midões) ? CNS 14472, onde foram recolhidos, num terraço fluvial do Rio de Cavalos, materiais líticos de quartzo; Quinta do Sobreiro (Midões) ? CNS 14471, onde foram recolhidos fragmentos cerâmicos e de quartzo talhado; Vale de Gaios (Midões) ? CNS 15718, onde, a par de cerâmica cuja técnica de produção remete para período pré-histórico, foram recolhidos materiais de épocas ulteriores; Quintela (Tábua) ? CNS 16696, de onde, numa zona de aluvião sobranceira à Ribeira de Tábua, foi recolhida uma lasca de quartzito, não cortical, com bolbo; Olival (Sinde) ? CNS 16697, onde foram recolhidos núcleos sob lasca para lamelas em quartzito, uma lasca em quartzo parcialmente cortical, dois percutores em quartzo, assim como um nódulo em cristal de quartzo; Cumieira 2 (Midões) ? CNS 14470, onde foram recolhidos alguns quartzos e um nódulo de sílex talhados; Vila Nova da Oliveirinha 2 (Vila Nova de Oliveirinha) ? CNS 11519, onde foi identificado um conjunto de covinhas, de pequena dimensão, escavadas no topo de um cabeço granítico.
Todos os Sítios anteriormente enunciados são integráveis na Pré-História; contudo, em período indeterminado.
Do Neolítico/Calcolítico é a Anta de Vila Nova de Oliveirinha (Vila Nova de Oliveirinha) ? CNS 14469. Trata-se de uma anta orientada a NW-SE, composta de 7 esteios, um de menor dimensões em xisto, e os restantes em granito. O chapéu apresenta-se, também, em granito. Foi deslocada do seu original para uma propriedade, onde actualmente se encontra, nos meados do século XX. Do mesmo período, em Midões (Midões) ? CNS 15717, foi recolhido um machado de pedra polida, em anfibolite, de cor negra, com zona de encabamento.
Da Idade do Bronze, recolheu-se, em Santo Antão (Sinde) ? CNS 15719, num esporão que desce para o vale de uma ribeira, um bojo cuja superfície interna se encontra polida, e a externa alisada. Em Picota testemunha, também, a ocupação da Idade do Bronze, o Castro da Picota (Póvoa de Midões), implantado num cabeço sobranceiro ao Rio Mondego. Trata-se de um povoado fortificado, de pequenas dimensões, num sítio de bom controlo visual, o que permite aventar a hipótese de se tratar de uma Atalaia.
Em Parceladas (Covas) ? CNS 3632, foi observado um achado isolado datável da Idade do Ferro.
Ainda integrável na Proto-História, mas em período indeterminado, o Castro de Sumes (Midões) ? CNS 11520, localiza-se no topo de um cabeço aplanado e que, a Oeste, forma um pequeno promontório sobre o Rio de Cavalos. Este povoado, naturalmente defensável pelos lados Norte, Sul e Oeste, apresenta-se destruído.
Testemunhos da romanização deste território, os Sítios de Couto de Midões (Midões) ? CNS 12651, onde se identificaram duas inscrições com molduras em granito, reutilizadas na parede Sudeste da Capela de São Sebastião, e onde se pode ler: GENIO MUNICIPII TEMPLUM. C. CANTIUS MODESTINUS, EX PATRIMONIUM SUO.
Na Pedra da Sé (Tábua) ? CNS 2759, e classificado de Imóvel de Interesse Público, encontra-se, numa encosta sobranceira ao Rio Mondego, uma via romana, com cerca de 4,70 metros de largura, em elevado estado de abandono e degradação. Ainda na mesma zona, em Pedra da Sé 2 (Tábua) ? CNS 11525, foi identificado um afloramento de granito, localizado a Este da Ponte Velha, onde são visíveis marcas de cunhas de extracção de blocos por fractura longitudinal. Aquando do Levantamento Arqueológico do Concelho de Tábua, realizado em 2002, foi aventada a possibilidade de se tratar de uma pedreira Romana.
Em Midões 3 (Midões) ? CNS 14474, no exterior da Igreja Matriz de Midões, encontram-se vários achados, entre eles molduras de inscrição inacabadas e um cipó funerário de incineração. Neste local encontram-se, ainda, elementos Medievais, como cabeceiras de sepultura e quatro molduras inscritas com rosáceas.
Em Cumieira 1 (Midões) ? CNS 14473, foram identificados diversos vestígios datáveis de período romano, como sejam material de construção, restos de pavimento (tijoleira), cerâmica comum e, ainda, fragmentos de escória, o que parece confirmar um local de habitat.
Em Olival da Fonte dos Mouros (Sinde) ? CNS 16690, foi identificado um casal rústico romano implantado num pequeno cabeço que, a Norte, desce suavemente em direcção a uma linha de água. Na Quinta da Telhadela (Meda de Mouros) ? CNS 16694, foi, também, identificada uma mancha de ocupação datável do mesmo período.
A Ponte de Sumes (Midões) ? CNS 2752, classificado de Imóvel Interesse Público, apresenta fundações aparentemente romanas, assim como um único arco de volta perfeita e aparelho regular semelhante ao arco da Bobadela. No tabuleiro da Ponte verificam-se indícios de um aparelho de via, ou calçada romana, semelhante ao identificado na Pedra da Sé. Em direcção a Vasco (Midões), e a cerca de 50 metros da Ponte, encontram-se vestígios de calçada, aparentemente medieval, correspondente a uma possível reconstrução da mesma via.
A Ponte de São Geraldo (Midões) ? CNS 14475, apresenta situação idêntica à supra enunciada, de aparentes fundações romanas e possível reconstrução medieval.
Na Quinta das Moitas 1 (Midões) ? CNS 15721, foram identificados, numa encosta com ligeira inclinação, em frente ao cemitério de Midões, numa Quinta privada, um conjunto de vestígios diversos datáveis de período romano, constituídos por fragmentos de escória de vidro, de tijoleira e de cerâmica comum.
Na Quinta das Várzeas (Espariz) ? CNS 16693, foram identificados vários vestígios, dos quais se destacam fragmentos de cerâmica, escória, material de construção, numismas, material de uso pessoal, que indicia a existência de um casal rústico romano. Em Cumieira 3 (Midões) ? CNS 11522, foi identificada uma dispersão de material, constituída por cerâmica comum e material de construção.
Também na Várzea de Sinde (Sinde) ? CNS 19930, num esporão sobre a Ribeira de Sinde foi identificada grande dispersão de material numa área de cerca de 100 m², constituído por cerâmica comum e material de construção. Este arqueossítio apresenta, ainda, ocupação Moderna.
Em Ervedais (Covas) ? CNS 11521, identificaram-se vestígios de povoamento romano e alto medieval numa zona de olival de um esporão sobre a Ribeira da Lameira. O Sítio desenvolve-se até Este da Igreja Matriz das Covas, e dista cerca de 300 metros do arqueossítio de Pombal (Covas) ? CNS 15723.
Em Mouronho, cadastrado com o CNS 11523, Castelo apresenta, numa área de 800 m² sita numa plataforma Norte-Sul, dispersão de material que indiciam uma cunheira. Também da mesma tipologia é Fontão ? CNS 11524, sito num cabeço em frente à Lomba do Canho. A Este da Ribeira de Fontão foram identificados, em 2002, amontoados de cunhos.
Documentando a ocupação deste território aquando da época medieva temos a destacar a sepultura antropomórfica trapezoidal com cabeceira rectangular da Igreja das Covas (Covas) ? CNS 14477; a sepultura antropomórfica, com cabeceira em arco de volta perfeita de Covas (Covas) ? CNS 15727; a sepultura antropomórfica, com cabeceira rectangular, de Matosa (São João da Boa Vista), que sita a cerca de 200 metros da sepultura antropomórfica de Conchadas (São João da Boa Vista) ? CNS 15729; as sepulturas de Oliveira de Fazemão (São João da Boa Vista) ? CNS 15733; as duas sepulturas antropomórficas da Quinta do Esporão 1 (Midões) ? CNS 14480; a necrópole da Quinta das Hortas (Midões) ? CNS 14481, que se constitui por quatro sepulturas escavadas na rocha, orientadas a Oriente, segundo os cânones cristãos; o lagar da Quinta da Pedra da Abelha 2 (Covas) ? CNS 14482; o conjunto de três sepulturas da Quinta da Pedra da Abelha 1 (Covas) ? CNS 14478; as duas sepulturas antropomórficas de Pinheiras (Midões) ? CNS 14479; a necrópole da Quinta do Prado (São João da Boa Vista) ? CNS 15735; a sepultura da Quinta do Olival de Valacolos (São João da Boa Vista) ? CNS 15731, que apresenta cabeceira de arco de volta perfeita, orientada a Sul e que, segundo informações antigas, se integraria num conjunto de outras quatro sepulturas, indiciando uma necrópole; as sepulturas de Quinta das Moitas 2 (Midões); o povoado da Quinta das Cruzes (Tábua) ? CNS 16698, sito junto à Ribeira de São Simão, numa plataforma de baixo declive; a sepultura antropomórfica da Quinta do Olival (São João da Boa Vista) ? CNS 15726, orientada a Sudeste, com cabeceira de arco de volta perfeita; a sepultura de Gamelão dos Mouros (Midões) ? CNS 15728; a sepultura de Conchada (São João da Boa Vista) ? CNS 15729; Midões 4 (Midões) ? CNS 11533, onde, junto à casa mortuária, se encontram três cabeceiras de sepultura; a sepultura antropomórfica de São Cristovão 1 (Covas) ? CNS 11541, que poderá, eventualmente, ter sido, ulteriormente, utilizada como lagareta (conforme o indicia a fractura do afloramento na zona dos pés); a sepultura antropomórfica, escavada sob xisto, de Tapadinho (Mouronho) ? CNS 11540, a sepultura de São Cristovão 2 (Covas) ? CNS 11542, que dista a cerca de 15 metros da de São Cristovão 1.
Também em Cumieira 3 (Midões) ? CNS 11522 e em Ervedais (Covas) ? CNS 11521, se registam vestígios alto-medievais.
No Sítio da Torre (Tábua) ? CNS 4775, foi detectada uma mancha de ocupação, com materiais integráveis no período alto-medieval/visigótico (que se caracterizam por tijoleira com decoração estampilhada); em Mouronho (Mouronho) ? CNS 11527, identificou-se, em 2002, uma mancha de dispersão de materiais alto-medievais numa área de cerca de 200 mts, num esporão sobre a Ribeira que lhe confere a sua designação.
Também no povoado de Tábua (Tábua) ? CNS 4517, foram identificados materiais de construção (tijolos) com decoração datável do período alto-medieval/visigótico.
Integráveis no período Moderno são os arqueossítios de Vale de Gaios (Midões) ? CNS 15718; a lagareta de Lage do Souto (Covas) ? CNS 15724, composta por tanque escavado na plataforma superior de um afloramento granítico; Passais (Sinde) ? CNS 16691; Pombal (Covas) ? CNS 15723; o povoado de Quinta das Cruzes (Tábua) ? CNS 16698; a Ponte das Uchas (Midões) ? CNS 16922; o lagar de Vila Nova de Oliveirinha 1 (Vila Nova de Oliveirinha) ? CNS 15725; Quinta do Olival (São João da Boa Vista) ? CNS 15726; Várzea de Sinde (Sinde) ? CNS 19930.
Cadastrados, mas de cronologia indeterminada são a lagareta de Corgas (Vila Nova da Oliveirinha) ? CNS 11544; a lagareta da Quinta do Esporão 2 (Midões) ? CNS 11543; o arqueossítio de Mangação (Meda de Mouros) ? CNS 26499.
Em termos históricos, não existem documentos anteriores ao século XII que possam auxiliar nos estudos desta região; contudo, apenas para a freguesia de Midões se encontra disponível documentação escrita anterior à Nacionalidade.
Tábua nunca recebeu Foral, sendo as suas terras a agregação de várias povoações, e que compreendia os bairros de Alvarelhos, Fundo de Vila e Silhada. Contudo, Tábua foi domínio de Seia, sendo que, posteriormente, as primitivas paróquias do concelho foram incluídas, administrativamente, no julgado medieval de Seia.
Sabe-se, ainda, que Tábua foi, no século XII honra da Família dos "de Cunha", por dádiva da Infanta D, Tereza, conforme o comprovam as Inquirições de 1258.
Segundo Pinho Leal, a origem do topónimo Tábua deve-se à existência, em tempos do Condado Portucalense, de uma ponte de tábuas sobre o Rio Mondego. Em finais do século XIX terá, esta ponte, sido substituído por uma outra, de cantaria, lavrada, com cinco arcos, e actualmente submersa pela Barragem da Aguieira.
Posteriormente, o Concelho de Tábua substituiu, e englobou, os de Candosa (extinto em 1840, e anexo ao de Midões), de Midões (extinto em 1853), de Ázere e de Sinde.

Trabalhos Arqueológicos ? Sondagens de Avaliação
Metodologia

As sondagens foram realizadas de acordo com metodologias específicas da Arqueologia, e seguiram as técnicas de registo e escavação preconizadas por E. C Harris e por A. Carandini.
Este método de escavação e registo define-se pela identificação, registo e escavação das denominadas Unidades Estratigráficas (U.E.) que constituem, cada uma delas, realidades que podem ser individualizadas pelas suas próprias características, que lhe são intrínsecas e, principalmente, pela sua posição em relação às outras unidades estratigráficas (relação estratigráfica).
As unidades estratigráficas são escavadas pela ordem inversa à da sua deposição, isto é do mais recente para o mais antigo, podendo ser de origem antrópica ou natural.
As relações estratigráficas definem-se pelas leis da estratigrafia arqueológica; isto é, uma unidade estratigráfica pode estar coberta, ser cortada, servir de apoio ou ser preenchida por outra, o que nos permite uma relação de anterioridade. De igual forma, uma unidade estratigráfica pode cobrir, cortar, apoiar-se ou preencher outra, permitindo-nos estabelecer uma relação de posterioridade.
Por fim as Unidades Estratigráficas podem ser iguais ou sincronizaram-se, permitindo-nos estabelecer uma relação de contemporaneidade.
Depois de serem correctamente identificadas e delimitadas, as UE's são numeradas e registadas numa ficha onde se indicam as suas características e as suas relações estratigráficas. São, ainda, alvo dos concomitantes registos.
O registo fotográfico é realizado através da fotografia digital, sendo que as UE's são fotografadas individualmente, sempre em referência ao Norte magnético, com uma escala e com uma placa identificativa com o acrónimo, nº da unidade estratigráfica e data.
Por fim, o seu registo gráfico é efectuado através de desenho à escala tida por adequada (escala 1/20, 1/50, etc), e cotadas em relação a um ponto fixo; denominado ponto 0; que pode, posteriormente, ser convertido à altimetria absoluta.
O espólio é recolhido em referência à unidade estratigráfica e ensacado com a respectiva ficha identificativa o que nos permite, posteriormente, datar, atribuir cronologias às unidades estratigráficas, muito embora esta datação seja sempre relativa.
No final da escavação fotografam-se os cortes da sondagem, desenhando-se os cortes mais significativos.
Todas as relações estratigráficas representam-se a posteri da realização da intervenção num gráfico conhecido como Matriz de Harris, e que nos permite ter uma leitura integrada da estratigrafia da escavação. A combinação das relações estratigráficas com o espólio recolhido em cada unidade estratigráfica permite-nos a estabelecer fases ou períodos históricos da intervenção arqueológica.

Sondagens Arqueológicas. Progresso e Desenvolvimento
Sondagem 1

Conforme acordado entre as partes envolvidas, a intervenção arqueológica foi coadjuvada com a desmatação da área envolvente, realizada de forma controlada, e sob acompanhamento de um dos Arqueólogos responsáveis pelo Acompanhamento Arqueológico, de forma a obter uma leitura mais fidedigna relativamente à dispersão dos vestígios arqueológicos pela área dos 2.500 m².
Assim, procedeu-se a uma limpeza da vegetação existente com recurso a meios mecânicos.
Após limpeza da zona procedeu-se, ulteriormente, à marcação e delimitação da área a sondar (10x10 m²).
A sondagem, doravante designada por Sondagem 1, foi implantada com orientação a Norte, encontrando-se delimitada a Este pelo limite da área expropriada.
O acrónimo da escavação ficou definido como QTC.08 (Quinta das Covas 2008).
No decurso da escavação, realizada com recurso a meios manuais, foi possível observar a seguinte estratigrafia:

UE 01 - Camada vegetal. Camada homogénea, pouco compacta, de grão médio a grosso e coloração castanha, na qual se observou a presença de vegetação e raízes.
Apresenta baixa frequência de espólio arqueológico associado, nomeadamente cerâmica comum e material de construção do qual se destaca tegulae e imbrex.
Apresenta uma potência variável, entre os 30-50 cm.
Cobre a UE 02.
UE 02 - Camada pouco compacta, de grão grosso e coloração castanha-acinzentada.
A esta camada encontram-se associados a maioria dos materiais arqueológicos exumados, de entre os quais se destaca grande quantidade de material de construção (tegulae, imbrex, lateres e fragmentos pertencentes a piso - tijoleira), bem como fragmentos de cerâmica comum, doméstica e de armazenamento (ex.: fragmentos de dolium).
Foram, ainda, exumados fragmentos de escória de ferro.
A sua potência estratigráfica oscila entre os 30-43 cm.
Esta unidade encontra-se coberta pela UE1 e cobre a UE3.
UE 03 - Derrube.
Derrube de estrutura composta por blocos de granito de média dimensão.
Apresenta cerca de 3,36 metros de comprimento (N-S).
Encontra-se coberta pela UE 02.
UE 04 - Alinhamento.
Estrutura composta por blocos de granito de média dimensão.
Apresenta 2,88 mts de comprimento X largura que oscila entre os 50-55 cm.
Encontra-se orientada no sentido E-W.
Encontra-se relacionada com a UE 03.
UE 05 - Bloco de granito.
Bloco de granito de média dimensão. Encontra-se associado à estrutura registada como UE 04.
Apresenta 0,65x0,52 mts de comprimento.
UE 06 ? Camada de coloração castanha, pouco compacta, de matriz arenosa.
Apresenta pouca potência estratigráfica, oscilando entre os 9-20 cm.
UE 07 ? Bloco de granito de pequena dimensão, localizado no corte Norte (secção NE).
UE 08 ? Unidade composta por substrato geológico (saibro).
UE 09 ? Dois blocos graníticos, rectangulares, orientados N-S (corte Norte, secção NW), ao qual se encontra associado o derrube designado por UE 10.
UE 10 ? Derrube.
Material cerâmico, de construção (maioritariamente tegulae) depositado sobre a UE 08, indiciando um derrube.

Sondagem 2
Aquando dos trabalhos de desmatação e decapagem na zona da Rotunda 1 do Nó 1, foi detectada, num dos cortes do talude, no âmbito do Acompanhamento Arqueológico da supra citada Empreitada, uma estrutura arqueológica, à qual se encontravam associados materiais arqueológicos de cronologia romana.
Localizada no perímetro da área arqueológica designada por Quinta das Covas, e podendo a referida estrutura estar associada a outras existentes, e anteriormente identificadas aquando da realização da sondagem arqueológica de diagnóstico, de 10x10 mts (Sond. 1), decidiram os Arqueólogos responsáveis pelo Acompanhamento suspender a execução de qualquer acção na referida frente de trabalho.
Sinalizada e vedada a zona de ocorrência dos vestígios de forma a preservar a sua integridade, foi, após reunião com as devidas Entidades intervenientes, preconizada a realização de uma nova sondagem de avaliação, de 6x6 mts, para compreensão e enquadramento crono-cultural dos vestígios.
A sondagem foi implantada no terreno, orientada a Norte, na Ligação 2 da Rotunda 1, sendo que a quase totalidade da área intervencionada corresponde a níveis de solos remexidos, resultado de intervenções respeitantes à reformulação do caminho pré-existente e plantação de olival e vinha.
No decurso da escavação, realizada com recurso a meios manuais, foi possível observar a seguinte estratigrafia:

UE 01 ? Camada constituída por terra de coloração castanha, muito escura, e com a presença significativa de vestígios vegetais compostos por raízes, assim como ramas de oliveira e videira. Foram, ainda, identificadas perturbações recentes (resíduos plásticos).
A esta camada encontram-se associados materiais de cronologia contemporânea, assim como seixos rolados, resultado, muito provavelmente, de depósitos de terras de origem fluvial.
UE 02 ? Alinhamento de pedras detectado no decorrer dos trabalhos de escavação mecânica para desmatação. Muro de contenção de terras de um caminho pré-existente, constituído por blocos de granito de média dimensão.
Apresenta orientação a NW.
UE 03 ? Camada constituída por terra de coloração castanha escura, com a presença de cerâmica comum e de construção de época romana.
Esta UE corresponde a solo não remexido, e situa-se no limite ocidental do troço do caminho pré-existente (quadrante NE da sondagem).
UE 04 ? Derrube.
Nível de derrube constituído por pedra miúda e material cerâmico de construção, de época romana.
Foi observado no corte Nordeste.
UE 05 ? Camada de terra castanha clara, muito compacta.
Apresenta-se estéril do ponto-de-vista arqueológico.
UE 06 ? Unidade composta por substrato geológico (saibro).

Considerações Finais

No âmbito do Acompanhamento Arqueológico da execução da «EN 337 ? Variante de Tábua (1ª Fase)» foram identificados vestígios arqueológicos na área da Rotunda 1 do Nó 1, numa área de dispersão de 2500 m², aos quais se encontravam associados materiais de cronologia romana.
De forma a objectivar como pressupostos a identificação de possíveis contextos in situ e sua interpretação, como por exemplo funcionalidade, e a sua integração crono-cultural, foi preconizada a execução de uma sondagem de avaliação, de 10x10 mts (sond. 1), a qual, orientada a Norte, se encontrava delimitada a Este pelo limite da área expropriada.
Ressalva-se que a intervenção arqueológica, de avaliação, foi realizada nas imediações do já conhecido arqueossítio Quinta das Covas, também designado de Fundo de Vila - CNS 2725 ? onde, já em 1984, enquanto procedia a trabalhos para plantação de vinha, o proprietário dos terrenos recolheu grande quantidade de material numismático num filão ao longo do terreno.
A intervenção arqueológica, realizada de acordo com as metodologias propostas por E. Harris e A. Carandini, permitiu pôr a descoberto estruturas, em alvenaria, sobre material pétreo da região ? granito, as quais apresentavam mau estado de conservação, dado o prévio uso agrícola dos terrenos (plantação de vinha e oliveira).
O material arqueológico exumado, composto maioritariamente por cerâmica de construção (tegulae, imbrix, lateres), a par da parca cerâmica comum, doméstica e de armazenamento (ex.: fragmentos de dolium) leva-nos a crer, a par da localização física em que se inserem, e sua inter-relação com as previamente conhecidas, que estaríamos perante a pars rústica de uma villa.
Reiterando o que atrás se mencionou, e conjuntamente com os dados que se deu conhecimento no capítulo anterior, a sondagem 1 apresentou vestígios arqueológicos, edificados e materiais, datáveis de cronologia romana, os quais se mostraram concentrados nas secções NW, NE e E.
Na secção Este, os vestígios postos a descoberto encontram-se limitados por área de terreno não expropriada (propriedade particular). Na secção Norte, especialmente nos quadrantes NW e NE, os vestígios foram parcialmente postos a descoberto, encontrando-se o corte/perfil Norte, balizado pelos limites de implantação da sondagem.
A sondagem 1 foi coadjuvada pela desmatação, realizada de forma controlada e sob o acompanhamento de um dos Arqueólogos responsáveis pelo Acompanhamento Arqueológico da Empreitada em questão; após essa acção, que permitiu a observação da totalidade da superfície do solo, foi possível constatar que a área de maior concentração de materiais arqueológicos (maioritariamente de construção), se localizava na envolvente Norte e Oeste da sondagem 1, sendo ainda de referir que, muito embora em menores quantidades, também foram observados fragmentos de material romano a Sul.
Como medida de minimização de impactes foi preconizada a sobre-elevação do aterro previsto para a zona, em 50 cm, de forma a promover a preservação das estruturas postas a descoberto.
A selagem da área onde se efectuou a sondagem deveria ser realizada sob Acompanhamento Arqueológico por parte de um dos Técnicos da Equipa responsável (colocação de geotêxtil e posterior aterro).
Naquilo que se refere à segunda intervenção de avaliação realizada no âmbito da Empreitada - sondagem 2 -, a mesma foi preconizada na sequência da identificação de uma estrutura, à qual se encontravam associados materiais de cronologia romana, na zona da Ligação 2 da Rotunda 1, aquando de trabalhos de desmatação num dos cortes do talude.
A intervenção arqueológica de avalização, de 6x6 mts, permitiu aferir que a estrutura observada não se tratava de uma estrutura arqueológica, mas sim de um muro de contenção de terras do caminho pré-existente.
Tanto no decurso da intervenção, como da leitura dos resultados obtidos, foi possível atestar o intenso remeximento dos solos (quer da reformulação do caminho existente, quer pelo uso agrícola dos terrenos ? plantação de olival e vinha).

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Nota: Este texto faz parte integrante do Relatório Final apresentado ao IGESPAR. O referido documento encontra-se aprovado.
Autor: Raquel Caçote Raposo


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