Ops! gafes de narradores e locutores



            Por Laércio Becker, de Curitiba-PR 

A profissão de narradores de futebol é ingrata. Além de ter que narrar o jogo (haja cordas vocais) e transmitir emoção, não existe um script. Por ser tudo no improviso, é claro que a possibilidade de cometer erros é enorme. Os locutores de estádio também estão sujeitos às derrapagens, já que é tudo ao vivo. Ossos do ofício. Meus sinceros respeitos e homenagens aos narradores e locutores abaixo citados, os minutos dessas gafes não desmerecem em nada as décadas de informação e emoção que eles já nos proporcionaram.

URSS x Portugal

São Januário, sábado, Vasco x Americano. Lá pelas tantas, o locutor do estádio anuncia, em voz cava: “Em Lisboa, no Estádio da Luz, União Soviética 2 x Portugal 0”.

Um burburinho correu pelas sociais, tomadas de portugueses e descendentes. O conselheiro Pacheco interpelou o presidente Antônio Soares Calçada:

- Oh, Calçada, como é que podemos perder hoje um jogo a se realizar amanhã?

Essa frase, por si só, já é uma pérola da lógica e a história podia até terminar por aqui. Mas não. O presidente foi averiguar e, pouco depois, o locutor do estádio anuncia:

- Atenção. O jogo que acabamos de noticiar será realizado amanhã. E está 0 a 0.

 

Fonte:

MOREYRA, Sandro. Histórias de Sandro Moreyra. Rio de Janeiro: JB, 1985. p. 47.

 

Madureira x Flamengo

Década de 70, rádio Jovem Pan. Enquanto José Silvério narrava uma partida, Milton Neves estava no plantão, auxiliado por um estagiário, que informa a marcação de gol do Madureira contra o Flamengo, 1x0. Depois vieram novos gols: 2x0, 3x0. Quando chegou no 4x0, Silvério pede que Milton confirme a zebra. Quando descobre que o estagiário estava acompanhando a preliminar, pelo campeonato de aspirantes, Milton Neves anuncia simplesmente o seguinte:

- Todos os gols de Madureira 4x0 Flamengo foram anulados. Ainda está 0x0.

 

Fonte:

BINDI, Luiz Fernando Bindi. Futebol é uma caixinha de surpresas. São Paulo: Panda, 2007. p. 85.

 

Mandaguari x Londrina

Década de 50. A Rádio Paiquerê, de Londrina, pretende transmitir a final da zona norte, entre Mandaguari e Londrina. Sem condições técnicas de fazer a transmissão diretamente de Mandaguari, a emissora colocou Willy Gosner para narrar o jogo a partir da transmissão da Rádio Guairacá, de Mandaguari.

0x0 no placar, o Londrina precisava da vitória quando, aos 43 do segundo tempo, conseguiu a marcação de um pênalti a seu favor. Só que, na hora de bater, Lei de Murphy: a Guairacá sai do ar. Às cegas, Willy resolveu narrar: “gol!! Londrina campeão!”

Foi a maior festa entre os torcedores. Só que o jogador errou o pênalti. E Willy teve de fugir da cidade.

 

Fonte:

CARNEIRO NETO, Antonio Carlos. Efabulativos do futebol. Curitiba: Coração Brasil, 2003. p. 184-5.

 

Orson Welles

Durante a excursão do São Paulo pela Europa, em 01.04.1949, o locutor Geraldo José de Almeida narrou uma partida em que o tricolor, com direito a Leônidas da Silva, foi impiedosamente derrotado por 7x0. No dia seguinte, a Rádio Record admitiu que foi uma brincadeira de primeiro de abril. Talvez inspirada na famosa transmissão radiofônica de A guerra dos mundos (de H.G. Wells), por Orson Welles, em 1938.

 

Fonte:

POLI, Gustavo; CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol Sportv. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009. p. 284.

 

Brasil x Iugoslávia

Num amistoso noturno entre Brasil e Iugoslávia. Segundo Sandro Moreyra, entra o goleiro gaúcho Alberto – segundo Carneiro Neto, o goleiro Jairo, do Coritiba. Então, um locutor bastante bairrista resolveu chamar a atenção para as qualidades do arqueiro:

- A esse, se derem chance vai longe. Boa envergadura, boa elasticidade, excelente nas bolas altas...

Brincou com a Lei de Murphy: foi justamente aí que veio uma bola alta chutada pelo ponta-esquerda e o goleiro, “excelente nas bolas altas”, engole um frango lamentável. Com a língua queimada e certamente constrangido, o narrador tenta responsabilizar os refletores e pergunta no ar: “foi o refletor?” E o comentarista, que não era bairrista, responde na lata:

- Não, foi o ponta-esquerda.

 

Fontes:

CARNEIRO NETO, op. cit., p. 209.

MOREYRA, op. cit., p. 56-7.

 

O inconfundível quem?

Na RTP, no início de um jogo do Sporting de Lisboa, o narrador português Gabriel Alves fez a seguinte descrição: “aí vem Paneira, com seu estilo inconfundível”. Maldade ou não, em seguida a câmera dá um zoom no jogador e o narrador, constrangido, corrige: “... mas não, é Veloso!”.

Pelo visto, o estilo de Paneira não era tão inconfundível assim.

 

Fonte:

BINDI, op. cit., p. 85.

 

Interatividade

Essa pérola foi de um narrador português: “... e o árbitro foi agora atingido por um objeto estranho, provavelmente atirado por um telespectador”. Haja interatividade!

 

Fonte:

EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 74.

 

Doval

Durante uma partida, na década de 70, para consternação dos torcedores presentes, o locutor do Maracanã anunciou a morte do argentino Doval, ídolo de tricolores e rubro-negros. O pequeno detalhe é que ele estava no estádio – e vivo, é claro. Então, o locutor corrigiu-se, com a seguinte pérola:

- O jogador Doval, que havia morrido, não morreu e está assistindo ao jogo.

 

Fonte:

BINDI, op. cit., p. 83.

 

Internacional x Atlético Paranaense

Beira Rio, 1970, pela Taça de Prata, final 4x1 para o colorado. Rosildo Portela, da Rádio Guairacá, recebe diretores atleticanos na cabine e, de costas para o jogo, anuncia aos ouvintes a visita ilustre. Foi quando Paulo Branco, que respondia pelo plantão da rádio, avisa:

- Atenção, Portela; gol.

- Gol onde, meu caro Paulo Branco

- Aí em Porto Alegre, Dorval para o Atlético.

Como estava distraído com os visitantes e não havia torcida rubro-negra no estádio para se ouvir a comemoração, Rosildo nem percebeu o gol. Mas não perdeu a pose e narrou atrasado mesmo.

 

Fonte:

EMEDÊ, op. cit., p. 58.

 

Seleto x União Bandeirante

Quando o radialista que fazia o plantão esportivo pediu demissão, a Rádio Clube Paranaense contratou um locutor novato de bela voz, mas que não entendia de futebol.

Sua estréia ocorreu numa rodada em que a rádio transmitiria um Atletiba enquanto, em Paranaguá, jogariam o Seleto contra o União Bandeirante. Havia uma grande expectativa, criada pelo próprio narrador do jogo, que anunciava a todo momento a iminente entrada do novo plantonista.

Foi quando se ouviu o vozeirão chamando: “Airton!” E o narrador, enchendo a bola do novato:

- É a estréia do novo plantão da Rádio Clube, Carlos Marassi, a revelação que veio de longe, munido desta voz potente que irá muito mais longe ainda pelas ondas da Rádio Clube. Informe, Marassi!

Deve ter sido a emoção:

- Em Seleto: Paranaguá 1, União 0.

 

Fonte:

BUCHMANN, Ernani. O ponta perna de pau. Curitiba: ed. do autor, 2005. p. 25-6.

 

Bulgária x Suécia

Copa do Mundo de 1974, Galvão Bueno narrava partidas a partir de um monitor (“off-tube”). Informado de que narraria Bulgária x Suécia, anunciou as escalações e informou aos telespectadores que o time de branco era a Bulgária e o de amarelo, a Suécia. Já depois de algum tempo de bola rolando, a TV alemã dá um close no placar: Alemanha Oriental 0x0 Austrália, com as mesmas cores. Haja coincidência... Depois de um silêncio constrangedor, Galvão continuou a narração com os nomes todos devidamente corrigidos, como se nada tivesse acontecido.

 

Fontes:

DUARTE, Marcelo (org.). Enciclopédia do futebol brasileiro. São Paulo: Areté, 2001. v. 2, p. 505.

EMEDÊ, op. cit., p. 72.


Autor: Laércio Becker


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