Divagações sobre as mudanças...



"Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois as águas se renovam a cada instante; não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição". Esta frase do filósofo Heráclito, que viveu em Éfeso, cidade da Jônia durante os anos de 540-476 a.C, faz pensar muito. Por vezes já havia me posto a refletir sobre a dinâmica do Universo, e esta frase, certamente, transmite ou resume as minhas divagações: tudo se transforma, tudo está em movimento.
Esta teoria já muito fora estudada e, pela ciência de séculos mais tarde, comprovou-se o fato de que existem ciclos da natureza, nos quais a matéria é reaproveitada para constituir-se em um novo ser, e isso ocorre também conosco, seres humanos: nossos corpos, quando inertes de vida, fundem-se novamente com a Natureza, transformando-se em outra matéria orgânica, que também se modificará um dia e assim por diante.
Esse sentimento de transformação pode ser sentido de forma mais intensa em nossa sociedade atual, na qual as constantes mudanças tecnológicas e mercantis nos fazem perceber um mundo no qual o tempo parece fluir mais rapidamente: o que antes era, agora já não o é mais, costumes, moda, obrigações, exigências. A canção "A mais pedida", gravada pelos Titãs fala, de uma forma bem humorada, dessa característica social.
O que mais chama a minha atenção neste pensamento de Heráclito é pela dinâmica social e humana dela: as mudanças fazem parte de nosso cotidiano ? embora muitas vezes não as percebamos. O que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois. Há algo de frágil e sutil na existência humana que foge da simples mecanização de nossos atos ? sonho de qualquer capitalista aos seus trabalhadores.
A mudança encontra-se na essência do ser humano, mas é preciso que percebamos que ela está acontecendo, caso contrário, o processo não notabiliza tudo o quanto deveria. É necessário que tenhamos atitude filosófica em nosso cotidiano, que tentemos entender esse sentimento de transformação que nos é inato. Para isso, simples perguntas ajudam: Eu estou em constante transformação? E meu pensamento, também? Sou hoje o que ontem não era e o que amanhã não serei? Como perceber e compreender isso? Como me relacionar com outras pessoas se, tanto eu quanto elas, constantemente mudamos? Se eu mudo e não percebo, isso é ruim? A que ponto eu realmente me conheço? O que seria melhor se eu me conhecesse tanto quanto deveria?
Perguntas estas que cabe a cada um de nós tentarmos responder a nós mesmos, nos possibilitando não sermos tão passivo frente às mudanças que acontecem conosco ao longo de nossa vida. Sermos atuantes, protagonistas de nossas vidas e, nesse processo, nos tornarmos mais sábios, melhores para nós mesmos e também para os outros.

Autor: Fabiane Tamara Rossi


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