NA CONTRAMÃO COM JESUS - Geraldo Barboza de Carvalho



NA CONTRAMÃO COM JESUS - Geraldo Barboza de Carvalho
"Muitos vêem as coisas tais quais são e se desesperam dizendo: por que isto. Eu, porém, sonho com coisas que nunca vi e me pergunto: Por que não realizá-las. Pois, nada importante é feito por gente de bom senso, mas pela sabedoria insondável de loucos e sonhadores. Nem sempre é doido quem vai na contramão do status quo, pois apenas sonha ser livre e gerar liberdade. Zumbi dos Palmares andou na contramão da escravidão legalizada, mas só ele fez história, ainda é lembrado e inspira libertação de escravos atuais, negros, brancos, amarelos ávidos de liberdade. Mas, seus opressores morreram com a escravatura"(Bernard Shaw/Paulo Moura). Guardar hábitos bons do passado é importante para manter as conquistas da história. Mas, isto não significa acomodação, inércia que impede realizar sonhos. Pois, para mudar o rumo da história é preciso andar na contramão da cômoda sensatez, da rotina sem sonho dos covardes e medrosos, omissos e coniventes, saudosistas sem esperança, que só olham para o passado e esquecem de olhar o futuro de novas conquistas. Cada um de nós vem ao mundo para realizar sonhos e ideais contidos nos valores éticos e estéticos, não para reproduzir estereótipos sociais e fósseis históricos, cultuados pelos demissionários da esperança, que não acreditam no poder transformador dos sonhos. Sonhe, seja louco! Sua luz terá prolongados seus dias na terra como semeadura de novos sonhadores.
Crer é um estilo de vida inspirado nos valores éticos e estéticos revelados por Jesus. Estes valores são compatíveis com o desejo humano de viver livremente e feliz. Os 2 valores éticos básicos revelados por Jesus são o direito e a justiça, desdobrados nos demais valores: respeito, liberdade, justiça, partilha, culminando no amor ao próximo,
no ágape. Ágape é amor qualitativo (ser), na contramão do equivocado e quantitativo amor (ter). Ágape, que visa o interesse do outro, se opõe ao amor egoísta, que visa o próprio interesse. Amor qualitativo e quantitativo não trilham os mesmos caminhos, embora as pessoas que optaram por um ou outro vivam no mesmo meio social, façam as mesmas coisas, exerçam profissões idênticas, tenham até idêntico credo religioso. Entre eles há um diferencial qualitativo no modo de viver com os outros. Diferencial que gera conflitos interpessoais, sociais, culturais, políticos e econômicos ? conflito de valores. Vivemos neste mundo em conflito, numa realidade social tecida por valores com sinais contrários. O ambiente social é um só, mas a vivência axiológica de cada um tem direções opostas: trafego em direções opostas na mesma via é choque certo.
A vivência de valores e ideologias opostas e contraditórias, a visão de mundo de cada pessoa, suas escolhas fundamentais é que geram os conflitos interpessoais e sociais.
Jesus é o paradigma do gerador de conflito de valores, desde que entrou no mundo. Maria era noiva de José e engravidou sem a participação do noivo; sentindo-se traído, José planejou fugir. Mas, o Anjo de Javé interveio e esclareceu a situação. José casou-se com Maria, adotou Jesus por filho e viveram felizes. Jesus foi perseguido pelo rei da Judéia logo ao nascer, quando Herodes soube que Jesus era o rei dos judeus. Ora, Herodes não admitia concorrente. Como foi enganado pelos reis magos sobre o local onde nasceu Jesus, mandou matar todos os meninos menores de dois anos. Maria e José fugiram pra o Egito com Jesus e salvaram o rei Menino. Jesus, ao ser consagrado ao oitavo dia no Templo, Simeão disse a Maria que seria ele sinal de contradição, pois andaria na contramão da Lei judaica, que se tornou fonte de corrução das autoridades religiosas de Israel. A vida pública de Jesus confirmou a profecia de Simeão e ele era consciente disto. "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas o conflito. Por minha causa, o filho ficará contra o pai, a filha contra a mãe, nora contra a sogra, pois os inimigos do ser humano são os seus familiares". Conflitos de valores e opinião são, pois, necessários pra evolução das civilizações e culturas. O confronto dos valores novos com os antigos decadentes é que geram os providenciais conflitos, que começam com crises, impasses na relações humanas e sociais. O mais intenso conflito vivido pela humanidade foi a entrada do eterno no efêmero, da luz nas trevas, de Deus no mundo, no umbral da fase final da história, cujo desfecho será a parusia, que é "um mistério guardado com Cristo em Deus. A seguir haverá o fim, quando Cristo entregar o reino ao Pai, até que tenha posto todos seus inimigos sob seus pés. A morte será o último inimigo a ser destruído, pois o Pai pôs tudo sob o domínio do Cristo. Quando Jesus disser: ?todas as coisas me foram submetidas?, então ele mesmo se submeterá àquele que lhe submeteu tudo, para que Deus seja tudo em todos".
O conflito gerado pela presença do Primogênito no mundo é o DNA vigoroso da mais
profunda revolução antropológica, revolução de valores e costumes jamais conseguida
por filosofias e ideologias. O Filho Único fez-se homem pra encabeçar a mudança mais substancial do rumo da história. Mudança tão substancial que a história passou a ser contada antes e depois de Cristo. A revolução antropológica feita por Jesus consiste
em balizar as relações humanas por valores éticos, enfeixados no direito e na justiça, propostos como regra de vida aos que decidem seguir Jesus pela fé. Os que vivem eticamente, chocam-se permanentemente com os que desdenham dos valores éticos e pautam suas vidas pelo desrespeito ao direito e à justiça. São dois modos de viver antagônicos, um na contramão do outro. Por isto, seguir Jesus, viver eticamente é estar em permanente conflito, no fio da navalha, na contramão do mundo como Jesus sempre viveu. O mundo é o universo da maldade, do desrespeito aos valores éticos. O mundo onde reina Satanás pode estar nos templos e igrejas, assim como o reino de Deus pode estar nos estados laicos e nas diversas crenças. O vidente de Patmos diz que os judeus da igreja de Esmirna são a "sinagoga de Satanás"; a igreja de Pérgamo é "o trono de Satanás, onde ele habita". Neste mundo mau, crer é viver em constante
conflito. Conflito construtivo, crise que acende a luz da verdade e do bem no reino da
mentira e falsidade. Conflitos que os omissos e mornos evitam, porque preferem viver nas trevas do medo, da covardia. O Primeiro e Último, o Vivente manda João escrever à igreja de Laodicéia: "Conheço a tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fôsseis de vez quente ou frio. Assim, porque és morno, nem quente nem frio (mas em cima do muro), estou para te vomitar da minha boca". Os mornos, os fingidos, os omissos os que fogem do combate da fé são colaboradores de Satanás, nojentos, asquerosos,
aos olhos do Vencedor da morte. A vida pública de Jesus foi em conflito aberto com o
estamento religioso de Jerusalém, onde os desvalores do mundo imperavam pelo uso
abusivo da Lei. Jesus não os temia ou evitava e dizia aos discípulos que também não os temessem, "pois podem matar o corpo que será cadáver (bazar), mas não podem
matar a alma (nephesh), o corpo destinado à ressurreição, edificado desde já pela fé". Por isto, aparentemente, as autoridades religiosas do Templo venceram a quebra de braço com Jesus, levando-o à morte de cruz. Os valores que Jesus anunciava levariam inevitavelmente à destruição do templo e do legalismo religioso dos fariseus, doutores da Lei, levitas e sacerdotes. Chorando sobre Jerusalém, Jesus diz que não ficará pedra sobre pedra nela. Os cultores da religião esclerosada e diabólica ameaçam Jesus de morte, tentando salvar pela força a religião sem fé: "Melhor que morra um só homem
que perder toda a nação", sentenciavam eles. Jesus topou o desafio, decidido a fazer valer os valores éticos e implodiu o Templo e a Lei: "Não penseis que vim trazer paz à
terra. Não vim trazer paz, mas a espada (cortante da Palavra) e o fogo (do Espírito de santidade); como desejaria que ele já ardesse (pela adesão de fé a Ele e à Palavra de vida. O Espírito ardeu como línguas de fogo em Pentecostes). Pois, os valores éticos que o Pai mandou-me anunciar vão contrapor o homem a seu pai, a filha à sua mãe, a nora à sua sogra. Em suma: os inimigos do homem são os seus familiares". O conflito de valores é regra nas relações humanas e começa dentro de casa. Por isto, os que vivem pela fé vivem a paz inquieta, a saudável indignação de quem está em constante combate contra o mundo dirigido por Satanás; mundo dominado pelo direito da força, não pela força do direito e da justiça, o ágape. "Nosso combate não é contra sangue e
carne, mas contra os dominadores deste mundo, os espíritos do mal. Por isto, deveis vestir a armadura de Deus, pra poderdes resistir no dia mau e sair firmes do combate contra o mal. Ponde-vos, pois, de pé, cingi os rins com a verdade e revesti-vos com a
couraça da justiça, calçai os pés com a preparação do evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podeis extinguir os dardos inflamados do Maligno. E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus". O combate consciente do bem contra o mal é a cruz de Jesus e nossa: "Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, ao modo de viver egoísta do mundo, tome a cruz do compromisso ético e siga-me. E onde eu estiver, aí também estará meu servo": Na cruz da luta e na glória da ressurreição de quem crê e vive conforme o que crê.
Tudo isto acontece no coração do mundo, em confronto com suas contradições, não fugindo dele. Fugir do mundo pra ser santo é estar na contramão de Jesus, que veio ao mundo, o amou, viveu nele, sofreu suas contradições, nunca fugiu dele, mas deu a vida por ele, pois sua presença no mundo conflituoso é que o salva. Depois da morte de cruz, por ter enfrentado os antivalores do mundo no coração do judaísmo com os valores éticos do Reino, contrários aos valores do mundo, Jesus ressuscito, assumiu seu lugar no trono de Deus, e nos enviou ao mundo investidos do poder de Deus Mãe, pra continuarmos sua missão profética e diaconal, em meio aos ataques do mundo, revestidos do poder de Deus, que a fé. "Eu vos envio ao mundo como cordeiros entre lobos. No mundo (cínico, aético) tereis tribulações. Se ele me perseguiu, também vos perseguirá. Mas ele faz isto porque não compactuais com os antivalores, andais na contramão deles como eu também não compactuei, mas os enfrentei até o fim. Tendo amado os que estão no mundo, até o extremo do amor os amei, salvando suas vidas. Por isto, coragem! Eu venci o mundo" e vós o vencereis também. "Vossa vitória sobre ele é a vossa fé", vivida no convulsionado coração do mundo em transe. Na véspera da crucificação, na oração sacerdotal Jesus diz: "Pai, saí de ti e vim ao mundo. Deixo o mundo agora e volto para ti. Já não estou no mundo; mas eles ficam no mundo e eu volto a ti. Como me enviaste, eu também os envio ao mundo. Não peço que os tires do mundo, mas os livres do mal". Jesus envia ao mundo os que crêem e garante o sucesso da sua missão contra os ataques do mal. Se pra vencer o mundo precisamos
fugir dele, não seguimos Jesus pela fé, mas outra entidade. "Deus não nos dá espírito de covardia, mas de bravura", diz Paulo a Timóteo. Os cristãos precisam ser educados na fé pra viverem no mundo, não fugindo dele. Não faz sentido ser santo num mundo onde todos pensam igual e não se admitem diferenças de dons. Ora, "o Espírito é um só, mas vários são os dons" e opiniões. Como ser sal que conserva e luz que brilha, se o medo nos isola e impede de partilhar as dores e desgraças do mundo, configuradas nas trevas da falta de respeito, injustiça, violência? "Vós sois o sal da terra. Se o sal perdeu seu sabor, para mais nada serve: será jogado fora e pisoteado. Vós sois a luz do mundo. Não se acende a luz e a coloca debaixo da mesa, mas em lugar alto pra clarear o ambiente. Igualmente, brilhe no mundo a luz da vossa fé, para que, vendo vossas boas obras, os homens glorifiquem vosso Pai celestial".
Mas, contrariando a mística essencial da cruz, comunidades cristãs acendem luzes e as prendem na segurança da rejeição do mundo. Santidade sem cruz é jóia falsa. Não vêem que o mundo está nas trevas da incredulidade e do desamor, carente da luz dos
valores éticos no coração e vida dos que crêem. Omissão diante do mundo mau não é sinal de santidade, mas pecado grave. "Se vês teu irmão em pecado e não o advertes, ele se perderá, mas pedirei a ti contas da morte dele. Se o advertes e ele não te ouve, ele se perderá, mas terás tua vida salva". Vejam com que seriedade Deus trata seus enviados! A corrida em massa de cristãos para comunidades fechadas é mau sinal na Igreja. Clausura ficou pra missionários contemplativos, chamados a viverem a missão sacerdotal, intercessora com Jesus. Mas a missão comum do povo, da Igreja de Deus, pecadora e santa, é profética e diaconal face aos conflitos do mundo gerados pelos valores éticos do Reino de Deus que interpelam os antivalores do mundo. "Como o Pai me enviou, envio-vos também com poder pra destruir, arrancar, exterminar, demolir, construir e plantar. Ide pelo mundo todo, anunciai a boa nova a toda criatura. Fazei que todas as nações se tornem discípulos meus. Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo. E eles saíram a pregar a boa nova por toda parte, agindo Jesus
com eles, confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam". Cristão que se fecha ao mundo, que busca a moleza de uma vida sem conflito como regra de vida, sem os choques de valores que geram a contramão existencial da fé é cristão que rejeita o mundo que Jesus tanto amou, a ponto de dar a vida por ele. Jesus viveu na contramão do mundo como regra de vida e o mesmo vale para os seus discípulos: "Quem quiser ser meu discípulo, renuncie ao cômodo farisaísmo da religião intimista, tome a cruz das contradições do mundo e siga-me. Eu sou o caminho...da cruz. Onde eu estiver, estará também meu seguidor". Quem crê não foge da cruz que o mundo impõe, mas diz com Paulo, que viveu no mundo e, por amor a Jesus, morreu vítima dele: "Alegro-me nas fraquezas, perseguições, necessidades, angústias, opróbrios por causa de Jesus. Agora, alegro-me no que sofro por vós, e completo na minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, por seu Corpo que é a Igreja. Por isto, quando sou fraco, aí é que sou forte".
A corrida maciça de cristãos pra clausura é o presságio da criação de invertebrados na fé, de homens e mulheres prepotentes, sem misericórdia, desumanos, legalistas, fingidos, fariseus. Ora, "o justo precisa ser humano", diz o sábio. É falsa a santidade negadora da humanidade, açúcar na boca de Satanás. "O Filho de Deus se fez carne e habita conosco. Caríssimos, não acrediteis em todo espírito, mas examinai os espíritos
para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo. Reconhecereis nisto o espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; todo espírito que não confessa que Jesus veio na carne não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo". O Anticristo é o Satanás, o Adversário de Jesus e dos que
crêem nele. Escutem bem estas palavras, espíritas negadores do corpo, em nome de um espiritualismo desencarnado anticristão. Nossa fé não é só no Cristo ressuscitado, que vive no Espírito com o Pai, mas em Jesus crucificado, "escândalo para os judeus, loucura para os racionais gregos, mas sabedoria e poder de Deus para os que crêem". Quem foge do mundo para ser santo está inventando um Jesus liofilizado e insosso, que não santifica ninguém. "Sinto vergonha dos que fogem da cruz de Cristo" (Paulo aos Gálatas). E você que vive fugindo do mundo, negando o corpo que Deus lhe deu como morada da SS Trindade, o que responde ao Apóstolo? Ser santo não é mérito seu, mas dom de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, vivida no coração do mundo em transe. Ouçam a Palavra de Jesus em quem você acredita, que você segue: "Pai, não peço que tires meus seguidores do mundo, mas os livre do mal". Ou você acha que Jesus não tem cacife para sustentar o que diz? Será falsa sua Palavra: "Passarão céu e terra, mas minha palavra permanecerá". Se Jesus não tivesse a credibilidade do seu testemunho de vida, o que valeria sua palavra e quem garantia a nossa fé? Aí, é
pegar a cruz e caminhar com Jesus e deixar de inventar um Jesus Cristo à imagem e semelhança da mediocridade e tibieza de quem diz que crê, mas não pratica as obras da fé. Mas, Tiago é incisivo: "É morta a fé sem as obras". A decisão é sua! Ninguém mente para Jesus, a verdade que liberta de toda mentira, teórica e prática.
Geraldo Barboza de Carvalho.

Autor: Geraldo Barboza De Carvalho


Artigos Relacionados


Qual é A Condenação Para Quem Não Crê Em Jesus ?

Quem Nos Separará Do Amor De Cristo

Jesus Cristo.

A Confissão De Pedro.

Jesus Cristo Vem Em Meu Auxílio

Esqueceram-se Do Cristo Jesus

Clamor Ao Espírito De Deus