Educador social em uma casa de acolhimento institucional



Ser Educador Social nem sempre é uma escolha de vida, e este entendimento se cristaliza ao longo da caminhada da prática profissional, na qual há transformações internas e externas, que incidem no olhar sobre o fazer da sociedade elitista. Deduz-se que a garantia de direitos é fundamental quando se pensa em uma sociedade menos desigual, sem se esquecer da importância da preservação dos vínculos sociais, que tem na escola, as primeiras interações do ser com o meio-social, pois é isso o que dá o apoio necessário a construção do saber para a formação cidadã, que perdurará por toda vida, supostamente, de "forma digna".

Neste artigo percorre-se um caminho longo e instigante entre o início da exploração da educação pela educação, do homem pelo homem, passando pelas garantias Constitucionais, pelos princípios dos Direitos Humanos, pela ação da Sociedade, seus preceitos e preconceitos, até se chegar ao contexto da vida em um Albergue como espaço aprendente, e à prática profissional do Educador Social.

Esta reflexão tem como fonte de dados a prática de profissionais dos mais variados campos da educação que se tornaram por ação política, vocação ou opção profissional, Professores, Cuidadores, Educadores dos alunos da rua que foram excluídos das Escolas. Esse trabalho é fruto de um processo de convivência e observação, como em uma pesquisa etnográfica, realizada no Albergue Municipal da Cidade de Guarulhos/SP.

O Albergue em questão, é uma escola para aprender como recomeçar uma nova trajetória de vida; um lugar aonde todos aprendem, do educador ao usuário, às disciplinas vão do preconceito ao compromisso. O local é um equipamento de Atendimento às Pessoas em Situação de Rua, digamos que é um espaço de aprendizagem freqüentado por alunos das escolas: Públicas, Privadas, das Ruas e da vida. em seus diversos níveis de formação, Porém, são sujeitos doentes no corpo e na alma, marcados pela exclusão escolar e social.

O processo de conhecimento foi inspirado no entendimento de que, trabalhar com violação de direitos é um desafio e uma conquista para todos educadores: ora por se fazer o movimento de enxergar o outro com potencialidades, ora por se perceber como igual.
É nesse processo de reflexão que o profissional se constitui enquanto Educador Social, uma vez que se entende o exercício da profissão como importante mediadora na luta constante pela construção e/ou reconstrução de vínculos e garantia de direitos no processo de ensino-aprendizagem.

Sendo assim, compreende-se que o fato da educação histórica do sujeito é formada por relações sociais nas quais ocorrem trocas (Vigotysk), conquistas e derrotas e de onde emerge o reconhecimento da identidade. Ao se deparar, então, com a prática profissional, enquanto um sujeito educador visualiza-se a necessidade de se trabalhar na criação de redes de apoio, rever conceitos e preconceitos. Isso se tornou visível nas mudanças de posturas da equipe de educadores e nos grupos de formação, com o apoio dos educadores do Projeto Rede Rua. Percebeu-se também, o entendimento de todos como educadores de uma nova visão pedagógica, que é parte do ensino, que poderá reerguer um aluno caído na sociedade, mas que aos olhos do educador-mediador, tem potencial para ir além das ruas por meio da educação, ao se sensibilizar com o fato de que, um indivíduo isolado de seus laços se desfilia e torna-se vulnerável, de modo a sentir em seu dia-a-dia as mazelas e os entraves para a conquista da autonomia, refletindo-se, assim, no não acesso a uma cidadania básica, que passa pelos pressupostos da educação escolar e social.

Nesse sentido, tem-se que a responsabilidade individual e coletiva são elementos que se destacam, uma vez que a pessoa em situação de rua é agente ativo de mudança e transformação, tanto na dimensão social, quanto no próprio comportamento de risco. Esta linha de pensamento dá suporte ao fazer do profissional da Educação Social dentro do contexto andrológico em que vive.

Portanto, encaminhar para a restauração de vínculos de cidadania e garantia de direitos são os princípios que norteiam este trabalho, que se estrutura, assim, no surgimento da Formação Social como instrumento de mediação para uma Nova Educação Alberguista, com vista a construção coletiva de conhecimento que envolve-se todos no espaço aprendente com uma ambiência escolar na visão de que no espaço, todos são como aprendizes e mestres no exercício educacional; contribuição para um novo olhar sobre o contexto político, seus desafios, resultando na estigmação negativa do equipamento; Os dias atuais, o processo de reconquistar uma boa imagem, o projeto de formação permanente dos educadores como agentes professoral de cidadania, e, encerrando o capítulo, a relação da formação escolar/acadêmica e o papel do Educador no Albergue, hoje.

Com o processo de globalização na velocidade da luz, nos coletivos de formação pedagógica, aborda-se a Questão Social e Educacional, o preconceito em um aspecto mais amplo e sua relação com a visão da sociedade e o Albergue; resultado da violação de direitos, um agravante na vida do "Morador de Rua".

É preciso criar mecanismos que possibilitem sem dor a construção da políticas que respaldem a educação fora dos muros da escola e as bases legais; O trabalho pedagógico-educacional da equipe, desde a chefia até os servidores dos serviços gerais na superação do preconceito, cooperando com o Processo de Conhecimento e de Intervenção, que se particulariza em na visão de cada usuário,assim como dos Educadores, que possa representar três conquistas: a do usuário, a dos profissionais do equipamento e da sociedade em permanente construção.

"...Em que outro contexto, senão nesse, faz-se, mais que nunca, necessário o educador? E para fazer o quê? Contribuir para construir o sentido de muitas vidas. Tarefa difícil, tarefa imprescindível. Se há a desvalorização, as dificuldades, há também a revolução silenciosa que somos capazes de promover na consciência e nas atitudes daqueles que educamos. A despeito da desvalorização social que esta profissão vem sofrendo e de todas as dificuldades, a nós, educadores, não cabe a desistência ou a indiferença. Elas só nos levarão, cada vez mais, para longe de nossos sonhos e daquilo que nos constitui educadores". (Moacir Gadotti, 2008:11.)

Ser educador em uma casa de acolhimento é acreditar na pedagogia como instrumento de transformação social, é usar a educação para reconstruir trajetórias de vidas, dar visibilidade, beleza, tornar belo, aqueles que, na maioria dos casos foram excluídos da escola e tornaram-se invisíveis para a sociedade. É despir-se de velhos conceitos academicistas, como forma de enfrentar o estigma e os preconceitos ? , dar voz e vez aos que têm seus direitos garantidos na Constituição Federal e negados na esfera social. "A beleza de praticar a pedagogia social em uma escola diferenciada dos padrões tradicionais", consiste em buscar a eqüidade na diferença, perseguir resultados positivos e estar disposto a reensinar e a reaprender a cada gesto e a todo momento.

A beleza existe em todo lugar. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa consciência, do nosso trabalho e do nosso cuidado. A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar. "...ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". Paulo Freire chama a atenção para a essencialidade do componente estético da formação do educador. Por isso fala de sonho e sentido. "Sentido"quer dizer "caminho não percorrido" mas que deseja percorrer,portanto, significa projeto, sonho, utopia. Aprender e ensinar com sentido é aprender e ensinar com um sonho na mente; e a pedagogia deve servir de guia para realizar esse sonho". (Moacir Gadotti, 2008:17.)

Acredito que o sentido de ensinar reside no processo constante de modificação e na valorização da ação educativa, do espaço físico, da transformação, do reconhecimento do erro e da comemoração do acerto. É como educador viver intensamente o seu tempo de "aula" sabendo que pode ser surpreendido e na criatividade improvisar a qualquer momento. Não se pode imaginar um educador social sem criatividade na perspectiva da emancipação. Os educadores, capazes de ações emancipadoras, não só transforma a ambiência do espaço aprendente, como transformam qualquer informação em conhecimento com olhar crítico analisando sua práxis, sem esquecer que forma pessoas. O sentido de transformar e se transformar, que não basta afirmar que apesar das desigualdades sociais, outro mundo é possível, é preciso provar que acredita através do exercício e do exemplo na prática profissional. E isso implica educar para a transformação da sociedade com outros olhares. Como esta escrita na recepção da Casa de Acolhimento supracitada: "todos que por aqui passam, ensina e aprende cada um do seu jeito"



Bibliografia
GADOTTI, Moacir. Boniteza de um Sonho: Ensinar e aprender com sentido. São Paulo: Ed,L ? Instituto Paulo Freire, 2008.


Autor: Samuel Vasconcelos Lopes


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