Sociologia em "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector.
Pouco depois de chagar ao Rio, Macabéa é admitida em uma empresa como datilógrafa, trabalho que desenvolvia pessimamente, e foi morar em um quartinho com mais três moças.
A vida da protagonista do livro não possuía nenhum encanto, ela mesma não possuía encantos. Seus hábitos de higiene eram escassos e seu conhecimento a respeito da vida era nulo.
Por não se achar "muita gente" ou não saber quem é Macabéa era totalmente submissa: no emprego, no "namoro" ou em qualquer relação social que estabelecia. Em alguns momentos, ela se olhava no espelho como alguém que busca não ver somente sua imagem física, mas conhecer quem se é verdadeiramente.
Além disso, ela também era facilmente influenciada pelos meios de comunicação e pela publicidade, era alvo fácil em uma sociedade consumista, pois era fã de cachorro quente com coca-cola e sonhava em ser artista de cinema, mesmo sem saber escrever direito.
O "namorado" de Macabéa, Olímpico, percebe, com o tempo, que ela não tem nada para lhe oferecer, assim, se interessa por Glória, colega de trabalho de sua namorada. Esta tem pai açougueiro e Olímpico, sendo metalúrgico, vê maior possibilidade ascensão social estando com Glória do que com Macabéa e resolve deixá-la.
Após perder seu namorado, ela vai a uma cartomante que afirma que sua vida vai mudar para melhor quando Macabéa sair de sua casa. Isso realmente acontece, pois ela vive seu maior momento, sua hora da estrela. Ela morre atropelada por um Mercedes, se liberta da vida mesquinha que levava e é, finalmente, feliz.
Macabéa vivia em um tempo diferente do da sociedade presente. Enquanto as mulheres já não são mais tão recatadas, praticam o sexo antes do casamento, realizam abortos (Glória, a colega de trabalho, já vez mais de três), ela estava de acordo com os preceitos bíblicos e personalizava a "moça direita"
Podemos perceber alguns elementos da sociologia clássica e da sociologia moderna nesta obra de Clarice Lispector.
Para tanto cabe aqui uma diferenciação entre o clássico e o moderno na sociologia.
Enquanto a sociologia clássica se preocupava em estudar o homem e saber o motivo de ele agir de uma certa forma e perceber os fatos sociais que o circundam, a sociologia moderna quer tratar do global, de processos e relações que se desenvolvem em escala mundial.
Segundo Octávio Ianni (2008) "as coisas, as gentes e as idéias movem-se em múltiplas direções, desenraízam-se, tornam-se volantes ou simplesmente desterritorializam-se" e essa é a forma que as pessoas encontram para "entrar" na era do globalismo.
Após a leitura do livro ou após ver o filme, percebemos que a obra também trata de uma questão social: a adaptação (ou não) do migrante nordestino ao trabalho e vida no sudeste do país. Normalmente, as pessoas do interior acreditam que a capital é sempre melhor, porque é mais rica, tem mais oportunidades de emprego e melhores salários, isso é o que elas imaginam, mas nem sempre é assim. Macabéa, por exemplo, consegue um emprego que não é habilitada para desenvolver, mas por ser a única a aceitar o baixíssimo salário, é contratada. Isso acontece muito, já que acredita-se que o migrante está aberto a qualquer salário só para se fixar na "cidade grande".
"A Hora da Estrela" pode ser composta por uma personagem fictícia, mas sua história não pode ser considerada mera ficção. Como vimos, Macabéa representa uma classe social em busca de ascensão. O migrante que trabalha em fábricas com condição ruins de trabalho, que recebe salários baixos, mora em condições precárias e que é engolido pela sociedade consumista movida pelo capitalismo.
Referências Bibliográficas
IANNI, Octávio. As ciências Sociais na época da Globalização. iea, são Paulo.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/NARRATIVADEESPELHOS.pdf. Acesso em 01/12/2010
http://saladeaula.terapad.com/index.cfm?fa=contentNews.newsDetails&newsID=53893&from=archive Acesso em 01/12/2010
Autor: Tauana Nunes Paixão
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