Senhor Carolo
O senhor Carolo era um feminista e não sabia!!! Quando o jovem militar, oficial da marinha de guerra, chegou a cidade inteira parou, como diria Chico Buarque, parou para ver, ouvir e dar passagem. Em todas as casas o assunto era o mesmo, um excelente partido para as moçoilas casadoiras. Bonito, culto, bem colocado, de família tradicional, era o sonho dos pais de família da época.Era festa que não acabava mais. Freqüentava todos os salões com desenvoltura até cruzar com a jovem Aurora em seu caminho. Aurora estava ficando solteirona. A média de idade para moça casar era mais ou menos dezesseis anos, aos dezessete já eram mães, aos trinta eram idosas. Aurora dava aula de francês em um conceituado colégio para moças, que era dirigido por um clérigo amigo do Sr. Carolo, que de passagem pela cidade foi visitar o amigo. Ao chegar no colégio o Sr. Carolo cruzou o caminho com a professora Aurora que sequer notou o belo moço. Aurora era de família tradicional e vanguardista, seus pais educaram os filhos para o mundo, todos estudaram, eram livres para externar qualquer opinião, os pais não tratavam seus filhos com distância e não costumavam fugir de qualquer pergunta por mais embaraçosa que pudesse parecer, sempre respondiam com atenção e educação. As crianças daquela família tinham prioridade. Mamaram do seio de sua mãe, coisa que na época, em casa abastada, era absurda. Nunca passara pela casa da família uma ama de leite. No verão, durante as férias, as crianças tinham permissão para brincar no jardim até mais tarde. O pai de Aurora mandou instalar no jardim uma espécie de ducha nas paredes e as crianças tomavam banho de chuveiro no jardim. Algumas vezes seus pais vestiam roupão e também participavam da brincadeira, coisa escandalosa para aquela época. Isso aconteceu no inicio do século passado. Com esta vida tão tranqüila Aurora e sua irmã se perguntavam, será que vale a pena se casar e virar escrava do lar, com uma panela na cabeça fazendo as vezes de coroa e a vassoura fazendo as vezes de um cetro? Isso elas não desejavam e foram se aprimorando, trabalhando e vivendo a vida de maneira plena. Isso até aparecer o Sr. Carolo que descobriu o endereço de Aurora e foi até sua casa para falar com a moça. Ele chegou e se fez anunciar, foi bem recebido, e quando se declarou a queima roupa, ouviu um "eu vou pensar..." Aurora se reunião com seus familiares, seus pais deram carta branca, se está gostando vá em frente, se tem alguma dúvida, recue. No dia seguinte Sr. Carola foi saber a resposta e foi recebido pelos pais de Aurora que após as apresentações foram direto ao assunto. Suas filhas eram moças inteligentes, bonitas e livres para pensar e agir e que não estavam preparadas para ser submissa a marido algum. O assunto era sério para ser resolvido de forma irresponsável. O Sr. Carolo ouviu tudo e concordou plenamente com os pais de Aurora. Eles casaram. O Sr. Carolo foi genial como amigo, companheiro e pai de família. Seus filhos foram educados com liberdade de expressão, suas filhas com independência financeira. Era uma família excêntrica para os padrões de uma época em que a prepotência e o patriarcado funcionavam. A linda Aurora continuou trabalhando, foi autora de um livro romântico muito recomendado na época. Com sua beleza enfeitou os salões dos presidenciáveis, era amiga da primeira dama e como teve o privilégio de ter uma bela voz, cantou nos salões da vida. Aos oitenta anos ainda brilhava e foi considerada a eterna debutante! Graças a seus familiares e seu marido foi uma mulher que marcou época, uma mulher a frente do seu tempo! O Sr. Carolino Cavalcanti de Melo e Castro sabia das coisas!
Autor: Nadia Foes
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