O Maestro e a Musa
Quando conheci aquela senhora tão elegante que vivia em uma linda cobertura, cercada de obras de arte, e que sabia receber. Segundo ouvi dizer, pessoas da realeza da Europa freqüentavam seus salões na época em que ela viveu na Europa. Ela era uma excelente amazona e aos setenta anos ainda montava seus cavalos de raça. Não acreditei que pudesse ser a mesma pessoa, decididamente não era. Gostei muito dela e passei a visitá-la com certa freqüência. Ela vivia com a senhora sua mãe, senhora doce e sábia, já entrada em anos. Algumas vezes saí em sua companhia para fazer algumas compras. Sua sobrinha era minha amiga. Ela era muito discreta e eu menina de treze ou quatorze anos era fascinada por ela. Ela foi a moça mais bela e rica de sua geração, era industrial, sua família capitaneava famosas indústrias. Ela foi comprando a parte dos irmãos e tornou-se sócia majoritária, mas isso foi depois de sua volta para o Brasil. Na época ela contava trinta e cinco anos e vivia na Itália, em Roma, onde possuía uma castelo que comprou de um nobre arruinado. Aos vinte e cinco anos ela se encontrava em São Paulo e foi assistir a apresentação de uma orquestra sinfônica no Teatro Municipal. Comenta-se que ela estava deslumbrante. Após o conserto ela foi jantar com o maestro e um pequeno grupo de paulistas quatrocentões. Ela desejava fazer um convite, na sua cidade ia ser inaugurado um grande teatro com acústica perfeita e ela desejava para a inauguração um espetáculo inesquecível. O maestro arranjou um tempo em sua agenda e aceitou o convite. Convém frisar que ela estava pagando o dobro; pagou mais que o Teatro Municipal e este episódio ficou na história da cidade. O maestro deu de presente a ela uma composição e daí nasceu uma paixão. O maestro morava na Alemanha e ela foi com ele na volta da turnê. Passou uma longa temporada na Alemanha e porque não gostava muito do povo germânico, achava o povo meio frio e distante. Foram para Itália e lá ela comprou o palácio. A princípio ela achou lindo e romântico, porem logo detestou as cortinas e acabou por fazer pequenas reformas. No inicio ela viveu mais dentro do avião que em terra. Depois cansou e resolveu esperar o amado na ensolarada Itália. Foram alguns anos de felicidade. Sua família queria dar uma satisfação para a sociedade, pois vivia junto, era ajuntada. Este título não cabia na moça de fino trato. Não se sabe se foi ela ou o maestro que não quis casar. Algum tempo depois uma jovem maestrina foi contratada para reger. Foram horas de ensaio com o maestro. Foi nesta época que o pai da musa adoeceu e ela veio para o Brasil. Como ela era única mulher entre quatro filhos homem, era a predileta do seu magnata. A saúde dele complicou e ela permaneceu mais tempo no Brasil. Na volta ela sentiu que o romance estava morno e um ano depois ela recebeu a visita da maestrina que implorou para que ela libertasse o maestro para se casar, pois ela estava grávida. O maestro confirmou, se desculpou, ela ficou de dar uma resposta à jovem maestrina. O maestro foi fazer uma longa turnê e ficou decidido que na volta o caso seria resolvido. Ele não queria a separação e propôs se casar com a maestrina e separar logo em seguida só para a mocinha não ficar mal. Dizem que ele saiu para viagem e a musa chamou a maestrina para fazer os acertos. A moça chegou, foi recebida para um chá onde, para surpresa dela, a musa quis saber qual o preço para deixar o maestro em paz. A maestrina se desesperou com a oferta, e segundo ouvi dizer jogou-se pela janela da sala. A policia foi acionada, medico foi chamado. Foi suicídio. A musa pagou todas as despesas de funeral. O maestro voltou da turnê e não se sentia bem no local onde a jovem morreu. Voltou para Alemanha e a musa voltou para o Brasil. Os comentários pipocavam, comentava-se que a moça não caiu mas que recusou a oferta e que as duas entraram em luta corporal e que ela teve uma queda brusca e bateu a cabeça no degrau da escada de mármore e que o empregado brasileiro para proteger a sua patroa atirou a maestrina pela janela. Segundo um parente da musa, ela era uma pessoa colérica que na hora da ira não perdoava ninguém e que ela fez muito mal, porque ela já havia atirado na moça e, não se sabe como, errou o alvo. A musa voltou para sua casa no Brasil, abandonou tudo na Itália. Minha amiga foi com seus pais para colocar o palácio à venda e trazer as obras de arte que foram embaladas por profissionais e despachadas. A musa, aos trinta e cinco anos, saiu de cena e envelheceu com a senhora sua mãe. Só saia de casa para compras e visitas as empresas de sua família da qual era sócia majoritária. Nunca se casou, viveu reclusa. A única referencia ao maestro era um retrato do casal pintado a óleo pendurado na parede. Os dois eram jovens e belos.
Autor: Nadia Foes
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