Quando sexo e Identidades se Des-encontram: Identidades sexuais como espaço de subjectividades







QUANDO IDENTIDADES SEXUAIS E SEXO SE DES-ENCONTRAM: IDENTIDADES SEXUAIS COMO ESPAÇO DE SUBJECTIVIDADES







Elaborado por: Emilio Adélia Meque
Maputo, Fevereiro 2011

Os resultados, as interpretações e as conclusões deste estudo, resultam das análises feitas pelo pesquisador, das suas percepções recolhidas nas entrevistas, observações e conversas durante a recolha de dados. Deste modo, elas não reflectem necessariamente os pontos de vista da Lambda, da Pathfinder-Moçambique, da UNFPA, nem da Universidade Eduardo Mondlane.












"...a sexualidade (assim como as identidades sexuais, grifos meus) é um processo de crescimento, transformação e surpresa, e não um estado conhecível e estável?"(Garber, 1997).













Introdução
O presente estudo foi elaborado no âmbito do Concurso Universitário de Monografias sobre as (Homo)sexualidade em Moçambique, organizado pelo Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane em colaboração com a Pathfinder/UNFPA e Lambda. Neste estudo, procuro reflectir sobre as dinâmicas das identidades sexuais em Moçambique.
As identidades sexuais são analisadas a partir de duas perspectivas, a essencialista e a construtivista. A perspectiva essencialista associa as identidades sexuais ao tipo de genitais e ao papel sexual das pessoas, penetrador/penetrado, activo/passivo (Ceccarelli, 1997; Osório e Artur, 2002; WLSA, 2008). Por sua vez a perspectiva construtivista analisa as identidades sexuais como uma realidade que transcende o tipo de genital e o suposto papel sexual das pessoas (Parker,1991; Mota, 1998) e Áran, 2003).
Para a perspectiva essencialista, todas as pessoas portadoras de pénis ou supostamente penetradoras durante o acto sexual são identificadas como homens e pertencentes à identidade sexual masculina e todas as pessoas portadoras de vagina ou supostamente penetradas durante o acto sexual são identificadas como mulheres e pertencentes à identidade sexual feminina. Como resultado, desta visão, as identidades são apresentadas como essências determinadas pelo tipo de genital ou pelo papel sexual das pessoas (Ceccarelli, 1997; Osório e Artur, 2002; WLSA, 2008).
Uma das implicações da essencialização é a naturalização das identidades sexuais num processo em que desqualifica todas as pessoas cujas identidades sexuais não se conformam com o tipo de genitais que possuem. Essas pessoas são consideradas como "anormais" ou que assumem identidades alheias (Meque, 2009).
A essencialização das identidades sexuais é criticada por Áran (2003) e Parker (1991) para quem as identidades sexuais, enquanto construções sociais e socialmente atribuídas são múltiplas e complexas, não se reduzindo a um par determinado pelo tipo de genitais e pelo papel sexual das pessoas.
Para ilustrar a multiplicidade das identidades sexuais, Mota (1998) categoriza e agrupa-as em quatro tipos a saber, gays , lésbicas , travestis e maricas . Se por um lado Mota (1998) revela a multiplicidade das identidades sexuais. Por outro lado o autor apresenta cada uma dessas identidades como homogéneas, perdendo de vista a diversidade, a complexidade e as contradições existentes em cada uma dessas categorias de identidades.
Foi tendo em conta esse debate que neste estudo retomamo a questão da diversidade, complexidade e das contradições que permeiam as identidades sexuais. Especificamente, interessa-me, descrever as representações colectivas sobre as identidades sexuais; descrever as representações subjectivas e a forma como os sujeitos se movem entre as representações colectivas e as subjectivas sobre as identidades sexuais.
Espero que os resultados do presente estudo ajudem a compreender as dinâmicas, a complexidade e as contradições que permeiam as identidades sexuais, assim como as diferentes formas como as pessoas as representam e as manipulam.
Do ponto de vista pragmático espero que os resultados do estudo, informem os programas de saúde, influenciados pela visão essencialista das identidades das identidades sexuais. Assim, com base nessa visão os utentes dos serviços de saúde são separados com base no sexo . Onde por um lado temos serviços de saúde para "pessoas com pénis e identificadas sexualmente como homens", e por outro lado serviços de saúde para "pessoas com vagina e identificadas sexualmente como mulheres". Assim, todas as pessoas cujas identidades e práticas sexuais não se conformem com as essências esperadas ficam privadas dos programas e serviços de saúde especificamente desenhados para si.
Compreender as identidades sexuais como um espaço de diversidades, multiplicidades, complexidades e conflitualidades internas pode potenciar o desenho de programas e provisão de serviços de saúde que tomem em conta as especificidades dos utentes desses serviços, e não só, o que pode potenciar maior satisfação dos mesmos, bem como maior eficácia dos serviços de saúde prestados.
A compreensão das identidades como um espaço de diversidades e complexidades pode permitir ainda que sejam desenhados diferentes programas sociais que tomem em conta essa diversidade.
O estudo é apresentado em quatro partes. Feita a presente introdução, na qual apresento o tema, as diferentes visões sobre as identidades sexuais, os objectivos e a justificação do estudo.
Apresento na segunda parte o referencial teórico, a definição dos conceitos e o método de pesquisa. Ainda na segunda, parte apresentamos as técnicas de recolha de dados e o perfil dos participantes do estudo.
Na terceira parte do estudo discuto resultados sobre a construção das identidades sexuais, sobre a forma como as pessoas identificam sexualmente os outros e a forma como as pessoas se identificam sexualmente. Ainda na terceira parte discuto a forma como as pessoas se movem entre as representações colectivas e as representações subjectivas sobre identidades sexuais. Por fim, na quarta parte, apresentamos as conclusões do estudo.


I. Referencial teórico e conceitos
Segundo Geertz (1989) a cultura coloca à disposição dos indivíduos múltiplos e distintos significados a partir dos quais os indivíduos informam e orientam suas práticas e seus comportamentos. Pelo seu carácter heterogéneo e dinâmico esses símbolos informam de forma diferenciada a indivíduos inseridos dentro do mesmo contexto. A perspectiva interpretativa nos permitiu analisar como é que as pessoas criam, recriam as identidades sexuais e os significados que atribuem às mesmas.
I.1. Conceitualização
I.1.1. Representações sociais
Para Moscovici (1978) representações sociais constituem formas de conhecimento socialmente produzidas e partilhadas com objectivo de construir uma era. No presente estudo analiso as representações sociais em duas dimensões, nomeadamente as representações colectivas e as representações subjectivas. Para o presente estudo apresento como representações colectivas o conjunto de normas, valores, formas de comportamento que definem e moldam as formas de comportamento dos indivíduos. E, como representações subjectivas entendemos a forma como as pessoas se apropriam, criam, recriam e agem informadas pelas representações colectivas.
I.1.2. Identidade sexual
Para Azeredo (1992) as identidades sexuais representam a percepção que os indivíduos têm de si ou dos outros como pessoas identificadas como homens ou pessoas identificadas como mulheres. Ainda segundo o autor em referência as identidades sexuais podem assumir diferentes interpretações, nomeadamente a orientação sexual, os papéis sociais ou sexuais e as características biológicas. A definição sugerida por Azeredo (1992) reduz as identidades para a dicotomia homem e mulher, ocultando deste modo a diversidade e as contradições das mesmas. No presente estudo apresento como identidades sexuais as formas particulares a partir das quais os sujeitos, independentemente do tipo de genitais, se identificam e identificam as outras.

II. Método de pesquisa
Este é um estudo exploratório e foi realizado em quatro fases. Na primeira fase efectuei a revisão da literatura. Nesta fase intessava-me consultar obras que discutiam matérias ligadas à sexualidade e sobre identidades sexuais, em particular.
Na segunda fase elaborei o projecto de pesquisa, os instrumentos de recolha de dados e preparei o estudo de campo. Na terceira fase do estudo efectuei a recolha de dados, entre os meses de Dezembro e Janeiro de 2009 na cidade de Maputo e, durante o mês de Fevereiro de 2010 na Cidade da Beira.
Como técnicas de recolha de dados realizei entrevistas semi-estruturadas individuais, conversas pelo telefone , conversas informais, um grupo de discussão focal na Cidade de Maputo. No grupo de discussão focal abordamos matérias ligadas à sexualidade, identidades, práticas e comportamentos sexuais. Efectuei observação directa, participando na vida diária de alguns participantes no estudo. Tomei como pontos de observação a casa de dois dos participantes do estudo, bem como em locais de laser dos mesmos.
Depois da definição do perfil de participantes para o presente estudo, com ajuda de uma pessoa conhecedora dos locais de uma parte dos participantes identificados como gays e maricas, efectuei um mapeamento dos lugares mais frequentados pelos mesmos. De forma a preservar a identidade dos participantes, omiti os nomes dos locais de lazer (bares e discotecas) em que efectuei o estudo usei pseudónimos para me referir aos participantes.
Realizei entrevistas semi-estruturadas com onze pessoas, oito das quais na Cidade de Maputo e três na Cidade da Beira. As entrevistas na Cidade da Beira foram facilitadas por pessoas que fazem parte da rede de sociabilidade dos entrevistados contactados em Maputo. Importa ainda referir que devido as dificuldades de localizar mais pessoas e pelo escasso tempo de permanência na Cidade da Beira entrevistei as três pessoas que me foram indicadas.
A primeira pessoa com a qual conversei é Bárbara. O primeiro contacto com Bárbara foi pelo telefone, depois lhe informei sobre os objectivos e tipo de estudo. Solicitei-lhe que participasse no estudo. Tendo aceite, solicitei que me facilitasse o contacto com outras pessoas que fazem parte da sua rede de sociabilidade.
O contacto com Bárbara abriu-nos a possibilidade de contactos com outros participantes. Cheguei ao contacto com a Bárbara por via de uma senhora proprietária de um "salão de beleza". Antes de qualquer contacto com os participantes do estudo conversei com a proprietária do salão a quem expliquei o tipo e os objectivos do estudo. Em seguida a senhora, mediante a autorização de um dos participantes a quem, neste estudo, identifiquei por Bárbara, passou-nos o número de telefone.
Efectuei um grupo de discussão focal com Bárbara, Élvio, Sheila e Samira. Durante a discussão focal abordamos questões gerais sobre a sexualidade, identidades, práticas e comportamentos sexuais. De forma complementar observamos o quotidiano de Bárbara e Samira. Adicionalmente, realizei conversas informais com diversas pessoas como forma de apreender as diferentes percepções que as pessoas têm sobre a sexualidade, práticas, comportamentos e identidades sexuais.
















II.1. Perfil dos participantes do estudo
Bárbara tem 24 anos de idade, nasceu e continua com pénis, é natural da Cidade de Maputo, Bairro de Chamanculo, onde passou parte da sua infância. Viveu também na Província de Inhambane. Em termos de escolaridade, ela frequentou o ensino primário na cidade de Maputo, e interrompeu os estudos na 7ª classe. Actualmente, Bárbara vive no Bairro de Xipamanine com um grupo de amigas . Identifica-se como maricas e quer ser tratada como uma mulher. Veste-se de calças, camisas, camisetes. Relaciona-se afectiva e sexualmente somente com pessoas identificadas como homens.
A segunda pessoa com a qual conversei é Samira, que nos foi indicada por Bárbara. Nasceu e continua com pénis. É natural de Maputo e teve a sua infância no bairro do Alto-Maé. Tem 22 anos de idade. Identifica-se como travesti e relaciona-se afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens. Revelou ter vivido maritalmente com um "homem".
Samira veste-se de saias, blusas, tem cabelos longos, desfrisa o cabelo ou trança mexa, usa maquilhagem, pinta as unhas com verniz, pinta os lábios com batom, pinta as sobrancelhas. Já esteve na África do Sul e Suazilândia, actualmente vive com no bairro de Xipamanine onde divide a casa com um grupo de amigas. Concluiu a 10ª classe. Já estudou como cabeleireira, agora dedica-se à organização e animação de festas e outros eventos.
A terceira pessoa com a qual conversei é Sheila. Nasceu e continua com o pénis, é natural da província de Tete, mas desde muito novo veio viver para a Cidade de Maputo. Tem 23 anos. Teve a sua infância no Bairro do Alto-Maé, local onde continua a residir.
Sheila se identifica como maricas, e revelou que se relaciona afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens. Sheila revelou ainda que viveu algum tempo com um grupo de "amigas-homens " no bairro do Aeroporto, foi nessa altura que ela se vestia de saias, blusas, trançava mexas, usava peruca, pintava batom, verniz e bolsas e sapatos de salto alto. Frequentou e não concluiu a 9ª classe.
A quarta pessoa foi Élvio, nasceu e continua com pénis. É natural de Maputo. Tem 26 anos de idade e vive com a família no Bairro Central. Se identifica sexualmente como gay. Relaciona-se afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens e com pessoas identificadas como mulheres. Veste-se com roupas consideradas como sendo para pessoas de identidade sexual masculina. Actualmente frequenta a 12ª classe, curso nocturno. Faz parte da rede de amizade das pessoas acima apresentadas, diferentemente das outras pessoas conhecemos este participante, num dos lugares por eles frequentados e por nós visitados durante pesquisa.
A quinta pessoa foi Ricky nasceu com e continua com o pénis. É natural da Cidade de Maputo, bairro da Polana-Cimento, onde passou a sua infância. Não nos revelou a sua idade. Actualmente vive em Malhazine. Se identifica sexualmente como homem/macho. Veste calças, cabelos curtos. Viveu maritalmente com uma mulher com a que tem uma filha de 9 anos de idade (em 2008, período em que iniciei a preparação do protocolo do presente o estudo). Actualmente, Ricky vive sozinho e mantém um relacionamento de namoro com um homem, quem o considera como sua namorada. Frequenta a 12ª classe e trabalha como cabeleireiro e também faz negócios.
A sexta pessoa foi Lúcia, ela nasceu e continua com vagina. É natural da cidade de Maputo e vive no bairro do Maxaquene, com a família, pais e irmãos. Tem 19 anos de idade e se identifica como mulher. Relaciona-se afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens. É estudante e frequenta a 12ª classe.
A sétima pessoa com a qual conversei foi Apolo que nasceu e continua com pénis. É natural da Cidade de Maputo. Tem 29 anos de idade. Vive actualmente no Bairro do aeroporto com a família. Identifica-se como homem/macho e se relaciona afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como mulheres. Veste-se com roupas consideradas masculinas e relaciona-se afectiva e sexualmente somente com pessoas identificadas como mulheres. Concluiu a 12ª classe e é desempregado.
Conversei ainda com Best que nasceu e continua com pénis. É natural da Cidade Beira. Tem 27 anos de idade. É solteiro. Teve parte da sua infância na Cidade de Chimoio, local onde trabalhavam seus pais. Actualmente vive no bairro de Macuti, na Cidade da Beira. Identifica-se como homem e revelou que se relaciona afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como mulheres. Veste-se de roupas calças, camisas, camisetes representadas como sendo para masculinas. Frequenta o 2ª ano do curso de ensino de Português na Uniuversidade de Pedagógica, Delegação da Beira.
Eva natural da cidade da beira. nasceu e continua com vagina. é solteira e tem 22 anos de idade. Vive no bairro da Ponta Gea, cidade da beira. concluiu a 12ª e prepara-se para ingressar no ensino superior. identifica-se sexualmente como mulher. Revelou que se relaciona afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens.
A última pessoa com a qual conversei foi Assia. É natural da Cidade da Beira. Nasceu e continua com vagina. Solteira. Tem 20 anos de idade e frequenta a 12ª classe. Actualmente vive no bairro de Macuti, na Cidade da Beira. Identifica-se sexualmente como mulher e se afectiva e sexualmente com pessoas identificadas como homens.

III. Discussão dos resultados
3. 1. A construção das identidades sexuais
Quanto ao processo de construção das identidades sexuais, encontrei duas posições relativas à socialização. Uma primeira que se refere aos participantes que acham que as crianças devem ter uma socialização diferenciada tendo em conta o sexo das mesmas. E uma segunda posição que se refere aos participantes que acham a socialização das crianças pode ser feita sem ter como referência o sexo das mesmas.
Os participantes que defendem uma socialização diferenciada, embora acreditem que o comportamento das pessoas tenha passado por muitas mudanças últimas décadas, acham que mesmo assim é preciso prestar muita a atenção nas brincadeiras e no tipo de brinquedos que se coloca à disposição das crianças. Estes particiapantes definem uma separação no que entendem como sendo "coisas para meninos e coisas para meninas".
Para esses participantes o tipo de genitais é o elemento a partir do qual se estabelece a divisão do mundo em dois universos. O universo dos meninos com brincadeiras e brinquedos com os quais devem apredender lidar. Igualmente se estabelece um universo das meninas com brincadeiras e brinquedos com os quais elas devem aprender a lidar.
A socialização tendo como base o tipo de genitais que as pessoas possuem leva a que se essencialize as identidades sexuais, assim desde muito cedo devem saber que existem meninas e meninos. Assim, quando uma criança nasce, a pergunta que se coloca é "menina ou rapaz?". Para responder a essa pergunta basta olhar entre para o tipo de genitais que a criança tem, assim para as crianças que nascem com pénis olham e dizem "ah, é um rapaz" e para as crianças que nascem com vagina dizem "ah, é menina".
Com base neste visão essencialista das identidades não se colocam outras possibilidades existenciais que não sejam a dicotomia para além da díade menina ou rapaz, homem ou mulher, ele ou ela. Perante este cenário duas perguntas podem ser colocadas. A primeira prende-se com a identidade sexual das crianças que nascem com os dois genitais, pénis e vagina. E a segunda questão se refere a identidade sexual das crianças com genitais deformados. Estas e outras questões desafiam a visão essencialista das identidades sexuais.
A visão essencialista apresenta as identidades como algo natural e determinado pelo tipo de genitais que as pessoas possuem, assim as crianças que nascem com pénis são identificadas como rapazes e recebem um nome masculino e as crianças que nascem com vagina são identificadas como meninas e recebem um nome feminino. Essa identificação vai condicionar a sua socialização ao longo da vida. Embora meninas e rapazes sejam socializadas no meio ambiente sociocultural as diferenças físicas fazem com que trilhem caminhos diferentes.
As crianças identificadas como meninas aprendem as actividades junto da mãe, com as irmãs ou outras pessoas portadoras de vaginas. E se espera que durante as brincadeiras encenem a figura de mãe e se identifiquem com coisas apresentadas como pertencentes às pessoas de identidade sexual feminina. E geralmente essas crianças recebem bonecas e são estimuladas a brincar com panelinhas e de outras actividades ligadas ao cuidado da casa, tais como lavar, varrer e limpar a casa.
Enquanto isso, as crianças identificadas como meninos aprendem as actividades junto do pai, dos irmãos e outras pessoas portadoras de pénis. Durante as brincadeiras se espera que essas crianças encenem a figura de pai e se identifiquem com actividades identificadas como sendo do sexo masculino. Essas actividades envolvem brinquedos como soldadinhos, armas, bolas, carrinhos, aviões, todas elas representadas como sendo para as pessoas de identidade sexual masculina.
O exemplo da Lúcia é revelador da diferenciação que se estabelece entre meninas e rapazes, tendo em conta o tipo de genitais. A entrevistada revelou que as brincadeiras como meio de construção de identidades sexuais deviam ser diferenciadas em função do sexo da criança, assim segundo ela:
"?a educação deveria ser diferenciada de acordo com o sexo da criança, porque as brincadeiras e os brinquedos são os meios pelos quais se molda o comportamento da criança" (Lúcia, 19 anos, mulher).
Os brinquedos são tidos como um dos meios de aprendizagem usados para a formação da personalidade e das identidades sexuais. Partindo desta ponto de vista algumas pessoas acham que encorajar as meninas a brincar de panelas ou de bonecas simboliza que no futuro poderão desempenhar o papel de esposa ou mãe que sabe cuidar dos filhos e do lar. E encorajar os meninos a brincarem com carrinhos e jogar futebol simboliza que no futuro eles poderão desempenhar o papel de pais e esposos e se ocuparão de actividades tidas como próprias para os pessoas identificadas como homens.
Para além de associarem as brincadeiras com o sexo da pessoa, os nossos entrevistados também acham que deviam ser estabelecidas formas de comportamento, modalidades de relacionamentos, tudo, desde o ambiente do quarto, as cores das roupas, cor de rosa para as meninas e azul para os meninos, estilos/tipos e cores de roupas, modelos de ornamentação do corpo, cortes de cabelo específicos para meninas, por um lado e para rapazes por outro lado.
Essa diferenciação para além de remeter a ideias acerca dos papéis sociais de homem e de mulher, também visa construir uma identidade masculina específica distinta da identidade feminina. Essas ideias reforçam a posição das pessoas que acham que as brincadeiras devem ser diferenciadas com base no tipo de genital que as pessoas possuem.
Existem outras pessoas, no entanto que acham que a socialização das crianças não deve ter como base o tipo de genitais que elas possuem. Essas pessoas apresentam como argumento a ideia de que,
"criança é criança, não existe brincadeira para meninas nem para meninos" como referiu Apolo (homem, 29 anos).
Ainda segundo Apolo:
"Quando as crianças estão a brincar qualquer coisa que lhes aparece elas pegam, porque elas não têm capacidade de distinguir o tipo de brinquedos que recebem (...) não existe coisa de menino ou coisa de menina, brinquedo é brinquedo" (Apolo, 29 anos, homem).
Apolo acha que,
"... criança é criança e as crianças não escolhem brinquedos".
Para ilustrar sua posição, Apolo apresenta como exemplo as famílias que não podem comprar brinquedos específicos para cada criança, assim para as crianças qualquer tipo de brinquedo serve. Para estes participantes,
"O importante é ver as crianças a brincar" (Apolo, 29 anos, homem).
Os resultados deste estudo revelam que, se por um lado existem existem pessoas que, na construção de identidades sexuais, se conformam com a visão que separa as brincadeiras em função do tipo de genital que têm, ocasionando a construção de identidades masculinas reivindicadas por portadores de pénis e identidades femininas reivindicadas por portadores de vaginas. Neste caso, as crianças identificadas como meninas brincam de bonecas, de cozinhar e as crianças identificadas como meninos brincam de carrinhos, jogam futebol e de bicicletas.
Por outro lado, existem pessoas cujas identidades sexuais são construídas de forma que não se conformem com a visão essencialista das mesmas. Neste caso existem dois cenários.
Um primeiro cenário no qual as crianças identificadas como meninas que têm preferência por brincadeiras que envolvem carrinhos, jogam futebol, brincam de bicicletas e de luta corporal com os meninos. Para além disso, essas crianças se recusam a brincar de bonecas e outras brincadeiras tidas como próprias para as "meninas", definidas a partir do tipo de genital que possuem.
No segundo cenário encontramos crianças identificadas como rapazes que têm preferência por brincadeiras que envolvem bonecas, brincam de cozinhar, assumem o papel de "mãe" e todas as formas de comportamento representadas como sendo das crianças identificadas como meninas.
Os exemplos que acima expostos nos levam a uma conclusão provisória segundo existem pessoas cujo processo de construção das suas identidades sexuais não se conforma com a visão essencialista, a qual estabelece que elas dependem do tipo de genitais. Assim, os "meninos" que são socializados num meio em que existem somente "meninas" ou vice-versa, têm fortes possibilidades de se familiarizar com brincadeiras que favorecem a construção de uma identidade feminina ou masculina.
Entretanto, existem outras pessoas que mesmo estando em contextos de socialização favoráveis à construção de uma determinada identidade sexual adoptam outra identidade diferente da esperada.
Durante a realização do presente encontrei pessoas que nasceram com pénis e foram socializadas como "rapazes" e se esperava que depois de crescidas se assumissem e comportassem como "homens" que iriam namorar e casar com "mulheres". Encontrei ainda, pessoas que nasceram com vagina e socializadas como "meninas" e se esperava que ao crescer se assumissem e se comportassem como "mulheres". Acontecendo o mesmo com as pessoas que nascerem com vagina, que foram socializadas como mulheres, de quem se esperava que namorassem se casassem com "homens".
Porém, as pessoas que nasceram com pénis e socializadas como "homens", tiveram pessoas "homens" como seus parceiros, contrariando dessa forma as expectativas dos seus pais e da sociedade no geral, pois se esperava que para além de se casarem e gerar filhos, se esperava que desempenhassem o papel de marido e esposo. Sucedendo o mesmo com pessoas que nasceram com vaginas e socializadas como mulheres, de quem se esperava que namorassem e se casassem com um "homem", que acabaram tendo pessoas como parceiras "mulheres", contrariando a ideia de que ao crescerem seriam mãe e esposas.
Estes cenários vão ao encontro da posição de Griffo (s/d) para quem nos processos de integração dos indivíduos na sociedade a representação das identidades sexuais é enformado e condicionado pelo contexto em que estes se inserem. Ainda segundo o mesmo autor, embora os modelos de socialização, não ofereçam não modelos alternativos para a constituição das identidades sexuais, elas abrem possibilidades a partir das quais os indivíduos negoceiam, assumem ou rejeitam, os princípios mais básicas fornecidas pelos mesmos.
Durante as entrevistas e conversas alguns participantes do estudo revelaram que nasceram e foram socializadas como "rapazes" que após o seu nascimento receberam e foram registadas com nome masculino. Porém, desde muito cedo perceberam que eram "diferentes" dos outros rapazes, pois não gostavam e nem se identificavam com as brincadeiras de "outros rapazes". Esses participantes revelaram ainda que embora não tivessem bem claro o que estava a acontecer sentiam atracção pelas "coisas e brincadeiras de meninas", nomeadamente bonecas, panelinhas, e brincadeiras de cozinha.
Como foi acima exposto quando as pessoas nascem já existem uma espécie caminho pelo qual irão por ele passar, mas as experiências das pessoas revelam que existem outras possibilidades a partir das quais as pessoas se constituem como sujeitos sociais. As histórias de vida de Samira e Bárbara, embora não sejam representativas desse fenómeno considerado "desvio" à norma, podem nos dar uma ideia da existência de outras sexualidades.
As participantes do estudo (Samira e Bárbara) revelaram que nasceram e foram socializadas como "rapazes" e se esperava que quando crescessem se comportassem como "homens", e se casassem com "mulheres". Contra todas as expectativas adoptaram e reivindicam outro tipo de identidades sexual.
Actualmente, já crescidos, namoram e pensam em se casar com pessoas identificadas como homens. Para além disso mudaram os "nomes masculinos" com quais foram registados e adoptaram "nomes femininos" pelos quais querem ser tratadas.
A história de vida de Samira, é reveladora de que as pessoas, embora criadas em determinados contextos sociais e se esperando que adoptem determinados tipos de comportamentos, por vários motivos podem adoptar outras formas de comportamento que iguais ou que colidem com as expectativas dos pais e dos mais velhos. Para ilustrar essa situação durante a conversa Samira revelou o seguinte:
"... desde muito cedo eu tinha um jeito de meninas (...) e gostava de brincadeiras e coisas de meninas (...) sempre fui uma mulher e mesmo quando eu era criança eu me sentia uma menina, nessa altura comecei a me comportar como uma menina, às vezes usava roupas das minhas irmãs" (Samira, 22 anos, travesti).
Por sua vez Bárbara, nasceu com pénis durante a conversa revelou que foi "criada e educada" como um rapaz e foi "registada" pelo nome masculino. Durante a sua infância seus pais sempre lhe ofereceram brinquedos como carrinhos, bolas e outras brinquedos identificados como sendo para crianças do sexo masculino. Contudo, desde muito criança sentiu que tinha atracção por bonecas e por todas as brincadeiras e brinquedos tidos como sendo para crianças "menina". Durante a conversa Bárbara, revelou o seguinte,
"...percebi que era assim quando era criança (...) minhas coisas eram de menina, de brincava de cozinhar e de dançar chitchuketa (...) e as vezes usava roupa das irmãs, mas os meus não diziam nada porque não sabiam o que estava a acontecer (...) eu sempre me senti como se fosse uma mulher e vivo como uma mulher" (Bárbara, 24 nos, maricas).
Os dados do nosso trabalho revelam que mesmo quando as pessoas assumem identidades sexuais não essencializadas, continuam a usar designações essencialistas para narrar suas experiências. Por exemplo quando narram suas historias e experiências de vida se referem aos termos homem ou mulher, menina rapaz, que acabam reproduzindo o modelo essencialista das identidades sexuais.
Na mesma linha de pensamento Sheila, que também nasceu com pénis, foi "educada" como rapaz e tendo sido registada com o "nome masculino", para além disso na sua infância teve contacto com todas as brincadeiras e brinquedos tidos como para crianças de sexo masculino revelou o seguinte:
"...desde muito tempo (quando tinha cerca de 9 anos de idade) eu sabia que era diferente das outras pessoas, gostava de meninos, mas não falava para ninguém, eu como gostava de brincar com meninas as pessoas só diziam que eu parecia uma menina, mas ninguém sabia que eu era gay" (Sheila, maricas).
Estes participantes revelaram que quando eram crianças brincavam de bonecas e de cozinhar com as "meninas" e passavam menos tempo com os "rapazes" e essa situação não passava despercebido da cabeça dos pais porque achavam como sendo uma situação normal e com o tempo ia mudar.
Segundo os participantes a inquietação dos pais começa quando os mesmos atingem a adolescência, fase em as pessoas questionam, rejeitam, manipulam e constroem e reconstroem os valores a partir dos quais orientam a sua vida, mas também constitui a fase em as pessoas definem sua identidade, bem como a sua personalidade. Entretanto, não aconteceu com estes participantes, que continuavam a passar a maior do tempo ao lado de mulheres e, os pais e a família no geral não conhecia as suas namoradas.
O comportamento e as práticas sexuais assumidas por estes participantes não se conformam à visão essencialista, aquela que associa as identidades sexuais e o tipo de genitais. Como consequência são percebidas como sendo pessoas anormais ou pessoas que assumem comportamento desviado, sendo por isso desqualificadas com recurso a termos como "mariazinhas". O termo "mariazinha" é usado para designar pessoas portadores de pénis percebidas como estando a comportar-se como "meninas". Em oposição são usados os termos "maria-rapaz" e "joãozinho" para designar pessoas portadoras de vaginas percebidas como estando a comportar-se como "rapazes".
As pessoas que revelam uma visão essencialista das identidades sexuais mostram-se preocupadas e contrariadas quando as crianças não conformam as suas brincadeiras ao tipo de identidade esperada, de acordo com o tipo de genital que possuem. Essas pessoas, acham que quando o tipo de brinquedos e brincadeiras não se conformam com o esperado pode ter influências indesejáveis na orientação e na identidade sexual das crianças em causa. Assim para Lúcia:
"Os meninos não deviam brincar de bonecas porque existe o risco deles desenvolverem um comportamento efeminado e se tornarem maricas quando crescerem" (Lúcia, 19 anos, mulher).
Como forma de corrigir os seus receios, esses pais se mantêm vigilantes de modo a assegurar que as identidades sexuais se conformem ao tipo de genital que as crianças têm. Entretanto, contrariamente a esses receios, outras a essas que manifestam receios, outros pais acham que as brincadeiras e brinquedos têm pouca ou nenhuma influência na identidade sexual das crianças como refere Apolo:
"...as brincadeiras e os brinquedos não têm influência sobre a identidade sexual, nem sobre a identidade sexual da pessoa (?) da mesma maneira que as meninas brincam de carrinhos e jogam a bola, os meninos também podem brincar de bonecas, de cozinhar ou mesmo de carrinhos, isso não vai determinar nada (...) os brinquedos são neutros" (Apolo, 29 anos, homem).

Sobre o mesmo assunto Ricky revelou o seguinte,
"Um menino pode brincar de carrinho ou jogar a bola porque desde muito cedo os pais ou as pessoas mais velhas lhe oferecem isso e ele aprende a brincar com essas coisas, o mesmo se pode dizer das meninas que desde muito cedo podem aprender a brincar de bonecas (?) se acontecer que os pais troquem os brinquedos as crianças aprendem do mesmo jeito a brincar com essas coisas" (Ricky, 26 anos, homem/macho).
Os resultados do estudo revelam que no processo de construção e representação das identidades sexuais é feito de forma que visa reproduzir a visão essencializada das mesmas. Apesar disso, existem outras pessoas cujas identidades sexuais não se conformam necessariamente com identidades essencializadas e parte delas constrói suas identidades sexuais de forma mais complexa, mesmo usando designações essencialistas para designar suas experiências.

















3. 2. Representações colectivas sobre as identidades sexuais
Passada a fase da infância chega a adolescência que constitui um momento de auto-descobrimento e de afirmação. Nesta fase, as pessoas se encontram em constante diálogo com a sociedade, questionando, rejeitando ou manipulando as práticas, os valores e os modelos de comportamento que aprendem ao longo do seu ciclo de vida. Esse processo continua ao longo da vida.
Os dados do estudo revelam a existência de diferentes representações colectivas sobre identidades sexuais. Alguns participantes apontam o tipo de genital como o elemento central para a definição das identidades sexuais. Assim, pessoas que possuem pénis são percebidas como homens e como pertencentes à identidade sexual masculina, enquanto pessoas que possuem vaginas são percebidas como mulheres e pertencentes à identidade sexual feminina.
Para além do tipo de genital, os participantes do estudo dizem que as pessoas podem ser identificadas pela maneira de andar, cor e feitio das roupas que vestem tipo de sapatos.
Os participantes do estudo revelaram que as pessoas podem ser identificadas ainda pela forma como tratam os cabelos e dos acessórios que usam ou não nomeadamente bolsas, brincos, colores, bolsas. Em relação aos brincos e o tipo cabelo, embora todas as pessoas usem este tipo de acessórios, os participantes encontram a diferença em pequenos detalhes que fazem com que determinados tipos de brincos e cortes de cabelo sejam identificados como sendo para as pessoas identificadas como do sexo feminino e outros para as pessoas identificadas como do sexo masculino.
Para alguns partcipantes do estudo os papéis sociais e sexuais são também usados como demarcadores das identidades sexuais e a elas são associadas expectativas sociais, existentes para cada sexo. Assim, por um lado das pessoas com pénis e tidas como masculinas se espera cumpram seu papel de pai e de marido, tenham estudo e dinheiro para sustentar a família, esposa, filhos e outros dependentes. Entretanto, pessoas percebidas como homens que vivem numa relação na qual o papel de provedor da família é assumido pela esposa são desqualificados e designadas por gigolôs .
Por outro lado existem pessoas com vagina e percebidas como mulheres,e que delas se espera que assumam o papel boas esposas, mães e obedientes aos seus maridos/esposos e que se ocupem das tarefas da casa e participem na educação dos filhos. Entretanto as mulheres que não cumprem com os papéis sociais e sexuais definidos pela sociedades, também são desqualificadas.
Alguns participantes são indiferentes a distinção de papéis sociais. Na tentativa de explicar aspectos ligados aos papéis sociais, alguns participantes revelam a tensão que vivem entre aquilo que foram suas experiências e aquilo que são discursos contemporâneos de igualdade de género. A posição de Lúcia é reveladora disso.
"...para mim, e podem fazer as mesma coisas, eu acho que não existe estudo específico para , nem para , ambos podem cozinhar, cuidar da casa e cuidar das crianças" (Lúcia, 19 anos, mulher).
Na mesma linha de pensamento Apolo revelou que,
"...não existe diferença entre os estudos para e para , por exemplo eu faço todas as coisas, não tenho complexos de perder a minha identidade por causa dos estudos que faço (...) além disso existem empregados domésticos até tomam conta dos filhos dos patrões, por exemplo esses é estudo para as " (Apolo, 29 anos, homem).
Relativamente às práticas afectivo-sexuais encontramos os participantes revelaram a existência de duas formas de identificação. A primeira considera como homens pessoas que têm relações afectivo-sexuais com, assumindo nessas relações o papel de quem penetra- Similarmente as "mulheres" são entendidas como pessoas que tem vaginas e têm relações afectivo-sexuais "homens", assumindo nessas relações o papel de penetradas.
Os relacionamentos afectivo-sexuais entre que envolvem são tidos como normais- Os participantes do estudo consideram estes relacionamentos como algo que não se escolhe "? é coisa de Deus". Curioso é notar que, entretanto poucos se lembram que Deus prescreve sexo só em relações monogâmicas e com finalidade procriativa, uma vez que todos os participantes revelaram praticar sexo por prazer.
De forma contrária, relacionamentos afectivo-sexuais envolvendo pessoas do mesmo sexo são percebidas como reprováveis, como revela o trecho do depoimento da Lúcia:
"O mundo é feito de homens e mulheres e eu não percebo como é que duas pessoas do mesmo sexo podem manter relações sexuais (...) homem que faz sexo com outro homem é um doente, independentemente das razões que o levam a fazer essas coisas" (Lúcia, 19 anos, mulher).
Assim, as pessoa que se envolvem ou que são percebidas como se envolvendo neste tipo de relacionamento são desqualificadas e encaradas de forma pejorativa. As pessoas identificadas como mulheres envolvidas que se envolvem em relacionamentos afectivo-sexuais ou práticas sexuais com "mulheres" são desqualificadas por serem percebidas como estando a contrariar as expectativas da sociedade relativas ao suposto papel de procriadora, mãe e esposa de um "homem". Por seu turno, "homens" envolvidos em relacionamentos afectivo-sexuais ou práticas sexuais com outras pessoas identificadas com outras pessoas identificadas como homens são também desqualificados. Os "homens" tidos como desempenhando o papel de penetrados são mais desqualificados ainda, tanto pelas pessoas portadoras de vaginas que se acham mulheres, bem como pelas pessoas portadoras de pénis que se acham .
As pessoas portadoras de vaginas, e que se acham mulheres, acham que "homens" que são penetrados competem com elas no mercado da estética e da busca de parceiros "homens" e os que penetram-nos são tidos como um desperdício, num contexto de escassez de "homens" para satisfazer suas aspirações afectivo-sexuais ou suas práticas sexuais. Por sua vez as pessoas portadoras de pénis, e que se acham homens, consideram os pessoas identificadas como homens que têm sexo com outros "homens" como sendo inferiores por serem percebidos como não sendo "? suficientemente machos".
A situação acima descrita é similar à poosição de Parker (1991: 76) para quem essas pessoas identificadas como homens são desqualificados em virtude de serem percebidas, como sendo "comidos" por outros "homens" e em virtude de não responderem às expectativas sociais, pois renunciaram aos atributos associados à identidade sexual masculina. Essa posição é corroborada por Fry e MacRae (1983) que apresentam como exemplo o que acontece entre os índios Guarani do Paraguai, em que o homem que ousa quebrar as regras fundamentais da "masculinidade", arisca-se a ser desqualificado. Segundo os autores "... esses homens são alvo de rebaixamento". Para estes autores a condição destes homens é bem pior porque são desrepeitados pelas crianças.
Entretanto, alguns participantes do estudo consideram que não existe coincidência entre o tipo de genital e a identidade sexual, como Samira revelou:
"As aparências enganam, existem muitas que fazem sexo com outras mulheres, também muitos homens que fazem sexo com outros homens, isso é uma questão de oportunidade?" (Samira, 22 anos, travesti).
Na mesma linha de pensamento, Sheila revelou que:
"?tu podes ver homens de fatos, mas eles são "elas", esses são fingidos, tem esposas em casa, mas quando estão fora de casa levam com outros homens" (Sheila, maricas).
Os resultados do nosso estudo revelam duas principais formas de representar colectivamente as identidades sexuais. Uma primeira que estabelece as identidades sexuais como sendo determinadas pelo tipo de genital. A partir desta representação são percebidos como homens e pertecentes à identidade sexual masculina, todas as pessoas com pénis e são percebidas como mulheres e pertencentes à identidade sexual feminina, todas as com vagina.
Com base nesta perspectiva as pessoas são classificadas de acordo com o tipo de genitais, bem como pelo seu comportamento sexual tomando como ponto de análise o papel sexual que desempenha. Por exemplo alguns participantes toleram que uma identificada como homem mantenha relações sexuais com "homens e mulheres", bastando assumir nessas relações o papel de quem penetra.
Para esses homens não são desqualificados porque mantém a virilidade, a penetração e a dominação, marcas associadas à identidade sexual masculina. Entretanto, os partcipantes do estudo acham que a "masculinidade" é algo que deve ser exercitado em duas esfera, nomedamente em relação aos outros "homens", bem como em "mulheres".
Para outros participantes para se ser homem normal é preciso responder a determinados requisitos, como por exemplo revelar o papel de penetrador durante as relações sxuais, assim as pessoas que não se conformam com essa catalogação são desqualificados e tidos como anormais.
Os termos comummente usados para desqualificar pessoas identificadas como homens que fazem sexo com outras pessoas identificadas como homens são travesti, gay, maricas, mariconas, paneleiros, panhuleiros, vacas, bibas, bibonas, bichas e bicha-boy e para as pessoas identificadas como mulheres que fazem sexo com outras pessoas identificadas como mulheres os termos usados são lésbicas, sapatão e machona, metidas a homens, sapatão, maria-joão, dona-das-calcinhas, mulherengo e maria-rapaz.
Em relação à questão das práticas sexuais Fry e MacRae (1983) chamam atenção para diferentes cenários que decorrem nas relações entre as pessoas, por exemplo homens e mulheres, entre homens e entre mulheres. Segundo estes autotres essas relações envolvem várias práticas com vários singficados. Para estes autores "beijar" e "roçar" não definem a "actividade", nem "passividade", muito menos penetrador ou penetradora, forte ou fraco.
Outra forma de representar colectivamente as identidades sexuais, percebe-as como algo que é construído para além do tipo de genital. A partir desta representação as pessoas se identificam como manas .
Os resultados do presente estudo são similares ao argumento de Giffin (2005: 4) para quem o cenário acima descrito revela que as experiências afectivo-sexuais de pessoas são múltiplas. Essas experiencias as vezes se conforam outras vezes colidem com as representações colectivas. Esse facto reforça a ideia de que as categorias de identidades sexuais são bastante múltiplas e heterogéneas.
Os dados do presente trabalho revelam que cada organiza e da significado aos comportamentos e práticas sexuais. Por exemplo, as relações sexuais anais são alvo de reprovação social. Sobre esse assunto Helborn (1997) revela que entre alguns povos da Melanésia existe uma prática denominda "transferência do sémen" que se concretiza a partir de relações sexuais anais entre o tio materno e as crianças de idades compreendidas entre 8 aos 14 anos. Segundo a autora esta prática se funda na crença da "fabricação do corpo". Segundo Helborn (1997) o processo da constituição da pessoa se processa também após o nascimento.
A situação relatada por Helborn (1997) é testemunhada por muitas sociedades. Em muitas delas, incluindo na sociedade moçambicana, as relações sexuais anais estão associadas a diferentes rituais de transição ou de purificação.










3. 3. Representações subjectivas sobre as identidades sexuais
As identidades enquanto experiências subjectivas sugerem-nos vários cenários, dentro os quais irei analisar dois. O primeiro cenário se refere a pessoas cujas identidades sexuais seguem a determinação genital pénis e vagina. E o segundo cenário se refere a pessoas cuja identificação sexual não segue a determinação genital.
Quanto aos participantes cujas identidades sexuais seguem a determinação genital, encontrei pessoas com pénis que se identificam sexualmente como masculinas ou homens e pessoas com vagina que se identificam sexualmente como femininas ou mulheres.
Os resultados do nosso estudo revelam que as pessoas se identificam como homens/machos ou mulheres/femeninas têm como referência o tipo de genitais que possuem. Assim as com pénis se identificam como homens se e tem afectivo e sexual com "mulheres", assumindo nessas relações o papel de quem penetra. E as pessoas com vagina se identificam como mulheres e tem relacionamento afectivo e sexual com "homens", assumindo nessas relações o papel de penetradas.
Por exemplo Lúcia revelou que se identifica sexualmente como mulher-feminina. Na mesma linha de pensamento Ricky, revelou o seguinte:
"Eu me identifico com homem/macho, porque me relaciono com mulheres" (Ricky, 26 anos, homem/macho).
Contudo, existem pessoas com pénis que se identificam sexualmente como homens se relacionam afectiva e sexualmente com "homens e mulheres", podendo assumir nessas relações o papel de penetrados ou de penetradores. Igualmente existem pessoas com vagina que se identificam sexualmente como mulheres que se relacionam afectiva e sexualmente com "homens e mulheres". As pessoas que se relacionam com pessoas de ambos so sexos acham que esse facto não afecta o seu sentido, nem o seu sentimento de identidade sexual.
Por exemplo um dos participantes do estudo (Apolo), revelou ter tido uma relação sexual com um "homem" tendo assumido nessa relação alvo de penetração, não significando isso que ele não se sinta homem. Durante a conversa que Apolo que existem pessoas que se percebem como masculinas que tem experiência de relacioanmento sexual com homens, mas isso não faz a pessoa deixar de se sentir homem. Sobre sua experiência revelou o seguinte,
"Eu sou um homem, mas posso me relacionar com mulheres ou com outro tipo de pessoa, mas isso não me retira a masculinidade" (Apolo, 29 anos, homem).
Sobre esse assunto Fry e MacRay (1983) revelam que uma pessoa é denominda "bicha" não porque se supõe que mantenha relações sexuais e afectivas com pessoas do mesmo sexo, mas sim porque ele manifesta um comportamento "efeminado". Esse tipo de pessoas geralmente desempenham o papel de penetradas e "femeninamente passivas" nessas relações. Ainda segundo estes autores o pessoa que desempenha o papel de penetrador durante o acto sexual, mantém a identidade masculina independentemente do tipo de parceiro com o qual se envolve.
Ainda segundo Fry e MacRay (1983) a situação das pessoas identificadas como mulheres também apresenta diferenças e semelhanças com as pessoas identificadas como masculinas, porque é esperado que elas mantenham relações sexuais e afectivas "homens".
Entretanto, existem outras pessoas com pénis e se identificam sexualmente como maricas, outras como travestis e e outras ainda como gays. Existem outras pessoas com vagina e se identificam sexualmente como lésbicas. Em termos de relacionamento afectivo sexual essas pessoas se relacionam com entre elas, bem como com pessoas identificadas como homens e mulheres.
Geralmente, as pessoas que se identificam como gays, maricas e travestis e as que se identifcam cmo lesbicas não se identificam sexualmente tendo como referência o tipo de geniatis, muito menos pelo tipo de redes sexuais nas quais se envolvem. O sentido de identidade resulata da convicção de que esses termos que os reivindicam como suas identidades sexuais são os que melhor explicam a sua condição de existência humana.
Alguns participantes revelaram que as pessoas pessoas se envolvem em redes de relacionamentos afectivos e sexuais bastante complexas. Só para citar alguns exemplos, os nossos participantes falaram, em relacionamnetos sexuais entre pessoas identificadas como homens/machos, alguns dos quais com esposas, com pessoas identificadas como gays, bem como com pessoas com "maricas". Nessas relações sexuais as pessoas identificadas como machos assumem o duplo papel de penetradores ou de penetrados. Acontecendo o mesmo com pessoas identicadas como mulheres que relacionam com gay, maricas, travestis, bem como com as lésbicas.
Os exemplos que acima apresentamos explicitam que as identidades sexuais são complexas e múltiplas, o tipo de genitais e as experiências afectivo-sexuais são insuficientes para a determinação das identidades sexuais das pessoas.
No segundo cenário encontramos pessoas cuja forma de identificação transcendem a determinação genital. Neste grupo de pessoas encontramos pessoas com vagina que se identificam sexualmente como lésbicas. Igualmente encontramos pessoas com pénis, umas que se identificam sexualmente como gays, outros como maricas e outros ainda que se identificam como travestis; identidades sexuais que colidem com a noção de identidades sexuais socialmente convencionadas e que são consideradas como normativas.
Na sequência dessa forma de identificação sexual encontramos Élvio que se identifica sexualmente como gay e explica porque é que usa esse termo para se identificar.
"Eu me identifico como gay porque eu gosto de me relacionar com outros "homens (...) eu já experimentei me relacionar com mulheres, mas descobri que gosto mais de outros homens" (Élvio, 26 anos, gay).
No mesmo fio de pensamento Bárbara, também revelou que o termos que usa para se identifica e explica porquê dessa identificação.
"Eu me identifico como maricas é essa a palavra que eu conheço e que é usada para identificar homens que gostam de outros homens e fazem sexo com outros homenspessoas identificadas como homens (...) eu nunca tive relações com mulheres e mesmo com os outros homens eu só levo." (Bárbara, 24 anos, maricas).
Por sua vez Sheila revelou como se identifica sexualmente.
"...eu sou maricas (...) mesmo pelo meu jeito de ser de ser dá para ver isso (...) posso me considerar ela porque esse é meu jeito de ser (...) também dentro de mim, eu gosto de outros homens" (Sheila, maricas).
Na mesma linha de pensamento Samira revelou o termo a partir do qual se identifica e quer ser identificada.
"Eu prefiro me que chamam de travesti (...) eu saia à rua vestida de mulher, porque eu me sinto bem quando ando vestida desta maneira, mesmo quando saio de casa eu saio vestida desta maneira" (Samira, 22 anos, travesti).
Os resultados do nosso estudo revelam que para além dos termos gay, maricas e travesti que usam como suas identidades sexuais particulares, usam também o temos mana como sua identidade colectiva. Apesar das identidades sexuais particulares, como gay, maricas e travesti, que algumas pessoas reivindicam, difere a forma como cada uma dessas pessoas vive e expressa suas identidades. Assim encontramos pessoas com pénis que se identificam sexualmente como maricas e outras que se identificam como gays que lutam para manter a "aparência masculina".
Encontramos ainda pessoas que se identificam sexualmente como maricas, outras que se identificam como gays e outras que se identificam como travestis que assume e expressam suas identidades sem se importarem com aquilo que os outros dizem. Para este grupo de participantes encontramos Samira que se veste de saias curtas, faz a maquilhagem, trança cabelo ou mexas, usa sapatos de salto alto, brincos, gesticula e fala como, somente, as pessoas identificadas como mulheres saber fazem.
"...agora ando mais à vontade, uso minhas roupas (de mulheres) e não tenho medo de ninguém, as pessoas podem falar mas eu não tenho nada a ver, porque existem pessoas que nos aceitam assim como nós somos" (Samira, 22 anos, travesti).
Na mesma linha de pensamento Sheila revelou o seguinte,
"...eu visto a mulher, aqui tenho tudo de mulheres (camisetes justa, com flores brilhantes ou decotadas, vestia saias, sapato alto, carteira, peruca)...comecei a me vestir assim por influência das minhas amigas" (Sheila, maricas).
Alguns dos participantes do estudo, apesar de usarem os termos maricas ou travestis como suas identidades sexuais, algumas vezes usam os termos feminino e mulher para se identificarem. Esses participantes revelaram que estão mais próximas das pessoas identificadas como mulheres facto que é justiçado pelo de no seu dia a dia acharem que representam os papéis tidos como femininos. Além disso mudam os seus nomes de registo e adoptam nomes femininos ou se não adoptam novos nomes transformam os seus nomes de registo em femininos. Samira se sente "mulher de verdade" afirmando. mesmo que a única semelhança que tem com as pessoas identificadas como homens são apenas os genitais.
Os resultados do nosso revelam que estes participantes reivindicam a identidade sexual feminina como consequência dos modelos de socialização que convencionaram a existência de duas categorias de identidades sexuais, a masculina e feminina, apresentadas como as únicas possibilidades de se ser pessoa.
Quanto à educação e iniciação sexual os participantes do estudo revelaram que seus parentes tiveram pouca ou nenhuma influência na sua aprendizagem sexual. Os participantes do estudo revelaram ainda que as conversas sobre a sexualidade, começaram quando os pais se aperceberam que os filhos tinham atingido alguma maturidade e já se tinham iniciado uma vida sexualmente activa.
O silêncio foi substituído por um discurso que se limitava apenas a mostrar os territórios que se afiguravam como potenciais perigos, por exemplo apelando aos mesmos para não engravidarem ou para terem cuidado com as doenças de transmissão sexual (no caso o HIV-SIDA). Por exemplo no seu depoimento Apolo revelou o seguinte,
"...com os meus pais nada aprendi sobre sexo, o que eu sei aprendi na escola onde falamos sobre algo sobre o corpo, sobre o aparelho reprodutor masculino e feminino e outras coisas aprendi com meus amigos" (Apolo, 24 anos, homem).
Na mesma linha de pensamento Lúcia revelou o seguinte,
"...meus pais não conversam comigo sobre sexo, mesmo quando tive a minha primeira menstruação, foi uma surpresa para mim, aconteceu numa aula de educação física, eu não sabia nada, fiquei cheia de vergonha, só depois disso é que minha mãe começou a se preocupar comigo e me disse o que devia passar a fazer, só terminou aí" (Lúcia, mulher, 19 anos).
Concluindo quanto à forma como as pessoas se identificam sexualmente existem com pessoas com vagina que se identificam sexualmente como mulheres ou femininas e outras pessoas com pénis que se identificam sexualmente como pessoas homens ou masculinas. Existem também pessoas com vagina que se identificam sexualmente como lésbicas e pessoas com pénis umas que se identificam sexualmente como maricas, outras gays e outras como travestis. Em cada um destes grupos, maricas, gays e travestis as identidades se manifestam de forma complexa e não homogénea, mesmo dentro de cada grupo.















3. 4. As pessoas: Entre as representações colectivas e as representações subjectivas
Quanto à forma como as pessoas se movem entre as representações colectivas encontramos dois cenários. Um primeiro que se refere a pessoas cujas identidades, comportamentos e práticas sexuais se conformam com as expectativas da sociedade. Temos também um segundo cenário no qual comportamentos, identidades e práticas sexuais das pessoas não se conformam com as expectativas da sociedade.
Quanto ao primeiro cenário encontramos pessoas que se identificam como homens e outras pessoas que se identificam sexualmente mulheres vivem suas identidades sem nenhum problema em virtude de acharem que seus comportamentos e práticas satisfazem as expectativas da sociedade. Essas pessoas vivem e expressam suas identidades sem qualquer tipo de receio.
No segundo encontramos pessoas cujas identidades, práticas e comportamentos sexuais não se conforma com as expectativas da sociedade que na maior parte das circunstâncias soa alvo de estigma, preconceito e descriminação. Agrupamos essas pessoas segundo suas experiências e singularidades.
Os resultados do nosso estudo revelam que as pessoas são desqualificadas, não apenas quando se ache que estão assumindo identidades sexuais alheias, como também quando seus comportamentos e práticas sexuais colidem com as expectativas da sociedade. Um dos maiores problemas enfrentados por algumas dessas pessoas é o estigma e a descriminação. Sendo que para se salvaguardarem dessa situação não expressam suas identidades, comportamento e práticas sexuais, tanto no seio da família, assim como diante dos amigos.
Nesse grupo de pessoas encontramos pessoas que se identificam sexualmente como sendo masculinas e que tem relações afectivo-sexuais com pessoas identificadas como homens e pessoas que se identificam como femininas que tem relações afectivo-sexuais com pessoas identificadas como mulheres.
Para além dessas pessoas, encontramos outras que se identificam como gay, outras que se identificam como maricas e as que se identificam lésbicas que não expressam suas identidades Apontam como razões o receio de perder a família e amigos. Outra razão apontada é medo de serem expulsas da casa e como forma de se escaparem da violência na rua ou em outros lugares públicos.
Entretanto, essas pessoas conseguem se salvaguardar do estigma e da discriminação porque as pessoas com vagina procuram manter a aparência feminina e as pessoas com pénis procuram manter a aparência masculina. Sendo em lugares específicos, por exemplo quando se encontram com seus parceiros e parceiras ou quando estão em grupos e pessoas que se identificam com essas práticas elas manifestam e expressam essa identidade. Sobre isso, Élvio revelou o seguinte,
"Eu sei o que eu sou, mas não posso me expor porque tenho medo da reacção das pessoas que vivem para minha casa". (Élvio, 26 anos, gay).
Na mesma linha de pensamento Bárbara revelou que,
"...homossexual não tem marca, tem pessoas que você pode ver de facto enquanto são manas e apanham bem..." (Samira 22 anos, travesti).
Encontramos ainda pessoas que se identificam como gays que expressam abertamente que tem atracção afectiva e sexual por pessoas identificadas como homens. Encontramos ainda pessoas que se identificam como lésbicas que também expressam que tem sentimentos afectivos por pessoas identificadas como mulheres.
Existe um outro grupo de pessoas, esse têm pouca manobra para se salvaguardarem do estigma e da discriminação. Nesse grupo encontramos as pessoas que se identificam como maricas e as que se identificam como travestis que assumem e expressam publicamente suas identidades, práticas e comportamentos sexuais. As pessoas que assim se identificam são facilmente reconhecidas pelo jeito como gesticulam, a forma como falam, a forma como andam tidas como femininas e que lhes proporciona pouca manobra para escaparem dos preconceitos.
As pessoas que se identificam como travestis são facialmente reconhecidas pelo seu jeito de se vestir. As pessoas que se travestem usam sapatos de salto alto, as saias curtas, calças justas, blusas, camisetes, desfrisam cabelo ou usam perucas, usam brincos, maquilhagem, verniz e batom; esses adereços quando usados por essas pessoas chamam atenção, porque se espera que sejam usados por pessoas identificadas como mulheres.
Entretanto essas pessoas são alvo de preconceito e discriminação em virtude de se achar que usam roupas e adereços de pessoas de identidade sexual feminina, prática que colide com as expectativas a sociedade.

Sobre esse assunto Samira revelou o seguinte:
"...no princípio não foi fácil viver assim porque as pessoas discriminavam, quando saia de casa algumas gozavam comigo me chamavam de bicha, maricona (...) chegou um momento que eu tinha medo de sair de casa durante o dia, porque mesmo sem falar com ninguém, tem pessoas que me insultavam" (Samira, 22 anos, travesti).
Estes participantes revelaram que cada vez que atravessam a rua, a caminho do mercado ou de qualquer outro lugar, se prepararam para enfrentar o preconceito e a descriminação. Sheila, revelou ter presenciado episódios de violência contra pessoas identificadas como "efeminadas",
"Tenho uma amiga que tem medo de assumir o que é, uma vez dessas foi levou porrada numa barraca por uns moços" (Sheila, maricas).
Alguns dos participantes com os quais conversamos revelaram que já estão habituadas a lidar com essa situação. Samira confessou ainda que algumas pessoas ainda não estão sensibilizadas para lidarem com as pessoas que tenham outros tipos de identidade ou orientação sexual, ainda segundo ela mesmo no seio da sua família, no princípio teve sérios problemas, porque nunca quiseram entender a sua situação, mas segundo ela,
"Essas pessoas já entenderam que nós somos assim, mas pessoas que ainda continuam a nos olhar com receio, principalmente algumas moças têm medo porque pensam que nós fingidos e podemos lhes violar, mas nós não somos assim" (Samira, 22 anos, travesti).
Algo que importa referir que todas estas pessoas são alvo de preconceito. Entretanto estes participantes revelaram que no seu dia a dia vão lutando contra isso. Relativamente aos termos travesti, gay, maricas, mariconas, paneleiros, panhuleiros, vacas, bibas, bibonas e bichas, sapatão e machona que anteriormente que são usados para desqualificar essas pessoas, eles os assume e os reivindicam como suas identidades sexuais. Entretanto é comum dentro do grupo de sociabilidade, para além da expressão mana, as pessoas se tratarem por vaca, bicha, biba, maricona.
Os resultados do nosso estudo revelam que estes termos podem assumir um duplo sentido, segundo a explicação de Bárbara,
"... dizer maricas, vaca, biba pode ofender, depende da pessoa se for uma amiga a dizer isso não tem nenhum problema, mas uma pessoa qualquer diz isso com intenção de te ofender" (Bárbara, 24 anos, maricas).
O estigma e descriminação acompanham o ciclo de vida destas pessoas algumas das quais convivem com isso em casa, na rua e em todos os lugares por onde passam. Algumas destas pessoas vivem momentos de tensão, porque precisam de viver escondidas não expressando suas identidades e suas práticas sexuais.
Outras vivem relativamente tranquilas enquanto suas práticas não forem conhecidas pela família. Quando a família descobre que a pessoa tem pénis e se relaciona afectiva e sexualmente com outras pessoas com pénis ou uma pessoa tem vagina e se relaciona afectiva e sexualmente com pessoas com vagina, julgando isso como uma doença, tentam sensibilizar a pessoas para se tratar. Um dos participantes revelou que conhece alguém que foi obrigado pelos pais a ir para um curandeiro ou para ir à igreja universal, a fim de se tratar, como revela Bárbara:
"... meus pais quando descobriram que eu era maricas ficaram chocados (...) porque não estavam a espera que eu fosse assim, meus pais e meus tios disseram que eu devia me tratar porque isso não era normal" (Bárbara, 24 anos, maricas).
Estes participantes do estudo revelaram que algumas famílias menos tolerantes obrigam as pessoas a abandonarem a casa. Samira revelou que quando a família descobriu a sua orientação sexual obrigou-a a sair de casa. No excerto da conversa ficou o seguinte:
"Quando os meus pais descobriram que eu sou gay não me aceitavam (...) comecei a ter problemas com a minha família, minha mãe e minhas irmãs deixaram de falar comigo, depois tive que sair de casa e comecei a viver sozinha. (?) a pessoa que namorava comigo alugou uma casa para mim (...) depois viajei com ele para a África do Sul, fiquei lá dois anos e meio, lá conheci outras manas" (Samira, 22 anos, travesti).
Sobre aquelas pessoas que abandonam a casa, Pelúcio (2004) traça uma trajectória pela qual, na generalidade, essas pessoas. Ainda segundo a mesma autora o rito de ruptura não obedece qualquer cerimónia rigorosamente estabelecida, mas como qualquer tipo de rito envolve dor e humilhação.
Os resultados do nosso estudo revelam que as pessoas que chegam a abandonar casa quando seu comportamento e práticas sexuais são conhecidas pela família, são similares à conclusão de Pelúcio (2004) para quem a trajetória de pessoas consideradas marginais pelas suas práticas e comportamentos, sem muito rigor, obedece a três fases.
O elemento principal que caracteriza a primeira fase é a certeza que família tem certeza que a pessoa se relaciona com uma pessoa do mesmo sexo. Depois da família, em alguns casos, a informação rapidamente se espalha pelos amigos, vizinhos e conhecidos. Alguns participantes referiram que algumas famílias dão como opções, mudar de práicas e comportamento sexual ou abandonar a casa, porque constitui uma "vergonha para a família".
A que se considera segunda fase se caracteriza por um clima de tensão permanente entre a pessoa visada e a família. Nesta fase algumas pessoas se encontram desligadas da família, contando apenas com a solidariedade de amigos que os acolhem, dão abrigo e alimentação. Outras pessoas encontram como alternativa para enfrentar o preconceito e o estigma por parte da família e outros conhecidos, viajam com amigos para o estrangeiros. Como referiu Samira,
"... em 2004, regressei da África do Sul, eu já não tenho medo nem tenho vergonha de ninguém, mas algumas pessoas ainda olham para mim com desprezo, quando estou na rua as pessoas olham para mim, e eu só passo e vou à minha vida" (Samira, 22 anos, travesti).
Para Pelúcio (2004) o momento da "ruptura" com a família e o acolhimento pelos amigos, marca o ritual de passagem e simboliza o nascimento de uma "nova pessoa" dotada de personalidade e identidades próprias, algumas dessas pesssoas se apresentam com um novo nome. Alguns participantes revelaram que a mudança do nome simboliza a "ruptura" com a antiga pessoas e marca o "re-nascimento" e o batismo. Este processo de "re-nascimento" é acompanhado por diferentes mecanismos de socialização e de inserção na nova rede de sociabilidade.
Neste fase se aprendem novas coisas e se consolida a nova pessoa. A pessoa aprende e aprimora a linguagem, os valores, comportamentos da nova esfera de sociabilidade. O processo de re-iniciação socio-sexual é acompanhado por um conjunto de informações sobre os locais onde se pode encontrar os potenciais parceiros. Acima de tudo o processo de re-nascimento e re-socialização cria condições para a pessoa se assumir e expressar suas identidades. Segundo a revelação de um dos participantes por causa da situação de estas pessoas são alvo, então as pessoas tem pouco espaço para expressarem livremente as suas identidades, então os eventos organizados pelos simpatizantes constituem um espaço de inserção e de sociabilidade dos mesmos.
A terceira fase se caracteriza por uma estabilidade e de autoconfiança. Desafiando os modelos de identidades sexuais socialmente convencionados, nas quais se determina a orientação sexual, o tipo de roupa e a forma como as pessoas se devem vestir, essas pessoas nesta fase, a pessoa assume e expressa sua identidade sexual sem receio de ser discriminada. Samira é exemplo dessas pessoas e revelou que não tem nenhum problema em se "vestir como mulher".
Relativamente à forma como se apresenta publicamente Samira revelou o seguinte,
"Algumas pessoas já estão sensibilizadas e lhe aceitam como ela é" (Samira, 22 anos, travesti).
Ainda segundo a "mesma" informante mesmo a sua Samira que se tina afastada "dela" já se reaproximou dela assim sendo,
"...minha mãe e minhas irmãs agora já vem para minha para visitar, quem não quer saber de mim é meu pai, porque ele estava que eu me casasse com uma mulher e tivesse filhos, mas eu não posso fazer isso porque eu nasci assim..." (Samira, 22 anos, travesti).
As visitas que efetuei a casa de alguns participantes do estudo são reveladores disso. Por exemplo, as vizitas que efectuei à casa da Samira me permitiu observar que nas primeiras horas da manhã ela tem barba aflorando o seu cara, voz grossa de quem acaba de acordar. Entretanto, no final do dia e no início da noite emergem com a barba e o bigode feitos, com o cabelo desfrisando, colares e anéis enormes e vistosos, lábios pintados com batom, as unhas com verniz vistoso, com maquilhagem e vestidas de saias curtas, blusas ou camisas decotadas.
Os resultados do nosso estudo revelam que as pessoas accionam várias estratégias de identificação. Quanto à forma como as pessoas se movem entre as representações colectivas e subjectivas encontramos diferentes cenários. Um cenário em que encontramos pessoas cujas práticas, comportamentos e identidades seguem a determinação genital, pénis vagina que vivem e expressam suas identidades de forma tranquila, em virtude de as mesmas ire ao encontro do esperado.
Um outro cenário se refere a pessoas cujas práticas, comportamentos e identidades sexuais não se conformam com o esperado. Relativamente a estas pessoas se por um lado existem pessoas que assumem e expressam suas identidades sexuais em lugares específicos, como forma de se salvaguardarem do estigma e da descriminação, por outro lado existem outras pessoas que assumem e expressam suas identidades em qualquer lugar, mesmo cientes de que as mesmas contrariam as expectativas da sociedade.


IV. Conclusões
Os resultados do nosso estudo revelam que existem diferenças entre as representações colectivas e subjectivas sobre as identidades sexuais.
Em termos de representações colectivas as pessoas com pénis ou supostamente penetradoras durante o acto sexual são consideradas como pertencentes à identidade sexual masculina e as pessoas com vagina ou penetradas durante o acto sexual são consideradas como pertencentes à identidade sexual feminina.
As identidades sexuais, enquanto experiências subjectivas revelam a existências de pessoas com pénis e penetradoras durante o acto sexual que se percebem como masculinas e pessoas com vagina e penetradas durante o acto sexual que se percebem como femininas. Existem ainda pessoas com pénis que se percebem como masculinas, mesmo tendo experiências de penetradas durante o acto sexual.
Entretanto, existem outras pessoas com pénis que assumem o papel de penetradoras ou penetradas durante o acto sexual que se percebem como maricas, outras como gays e outras ainda como travestis. Também existem pessoas com vagina que assumem o papel de penetradas ou não penetradas que se percebem como lésbicas.
Quanto à forma como as pessoas se movem entre as representações colectivas e subjectivas sobre as identidades sexuais, os dados do nosso estudo revelam a existência de pessoas com pénis e penetradoras durante o acto sexual que se identificam como masculinas que assumem comportamentos que visam reafirmar a sua identidade sexual masculina. De forma similar existem pessoas com vagina e penetradas que se identificam como femininas que assumem comportamentos que visam reafirmar a sua identidade feminina.
Quanto às pessoas cujas identidades sexuais transcendem a relação identidade e o tipo de genital, os dados do nosso estudo revelam a existência de pessoas, que se identificam como maricas, gays e outras que se identificam como travestis que expressam essas identidades em lugares específicos para se salvaguardarem do estigma e da descriminação visto que essas identidades e comportamentos contrariam com as expectativas da sociedade.
Entretanto, existem outras pessoas com pénis que se identificam como gays, travestis e maricas, que expressam suas identidades, manifestando comportamentos que visam reafirmar suas identidades sexuais.
Os dados do nosso estudo nos permitem concluir que as identidades sexuais, enquanto construções sociais, não são determinadas pelo tipo de genitais ou pelo suposto papel sexual das pessoas, o que difere da posição de Ceccarelli (1997); Osório e Artur (2002); WLSA (2008) que associam as identidades sexuais ao tipo de genital e ao papel sexual das pessoas.
Concluindo as identidades sexuais são múltiplas, contraditórias, não se reduzindo a um par determinado pelo tipo de genitais que as pessoas posssuem, mas das experiências das pessoas.



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Autor: Emilio Meque


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