Representação e complexidade



Representação e Complexidade

O texto tem por objetivo principal salientar a necessidade de construir-se um pensamento complexo, baseado no pressuposto de que não podemos nos contentar, exclusivamente, com aquilo que nos é imposto como "verdade absoluta" pelo pensamento científico. Isso levando em consideração o fato de que a ciência compartimenta, fragmenta e descontextualiza todo e qualquer conhecimento que não seja por ela comprovado. Esfacelando dessa forma, as argumentações e saberes comuns nas sociedades e culturas diversas, as inovações que surgem, as novas formas de agir. Elementos esses as quais fazem parte de seus cotidianos e que para elas devem ter valor e deve ser reconhecida.
De acordo com o autor a ciência é reducionista, extrai seu objeto de estudo do meio em que está inserido. Não faz ligações do mesmo com sua realidade, examina, experimenta, compacta e o utiliza como material de análise de seus cálculos e normas estabelecidas, as quais têm que determinar precisamente a solução para o problema proposto, sem fazer relação com a realidade.
O texto apresenta em sua estrutura as seguintes ideias principais:
? A necessidade de adquirirmos um pensamento complexo, o qual é capaz de analisar, criticar e compreender que podemos mudar a realidade, nos levando a enxergarmos que é possível uma sociedade mais justa e igualmente desenvolvida.
? A falsa racionalidade humana, que faz com que se acredite que é possível mudar o percurso natural das coisas, sem comprometer a integridade das pessoas ou do ambiente, utilizando o inventivo desejo de ajudar os outros, sem fazer um levantamento prévio das implicações desses atos, sem avaliar as possíveis consequências que eles podem acarretar no futuro.
? O princípio sistêmico ou organizacional fundamentado no propósito de que precisamos conhecer o todo, assim como também cada uma de suas partes componentes para podermos chegar a uma provável solução. Segundo este princípio é impossível encontrarmos respostas para problemas visíveis e reais, sem conhecermos toda sua composição: como isso começou, onde começou, por que começou, quem pode ajudar, como ajudar, o que fazer, por onde começar. Podemos constatar esse fato, em uma sala e aula, onde existe um aluno que tem dificuldade em aprender, e o professor ao invés de tentar conhecer sua realidade, solucionar o problema o "rotula" de preguiçoso, incapaz, entre outros pejorativos inferiorizantes. Se este professor utilizasse o princípio sistêmico, iria conhecer seu aluno, sentar, conversar, dialogar com ele para ajudá-lo a melhorar e identificar onde está o problema que o impossibilita de sair-se melhor nas aulas.
? O princípio "hologramático", que argumenta está o todo inserido em cada parte que o compõe, na sua estrutura, ou seja, cada micro partícula que forma sua composição total, possui informações sobre toda sua constituição. É como uma comunidade tipicamente racista. Cada uma das pessoas dessa comunidade tem o racismo embutido dentro de si, cada um (mesmo que separadamente ou disfarçado) carrega esse pensamento, esteja onde estiver.
? O princípio do ciclo retroativo parte do pressuposto de que toda causa atua sobre seu efeito e vice-versa, ou seja, toda ação produz uma reação, a qual age sobre ela, seja positiva ou negativamente. Enfatiza o feedback entre os sujeitos, mas relata também aspectos prós e contras que podem acontecer, tais como uma gesto de carinho gerar outro gesto de carinho, porém pode acontecer que um gesto agressivo, provavelmente, gere outro gesto agressivo.
? O princípio do ciclo recorrente que diz ser o homem reprodutor do sistema que o gerou, ou seja, somos produtos e produtores do meio em que vivemos, detemos em nossas mãos a capacidade de modificar ou continuar reproduzindo o que o sistema induz. Se quisermos ou não continuar com essa reprodução infeliz é uma opção nossa.
? O princípio de auto-ecoorganização (autonomia/dependência) relata que o ser vivo é auto-organizador e auto-produtor por natureza e que por este motivo deve valorizar, cuidar e preservar o ambiente que o circunda, visto que ele é dependente deste meio e que o mesmo é fundamental para sua sobrevivência. O homem não pode, definitivamente, pensar em autonomia total sem preocupar-se com o meio ambiente e com as sequelas que seus atos impensados podem provocar.
? O princípio dialógico parte da conjetura da adesão de dois princípios que não podem se fragmentar um do outro como a ordem e a desordem. Uma complementa a outra, para uma existir tem que ter a outra. Isso nos leva a reconhecer que a contradição existe (sempre existiu) nos fazendo compreender que fatos contraditórios nos ajudam a compreender o pensamento complexo. Por exemplo, somos seres individualistas, mas vivemos em uma sociedade.
? O princípio da reintrodução do conhecido em todo o conhecimento, baseado no pressuposto de que todo conhecimento produzido foi fundamentado em estudos de acontecimentos surgidos na sociedade, no conhecimento cultural de uma civilização. Em outras palavras, podemos dizer que este princípio une as duas formas de pensar, científica e popular, aprimorando os conceitos populares e os transformando em estudos devidamente comprovados. Faz uma articulação entre a ordem e a desordem, integrando-os numa concepção mais rica e totalitária.
Como podemos ver o pensamento complexo é fundamental para a humanidade. Muitos autores, de várias áreas de atuação, expressam suas concepções a respeito dessa necessidade, visto que as ciências não geram certezas incontestáveis, "dogmas perfeitos". Podem existir (e existem) muitas dúvidas e improbabilidades nelas entranhadas. O pensamento complexo nos ajuda a lidarmos com essas incertezas, pois é um pensamento que abarca e contextualiza ao mesmo tempo em que pode ser singular e concreto. Ele nos ajuda a reconhecermos que as dúvidas podem nos ajudar a encontrarmos as respostas para nossas incertezas.
O pensamento complexo é fundamental na sociedade atual em que vivemos, onde o sistema capitalista, excludente e individualista, nos remete a uma esfera de submissão e incapacidade perante aqueles que detêm o poder, que tentam nos alienar e bitolar em situações desumanas e discriminatórias. Precisamos aprender a enxergar o que está errado, para que possamos buscar e lutar por melhorias para todos. Não podemos nos submeter a tudo que nos é imposto. Devemos lutar por nossos direitos, sem titubear. É nossa vida. Nossa história. Não podemos cair no comodismo e aceitar tudo sem questionar. Não é fácil superar as desigualdades, mas não podemos desistir. Como dizia o saudoso Fernando Pessoa "tudo vale a pena quando alma não é pequena".



Referência:
MENDES, Candido. (org.). Representação e complexidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 248 p.

Autor: Augusta Magnolia


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