"Vivo-mortos" e "Vivos"



Outro dia eu tive um sonho! Não foi um sonho qualquer, foi muito real, um sonho que durante anos teimava em não terminar com o raiar do dia. E apesar de não ser um "sonho-vampiro", ele estava me sugando todo o "sangue", toda a "vida", e o engraçado é que eu estava gostando disso! Qual foi o sonho?! Vou lhe contar agora: Sonhei que estava morrendo, e ironicamente estava gostando, e quanto mais eu me aproximava do paraíso, mais a sede por veneno aumentava e a alegria da morte me fazia ter alucinações em que via a vida eterna cada vez mais próxima de mim. A alegria em estar morrendo era tanta, que me tornei amigo de coveiros, bebedores de sangue e comedores de carne. Estranhamente, durante o sonho, nunca me dei conta do assombro que é ser enterrado vivo. Seguia alegremente o cortejo no qual todos eram defuntos, e por amar demasiadamente a morte, me esqueci de acordar e como um zumbi maligno, perseguia aqueles que se negavam à morte. Por me sentir angelicalmente morto, não me dei conta de que o convívio com cadáveres e o apetite por carne humana, tinham me transformado em "mosca", e precisou que um dos vivos, aqueles à quem eu mais temia, me mostrasse que a alegria das moscas é o mau cheiro. Bastou isso para que eu despertasse. Quando despertei do meu sono de anos, pensei que o sonho não tinha nem me tirado da cama e que ainda estava no mesmo lugar desde que comecei a dormir. Foi aí que percebi que a voz do "vivo", tinha me transportado para uma alta montanha e quando olhei para trás, vi o vale intransponível em que eu - juntamente com os outros defuntos - estava tocando acordes de alegria por não ser um vivo. Então eu percebi que quanto mais eu os observava mais o vale se tornava profundo, e assim como uma "aliança", jamais tinha um fim e seguia com seus dois mil anos de movimentos circulares levando os mortos sempre ao mesmo lugar, ao mesmo "pecado de perguntar o porque de não ser vivo". Agora estou sendo perseguido pelos zumbis, mas estou feliz por saber que a montanha é alta demais para eles. Minha alegria maior foi saber que para os vivos, as montanhas nunca são o limite, sempre haverá um espaço à ser explorado. Descobri também que a vida da qual tinha tanto medo,não é um sonho que acaba ao amanhecer, pelo contraio, é exatamente aí que ela começa, quando a luz do sol aparece. Infelizmente o vale nunca será iluminado, e os zumbis nunca serão alpinistas, não lhes dá prazer as alturas, o mau cheiro dos pântanos é o seu prazer, a cruz sempre será a sua honra. Que sorte a minha os vivos terem me acordado!

Jônatas Félix da Silva.
Autor: Jônatas Félix Da Silva


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