Notas sobre a disciplina "Interpretação e Direção".



Notas sobre a disciplina "Interpretação e Direção".

A presença do ator no Teatro Grego é carente de uma plena identificação por parte da platéia. O motivo para tal é a imensa distancia entre o local da cena e a platéia que comparecia num numero que se contava aos milhares. Esta distância é um dos motivos da utilização de grandes máscaras, sapatos com plataformas para aumentarem o tamanho do ator, sendo que o mesmo precisava ainda ter uma boa potencia vocal. Alguns historiadores contam que Sófocles não seguiu a carreira de ator por culpa de uma dificuldade vocal.
Este tipo de atuação, onde a personagem domina totalmente o ator, temos Édipo, por exemplo, que na cena final não fura os olhos na frente da platéia, numa atuação dramática e sim troca de mascara nos bastidores. Alem disso, é importante citar o papel do coro que de uma forma geral é determinante dentro de uma cena.Nesta forma teatral "rubrica" é muito pouco usada, fazendo com que as situações estejam sempre presentes na fala dos atores.
O Teatro Medieval acontece principalmente na Páscoa para representar assuntos religiosos (católicos), e como este tipo de representação acontece no átrio, que fica perto da porta principal, e, portanto fora da igreja, assim como o Teatro Grego, acontece em local público. As peças medievais podem ser divididas em três tipos, a saber, Mistério (histórias da bíblia), Histórias das vidas dos santos e Moralidades.
Nesta época, as peças eram feitas por corporações religiosas, os cenários eram montados em carrinhos e buscavam chamar a atenção através de maquinários que podiam trabalhar com o fogo ou com a água, sempre buscando a ação como ponto central.Alem desta forma religiosa, existia uma outra forma do teatro medieval mais profana que focalizava o homem no mundo e continha mais elementos dramáticos (mais próxima do teatro grego).
A Comedia Del Arte, uma forma teatral, da qual o teatro de Ariano Suassuna utiliza elementos , traz personagens como estereotípicos tais como o arlequim (zani), o brighela, a colombina, o pantalone, o dottore entre outros. Estas personagens são bem definidas e independente da trama que ocorre na peça fazem sempre o mesmo papel. O arlequim é o empregado astuto que para sobreviver faz varias falcatruas, a colombina é o objeto de amor do Arlequim, o dottore é o sabichão e assim por diante.
As companhias que utilizavam esta forma teatral geralmente eram formadas dentro de uma estrutura familiar. Esta forma teatral não possui texto, nem roteiro e trabalha muito mais com o sotaque e com pouco fala, uma vez que adota a utilização de máscaras.Assim como as peças de Mistério, a Comedia Del Arte trabalha com muita ação e movimento.
Como todos estes teatros de "rua", a interpretação dos atores tem que ter uma dose de "exagero" para que um público estimando de mais de mil pessoas pudesse notar os movimentos do ator (cambalhotas).Desta forma até este momento, devido à distância entre atores e público, não adiantava aos atores fazerem cenas com nuances.
Uma primeira grande mudança paradigmática no trabalho do ator vai acontecer com o Teatro melodramático, uma vez que esta forma teatral, apesar de também buscar o movimento e as quebras como forma de chamar o público, tem a grande diferença das peças serem encenadas em ambientes fechados a partir da abertura dos teatros a partir de 1800 acarretando uma maior proximidade entre ator e platéia. Em 1823 Frederic Lemetre inicia o que poderíamos designar como a interpretação formal do ator, ele inverte as posições dos atores, transformando o cômico que era um mero coadjuvante no protagonista. Este novo paradigma vai mudar a história do teatro, com o aparecimento do autor teatral, com a publicação e encenação de escritores já famosos e reconhecidos, como por exemplo, Victor Hugo em 1847 que vai trabalhar o grotesco com o sublime dentro da cena teatral.
Na continuidade deste processo, com a expansão do papel do ator, Ricobone começa a pensar no ator e sua arte, como interpretar, como exprimir uma emoção e publica um livro (manual) sobre o assunto, este livro vai servir como referencia para o brasileiro João Caetano que vai publicar o seu livro "Lições dramáticas". É de suma importância mencionar que até este momento ainda não tinha surgido o papel do diretor.
O Teatro romântico aparece juntamente com a revolução estética de Baungartem que afasta o demasiado racionalismo cartesiano do Classicismo em benefício da individuação do artista, traz pela primeira vez na História a noção de gênio. Esta nova estética - diferentemente da estética neo-clássica que estava muito ligada a uma ideologia de prestação de serviços, ou seja, um teatro altamente canonizado a serviço da Coroa ? pode ser considerada como "marginal", trazendo a preocupação com o figurino, o cenário, a decoração, a ilusão e o jogo teatral.

Enfim, é a partir dos meados do séc. XIX inicia-se a transição para o Teatro Realista, forma teatral que vai dar início à real preocupação com a preparação do ator e com o aparecimento da figura do encenador ( que começa a pensar o ator). Jacopo e Dilan começam a se preocupar com o corpo (e, por conseguinte, a voz) como elemento dramático e fundam a primeira escola de formação de atores.
Este realismo busca a realidade como objeto a ser copiado. Dentro deste novo paradigma, os encenadores trabalham o cotidiano das peças escritas, colocando pela primeira vez uma mesa "real" que vai substituir os desenhos pintados em cena.Também, dentro deste paradigma, o ator vai se aproximando mais da platéia, passa a ser visto como "gente como a gente", porem ele ainda é muito mais forma, no que diz respeito ao corpo, do que conteúdo psicológico (emoção, etc).
Com Tchecov a emoção vai entrar em cena, ele retrata e expõe a decadência da nobreza russa, não na sua grandiosidade e epopéia, e sim nas nuances, nos detalhes desta decadência.Esta nova forma de apresentar a realidade necessitava uma nova estética e foi o que propôs Stanislaviski, para quem o ator deve se colocar emocionalmente. O ator não tem que mostrar a paixão tão somente e sim tem que mostrar como ele a sente, este "novo teatro" é concebido para que as pessoas vejam e se emocionem, que traga de novo a catarse, num ápice de identificação platéia-ator com a classe média (burguesia) se vendo no palco.
Porém, esta exacerbada identificação entre o público e o ator vai ser duramente criticada por Brecht, que no seio da Revolução Socialista vai buscar um distanciamento crítico, pois para ele o trabalhador proletário, mais do que se identificar tem que ter um olhar crítico. Para ele, a ilusão do teatro aristotélico é um equivoco.

Autor: Luiz Zanotti


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