UM CRISTO SERTANEJO



UM CRISTO SERTANEJO

"Finos Trapos" é uma companhia de teatro fundada em 2003, em Vitória da Conquista, dirigida por Roberto de Abreu e tem como característica a pesquisa das tradições populares baianas. A história desse grupo é marcada por importantes obras, dentre elas está o espetáculo "Auto da Gamela".
"Auto da Gamela" narra a história de um casal do sertão nordestino à espera do seu primeiro filho. O menino é um novo Cristo, nasce não na manjedoura, mas em uma gamela, é visitado pelos Três Reis Magros que ao invés de ouro, incenso e mirra, o presenteiam com uma enxada, alavanca, foice, candeeiro e uma viola, o que exprime muito mais significado, visto que o menino nasceu na caatinga. Mas ao contrário de Jesus Cristo, Francisco não alcança a vida adulta, pois ainda como um "anjin" morre.
O espetáculo mostra a vida no sertão, a crença, a lida, a seca, a miséria e a fome que estão presentes no cotidiano do sertanejo, mas sem perder de vista o humor e a criatividade tão bem explorados pelo "Finos Trapos".
O modo como é conduzido o espetáculo mostra a sensibilidade cênica dos atores e o apreço com o tema abordado. O grupo não apenas se destaca pela teatralidade, mas também pela musicalidade. Os atores encenam cantando e dançando durante a apresentação, o que dá qualidade e vivacidade a obra.
A trilha sonora parece ter sido minuciosamente escolhida, pois está em total consonância com todo o resto dessa encantadora obra, além de revelar um lugar especial na memória do espectador, trazendo recordações das cantigas que outrora eram cantadas pelas avós e lavadeiras à beira do rio.
"Auto da Gamela" também se destaca pelas belas imagens que nos foram apresentadas, dentre elas destacamos duas: a cena do nascimento de Francisco, mostrada por meio das sombras da mãe sentido as dores do parto, o trabalho da parteira e a chegada de um bebê e a cena onde todos estão com uma gamela na mão girando e cantando como se fosse um moinho. Lindas imagens!
Enfim, "Auto da Gamela" é construído de maneira envolvente, seja pela história que é apresentada, seja pela linguagem nordestina ou pela musicalidade. Essa obra consegue emocionar o espectador pela qualidade de todo o espetáculo.

Autor: Ione Barbosa De Oliveira


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