Novo modelo de criar os filhos



O NOVO MODELO DE CRIAR OS FILHOS
Certa vez, no ano de 1977, quando ainda era acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, assisti a uma conferência de um psiquiatra infantil que muito me marcou, em especial, com uma frase bastante interessante sobre a rebeldia e a teimosia das crianças com seus pais que assim dizia: "uma palmada bem dada no bumbum dada de baixo para cima corrige e ajuda a fica homem mais depressa". Lembrei-me da minha infância vivida na cidade de Bagé. Lembrei-me também das inúmeras vezes que apanhei dos meus pais sempre que teimava em não obedecer, mentia, fazia pirraça, fumava escondido, gazeava as aulas, respondia para os meus pais e para os mais velhos, quando a professora reclamava da minha atitude em sala de aula, dentre outras coisas sem muita importância ou de extrema importância para a formação do meu caráter. Mas acho que os meus pais erraram na dosagem. Eu deveria ter apanhado um pouco mais, pois assim não teria cometido alguns erros que me causaram sérios dissabores, que se tivessem sido corrigidos na época própria os teria evitado. Os tempos mudaram, hoje as crianças não obedecem mais aos pais, fazem o que bem entendem, destroem os móveis das casas onde moram, desrespeitam seus pais, avós e os mais velhos. Fazem pirraça até conseguirem o seu intento. É comum ver, em estabelecimentos comerciais, crianças gritando e jogando-se ao chão numa atitude totalmente absurda e incompatível com uma educação equilibrada. Fazem assim para conseguirem os seus objetivos, e acabam conseguindo. Sabem que mesmo que não consigam não vai acontecer nada. Fazem um jogo. Ora, como as crianças jogam bem. Quando adolescentes, aí então, a coisa não tem mais limite. Dizem palavrão aos pais, não os obedecem em hipótese alguma, não respeitam os mais velhos, não respeitam os professores, atiram-se desenfreadamente na bebida e nas drogas e os pais nada podem fazer. Infelizmente nada podem mesmo, pois o que deveriam ter feito era quando estavam em formação, corrigindo desde cedo suas imperfeições. Não o fizeram, não porque não o quiseram, porque a lei os proibiu. A lei proíbe que os pais corrijam seu filho, que lhe dê uma palmada na bunda para que ele cresça mais depressa. Que o coloque de castigo num quarto sem qualquer coisa para distração ou sentados em uma cadeira para que aprenda a refletir sobre o ato hostil que cometeu. Que fique de pé contra a parede pensando no seu ato. Que fique de castigo durante alguns fins de semana, sem videogame, televisão e etc. Que fiquem sem a mesada, sem o celular. Os adolescentes inclusive estão proibidos de trabalhar. Trabalhar só faz bem, a mente desocupada é a oficina do diabo. Eu trabalho com carteira assinada desde os 15 anos de idade (carteira de trabalho de menor), ganhando meio salário mínimo. Isso só me fez bem. Estudava à noite e trabalhava durante o dia, brincava nas horas vagas e nos domingos, após a missa. Tudo isso me tornou um homem responsável, sem traumas e sem grandes dificuldades psicológicas. É evidente que não sou a favor de agressões e espancamentos que causam ferimento físico e moral. Mas, simplesmente não acredito que a educação de uma criança seja apenas com palavras, ela não entende. Não tem capacidade cognitiva para tanto. Assim, não vejo outro método que possa suprir o velho e tradicional prazer e dor, exatamente àquele que corrige e faz ficar homem ou mulher mais depressa. Talvez seja por isso que o Estatuto da Criança e do Adolescente por só tratar de direitos e não de deveres dedique grande parte de seu conteúdo para medidas sócio-educativas. Respeito o ponto de vista de quem apóia esse novo modelo, mas continuo a pensar que se algumas palmadas não forem dadas no tempo certo, infelizmente o mundo corrigirá, mas o fará de forma agressiva e violenta.
ITAMAR DA SILVA DUTRA ? Advogado e Professor Universitário

Autor: Itamar Da Silva Dutra


Artigos Relacionados


Crianças: Rebeldia Ou Alienação?

Para Incomodar-se

Limites: Problemas Da Criança Ou Do Adulto?

EducaÇÃo Ou Permissividade?

Educação: Onde Tudo Começa

O Trabalho Infantil No Brasil

Quem Tem O Direito De Gritar Com Você?