Nenhum Homem é uma Ilha



Filósofos, psicólogos, antropólogos, sociólogos e inúmeros outros profissionais cujas atividades se concentram, primordialmente, no ser humano, esteja este vivendo em sociedade ou considerando cada indivíduo per si, têm buscado explicações para um dos maiores enigmas que pairam sobre a natureza humana, desde os primórdios de sua existência: o sentimento de falta e a necessidade de completude.
Pai da psicanálise, o notável psiquiatra Sigmund Freud insistia e formulava robustos argumentos no sentido de questionar qualquer possível essência comum a todos os homens e defendia que nenhum deles é dotado de qualquer instinto. De fato, tem sido difícil pensar em algum comportamento, atitude ou sentimento que possa ser encontrado em todos os homo sapiens. Contudo, pode haver algo que vá de encontro a tal premissa.
Desafio o leitor a citar-me um só conhecido que seja totalmente desprovido da necessidade de sentir-se querido, importante, realmente relevante para alguém ou para alguma finalidade. Em seu mais belo trabalho, "Como fazer amigos e influenciar pessoas", Dale Carnegie lança mão de uma série de princípios que, segundo ele, ajudariam aqueles que os seguissem a terem uma convivência mais harmoniosa com as pessoas que os cercam. Ao empreender-se uma detida análise de tais máximas de ação, é possível perceber em todas elas a importância que é dada ao outro, a primazia da vontade alheia como forma de se alcançar o coração e conquistar o interesse e a simpatia daqueles que estão a nossa volta.
Muitos buscam o afeto e a atenção dos quais carecem valendo-se de meios que há vinte anos não eram as maneiras convencionais de obtê-los. Trata-se das inúmeras redes sociais de relacionamento virtual. Todas as empresas de telefonia móvel no Brasil oferecem vários serviços relacionados a bate-papos e chats, nos quais várias pessoas, sem nenhum tipo de excludente etário, social ou cultural, passam horas em busca de alguém que, do outro lado da linha e sem nem ao menos vê-las, possa lhes oferecer algo que o cruel mundo das realidades fáticas insiste em negar. Atualmente, a maior rede social do planeta conta com mais de 500 milhões de participantes ao redor do globo. Uma em cada doze pessoas são usuárias assíduas do badalado Facebook.
Premidos de faltas que precisam ser supridas, de vazios que exigem preenchimento e de necessidades que carecem de imediata satisfação, aqueles que procuram tais coisas no quimérico mundo virtual se expõem a determinados riscos, cujas consequências vão à contramão daquilo que almejavam obter. A ação de pedófilos e aliciadores de menores para fins ilícitos é facilitada pela assustadora frequência com que crianças e adolescentes passam dias inteiros em sites de relacionamentos, muitas vezes buscando aquilo que a árdua rotina de trabalho e afazeres dos pais não lhes permite obter em casa.
Neste ponto talvez seja possível formular um contra-argumento ao anti-essencialismo advogado por Freud e por tantos outros, mesmo tendo ciência do quão afoito isso pareça. Torna-se plausível a tese de que todos os homens têm sim algo em comum, algo que transcende as barreiras de seus limites biológicos e converge para o que alguns podem chamar de "essência". Mas, afinal, em que consiste tal característica universal, presente em toda a raça humana? Creio que a resposta para esta questão já tenha vindo à baila com aquilo que fora exposto até aqui. Contudo, vale à pena empreender esforços no sentido de torná-la mais clara.
A pretensão de fazer-se realmente importante, de ser verdadeiramente distinguido entre uma multidão na qual todos os seres parecem iguais, e muitas vezes são dessa forma tratados, o ardente desejo de que alguém lhes reconheça algo de bom e que chame sua atenção e a dos outros para tal característica, são capazes sintetizar uma boa resposta para a questão colocada acima. Tais observações podem parecer, aos olhos de um apressado leitor, demasiado peremptórias e, até mesmo, ensejarem a ideia de que o espírito de toda a espécie humana se encontra permeado por emoções megalomaníacas. Todavia, temo que tal entendimento possa mitigar a importância e a complexidade do tema, fazendo simplificações não comportadas pelo mesmo.
O que cabe a cada um enxergar, e com isso alcançar-se-á ao cerne do assunto tratado, é fato de que ninguém é, por si próprio ou por sua natureza, um ser completamente auto-suficiente, absolutamente mecânico e que não necessita de nada mais que um simples aporte biológico para dar prosseguimento às suas atividades, sejam elas quais forem. O reconhecimento da subjetividade de cada um por parte daqueles que estão ao seu redor, bem como a valorização da mesma por eles, podem ser vistos como poderosos remédios dos quais todos necessitam, mas que apenas alguns estão dispostos a ministrar.

Autor: Pedro Henrique Rezende


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