A postura do professor no ensino de língua materna



É extremamente visível a disparidade entre a variedade dominante, língua culta, variante essa abordada nas gramáticas e nos livros didáticos, e a língua oral, variante essa dominada pelo aluno.
Um dos principais equívocos cometidos, é o que diz respeito a ausência de concordância do verbo com um pretenso sujeito, nas chamadas passivas sintéticas, por exemplo: "Faz-se unhas". Em relação a essa analise o professor de língua portuguesa persiste em considerar como passivas e não como portadoras de sujeito indeterminado.
Um outro fator a ser citado é o emprego das relativas, principalmente das preposicionadas, por exemplo: "Eu conheci um rapaz que fala umas vinte línguas". Enquanto, que na modalidade oral temos o pronome lembrete, por exemplo: "Eu conheci um rapaz que ele fala umas vinte línguas". No paradigma da variedade dialetal, encontra-se disparidades de ordem regional e social.
Considerando-se o fato de que as línguas são sistemas de convenções humanas, nenhuma forma de estrutura linguística será "boa ou ruim" ou "certa" e "errada". Será simplesmente, mais adequada ou menos adequada do que outras, específica a determinadas situações.
Portanto, é extremamente eficaz cultivar a competência comunicativa, estimulando a capacidade do estudante de reconhecer as diversas variedades de linguagem e o emprego, de maneira adequada e coerente a cada uma das situações e os atos de fala.
A função do professor de língua materna é ensinar como a língua funciona. Sabe-se ainda que o ensino da variedade de prestígio é uma forma de promoção social, mas o professor não deve omitir o ensino de outras variedades lingüísticas.
Um conhecimento suficiente amplo da língua deve incluir a consistência da existência de múltiplas variedades de língua. Deve-se incluir também a convicção de que essas variações regionais, profissionais, etárias, todas são igualmente válidas e possuem o mesmo grau de complexidade. Mas, deve ainda incluir a noção de que dentre todas as variedades dialetais uma se destaca pelo seu prestígio generalizado, pela sua aceitação dentre todos os que detem o poder, denomina-se norma culta ou norma padrão.
Uma das contribuições mais importantes que a Linguística deve trazer ao ensino de língua materna é de que a evolução da língua é algo natural e, o professor deve manter claro esse processo, mostrando a seus educandos como tais fenômenos acontecem.
Portanto, é dever do professor refletir com o estudante os diferentes fins e os diferentes recursos da língua oral e escrita, levando o aluno a meios próprios e impróprios da língua as diferentes situações. Instruir o discente a utilizar a língua com propriedade, com adequação de maneira aceitável, possibilitando-lhe acesso à posição de liderança social. Despertar no aluno o interesse pela leitura, interpretação, produção e manipulação de diferentes tipos de texto.
Em suma, sabe-se que a valorização da língua escrita, principalmente da literária, deve ser pautada paralelamente ao reconhecimento da linguagem oral, variação geográfica e social. E, por fim, os "erros" dos alunos devem ser vistos num prisma positivo, ou seja, enquanto indícios de variação e diferença dialetal.



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