Qualidade de vida do trabalhador enfermeiro e sua atuação na supervisão da equipe de enfermagem





Técia Maria S. Carneiro e Cordeiro**
Aline Mallane Castelo Sampaio**
Ana Paula Oliveira dos Santos**
Giselle Borges de Freitas**
Jakeline Andrade dos Santos**
Jocélio Borges Macedo**
Leila Bastos**

*Trabalho desenvolvido na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido IV no ano de 2009, na FTC-FSA.
**Acadêmicos de Enfermagem da FTC-FSA.


RESUMO

A Qualidade de vida é um conceito amplo, verificado no profissional de enfermagem. Vida sem trabalho não tem significado. O enfermeiro supervisor é associado a um trabalho estressor que necessita de várias medidas para torná-lo gratificante, visando melhorias das condições, das instalações, do quadro de funcionários e do salário par ser reconhecido e valorizado, proporcionando uma satisfação pessoal e profissional. O enfermeiro assume uma liderança de chefia sendo uma das principais causas de baixa qualidade de vida sendo necessário uma manutenção das relações interpessoais. Consideramos que os profissionais de enfermagem necessitam de um ambiente harmonioso, condições dignas de trabalho, aumento da sua remuneração e reconhecimento.

INTRODUÇÃO

A Enfermagem é uma profissão que exige bastante dedicação, pois envolve atividades estressantes, num ambiente onde frequentemente as pessoas estão enfermas ou debilitadas. Isso tudo reflete num elevado índice de estressores no ambiente de trabalho. Cada profissional traz consigo influências culturais, familiares, convívios diferentes que precisam ser levados em conta e devem ser analisados para entender o comportamento humano no trabalho.
Haddad (2000), afirma que "A qualidade de vida no trabalho é o maior determinante da qualidade de vida. Vida sem trabalho não tem significado..." Assim sendo, o trabalho passou a ocupar um lugar central na vida do homem, mais especificamente o trabalho organizacional. Através da revisão de literatura, verifica-se que não há uma definição consensual a respeito da qualidade de vida no trabalho, mas sim várias correntes ou abordagens.
Porém esse tema está frequentemente associado à melhoria das condições físicas do servidor, programas de lazer, estilo de vida, instalações organizacionais adequadas, atendimento a reivindicações dos trabalhadores e ampliações do conjunto de benefícios. Entretanto, o atendimento a essas necessidades envolve custos adicionais, o que já é obstáculo para a implantação de programas de qualidade de vida no trabalho.
A qualidade de vida no trabalho vem sendo estudada para agilizar, facilitar a vida do trabalhador, tornar o trabalho mais prazeroso, trazer bem-estar e amenizar o sofrimento no trabalho. Está ligado diretamente com a satisfação dos clientes internos e externos. Segundo estudos, o profissional satisfeito veste a camisa da empresa, ou seja, a satisfação no trabalho reflete num melhor produto ou maior quantidade nos serviços prestados.
O relacionamento entre subordinados e chefia é uma das principais causas de baixa qualidade de vida no trabalho. Portanto, esta equipe deverá assessorar os gerentes no desenvolvimento e manutenção das relações interpessoais (HADDAD, 2000).
Para Ciampone (1998), "o sujeito se configura como síntese ativa de uma complexa trama de vínculos e relações sociais de uma história interracional e social". Seu ser-no-mundo adquire a modalidade de uma relação de recíproca transformação e assim, o sujeito de necessidades se transforma no sujeito de representações, no sujeito de linguagem, de normas de ideologias.
Qualquer reflexão do sujeito ou de um grupo que afaste a perspectiva de análise e compreensão das inter-relações humanas da ordem do histórico-social causa uma ruptura entre o objeto a estudar e suas condições de produção, sendo no mínimo inumana ou surrealista.
Isso implica considerar que as representações sociais das enfermeiras que fazem à supervisão, portanto realidade social concreta e a forma de entender e ofertar os serviços que trabalham, estão em consonância com o modo de produção a que estão submetidos. As enfermeiras no exercício da supervisão local, constantemente, freqüentam, produzem, criam e recriam as instituições através dos tempos, estando ao mesmo tempo sujeitas às determinações históricas e contextuais. (SERVO, 2001).
O presente trabalho tem como objetivo geral avaliar a qualidade de vida no trabalho dos profissionais de enfermagem e os resultados de suas supervisões, através da revisão bibliográfica que segundo Gil (2002) a pesquisa bibliográfica permite o investigador se familiarizar com o problema em estudo além de permitir consultas de materiais já publicados.

REVISÃO DE LITERATURA

A qualidade de vida foi citada pela primeira vez em 1964 por Lyncon Johnson que afirmou: "os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos, eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas". (SCORSIN, 2005).
Silva (2000) conceitua a qualidade de vida como um conceito amplo e sendo assim, deve englobar aspectos subjetivos (sentimentos, percepção, bem-estar e satisfação) e objetivos (recursos materiais disponíveis, salário e carreira). Especificamente, tratando do contexto da saúde na organização, é possível apresentar alguns indicadores como: satisfação, auto-realização, motivação, desempenho, ou ainda, analisar a ausência da qualidade de vida, como sugere a existência de alguns fenômenos, entre eles, Burnout.
Porém Walton (1973 apud HADDAD, 2000) cita que, para que haja Qualidade de vida no trabalho fora e dentro da empresa são necessárias várias medidas: compensação adequada e justa, sem salário digno não há satisfação pessoal; condições de segurança e saúde no trabalho: carga horária e ambiente adequado no trabalho; oportunidade imediata para a utilização e desenvolvimento da capacidade humana; oportunidade para crescimento contínuo e segurança; integração social na organização; constitucionalismo na organização do trabalho; trabalho e o espaço total da vida; a relevância social da vida no trabalho.
Desta forma as organizações de saúde necessitam dar mais estímulos para os funcionários de enfermagem, plano de carreira, melhores salários, dignidade para poderem sustentar suas famílias. E acima de tudo respeito por esta profissão Digna que tem como principal meta cuidar do próximo com técnica, respeito, competência e carinho.
Perrodin (1965 apud SERVO, 2001) ressalta que a supervisão de enfermagem é um processo vivo, dinâmico, que procura desenvolver a capacidade individual em função de um desempenho mais efetivo por parte do corpo de enfermagem. É mister o entendimento de que no processo de trabalho da enfermeira/enfermagem e no exercício da supervisão existem as interferências econômicas e políticas que se fazem presentes no conjunto dos problemas no trabalho e do trabalhador e a existência das crises internas da profissão, que dependem tanto da competência técnica das enfermeiras, mas da competência ética política na tomada de posição, quanto a sua vinculação a um projeto proposto na VIII Conferencia Nacional de Saúde, que é o SUS.
É inegável, portanto, a qualidade do serviço, supervisão de enfermagem depende de vários setores e fatores, tanto interpessoal como extrapessoal.
As ferramentas de qualidade de vida são instrumentos, alguns bastantes antigos e conhecidos da supervisão de enfermagem tradicional, que possibilitaram maiores conhecimentos do trabalho e são úteis, tanto no estabelecimento de prioridades, quanto no acompanhamento das atividades e na identificação dos problemas. Neste modo de supervisão as organizações têm de reconhecer o valor dos enfermeiros como pessoas e ajuda-los a melhorar continuamente suas habilidades, encorajando-o a assumir suas responsabilidades; deve tratá-los com atenção e reconhecer seu comprometimento com a organização estimulando-os a aproximar-se de seu trabalho com afinco. (REBELO,1995).
Contudo e sem dúvida nenhuma, o fator preponderante para o sucesso desta supervisão é a presença de uma liderança capaz de conduzir o grupo para objetivos comuns e bem estabelecidos.
Karl Albrecht no texto de Rebelo (1995) identifica sete posturas de comportamento, que por retratarem uma condição retrograda, representam os pecados das chefias com os seus subordinados de prestação de serviços: apatia, dispensa, frieza, condescência, automatismo, livro de regras e passeio.
Porém Rebelo (1995) diz que as chefias têm que ser reconhecidas e respeitadas por sua liderança e credibilidade e não por seu poder autoritário, pois este poder e autoridade mal interpretados e usados indevidamente podem gerar medo e obediência passiva, mas não são capazes de produzir dedicação e comprometimento.
Maslow no texto de Rebelo (1995) organizou cinco níveis de hierarquia das necessidades que explica o comportamento humano, cujas necessidades sentidas do individuo constituem fonte de motivação. Os cincos níveis são: necessidades básicas e fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades do ego, e necessidades de auto realização.
Então se faz mister que o enfermeiro supervisor para alcançar sua qualidade de vida necessita suprir essa hierarquia das necessidades. Fica claro a importância do bem-estar e a saúde do indivíduo no trabalho, pois é no trabalho que se passa a maior parte do tempo.
A qualidade de vida está diretamente relacionada com as necessidades e expectativas humanas e com a respectiva satisfação desta. Corresponde ao bem-estar do indivíduo, no ambiente de trabalho, expresso através de relações saudáveis e harmônicas (KANAANE, 1994 apud SILVA, 2000).
A dinâmica do trabalho de enfermagem não leva em consideração os problemas do trabalhador, onde cada indivíduo enfrenta no seu cotidiano dificuldades de toda ordem, fora e dentro do trabalho, mas se espera do profissional que ele jamais expresse junto ao paciente seus dissabores, ao contrário , espera-se serenidade. O modelo de mãe cuidadosa e abnegada é introjetado pela enfermagem. (HADDAD, 2000).
Dejours et. al. (1994 apud HADDAD, 2000) afirmam que "a organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora".
Para que a equipe de enfermagem possa prestar uma assistência adequada aos pacientes, com seus sentimentos de impotência profissional, ansiedade e medo minimizados, necessita receber apoio e acompanhamento de uma equipe interdisciplinar composta por profissionais especializados, que possa auxiliar o servidor na identificação do seu sofrimento e no entendimento da dinâmica do trabalho de enfermagem, além de desenvolver programas de prevenção e manutenção da qualidade de vida no trabalho.
Pizzoli (2004 apud SCORSIN, 2005) efetuou um estudo comparativo em três diferentes hospitais de São Paulo, para avaliar a QVT dos enfermeiros. As principais dificuldades citadas foram: falta de reconhecimento da profissão, falta de investimento na educação profissional, presença de submissão, falta de amadurecimento da equipe, desunião, déficit no quadro de funcionários, compensação financeira inadequada.
Pizzoli afirma ainda: "fatores constituintes da própria estrutura organizacional podem comprometer diretamente o desenvolvimento e a atuação, como ausência de reconhecimento pelo trabalho, falta de plano de carreira, comunicação deficiente, falta de planejamento, salário incompatível com a função ou muito abaixo do mercado. Essa associação pode colocar em risco a motivação e a satisfação, podendo contribuir, conseqüentemente, a uma baixa produtividade e queda na qualidade do serviço prestado". Pode-se analisar que os profissionais destas instituições também clamam por melhores condições de trabalho, melhores salários, reconhecimento profissional perante a sociedade, isso só vem a confirmar ao que Haddad (2000) cita em seu texto, que: "A qualidade de vida no trabalho é o maior determinante da qualidade de vida".
A qualidade de vida no trabalho é uma compreensão abrangente e comprometida das condições de vida no trabalho, que inclui aspectos de bem-estar, garantia da saúde e segurança física, mental e social, e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso de energia pessoal. Não depende só de uma parte, ou seja, depende simultaneamente do indivíduo e da organização, e é este o desafio que abrange o indivíduo e a organização (SILVA, 2000).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Santos (1987 apud SERVO, 2001) a instituição da supervisão em enfermagem representa um processo de viabilização da garantia de um resultado favorável, relativo à continuidade da assistência em termos quantitativos.
A qualidade de vida no trabalho é o maior determinante da qualidade de vida. Vida sem trabalho não tem significado... Assim sendo, na sociedade contemporânea, o trabalho passou a ocupar um lugar central na vida do homem, mais especificamente o trabalho organizacional. (HADDAD, 2000).
Pizzolli (2004 apud SCORSIN, 2005) afirma ainda, o orgulho do trabalho em si e na instituição se conflita com uma remuneração considerada injusta e condições de trabalho insatisfatórias pela sobrecarga de tarefas numa profissão já por si estressante.
Matsuda e Évora (2005 apud SCORSIN, 2000), consideram que independente do local e da metodologia utilizada, o tema satisfação profissional na enfermagem merece ser investigado pelas lideranças a fim de as dificuldades e os efeitos que interferem no profissional e no seu trabalho poderem ser detectados e minimizados.
Sendo assim os profissionais de enfermagem deve se preocupar em valorizar o ser e o fazer da enfermagem, proporcionando uma qualidade de vida satisfatória alcançando reconhecimento e valorização profissional no que diz respeito à liderança na equipe.
O enfermeiro supervisor necessita de qualidade de vida relacionado à saúde, trabalho, e todos os fatores que os rodeiam. E para que isso ocorra é preciso de atividades através da identificação dos fatores que o corrompe. Como ressalta Zanelli (1996 apud HADDAD, 2000) que "nascemos e morremos dentro das organizações de trabalho. As sociedades se organizam em função do trabalho. O trabalho é um núcleo definidor do sentido da existência humana. Toda a nossa vida é baseada no trabalho, portanto, devemos torná-lo o mais prazeroso possível".

REFERÊNCIAS

BERNADINO, Dina. Supervisão e Relações supervisivas - A importância na construção da identidade do enfermeiro. Disponível: . Acessado em 15/08/09 às 12:58.

CIAMPONE, Maria Helena Trench. Grupo operativo- construindo as bases para o ensino e a prática na enfermagem. São Paulo, 1998. 180p. Tese (Livre docência) Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª. Ed. São Paulo: ATLAS, 2002. 78p.

HADDAD, Maria do Carmo Lourenço. Qualidade de vida dos profissionais de enfermagem. Revista para a Saúde, Londrina, V.1, n.2, p. 75-88, jun. 2000. Disponível: . Acessado em 01/08/09 às 16:31.

NEUMANN, Vera Nilda. Qualidade no trabalho: Percepções da equipe de enfermagem na organização hospitalar, Belo Horizonte, 2007. Disponível: . Acessado em 08/08/09 às 14:51.

REBELO, Paulo Antonio de Paiva. Qualidade em Saúde: modelo teórico, realidade, utopia e tendência. Rio de Janeiro: Qualitymarked, 1995.

SCORSIN, Luciana Maria et AL. A qualidade de vida no trabalho da enfermagem e seus reflexos na satisfação pessoal. Disponível: . Acessado em 01/08/09 às 16:10.

SERVO, Maria Lúcia. Supervisão em Enfermagem: o (re) velado de uma práxis. Feira de Santana-BA: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2001.

SILVA, Flavia Pieta Paulo. Burnot: um desafio à saúde do trabalhador. Vol. 2, n.1, junho de 2000. Disponível: . Acessado em 17/08/09 às 23:09.








Autor: Técia Maria Santos Carneiro E Cordeiro


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