Fé é coisa de religiosos?
Não vou ficar relacionando fatos que não podem ser comprovados pela falta de um ou mais elementos do processo cognitivo (atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem), pois, só o fato desse processo considerar elementos complexamente relativos como percepção e imaginação, já fariam com que as provas da existência desses fatos (ou realidades) fossem tão relativas quanto as suas contra-argumentações.
O filósofo Nietzsche, por exemplo, relativiza a realidade e a verdade na pergunta: "A linguagem é a expressão adequada de todas as realidades?" e em outro momento afirma que "(...) quando os instintos vitais não podem agir no mundo exterior, quer dizer, quando são reprimidos, sua direção é invertida, voltando-se para dentro: cria-se a interioridade, crescendo no homem o que depois será chamado de alma"
Como tudo depende de interpretação, o fato do ser humano buscar o seu interior quando não consegue uma explicação lógica para as realidades que constata - não consegue exprimi-la ou as questiona buscando uma resposta - não significa que elas não possam ser aceitas como realidades simplesmente porque a resposta veio de seu interior. Oras... se a percepção da verdade promoveu a aquietação do seu sentimento de dúvida, não será a subjetividade vista por uma outra pessoa ou definida por conceito externo que destruirá esta sua realidade sentida.
Já as realidades sociais ou exteriores, podem ser refletidas com a afirmação de Marx/Engels:
"Desde o início pesa sobre o ?espírito? a maldição de estar ?contaminado? pela matéria, que se apresenta sob a forma de camadas de ar em movimento, de sons, em suma, de linguagem. A linguagem é tão antiga quanto a consciência ? a linguagem é a consciência real, prática, que existe para os outros homens e, portanto, existe também para mim mesmo; e a linguagem nasce, como a consciência, da carência, da necessidade de intercâmbio com outros homens."
Com esses dois conceitos distintos (de Nietzsche e Karl Marx/Friedrich Engels) a realidade ganha aspectos diferentes que não se anulam, mas apenas se relativizam nos conceitos de REALIDADE INTERIOR (pessoal e individual, baseada nos próprios sentimentos) e de REALIDADE SOCIAL (exterior, baseada em necessidades sociais de senso comum), sendo esta última, auto-explicativa.
A REALIDADE INTERIOR sentida (mais conhecida como fé) pode ser também dividida em outras duas que se diferenciam pelo tipo de convencimento ao qual sujeitamos a aceitação da realidade questionada: à existência de um ser morfologicamente definido (1 - objeto, pessoa, santo, guru, Deus ou deidade) ou à uma força/energia superior amórfica (2 - aceitação da existência de uma força única "creadora"). Ambas têm seus reforços internos das verdades baseados em resultados obtidos, pois, são eles que realimentam e fortalecem essas verdades sentidas (fé).
O maior problema da primeira fé (imagem de um objeto ou ser morfológicamente definido) está no fato de incentivar o culto à imagem ou personalidade além de tender ao fanatismo. Faz com que o indivíduo dependa única e exclusivamente de uma visualização bem definida, seja por meio de frases proferidas e/ou de imagens físicas criadas/reproduzidas. Essa dependência de estímulos auditivos e visuais, acaba inibindo os que não os aceitam, impedindo-os de explorar suas forças mentais mais sutis, que são reais e existem, independentemente do tipo de fé que que será utilizada para os desenvolver. Pior do que não aceitar a existência dessas forças é negá-las, resumindo o ser humano num animal pensante de pernas, pés, braços, mãos, tronco, pescoço e cérebro somados aos bens que possui, à sua família e seu status social.
Se esse ser generalista cético parar de recusar o não experimentado e resolver interiorizar-se tentando vivenciar algo mais profundo por meio da meditação não-contemplativa (transcendental) ou de outros recursos técnicos (yoga ou relaxamento), certamente conseguirá notar resultados palpáveis em sua vida e que lhe abrirão portas nunca antes abertas. O sentimento de paz interior e bem-estar serão os primeiros de inúmeros outros que se sucederão.
Para estimular o início de uma nova etapa na sua vida, comece fazendo duas perguntas para você mesmo: "O que este meu ceticismo me proporcionou de benefícios reais até agora? Se proporcionou, o que a ausência dele me proporcionaria a mais?
Pense bem... negar sem primeiro experimentar é permanecer sendo o que você é. Se hoje você acha está bom do jeito que está, significa que ainda não é o momento. O "não estar satisfeito" é apenas uma questão de tempo e circunstâncias. Não necessariamente de problemas.
http://purareflexao.blogspot.com/2011/02/fe-e-coisa-de-religioso.html
Autor: José Cláudio Guimarães
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