A AVALIAÇÃO E O ENSINO DE INGLÊS NAS DIFERENTES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Para compreendermos os avanços das metodologias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem da Língua Inglesa precisamos entender que esses processos de evolução da educação brasileira são caracterizados de acordo com as TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO, que são teorias que buscam compreender e orientar a prática educacional brasileira. Essas pedagogias refletem as diferentes concepções de homem e de sociedade de cada época e influenciam diretamente sobre o papel da escola e da sociedade na educação. Buscando uma melhor compreensão dessas pedagogias veremos a seguir como se dava o ensino e a avaliação nas diferentes tendências pedagógicas com atenção ao ensino de línguas, para isso usaremos neste estudo a teoria de José Carlos Libâneo que as classificou em dois grupos as "liberais" e as "progressistas". No grupo das pedagogias liberais temos a Tradicional, a Renovada Progressista, a Renovada Não-Diretiva e a Tecnicista. Segundo Libâneo, o termo liberal pouco tem a ver com liberdade ou democracia, mas é sim uma justificação do sistema capitalista onde predominava os interesses da sociedade. Na pedagogia liberal a escola tem como principal objetivo preparar os indivíduos de acordo com suas aptidões e afinidades para desempenhar seu papel na sociedade, o individuo precisa adaptar-se às normas vigentes na chamada sociedade de classes. As diferenças entre as classes sociais não são consideradas e a idéia de igualdade e de oportunidade não leva em conta as diferentes condições sociais de cada individuo. A Tendência Liberal Tradicional é caracterizada por um ensino humanístico de cultura geral. As diferenças entre as classes sociais e de idade dos alunos não são consideradas no ensino, portanto não mantêm relação alguma com a vida real do aluno. A escola é responsabilizada apenas pelo intelecto do aluno, pela cultura e pelos saberes que transmite a ele, os problemas sociais devem ser discutidos pela sociedade fora da escola. No relacionamento professor-aluno é predominante a autoridade do docente. O professor transmite o conteúdo e ponto, não há espaço algum para intervenção ou opinião do aluno. Os conteúdos ensinados, inclusive de Língua Inglesa não condizem com a realidade e experiência do aluno. A aprendizagem é mecânica e sempre receptiva. Os treinos e repetições dos conteúdos são a única garantia de aprendizagem. É dado ênfase no ensino da gramática e a avaliação ocorre através de exercícios em sala de aula, de casa, provas escritas ou trabalhos.
São os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, às vezes, como enciclopédica. LIBÂNEO (2002) p.09
A Tendência Liberal Renovada Progressivista é a pedagogia onde o sentido de cultura é acentuado. A escola continua com seu papel de preparar o aluno para a sociedade e para isso vê a necessidade de retratar a vida. Diferente da tendência tradicional que tinha o professor como centro do processo de ensino-aprendizagem esta pedagogia é centrada no aluno, valoriza a pesquisa, as experiências, as descobertas levando em conta os reais interesses e necessidades do aluno. O professor perde o papel principal e se torna coadjuvante na sala de aula onde o seu dever passa a ser orientar e guiar os estudantes em suas pesquisas e descobertas. A idéia de "aprender fazendo" é o tema desta pedagogia. As atividades propostas são sempre adequadas aos interesses do aluno e às etapas de seu desenvolvimento. O professor avalia o aluno analisando os seus esforços e os seus êxitos, e há sempre uma postura estimuladora nas avaliações.
Como o conhecimento resulta da ação a partir de interesses e necessidades, os conteúdos de ensino são estabelecidos em função de experiências que o sujeito vivência frente a desafios cognitivos e situações problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do que a conteúdos organizados racionalmente. LIBÂNEO (2002) p.11
No ensino de línguas infelizmente essa idéias não exerceram grande influência, ainda são bem difundidas em cursos de licenciatura, mas são poucos os professores que ao esbarrarem nos desafios dessa pedagogia não retornam à pedagogia tradicional. A Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva apresenta um papel diferente para a escola que desta vez está preocupada com a formação de atitudes, focando mais nos problemas psicológicos do que nos sociais e nos pedagógicos. Há a busca por uma mudança interna e adequação pessoal do individuo ao ambiente. Os procedimentos didáticos, os materiais, os livros, tudo isso perde a importância diante do grande propósito que é promover o autodesenvolvimento e a realização pessoal do aluno. A transmissão de conteúdos é secundária e o desenvolvimento de relações e a comunicação são vistos com maior importância. A educação é centrada no aluno e visa transformar sua personalidade desenvolvendo características que já são inerentes à sua natureza. O professor tem o papel de facilitador nessa pedagogia. Ele ajuda o aluno a se organizar e se expressar sem pressões ou ameaças. O "eu" é muito valorizado nessa tendência, por isso a avaliação escolar perde o sentido, a auto-avaliação é o meio ideal de verificar aprendizagem. Sobre o método de ensino utilizado nesta pedagogia Libâneo (2002) nos diz que:
Os métodos usuais são dispensados prevalecendo quase que exclusivamente o esforço do professor "facilitador": aceitação da pessoa do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo, e ter plena convicção na capacidade de auto desenvolvimento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização onde os sentimentos de cada um possam ser expostos sem ameaças.
No ensino de Línguas as idéias desta pedagogia esbarraram na prática da tendência Liberal Tradicional que inviabilizou sua prática em sala de aula. Tendência Liberal Tecnicista: o nome diz muito sobre essa pedagogia que tem como objetivo principal produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho. Não existe preocupação social, psicológica ou pedagógica que não seja no sentido de tornar o aluno um individuo perfeito ao sistema capitalista. O papel da escola liberal tecnicista é fornecer ao aluno informações precisas, objetivas e rápidas preparando-o para o sistema produtivo. O ensino técnico tem ênfase na pesquisa cientifica. Os conteúdos estudados são de caráter cientifico objetivo, qualquer sinal de subjetividade é eliminado. Manuais, livros didáticos e módulos de ensino são os materiais utilizados, além de dispositivos áudio-visuais. A relação professor-aluno é estruturada e objetiva, ambos tem papéis bem definidos: o professor transmite a matéria através de um sistema instrucional eficiente e o aluno recebe essas informações e as fixa em sua mente. A comunicação entre os dois é unicamente técnica, debates, discussões ou questionamentos são desnecessários assim como alguma afetividade. A pedagogia tecnicista foi efetivamente introduzida no ensino brasileiro nos anos 60, adequando a escola à orientação do regime político militar. O ensino é bastante parecido com o tradicional, só que mais moderno e eficaz no sentido de aprendizagem. O ensino e a avaliação do ensino de Línguas não é muito diferente do tradicional com foco na gramática e tradução. As escolas técnicas estão ganhando lugar no cenário educacional brasileiro, o Governo Lula é responsável pela implantação de várias Escolas Técnicas e Institutos Técnicos de Ensino Superior em todo Brasil nos últimos anos. Sobre o papel da escola Tecnicista, Libâneo afirma que:
A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos "competentes" para o mercado de trabalho, transmitindo eficientemente informações precisas, objetivas e rápidas. LIBÂNEO (2002) p.16.
Segundo Libâneo as chamadas Pedagogias Progressistas são tendências que "partindo de uma análise critica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação." Se manifesta em três tendências: a Libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, a Libertária e a Critico-Social dos Conteúdos. A Tendência Progressista Libertadora tem como inspirador e mentor o pedagogo Paulo Freire. A Pedagogia Libertadora ou Pedagogia de Paulo Freire como também ficou conhecida é uma educação crítica, tem seu caráter essencialmente político, ela vai além do ensino escolar e questiona as relações do homem com a natureza, consigo mesmo e com os outros. Sobre a Aplicabilidade da Pedagogia de Paulo Freire nas escolas Libâneo (2002) nos diz que:
Em nenhum momento o inspirador e mentor da Pedagogia Libertadora, Paulo Freire deixa de mencionar o caráter essencialmente político de sua pedagogia, o que, segundo suas próprias palavras, impede em termos sistemáticos, nas instituições oficiais, antes da transformação da sociedade. p.22
Paulo Freire afirma que a aplicação desta pedagogia em instituições oficiais de ensino sem que antes haja uma transformação da sociedade é impossível. Nesta pedagogia os conteúdos de ensino tradicionais são dispensados para dar lugar a temas que são extraídos das problemáticas da vida do estudante, pois o importante e a intenção desta pedagogia é gerar uma nova maneira de se vivencias as situações do dia a dia. As discussões em grupo é o método de ensino da pedagogia Libertadora, os alunos são autogestores da aprendizagem e o professor tem o papel de animador nessas discussões intervindo o mínimo necessário. A intenção é chegar a um nível critico de conhecimento de sua realidade através das trocas de experiências vividas. Não existe nesta pedagogia programas de estudo pré-estabelecidos , trabalhos escrito ou aulas expositivas, pois isto tudo é base de uma educação domesticadora, segundo Paulo Freire. Na relação aluno-profesor é eliminado qualquer papel de autoridade, educador e educando caminham paralelamente rumo ao conhecimento. O aprendizado não se dá por imposição ou memorização, mas sim por um processo de compreensão, reflexão e critica. A Pedagogia Libertadora exerce influência expressiva em sindicatos, movimentos populares e em experiências denominadas "educação popular". Por se tratar de uma educação formulada basicamente para adultos, é pouco provável encontrarmos a aplicação destas teorias em nossas escolas públicas. No entanto alguns professores usam seus pressupostos teóricos em aulas no ensino superior. A Tendência Progressista Libertária pretende exercer uma transformação na personalidade dos alunos. Através da participação dos alunos em assembléias, associações, eleições ou reuniões, faz com que o aluno leve para o mundo onde vive as idéias q aprendeu e as mudanças que sofreu. O objetivo desta pedagogia é político. A modalidade mais conhecida é a pedagogia institucional. Os conteúdos são colocados à disposição do aluno de acordo com suas necessidades e interesses. A intenção da autonomia dada aos alunos é a de gerar contatos e relações entre eles, gerando em seguida uma organização, com discussões, assembléias, cooperativas, expressando opiniões através da palavra para se chegar a um acordo e partir para a execução do trabalho. O professor é um orientador e se mistura ao grupo para reflexão, é uma relação onde não há espaço para autoridade. A intenção principal desta pedagogia é acabar com toda forma de repressão, visando favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres.
A Pedagogia Libertária espera que a escola exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário. A idéia básica é introduzir modificações institucionais a partir dos níveis subalternos que em seguida vão contaminar todo o sistema. A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança (assembléias, conselhos, eleições, reuniões, associações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições "externas", leve para lá tudo que aprendeu. LIBÂNEO (2002) p.24
A Tendência Progressista Critico-Social dos Conteúdos, como o próprio nome já diz prima pelo conteúdo, diferente da libertadora e da libertária. Mas não se trata de qualquer conteúdo, mas conteúdos concretos e relacionados à realidade social do aluno. Sendo a escola parte da vida do aluno, agir na escola significa agir na vida do aluno. Garantir um bom ensino a todos, proporcionando a assimilação de conteúdos escolares básicos é a maneira da escola servir aos interesses populares. Os conteúdos universais incorporados pela humanidade são confrontados com a realidade social. Esses conteúdos além de bem ensinados devem ser indissociáveis à realidade humana e social. O método de ensino desta pedagogia não parte de um saber artificial vindo totalmente de fora, nem do saber espontâneo proveniente do aluno, mas mescla as experiências de vida do aluno com os conteúdos trazidos pelo professor. O conhecimento é resultado da interação que ocorre entre a crítica do aluno e os conteúdos apresentados em sala de aula. O papel do professor nesta pedagogia é orientar e abrir caminho para que o aluno, a partir dos conteúdos, reflita sobre a relação entre sua realidade e a realidade apresentada.
Autor: Maria Raquel Fernandes Pereira
Artigos Relacionados
O Contexto Da Escola Tradicional No âmbito Escolar
A Pedagogia Brasileira
Relação Professor-aluno Na Sala De Aula
Recortes HistÓricos Das TendÊncias PedagÓgicas No Brasil
História Da Educação: Da Colônia A Redemocratização
Escola Tradicional X Modernidade
Pedagogia Tradicional