O ENSINO DE INGLÊS E OS PCN: DESAFIOS E PERSPECTIVAS.
A história do sistema educacional brasileiro é marcada por constantes mudanças e transformações. Desde as primeiras reformas educacionais promovidas pelo ministro Benjamin Constant em 1889, até os dias atuais, a busca por melhorias da qualidade de ensino nas escolas brasileiras já gerou diversos regulamentos e diretrizes no intuito de nortear as ações dos educadores. O currículo educacional brasileiro sofreu diversas mudanças, e essas transformações foram fundamentais para que chegássemos ao ponto em que estamos hoje, com um currículo que prioriza a qualidade e não mais a quantidade. Um currículo que não mais vê o aprendiz como um depósito de conteúdos, mas o vê como o ser humano que ele é, o ser humano que vive em sociedade, que se relaciona, que é produtivo e que pensa. Atualmente a educação brasileira é regulamentada por duas grandes diretrizes elaboradas pelo Ministério da Educação. A LDB, Lei de Diretrizes e Bases da educação, teve sua primeira versão criada em 1961, uma outra publicada dez anos depois e, a chamada Nova LDB do ano de 1996, que regula a educação no Brasil até os dias atuais, com ela finalmente o ensino de Língua Estrangeira recebe a atenção merecida e que há muito havia lhe sendo negada "Na parte diversificada do currículo será incluído obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a encargo da comunidade escolar dentro das possibilidades da instituição". Os Parâmetros Curriculares Nacionais ? PCN, são um conjunto de diretrizes criadas para orientar os professores, que surgiram como resposta aos anseios da sociedade por uma educação de qualidade. A valorização das competências e habilidades é o grande diferencial dessas diretrizes. A memorização de conteúdos com a finalidade única de aprovação no vestibular está ficando no passado. A prova disso é a implementação do ENEM ? Exame Nacional do Ensino Médio, um exame que valoriza as habilidades e conhecimentos práticos, como único meio de ingressar em Universidades Federais em todo o Brasil.
No entanto, no que se refere ao ensino de Língua Inglesa os PCN ? LE (Parâmetros Curriculares Nacionais ? Língua Estrangeira) para o ensino fundamental, acabaram por diminuir a vitória alcançada pela LDB. Isso porque os Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz respeito a Língua Estrangeira para o ensino fundamental apresenta um texto com discurso elitista e discriminador quando afirma que:
[...]somente uma pequena parcela da população tem oportunidade de usar línguas estrangeiras como instrumento de comunicação oral dentro ou fora do país. Mesmo nos grandes centros, o número de pessoas que utilizam o conhecimento das habilidades orais de uma língua estrangeira em situação de trabalho é relativamente pequeno.
Afirmar que o aluno não terá a oportunidade de usar a habilidade oral de uma Língua Estrangeira em seu próprio país é negar o advento da globalização em todo o mundo, e da internet que derruba mais fronteiras a cada dia. Dizer que o aprendiz não terá necessidade de utilizar o idioma falado em seu trabalho é uma visível forma de exclusão. São muitos os profissionais que necessitam dominar um idioma estrangeiro em seu trabalho, desde executivos de grandes firmas multinacionais, até muitos garçons, recepcionistas, comissárias de bordo. Além disso, o domínio de outro idioma pode ser um diferencial em uma entrevista de emprego e até mesmo proporcionar ao profissional um salário maior. O texto ainda vai além, justificando com a falta de qualidade e ineficiência do ensino o público a opção por não se trabalhar as habilidades orais da Língua Estrangeira em sala de aula.
Deve-se considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das escolas brasileiras (carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das habilidades orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido a giz e livro didático etc.) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas. Assim, o foco na leitura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes.
O próprio Ministério da Educação sabendo das falhas das condições adversas do ensino público, em vez de propor mudanças como qualificação dos professores e melhoria nas condições de ensino, se acomoda com a situação e a usa como justificativa para a manutenção de um ensino defasado de línguas. As más condições de nossas escolas e a falta de preparação de seus professores deveriam ser combatidas e não sustentadas com fim de se justificar mais uma falha do sistema educacional brasileiro. O documento voltado para o ensino fundamental é portanto contraditório aos PCN do ensino médio que afirma que a meta para o ensino de LE no Ensino Médio é o domínio da comunicação oral e escrita, a preparação do aluno para o mundo moderno em que vivemos, tendo em vista uma formação profissional, onde o domínio de outro idioma é ferramenta imprescindível. Como num passe de mágica o domínio da Língua Estrangeira passou a ser necessário para a formação profissional. É preciso haver uma harmonia entre esses documentos, não é possível aplicar em sala de aula diretrizes contraditórias. É possível perceber as contradições existentes nos documentos, que ora reconhecem a importância do ensino de línguas e ora criam barreiras para que haja seu ensino efetivo (a segunda língua será ensinada dependendo das condições de cada estabelecimento). Os professores chamados "gramatiqueiros" se apóiam nos PCN, assim como os que procuram promover mudanças e valorizar as competências e habilidades. O posicionamento antiquado do educador que busca a todo custo permanecer entrando em sala de aula e dando aulas no modelo do século passado atrapalha muito o ensino eficiente de Língua Inglesa nas escolas brasileiras. È justo que também se reconheçam as inúmeras orientações brilhantes dos PCN para a ação dos professores em sala de aula, a instrução de deixar de lado as barreiras que impedem interação entre aluno e professor, trabalhar habilidades e não conteúdos, tornar o ensino significativo e contextualizado, sem dúvida são grandes diferenciais se aplicados em sala de aula. O grande problema é que o professor brasileiro precisa parar de se apoiar nas brechas da lei, e aceitar o desafio de mudar sua postura diante da educação. Uma revisão dos textos dos PCN, reconhecendo a importância da oralidade no ensino de línguas seria muito bom, mas sem a conscientização dos professores de que a mudança precisa acontecer efetivamente, isso simplesmente não surtiria efeito algum.
Autor: Maria Raquel Fernandes Pereira
Artigos Relacionados
O Ensino Obrigatório Da Língua Estrangeira Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental
As Crenças De Aprender Línguas Dos Professores Em Formação De Espanhol Como Língua Estrangeira
O Ensino De Língua Inglesa Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental. Como E Porque Ensinar
O Surgimento Do InglÊs Nas Escolas Do Brasil
Projeto De IntervenÇÃo PedagÓgica
Entrevista Com Professor E Aluno De Língua Inglesa - A Problemática Do Ensino De Inglês Hoje.
A Pronúncia Do Fonema ''th'' Na Língua Inglesa: Uma Análise Detalhada