INCLUSÃO: UM CAMINHO QUE PRECISA SER PERCORRIDO



INCLUSÃO: UM CAMINHO QUE PRECISA SER PERCORRIDO


Ângela Mari Silveira da Silva

RESUMO

O presente artigo traz à reflexão dificuldades enfrentadas pelos familiares e portadores de Necessidades Educativas Especiais e a aceitação destas pessoas, pela sociedade, durante o processo de inclusão nas escolas regulares de ensino.
A educação inclusiva envolve também o processo de formação dos professores para além da parte pedagógica, capacitando-os para o desenvolvimento da reflexão e do suporte emocional e psicológico do aluno.

Palavras-chave: escola inclusiva, Necessidades Educativas Especiais, prática reflexiva.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo discorre sobre a inclusão dos alunos com necessidades especiais nas escolas de ensino regular e das dificuldades enfrentadas pelos professores diante das adversidades pessoais e dos próprios alunos. A partir de uma abordagem sociológica e pedagógica, observa-se que a sociedade contemporânea estabeleceu padrões de comportamentos e de "normalidade", diferenciando as pessoas com necessidades especiais seja nas relações sociais seja na sala de aula.
A partir das idéias de Jannuzzi, Chaves, Mittler, Bayer, Ferreira e dos pressupostos legais que norteiam a educação brasileira, a revisão teórica revela as dificuldades enfrentas pelo professor para receber o aluno com dificuldades especiais; mostra os preconceitos e falta de informações presentes na escola, na formação do professor.
Neste contexto, a escola avança rumo à formação integral e inclusiva, concebendo a pessoa na sua interessa, estimulando a enfrentar as incertezas, respeitando as diferenças e as singularidades, tanto dos alunos quanto dos professores.



2 DESENVOLVIMENTO


Ao longo do tempo, a humanidade passa por transformações e adaptações, que modificaram o seu modo de viver, de pensar e das pessoas se relacionarem. A necessidade de viver em grupo acabou por impor certas regras, normas e condições para se viver em sociedade, considerando a igualdade e a diferença. . Através de convenções sociais criou-se o "padrão de normalidade" e tudo que se diferenciava deste padrão passou a ser depreciado ou não aceito, escondido ou excluído, interferindo na educação do povo.
A sociedade estabeleceu padrões para o modo de vestir, de beleza, para as relações sociais, definindo também aqueles que podiam ou não podiam freqüentar as mesmas escolas, juntos, na mesma sala de aula.
Com o crescimento da população e das ciências, as relações sociais estabelecidas e os métodos e técnicas de socialização também se modificaram, assim como as pessoas, que também mudaram seu modo de viver, de se locomover, de se alimentar e de conviver.
Os efeitos dessas mudanças tornaram-se mais evidentes e marcantes na sociedade contemporânea. As marcas deixadas pela violência urbana, na falta de segurança ou pela alimentação inadequada, têm produzido efeitos devastadores: pessoas que eram "ditas normais" passaram a portar algum tipo de Necessidade Educativa Especial (NEE) temporária ou não e juntar-se a um outro grupo que até então estava escondido para não mostrar suas necessidades especiais trazidas, na sua maioria, desde o nascimento.
No Brasil, por volta do fim do século XVIII, conforme Jannuzzi (2004), o atendimento aos deficientes se restringia a dar-lhes alimentação e abrigo nas Santas Casas, e alguns, recebiam instrução juntamente com as crianças ditas normais.
No início do século XX, a orientação pedagógica das escolas e a formação de professores, foram influenciadas pela concepção médico-pedagógica, mais centrada nas causas biológicas da deficiência. Com o avanço da psicologia e a inclusão de teorias de aprendizagem na educação, a concepção psicopedagógica foi ressaltada, com ênfase nos métodos e nas técnicas de ensino.
Na década de 1990, e início do século XXI, houve um avanço nos estudos da educação especial no Brasil, intensificados pela abertura, iniciada em 1970, com os cursos de pós-graduação em educação e ações governamentais específicas à Educação Especial. Oliveira (2004) afirma que a educação inclusiva está presente, como política educacional, no documento "Política Nacional de Educação Especial", influenciando na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no Estatuto da Criança e do Adolescente,e em vários encontros internacionais, como por exemplo, na Declaração Mundial de Educação para Todos e na Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994).
Beyer (2003) destaca que a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, mais conhecidas como Declaração de Salamanca, realizada na Espanha, em 1994, em colaboração com a UNESCO, foram firmadas as diretrizes para ação cooperativa, em níveis regional, nacional e internacional, para o melhor desenvolvimento da inclusão.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira propõe, como principal meta, o resgate da dignidade da pessoa humana, a igualdade de direitos, a participação ativa na sociedade e a co-responsabilidade pela vida social, atribuindo à educação especial a função de complementaridade do processo educativo ao educando que dela necessita usufruir.
Nesse contexto, as escolas devem incluir no ensino regular todos os alunos portadores de Necessidade Educativa Especial (NEE) sejam elas temporárias ou permanentes. Esta visão de inclusão tem proporcionado não só melhoria na qualidade de vida destas pessoas, mas a oportunidade de se desenvolverem melhor cognitivamente. Está comprovado que os portadores de NEES, quando inseridos em sala de ensino regular, aprendem melhor, pois tem oportunidade de vivenciarem as aprendizagens através da troca de experiências com seus pares "ditos normais", que também aprendem muito com eles (informação oral ).
A escola não existe só para transmitir conhecimentos, informações e formar pessoas para o mercado de trabalho, mas também para formar alunos e cidadãos capazes de estabelecer metas e meios para alcançarem suas realizações pessoais, capazes de compreenderem a si mesmos e ao próximo, por meio da convivência uns com os outros e com os professores e funcionários da escola, compartilhando valores e participando de forma responsável em suas atividades escolares (CHAVES, 2002).
É na sala de aula que começa a Inclusão ou exclusão tanto dos portadores de NEES, quanto das crianças ditas normais, pois são as experiências do cotidiano vivenciadas pelas crianças na sala de aula é que definem a qualidade das experiências de aprendizagem, das interações e relações sociais das crianças umas com as outras e com a comunidade escolar e também, como as crianças entendem ou não o que o professor está dizendo ou o que se espera que elas façam. (MITTLER, 2003).
É importante estar claro para o profissional de educação que educar é confrontar-se com a diversidade e que em uma sala de aula, mesmo que as crianças estejam atentas e ansiosas em aprender apresentam uma grande diversidade, aprendem de formas e ritmos diferenciados, sendo assim uma mesma tarefa poderá parecer muito fácil ou difícil. Por isso é imprescindível que o professor planeje suas aulas, os recursos que irá utilizar e as atividades para que sejam acessíveis a todos e que avalie a aprendizagem de cada criança com critérios diferenciados que informem ao professor se cada aluno está conseguindo progredir, quais as metas que esta atingindo ou não.
Segundo Gunthke (1996) a avaliação deve levar em conta a transformação do sujeito, de como este se encontra hoje em sua aprendizagem, tendo em vista suas condições anteriores. Perrenoud (1999) defende a avaliação formativa, com ênfase ao monitoramento da aprendizagem e a retroalimentação da mesma. (BEYER, 2005).
A dificuldade da inserção dos portadores de algum tipo de NEE, também enfrenta muitas barreiras, que vão da aceitação da família perante o medo da convivência com os "ditos normais"; passando pela maneira diferenciada do tratamento dos mesmos em uma escola de ensino regular e até mesmo pela falta de preparo do profissional de educação que irá trabalhar com esta criança ou adulto, requerendo novas formas de abordar os conteúdos em sala de aula e de lidar com situações atípicas, até então não vivenciadas no seu ambiente escolar.
Para conquistarmos uma sociedade inclusiva, uma escola inclusiva, devemos começar por nós mesmos. Através de nossas ações cotidianas, no dia-a-dia da escola, da sala de aula. Divulgando nossas vivências, nossos erros, acertos, nossos encontros e desencontros, não tendo vergonha de não saber e de aprender com o aluno, com suas dificuldades e possibilidades (FERREIRA et al. 2004, p. 17)


Neste contexto é necessária a preparação do profissional de educação, não só na parte pedagógica, mas na sua prática reflexiva, na preparação psicológica e emocional para que possa lidar, com as diferenças e as dificuldades, sem pena ou a concepção de incapacidade de aprender dos alunos portadores de necessidades educativas especiais, potencializando assim o trabalho educativo, que pode ser maravilhoso, com efetiva aprendizagem e crescimento pessoal para todos os envolvidos.

No contexto pedagógico é imprescindível a atuação dos profissionais da educação numa ação reflexiva sobre a pessoa com deficiência como cidadão, criando políticas para derrubar a visão de ?coitadinho? que necessita de caridade, de ser interditado e tutelado, por ser considerado incapaz até o fim de sua vida. (BRAIGHI, 2004, p 52).


O processo de inclusão dos portadores de Necessidade Educativa Especial (NEE) nas salas de aula pressupõe o aperfeiçoamento profissional do professor, pois desacomoda sua prática, altera a atitude reprodutora de pensar, planejar e realizar as aulas da mesma forma, ou de fazer apenas o que se espera dele, observando as rotinas diárias e as práticas já estabelecidas. Vivemos hoje a busca de preparo ou a tentativa de se cumprir o imposto por lei quanto à inclusão dos portadores de necessidades especiais, como pessoas capazes de exercer sua cidadania em diferentes espaços, independente de terem ou não "perfeições" ou "imperfeições" físicas, sensoriais ou mentais.
A prática reflexiva dos profissionais da educação deve promover a independência pessoal do aluno e a sua inserção no mundo trabalho, garantindo "o direito de ser sujeito singular, preservando sua auto-imagem [...] para prepará-lo para a vida em sociedade e, não, para condicioná-lo à segregação, ao ocupar um lugar de vazio cognitivo" (BRAIGHI, 2004, p 52).
Isto envolve pensar, sentir e agir com competência para enfrentar a incerteza e o inesperado, apresenta-se como estratégias para vencer essa rotina que estagna, e estiola oportunidades de aprender e reduzir a pressão do dia-a-dia. Portanto, valorizar o coletivo e utilizar a força do grupo como apoio, estimular a troca de idéias e de vivências, são aspectos que não devem ser desconsiderados quando se procura estabelecer uma reflexão sobre a prática pedagógica voltada para a inclusão. É urgente associar, juntar, colaborar, repartir, socializar, tornar, enfim, o trabalho isolado e solitário em trabalho coletivo e solidário, socializa dificuldades, expõe dúvidas e limitações, socializando saberes e conhecimentos, reduzindo diferenças e priorizando o todo.
Quando recebemos um aluno com deficiência, é preciso auto - estimulação, para que possamos rever nossa prática e a buscar outras formas de ensinar. Na sala de aula a cooperação de todos os envolvidos é de extrema importância para a inclusão das pessoas com deficiência, permitindo interação e troca entre os alunos. É preciso que se desenvolvam algumas estratégias pode ser decisivo para criar um ambiente de cooperação em que aqueles alunos que têm mais habilidades em alguma matéria possam ajudar aqueles com menos habilidades.
Somente com o apoio dos professores, o Brasil poderá, de fato, oferecer uma Educação de Qualidade para Todos. E você, professor, pode começar a fazer isso agora. Não é preciso cursar uma faculdade. Basta você usar sua criatividade, seu bom senso, sua vontade de ensinar, sua experiência. E os professores especializados em alunos com deficiência e outros profissionais, como pedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais estão aí para ajudar você. A Secretaria de Educação da sua cidade pode ajudar você a encontrá-los (GIL, 2005, p23).

É preciso considerar a deficiência como mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter, ressaltando que é preciso conhecer as pessoas e enxergá-las como alguém com talentos e potencialidades, desejos e dificuldades, não com benemerência e caridade, mas propiciando oportunidades de acesso para conhecer, conviver, apoiar, ensinar, acreditar. É sabido que existem resistências, medos, inseguranças, inquietações frente ao desconhecido e ao diferente.
Respeitando essa diferença e encontrando formas adequadas para transmitir o conhecimento e avaliar o aproveitamento de cada aluno, teremos uma boa base de Educação Inclusiva (GIL, 2005).

3 CONCLUSÃO

A escola inclusiva que desejamos deve ser efetivamente uma instituição promotora da cidadania e de realizações pessoais, acessíveis a todos, partilhando valores, conhecimentos, experiências, idéias, ideais e propósitos comuns.
A formação do professor para a inclusão pressupõe a estimulação e o desenvolvimento do pensamento reflexivo e integral dos alunos com necessidades especiais, respeitando as diferenças e as particularidades individuais, ampliando os limites pessoais e sociais, seja do aluno, do professor e da própria sociedade a onde está inserido.
Faz-se necessário, portanto, deixar de lado antigos paradigmas que estão incutidos em nossas mentes, em nossas práticas sociais e pedagógicas, tornando possível a apropriação de novos saberes e a construção de fazeres novos, que venham de encontro aos novos tempos.

REFERÊNCIAS

BEYER, H. O. A educação inclusiva: incompletudes escolares e perspectivas de ação. Cadernos de Educação Especial. Santa Maria, v. 2, n. 22, p. 33-44,2003.
______. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais/ Hugo Otto Beyer.-Porto Alegre: Mediação, 2005.


BRASIL. Ministério da Educação. Política nacional de Educação Especial: livro 1. Brasília,1994

______. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília,2001.

ESPANHA Declaração de Salamanca e enquadramento da acção: necessidades educativas especiais. Salamanca/Espanha: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura/Ministério da Educação e Ciência de Espanha, 1994.

FERREIRA, Anelise Gil et al.Histórico e Legislação da Educação Especial. pp 11 - 18

¬¬¬¬¬¬¬¬¬_______ In: BRAIGHI Deisy. Adaptações curriculares na escola inclusiva. Pp 48 ? 60.

Gill, Marta (coord). Educação Inclusiva: O que o professor tem haver com isso? Universidade de São Paulo. São Paulo: 2005

JANNUZZI, G. A educação do deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.

MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais/ Peter Mittler; Trad. Windyz Brasão Ferreira. ? Porto Alegre: Artmed, 2003.

OLIVEIRA, I. A. de. Saberes, imaginários e representações na educação especial: a problemática ética da "diferença" e da exclusão social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

GRAVATAÍ. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação. Teoria & fazeres: caminhos da educação popular. Gravataí, SMED, 2004. v. 10: Educação Especial. In:







Autor: Ângela Mari Silveira Da Silva


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