Chorar Na Cobertura é Melhor?



Alguém já disse um dia que é melhor chorar numa cobertura da Vieira Souto do que num barraco da Rocinha.

Também daria para dizer que é melhor sofrer com um corpo artificialmente bronzeado e lipoaspirado do que "branquelo" e barrigudo.

O choro é o mesmo, a única diferença é que, teoricamente é mais fácil aparecer alguém para nos consolar, estando bonitos do que um bagaço.

Não estou fazendo a apologia do corpo sarado (Deus me livre!), até porque é tão bonito envelhecer com sabedoria e dignidade.

Por mais dinheiro e bens materiais que tenhamos, temos apenas uma boca e um estômago e um só corpo, não adiantando muito possuir dois iates.

O rico mesmo tendo todo o dinheiro do mundo, jóias e perfumes franceses, muitas vezes não tem ninguém que goste dele.

Já o pobre, tendo só uma ficha de vale-transporte no bolso, que o cunhado emprestou, uma corrente de plaquê no pescoço, com o corpo cheirando a suor de quarta-feira, tem sempre duas mulheres brigando por ele.

Mesmo assim, o figurino e o cenário de ambos para curtir uma tristeza são um pouco diferentes.

O pobre, quando está triste, compra uma garrafa de cachaça, senta na beira do concreto rachado do puxadinho, coloca no "micro sistem" um pagode e chora que nem criança, assoando o nariz, ali mesmo, tapando uma narina e forçando a outra.

O rico, por sua vez, abre um espumante francês, senta na beira da piscina, a maior delas, contrata uma orquestra e ouve músicas clássicas, com partituras originais dos maiores compositores mundiais, e mais funga do que chora, mal encostando o lenço de seda nas narinas.

Sendo rico ou sendo pobre, o bom é ser feliz. Nos dias em que isso não é possível, tanto faz estarmos flutuando em um iate ou numa bóia de caminhão, o que sempre iremos desejar é um sorriso nos lábios e nossos lábios tocando outros lábios e dizendo e ouvindo: como é bom amar e ser amado!

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


Artigos Relacionados


Êxtase Do Fim

"meu Amor"

O Que é O Amor

O Qual Quer?

Tique-taque

Meu Irmão E A Aborrecência

O Século Xxi