Responsabilidade ética
Nos dias de hoje é necessário uma ética temporal, onde atitudes do presente devem ser analisadas pensando em um ponto do futuro, nesse momento do seu pensamento Hans Jonas começa a se afastar dos princípios platônicos, onde a responsabilidade cai no principio transcendente atemporal. A propósito, assim ele escreveu: "O Eros platônico, orientado à eternidade e não à temporalidade, não é responsável de seu objeto. Aquilo ao que nele se aspira é algo superior, que não ?será?, senão que já ?é?." Nesse ponto da temporalidade Hans Jonas vai construir um pensamento bastante profundo. Para ele, não se trata de uma preocupação apenas imediatista, isto é, aquela que se concentra só no presente ou mesmo em um futuro próximo. Retrocedendo a ações passadas, que devem ser consideradas, a responsabilidade projeta-se no presente, vale dizer, neste mundo de agora. Contudo, essa mesma responsabilidade já começa, desde logo, a se encaminhar também em direção ao futuro, que não compreende apenas o mais imediato. Significa dizer que se deve ser também responsável, já nas ações de hoje, por um mundo vital longínquo, isto é, pela vida que se projeta em direção ao mais distante futuro.
Vemos assim, uma idéia nova de responsabilidade que vem à luz em nossa época, como preservação da vida no futuro extremamente longínquo. Para Hans Jonas, a era tecnológica contemporânea faz com que o homem de hoje já não possa mais desconsiderar a necessidade de ser responsável, sobretudo nessa dimensão temporal de grande profundidade, tanto pelo presente, como também pelo futuro que foge aos seus olhos, ou seja, o mais distante que consiga projetar. E tal responsabilidade deve se operar, no mínimo, na mesma medida de todo e qualquer passo que esse mesmo homem mostre ser capaz de dar para interferir e alterar os domínios da vida. Isso porque, nos tempos atuais, há um risco iminente de se comprometer, com intensidade antes inimaginável, o exponencial valor da vida.
No processo em que nos encontramos nada mais justo a discussão do Hans Jonas, já que por tempos as ações pensadas para o futuro limitavam-se, a quase sempre, a manutenção do poder individual, continuidade dos tantos tronos que já passou por aqui. E quem não tinha trono para se preocupar, levava a vida à espera da sorte, do acaso, maldições ou o que a cigana havia dito lendo sua mão. O presente não tocava o futuro. Mas hoje sabemos que as coisas funcionam diferentes.
Nenhum modelo de pensamento montou suas bases de idéias em um futuro vertical, encontramos o bem no decorrer da história como uma busca suprema, como Kant fez ao fazer rodapé de Platão, ou encontramos o bem na manutenção ideal para que uma forma de poder se estabeleça, um modelo social ideal para questões presentes de uma sociedade. Foi assim com a análise da historia por Marx e Hegel.
Hans Jonas tocou em um ponto discreto que quase nos revela um pequeno segredo da vida, uma atitude embutida em cada indivíduo, se não sabemos nada metafísico da nossa existência uma das poucas coisas que sabemos é que temos um instinto primordial de conservar a espécie, fomos feitos para ser ancestrais, todo nosso presente se deve a um passado, todo futuro se faz agora, somos ancestrais do amanhã.
Autor: Max Kehrle
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