DO PANÓPTICO DE BENTHAM AO BIG BROTHER [1]



Um centro vigilante e depositador de olhares. Dos mais diversos pontos e das mais diversas espécies. Separando-se os indivíduos que seriam observados e vigiados. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que ninguém poderá escapar tanto os que olham quanto os que serão olhados, conforme pressagiava Michel Foucault [2].

Tal era a forma de "O Panopticon" de Jeremy Bentham, editado no final do século XVIII. Consistia, na periferia, de uma construção em anel; no centro, uma torre com grandes janelas que se direcionam ao anel. E a luz e o olhar dos vigias captam e observam todo o interior.

Essas estruturas de vigilância ainda presentes se constituem das mais diversas formas. Afinal, vivemos em uma sociedade panóptica, conforme observa Michel Foucault. Isso intensificado pela mídia e pela sobreposição da esfera privada ao espaço público. O que antes estava restrito às intimidades e poderia até causar constrangimento e vergonha, agora é extensivo às novas modalidades de subjetividade.

Assim que o Big Brother à maneira benthamiana reafirma tudo isso, mas não deixando de derribar o centro irradiador da boa observação. Pelas generalizações, depravações e exibição pública das formas de gozo, contempla grande número de adeptos. Muitos não sentindo sobre si o peso da frívola curiosidade.

Sobeja tempo para tantos. Falta redefinir as escolhas desse tempo que mareia disponível. Falta ressemantizar ao que entendem por indução ao consumo e politizar o próprio pensar.

O Big Brother configura o próprio enquadramento casa-prisionário de seres desejantes, terrificando o controle totalitário orquestrado como grande espetáculo pelas televisões e confirmando o poder do panóptico benthamiano sobre a vida das pessoas. Isso repisa a trágica e avassaladora hipótese de que as questões enfrentadas apenas mudaram de cor, ou melhor, de forma, a partir da atuação vigilante de todos os indivíduos.

Apenas um olhar para sucumbir-se ao proscênio de assujeitamento de valores e contentar-se com a tirania brutal de artificialismos e mesquinharias desqualificadamente infundamentadas. Nisso consiste o panoptismo do Big Brother.



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[1] Título em alusão às palavras de Manoel Barros da Motta ao prefaciar a obra: Estratégia, poder-saber de Michel Foucault. 2 ed. Org. e seleção de textos: Manoel Barros da Motta e tradução de Vera Lúcia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

[2] FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Org. e tradução de Roberto machado. 22 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2006.



Autor: Cristiane Diniz Barbosa


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