Mapeamento da Doença de Chagas no Município de Porto Murtinho-MS.



Mapeamento da Doença de Chagas no Município de Porto Murtinho-MS.

Luiz Augusto Gaúna


Resumo
A Doença de Chagas uma endemia tropical encontrada desde o sul dos Estados Unidos ate a Argentina. Os estudos de fase aguda da doença são difíceis de serem realizados em seres humanos porque os sintomas são inespecíficos e a maioria dos casos não requer socorro médico. O objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento referente à situação da doença de Chagas na cidade de Porto Murtinho. Através de informações coletadas na Vigilância sanitária de Porto Murtinho foi possível obter resultados que indicaram o controle e o mapeamento dos indivíduos infectados e a erradicação dos focos.



Palavras-Chave: Doença de Chagas, Barbeiro, Triatomíneos.

ABSTRACT
Chagas disease a endemic tropical affliction found from the south of the United States eta Argentina. The studies of the acute phase of the disease are difficult to be carried out in human beings because the symptoms are nonspecific and the majority of are nonspecific and the majority of cases does not require medical relief. The objective of this was a vision of the situation of Chagas disease in the city of Porto Murtinho. Via information needs of health monitoring was possible to obtain results with vision of threal situation,which indicated the control and mapping of infected and eradication of outbreaks.


INTRODUÇÃO
Primitivamente um enzootia, a doença de Chagas passou a se constituir em problema de saúde humana a partir da domiciliação dos triatomíneos, deslocados de seus ecótopos primitivos pela desagregação do ambiente natural. É doença de espaços abertos naturais ou produzidos pela ação antrópica. (Foratini, 1980)
Os triatomíneos são vetores da Doença de Chagas, uma parasitose de natureza endêmica com pronunciada relevância entre as doenças cardíacas na América do Sul (Tartarotti et al., 2004). Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, cerca de 18 milhões de indivíduos estão infectados pelo Tripanosoma cruzi nas áreas endêmicas (Colli & Alves, 1998; Carvalho et al., 2000) e aproximadamente 120 milhões de pessoas estão sob risco de contrair a infecção na América Latina (WHO, 2002)
A doença de Chagas, primitivamente uma endozootia, passou a constituir um problema de saúde humana a partir da domiciliação dos triatomíneos. Todas as espécies de triatomíneos são potenciais vetores da doença. A maior parte das espécies ocorre desde os grandes lagos dos Estados Unidos até ao sul da Argentina (Schofield, 1988), existem atualmente 137 espécies de triatomíneos descritas atualmente (Galvão et al., 2003).
Segundo Guhl & Schofield (1996), os países endêmicos abrangem: México, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai e os países da América Central. Dados da Funasa mostram que seis milhões de brasileiros são portadores da doença de Chagas (FUNASA, 2005). Esta moléstia, atualmente, é considerada emergente (Aguillar, et al., 2007).
Espécies de triatomíneos, secundárias quanto à capacidade vetorial, podem ocupar regiões nas quais espécies primárias foram eliminadas devido ao controle, no Brasil e em outros países. A habilidade dos triatomíneos em se dispersar por diferentes habitats pode levar a reinfestação de habitações (Soares & Santoro, 2000). No Brasil, existem focos remanescentes em vários estados. A doença pode voltar, a exemplo da dengue e malária, e o controle já realizado ser perdido. A eliminação da doença de Chagas é prejudicada pelo progressivo desinteresse político. Mesmo em áreas onde a transmissão é declarada zero, há um contínuo risco de transmissão vetorial devido à sobrevivência do inseto e baixa atividade de vigilância sanitária (Dias, et al. 2002).
A doença de Chagas compõe a lista de doenças negligenciadas no mundo, isto é, infecções crônicas em pessoas pobres. A população sob risco de infecção na América Latina e Caribe perfaz um total de 25 milhões de indivíduos (Hotez et. al., 2007). No Brasil foram capturados 199.143 triatomíneos no ano de 1997, chama a atenção o grande volume de capturas de Triatoma sordida, que corresponde a 41,16% do total de triatomíneos capturados no país. Por seu turno, T. brasiliensis e T. pseudomaculata, espécies características do Nordeste, representaram 52,06% dos triatomíneos capturados. (Vinhaes & Dias, 2000).
O controle da transmissão vetorial da doença de Chagas deve considerar o comportamento e hábitos das espécies de triatomíneos envolvidas e categorizar as espécies segundo sua participação na transmissão, pelo grau de antropofilia. As espécies identificadas no Brasil foram agrupadas em cinco estratos da seguinte forma: grupo I (Triatoma infestans, T. rubrofasciata) espécies domiciliares; grupo 2 (Panstrongylus megistus e Triatoma brasiliensis) e grupo 3 (Triatoma pseudomaculata e T. sordida) espécies ubiquistas e com possibilidade de domiciliação; Grupo 4 ( Rhodnius neglectus, R. nasutus, R. prolixus, T. rubrovaria, T. vitticeps) espécies com possibilidade de domiciliação; grupo 5 (T. melanocephala, T. tibiamaculata, T. petrochii, T. circunmaculata, T. lenti, T. matogrossensis, T. williami, Panstrongylus lutzi, P. geniculatos, P. diasi, P. tupynambai, P. lignarlus, R. pictipes, R. domesticus, R. robustus, R. brethesi, Eratyrus mucronatus, Psammolestes tertius e Microtriatoma trinidadensis) espécies consideradas silvestres (Dias, 2002b).
A espécie de maior dispersão no Brasil é T. sordida, esta espécie predomina nas regiões de cerrado. Observa-se o domínio de T. brasiliensis na caatinga, aí secundado por T. pseudomaculata. Foram verificadas infestações por T. rubrofasciata no Maranhão, T. vitticeps no Espírito Santo e T. rubrovaria no Rio Grande do Sul (Dias, 2002b). A história da doença de Chagas na região sul do antigo Estado de Mato Grosso e atual Mato Grosso do Sul (MS) teve seu início em 1918, com Chagas revelando a presença do Trypanosoma cruzi em animais como tatus. Enquanto os primeiros relatos sobre os triatomíneos das espécies Panstrongylus megistus e Triatoma sordida foram feitos por Neiva e Pinto em 192324. No período de 1975 a 1979, Silva32 identificaram casos humanos, reservatórios domésticos e silvestres na região de Fátima do Sul e registrou o encontro de Triatoma infestans naturalmente infectado nos domicílios rurais e de T. sordida, R. neglectus e P. geniculatus em biótopos naturais.
Após cinco anos sem registro da doença de Chagas em Mato Grosso do Sul, um indígena foi contaminado em uma propriedade rural localizada no município de Dourados em fevereiro deste ano. O caso colocou em alerta o Ministério da Saúde que determinou que uma equipe técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde venha ao Estado para averiguar a situação da doença de Chagas. (Mídia Max).
Em Porto Murtinho, (Mato Grosso do Sul) apenas dois vetores foram encontrados, T. sordida e o T. infestans.
Em nove de junho de 2006 o Ministro da Saúde do Brasil recebeu uma certificação da Organização Mundial de Saúde pela virtual eliminação, no país, da transmissão da doença de Chagas pelo principal vetor regional, o Triatoma infestans.
Para que os órgãos de saúde considerem que um Estado erradicou de vez a doença de Chagas é preciso que não haja nenhum registro nos últimos três anos.
Mirando o futuro, é dever de consciência e responsabilidade alertar que o assunto não está encerrado. Eventuais focos residuais de T. infestans, pequenos e dispersos, foram observados na Bahia, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e até em São Paulo.
Das mais de cem espécies conhecidas, quarenta e duas (42) foram já identificadas no país, das quais ao menos trinta (30) foram capturadas, em diferentes situações e circunstâncias, no ambiente domiciliar (Silveira, 1984).
Existem dois tipos de tratamento para o chagásico, o específico (contra o parasita) e o sintomático (contra as manifestações da doença). Naqueles indivíduos crônicos na forma indeterminada, o tratamento específico pode eventualmente proporcionar benefício, minimizando a evolução tardia da doença em certos casos, mesmo sem a obtenção de cura parasitológica. Para esta forma, então cabe ao médico decidir sobre a indicação ou não do tratamento, em caráter individual. As Drogas disponíveis são o Nifurtimox (nome comercial Lampit, atualmente fora de mercado) e o Benzonidazol (Rochagan, encontrado em farmácias).
Não se restringe, entre nós, a transmissão da tripanossomíase americana apenas pelo T. infestans. Persistem no meio ambiente brasileiro outras espécies de "barbeiros", que poderão ocupar o nicho da espécie eliminada. A própria eliminação do T. infestans requer um processo de consolidação, para detectar e prontamente destruir eventuais focos residuais. Neste contexto, a palavra chave é vigilância epidemiológica. Faz-se necessário, sobretudo, levar em conta que a partir do ano 2000 a Reforma Sanitária descentralizou as ações de controle então realizadas pela FUNASA, transferindo-as aos Estados e Municípios, que são autônomos para levar a cabo a necessária vigilância (Dias, 2006).
O programa de controle da doença de Chagas no Brasil chegou ao auge entre 1984-85, após esta fase iniciou-se uma longa fase de desvio de pessoal para o Programa anti-Aedes. Com a eliminação do Triatoma infestans, controle da transmissão transfusional e congênita, as ações contra a doença de Chagas e pesquisa correspondente perderam o necessário peso político para serem continuadas. A continuidade é absolutamente necessária, como forma de consolidar o controle da doença de Chagas no país. Deve-se levar em consideração a domiciliação de triatomíneos secundários e silvestres, migrações e urbanização humana, descentralização das ações de saúde, desativação de intuições como a FUNASA. Os principais desafios da doença de Chagas no Brasil para os próximos anos são: riscos de reemergência do Triatoma infestans a partir de resíduos dessa espécie nos Estados.
O presente trabalho tem como objetivo Mapear a situação atual da doença de Chagas no Município de Porto Murtinho-MS visando obter informações tais como, se há uma educação voltada à conscientização da doença, a situação de notificação da presença do vetor nos últimos anos, os focos encontrados, o destino dos vetores, se há um acompanhamento dos chagásicos diagnosticados.

Material e Métodos

Neste trabalho foram coletados dados na Secretária Municipal de Saúde de Porto Murtinho (Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica) referentes à incidência de casos confirmados de Doença de Chagas no município; número óbitos por doença de Chagas nos últimos seis anos; espécies de vetores notificados; destino dos vetores encontrados; acompanhamento dos chagásicos e obtenção de informações referente a existência de um trabalho voltado para conscientização da comunidade no município de Porto Murtinho. Os dados foram fornecidos pela Chefa da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica, na pessoa da Senhora Silvia Dias.


Resultados e discussão
O município de Porto Murtinho tem em média 13 mil habitantes segundo dados fornecidos pela Secretária Municipal de Saúde de Porto Murtinho (Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica) os pacientes chagásicos crônicos confirmados laboratorialmente, notificados e investigados até dezembro de 2009 constam de 32 indivíduos, sendo 20 estrangeiros e 12 brasileiros. Em Porto Murtinho foram identificadas duas espécies de triatomíneos Triatoma infestans e Triatoma sordida. O número de óbitos em Porto Murtinho nos últimos cinco anos foi apenas um, entretanto, a causa mortis envolveu outras patologias.

Situação da Doença de Chagas no Município de Porto Murtinho segundo dados da Secretária de Vigilância Sanitária do Município.




Ano Nº de Casos Fazendo Tratamento Não faz tratamento Residência em Porto Murtinho Não reside em Porto Murtinho
2005 06 05 - 05 01
2006 07 02 01 03 04
2007 08 04 01 05 03
2008 06 04 - 04 02
2009 Nenhum caso - - - -
2010 01 - 01 - 01

Os pacientes em tratamento são pessoas que possuem cartão do SUS, o tratamento é realizado no hospital DIA, em Campo Grande com um infectologista.
Os pacientes que não têm condições de se deslocarem para Campo grande fazem o tratamento em Porto Murtinho mesmo.
Todos estes casos citados na tabela foram constatados através do exame IPED (Instituto de Pesquisa Ensino e Diagnóstico) realizados no período de gestação. A maioria delas é Paraguaia que vem ao Brasil realizar o pré-natal e o parto. Posteriormente retornam ao seu país de origem. Das 32 gestantes apenas uma passou a doença para o filho.
Antes de 2005 devido à precariedade do sistema não há nenhum registro de dados com relação aos chagásicos conforme dados da tabela.
Com relação aos vetores somente a espécie T sordida ocorre no município. Todos os vetores encontrados são encaminhados para o laboratório em Campo Grande para posterior analise e identificação de chagas. Segundo o Wilson Rolon (Gerente da Vigilância Epidemiológica de Porto Murtinho) já houve surto de epidemia de Chagas no município, porém não há registros de quando isso ocorreu. O motivo da epidemia foi à precariedade das residências na área rural que eram construídas com carandá e segundo relatos as pessoas dividiam a casa com animais (galinhas, porcos, etc.). A medida adotada para controlar o vetor e diminuir os casos foi à construção de novas habitações de alvenaria, porém em troca exigiam que os moradores derrubassem sua antiga moradia. Segundo ele também foi feita a dedetização em toda a área rural para combater o vetor.
Não há casos Agudos em Porto Murtinho, por isso não é possível visualizar no sistema nacional de saúde. Somente há casos crônicos da doença.
Com relação ao tratamento foi informado que o medicamento ROCHAGAN não é mais utilizado devido à proibição do mesmo pelo Ministério da Saúde, que alegam efeitos colaterais. Neste caso é feito um acompanhamento médico.
Com relação ao trabalho realizado pela vigilância epidemiológica somente é feita a visita nas residências quando há notificação da presença do vetor ou quando é diagnosticada a doença. Nesse caso os agentes vão até a residência procuram pelo vetor, caso encontrem o vetor, coletam a amostra e encaminham para analise e posteriormente dedetizam a residência. Como podemos concluir que devido a erradicação estar em sua totalidade controlada, a vigilância sanitária de Porto Murtinho direcionou a atenção para focos de outras doenças, uma vez que a Doença de Chagas no município está com um mapeamento que proporciona uma visão geral da situação.




Referências bibliográficas

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/chagas_gve.pdf
www.funasa.gov.br/.../arquivos%5Cconvenios%5Cmnl_contChagas.pdf

bvs.panalimentos.org/local/File/Guia_Doenca_Chagas_2009.pdf
Galvão C., Carcavallo, R. U., Rocha, D. S. Jurberg, J. A check-list of the current valid species of the subfamily Triatominae Jeannel, 1919 (Hemíptera, Reduviidae) and their geographical distribution, with nomenclatural and taxonomic notes. Zootaxa, v. 202, p. 1-36, 2003.
www.funasa.gov.br/
Dias, J. C. P.; Prata, A.; Schofield, C. J. Doença de Chagas na Amazônia: esboço da situação atual e perspectivas de prevenção. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, p. 669-678, 2002.
Agencia da Vigilância Sanitária de Porto Murtinho.
Castro CN. Influência da parasitemia no quadro clínico da doença de Chagas. Revista de Patologia Tropical 9:73-136, 1980.
Silva RP. Estudo sobre Trypanosoma (Schizotrypanum) cruzi (Chagas, 1909) em área de Mato Grosso do Sul: casos humanos, reservatórios e transmissores. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 1979.
www. midiamax.com. br/noticias/139402-d

Autor: Luiz Gauna


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