Redemoinhos



André sentou-se na beirada da Fontana di Trevi, em Roma, enquanto a chuva caía fina naquele dia inicial de primavera. A temperatura havia baixado um pouco, mas não sentia frio, estava agradável e o local um pouco menos movimentado, já que a garoa afastara um pouco os turistas que costumavam lotar um dos lugares mais famosos da Itália naquela época do ano.
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Olhava para a fontana - a dita fonte dos desejos - com um olhar perdido em algum horizonte longínquo. Olhava as moedas cujos reflexos dançavam no pequeno redemoinho causado pelo jorrar do chafariz e das gotas de chuva que brincavam com a superfície da água.
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E aquele redemoinho ali, tão sutil na água, lhe preenchia cada centímetro de seu interior transtornado sob aquele semblante externo tão aparentemente e talvez cínicamente sereno. Mas dentro de si, todas as tormentas climáticas se revoltavam e seus sentimentos se debatiam.
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Olhou para as moedas em suas mãos, pensou nos muitos pedidos contraditórios, e no final ao lançar todas na fonte pediu apenas que o redemoinho se acalmasse e que ao final da semana, quando retornasse ao Brasil, só houvesse calmaria dentro de si e tudo ficasse bem.
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Levantou-se e continuou sua caminhada pela Piazza. Logo o sol sairia dentre as nuvens e a chuva fina seria estaria apenas no molhado do chão. Logo, seu redemoinho particular seria apenas uma lembrança amarelada no panteão de suas experiências cotidianas e assim ele seguiu em frente, resignado, como acontece quando não há mais esperança. Quando a esperança falha e tudo que sobra é a resignação.
Autor: Enrique Darnello


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