PERFIL DOS EGRESSOS DE PEDAGOGIA





PERFIL DOS EGRESSOS DE PEDAGOGIA

MARIA JOSÉ DE AZEVEDO ARAUJO
SÔNIA MARIA DE AZEVEDO VIANA



RESUMO


Este texto se destaca pelo caráter informativo, uma vez que foi elaborado para subsidiar palestra destinada a motivar e esclarecer os alunos iniciantes do Curso de Pedagogia, sobre as mudanças propostas pelo Conselho Nacional de Educação através das Novas Diretrizes Curriculares ? Resolução MEC/CNE/CP n.1/2006. Portanto aborda como conteúdo fundamental a necessidade de conceber, através de uma linguagem simples e objetiva, o campo da pedagogia e a função social e educativa do pedagogo face às transformações ocorridas no mundo do trabalho. Pontua os desafios das instituições formadoras que obrigatoriamente precisam evoluir para responder às novas e mais complexas demandas da sociedade contemporânea, contribuindo para que o pedagogo desenvolva as competências e adquira os conhecimentos profissionais adequadas à sua plena inserção num mercado de trabalho cada vez mais exigente e diferenciado.

PALAVRAS-CHAVE:
Pedagogia, perfil do pedagogo, competências profissionais, mudança curricular.

INTRODUÇÃO
Os estudos, as pesquisas e o conjunto de leis que alteram o padrão de formação do Curso de Pedagogia. Eles indicam a necessidade de repensar, à luz das novas concepções e pressupostos formulados sobre o processo de formação de professores, nas mudanças fundamentais para construção de uma identidade profissional mais compatível com os valores e condições, postos pela modernidade.
Percebe-se que a competência pedagógica direcionada para o trabalho docente ou para a prática da gestão escolar não se constitui mais como simples aquisição e reprodução técnica de saberes específicos historicamente elaborados, antes é preciso considerar o conjunto das práticas sociais às quais o pedagogo estará afeito, criando oportunidade para uma visão realista dos problemas e situações que esse profissional terá que enfrentar.
Nesse sentido, as novas Diretrizes Curriculares destacam a necessidade de se rever os processos formativos considerando como referência as mudanças efetuadas nas práticas sociais historicamente contextualizadas, enfatizando-se a dimensão política e as demandas culturais e sócio-educacionais da nossa época, bem como, as novas concepções teóricas que orientam a construção de competências e experiências pedagógicas fundamentais à constituição de um novo perfil para o pedagogo como docente e técnico em educação.
Tomando como horizonte a formação do pedagogo apto para exercer o ensino e a gestão escolar, especialmente no âmbito da educação básica, mas também considerando a possibilidade de atuação em outras áreas não escolares, almeja-se a formação do profissional reflexivo, capaz de pensar de forma contextualizada sobre os impactos da sua ação educativa, bem como, de desempenhar com desenvoltura as atividades previstas para o âmbito da sua competência docente e técnico-administrativa.
Assim, contribui-se de forma competente e ética para a realização das mudanças necessárias à qualificação do pedagogo como educador e intelectual orgânico das instituições formadoras, com capacidade para manejar a complexidade da ação educativa e resolver problemas relativos à gestão da escola e de outras organizações sociais, através de relações que oportunizem o diálogo, a participação, e a integração para uma intervenção inteligente, criativa e mobilizadora das múltiplas competências presentes nos contextos que solicitam intervenção.
No âmbito dessas necessidades provenientes da dinâmica própria à evolução da ciência e da tecnologia se alinham as mudanças efetuadas nos modos de gestão e organização do trabalho no interior das instituições sociais e econômicas.
Para redimensionar os processos de formação profissional, o novo arcabouço jurídico do sistema de ensino superior ? construído através das discussões registradas nos Fóruns e Encontros Nacionais que deram origem ao Parecer n. 5/2006 e resolução n.1/2006 -, se constituem como uma referência ímpar para redefinir o Curso de Pedagogia no país, dispondo radicalmente sobre o novo papel do Pedagogo. Uma formação generalista será agora necessária para responder às novas funções e perspectivas da escola que temos e que queremos construir.
A aprovação da Resolução CP/CNE nº 1/2006, publicada no Diário Oficial da União em 15 de maio de 2006, redimensiona então, o perfil de formação do Pedagogo, até então sob o predomínio das especialidades que caracterizou tanto a perspectiva do bacharelado, quanto a formação compartimentada para o exercício da docência. A nova proposta de formação favorece a superação da distinção entre as especialidades, antes traduzida através de um currículo-mosaico, extremamente fragmentado, distanciado do universo da experiência pedagógica em sua plenitude de possibilidades.
O modelo de formação do Pedagogo que antecede a atual legislação organizava-se, de modo geral sob a forma de habilitações, específicas à docência e ao bacharelado. Atualmente se desfaz a ênfase curricular sob a ótica da especialidade refletida no modelo das habilitações - que tornou evidente a divisão do trabalho educativo nas unidades de ensino e nos órgãos gestores dos sistemas.
Já não é possível aceitar uma formação profissional esfacelada - do pedagogo/professor (educação infantil e/ou séries iniciais) e do pedagogo/bacharel (técnico e especialista), como sujeitos portadores de conhecimentos distanciados, cuja função precípua, inerente à ação educativa, fundamentava-se na separação dos saberes pautado na especificidade das competências inerentes ao domínio das tecnologias, das ferramentas de atuação técnico-burocrática ou da docência, sem espaço para a necessária articulação.
Esse processo formativo esfacelado é hoje dissonante da perspectiva integradora e participativa, perseguida pelo novo modelo de gestão dos sistemas e, conseqüentemente, das escolas e demais instituições educativas.
Hoje, o desafio que nos envolve nesse processo de reforma educacional orienta-se pela urgência de se repensar a formação dos educadores como profissionais críticos, reflexivos e pesquisadores, que se qualifiquem sob a perspectiva da totalidade, como categoria insubstituível para a produção do conhecimento na pós-modernidade
Entende-se que na legislação atual, a opção pela extinção das habilitações existentes, resultou de um percurso histórico e político-pedagógico aberto à incorporação de diferentes dispositivos, que permitiram a integração de incontáveis sugestões, provenientes das discussões encaminhadas através das várias entidades públicas e privadas, associações e eventos diversos como fóruns, encontros e reuniões. Essas múltiplas instâncias educativas souberam traduzir a escuta social inteligente da comunidade acadêmica, consensuando diferentes necessidades e interesses, contribuindo para substantivar a elaboração da legislação sob um corpo teórico-prático historicamente fundamentado.
Assim, se institui a nova identidade do Pedagogo: um profissional capaz de contribuir para elevar o potencial didático-pedagógico das relações humanas promotoras de conhecimento e experiências significativas, tanto na escola quanto em outras instâncias sociais, onde a sociedade se organize para ensinar e aprender.
Desta forma, pode-se dizer que foram significativas as contribuições do VII Seminário Nacional sobre a Formação dos Profissionais da Educação, que contou com a participação da ANFOPE, ANPED, CEDES E FORUMDIR (2005), destacando em minuta coletiva que,
O curso de pedagogia se caracteriza por ser ao mesmo tempo uma licenciatura e um bacharelado, sem distinção de grau na formação. Neste curso é construída a identidade do pedagogo como profissional inovador e criativo na sua atuação, capaz de analisar, compreender e lidar com as mudanças da e na vida social e suas implicações, no sistema educacional, na escola e no seu âmbito. Com uma formação integrada atuará na docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, na Educação Infantil, e nas disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores e na gestão dos processos educativos escolares e não-escolares e na produção e difusão do conhecimento do campo educacional.

Em face dessa nova concepção, há um posicionamento esclarecedor que é importante ressaltar, especialmente sobre o que define o curso de Pedagogia com base na licenciatura, que não deve ser entendida nos limites da competência docente como restrita à atividade de ministrar aulas.
A licenciatura deve, antes, ser compreendida em sua dimensão plural, focalizando desde as questões próprias à mediação do conhecimento no âmbito da sala de aula, até as questões relativas à gestão educacional, tanto ao nível do sistema em sua hierarquia maior, perpassando pelos órgãos mediadores das políticas educacionais, quanto ao contexto mais local, relativo à gestão da escola.
Essa compreensão é parte do alargamento da experiência docente adquirida no próprio ambiente de trabalho, cuja mobilidade exige novas referências para execução de tarefas que extrapolam o limite da formação peculiar, mesmo aquelas voltadas exclusivamente para um dos espaços mais significativos da escola: a sala de aula.
Reconhecemos aqui a centralidade do papel do professor na melhoria da qualidade dos sistemas de ensino; qualidade que se inscreve na relação dialética que se estabelece de forma singular entre a sociedade, o mundo do trabalho e a escola, a cada movimento novo da história da educação, especialmente considerando-se os momentos que precedem mudanças radicais, férteis em discussões e premissas que mobilizam e orientam as propostas relativas às Reformas Educacionais.
Portanto, concordamos que é preciso recriar a concepção da docência, passando a compreendê-la como uma experiência que extrapola o espaço da sala de aula, propondo-se então ao pedagogo/educador uma visão de totalidade do sistema, pelo domínio de um conjunto de conhecimentos e práticas que lhe permitirá perceber a escola como parte de um determinado contexto político, econômico, cultural e social. Imbuído desse saber básico, o pedagogo/educador poderá atuar com mais segurança nos processos de gestão administrativa e pedagógica das escolas, nos processos de planejamento - do projeto político-pedagógico ao plano de aula; nas coordenações de ensino; no aperfeiçoamento do trabalho docente; no assessoramento pedagógico para elaboração e avaliação de projetos educativos e programas de ensino; na formulação de políticas integradoras da comunidade à escola e em outras áreas afins que fomentem melhorias, e garantam a eficácia da ação educativa, onde quer que ela ocorra.
É notadamente consensual entre os teóricos contemporâneos, a idéia de que a docência não mais se resume à instrução ou ao repasse de lotes de conhecimento previamente determinados, mas requer procedimentos de renovação que somente se conquista com a autonomia de quem não se contenta em reproduzir ou copiar, mas aderindo à condição de sujeito, aprende a pesquisar e a elaborar conhecimento próprio.
A propósito dessa premissa, Demo (2001, pág.95) enfatiza
A idéia mais essencial, [presente nessa questão], é a gestação da autonomia, parte central da cidadania. A elaboração própria precisa ser o indicador inequívoco de que sabemos elaborar nossa história própria." [Assim, estaremos tomando a educação] "como processo de formação da competência humana histórica. Entendendo por competência não apenas o fazer, mas o saber-fazer e sobretudo a capacidade de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumentação crucial o conhecimento inovador.

Portanto, as oportunidades de pesquisa devem estar presentes num currículo voltado para uma formação ampliada do Pedagogo. O processo investigativo da prática pedagógica cotidiana constitui etapa insubstituível e especial para consolidar o uso da pesquisa como princípio educativo e científico.
Sob uma abordagem interdisciplinar das ciências sociais, a prática educativa deve ser considerada como ponto de partida para que o novo pedagogo possa experimentar o gosto de descobrir e criar soluções para os desafios presentes, reconstruindo suas experiências à luz dos novos paradigmas sociais, tecnológicos e epistemológicos. Como informa o Parecer nº 05/2006,
A educação do licenciado em Pedagogia deve, pois, propiciar, por meio de investigação, reflexão crítica e experiência no planejamento, execução, avaliação de atividades educativas, a aplicação de contribuições de campos de conhecimentos, como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o lingüístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural. O propósito dos estudos destes campos é nortear a observação, análise, execução e avaliação do ato docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de processos educativos escolares e não-escolares, além da organização, funcionamento e avaliação de sistemas e de estabelecimentos de ensino.

Percebe-se, claramente, que a formação para a docência não se limita a questões didático-pedagógicas inerentes à experiência de ensino-aprendizagem no interior da sala de aula, mas o novo perfil do profissional em pedagogia deve considerar que ele atuará em diversos âmbitos como sejam:

v Docência - podendo assumir o ensino na educação básica, especialmente na educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, ensino médio normal, e em outras modalidades específicas contempladas pela legislação em vigor.

v Pesquisa ? como profissional reflexivo capaz de demonstrar competência investigativa como recurso adequado para esclarecer criticamente determinadas realidades, retratando peculiaridades das situações observadas com vistas ao aprimoramento de sua prática profissional pela intervenção eficaz;

v Comunicação ? analisando, organizando e socializando informações que propiciem o aprofundamento necessário das questões que envolvem a realização das práticas educativas, melhorando a performance institucional.

v Gestão das organizações sociais - com competência teórica, técnica e política, responsabilizando-se pela organização do trabalho técnico e pedagógico que inclui o conhecimento necessário sobre planejamento e avaliação institucional, legislação do ensino, projeto pedagógico, projeto didático, trabalho coletivo, como ferramentas que mobilizam a ação gestora/coordenadora de forma participativa e democrática;

v Consultor técnico, apto para responder às demandas de assessoria, avaliação e monitoramento de projetos, ações propostas de diferentes órgãos que mantenham relação com a educação.

Dessa forma, o pedagogo necessário para atender às novas exigências da sociedade do presente e do futuro, inaugura novas possibilidades, quanto ao domínio de uma aprendizagem competente para orientar o gerenciamento democrático dos recursos humanos, ações e projetos, de forma compatível com as peculiaridades de cada instituição/sistema/região, de cada comunidade escolar, pensando no bem-estar da coletividade.
Cabe agora ao pedagogo-educador, o desempenho de um papel, cujo script não estará pronto de uma vez por todas - mesmo ao final de um curso de graduação, pois não será próprio numa sociedade aberta ao diálogo e à permanente reconstrução dos conhecimentos, fechar-se em atribuições rígidas, previamente definidas sob a forma de prescrição das tarefas e comportamentos indicativos das ações que cada um deverá desempenhar nas Instituições onde irão atuar profissionalmente.
Essa é uma perspectiva desafiadora que precisa articular a competência técnica à dimensão humana solidária preparando o pedagogo como um ser ativo, criador e participativo, agente dos processos de mudanças que ocorrerão na sociedade mais próxima em face das determinações inerentes à sociedade mais ampla.
É preciso então, preparar o pedagogo para o domínio de um saber amplo, desinteressado e polivalente, considerando-se o caráter sempre inconcluso e provisório do conhecimento e, ainda, a necessidade de adesão à flexibilidade como elemento facilitador de adaptação às contínuas mudanças institucionais, que exigem espírito crítico, capacidade de aperfeiçoamento permanente da formação inicial como forma inequívoca de manter-se aberto às inovações e apto para o mercado de trabalho em expansão.


Autor: Gepistae Unit/Se


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