Confidências



05/03/2011



Confidências


Autor: Eduardo Silveira


Na varanda.

Cumadi Palmira, Muié de Deus! Que calorão é esse,sô?
E poi num é, cumadi Das Dô! É esse mundo qui tá si acabano. Já dizia cumpadi Jeroboão, qui esse mundo havera di si acabá em fogo, prumode di morrê tudo qui é gente vivente aqui e adispois, nascê tudim di novo.
Ora! Ora! Óiaqui acho qui cumpadi Jeroboão tava mai é certo, num sabe?
Ô si tava. Tá dimais mezzz esse calô. Antigamente, mais pra trás, num era ansim não, si alembra?
Ô si mi alembro! Esse calô tá quiném ao qui eu sintia quando Nêgo Manéu si encoxava ni mim.
Cumadi, num diz isso?
Mai é sim, ora! Tu num si alembra di Nêgo Manéu?
Mai é craro qui mi alembro. Né aqueli qui trabaiava pru teu pai?
Isso! Ele mermo.
Teu pai gostava muito dele, num é?
É. Meu pai e eu tumém.
Tu, tumém? Pucausdiquê?
Vô te dizê já já, mai antis, mi diz uma coisim qui eu quiria muito sabê?
O qui foi? Qui ocê qué sabê?
Cumadi Palmirinha, ocê sabe qui nóis semo amiga havera muitempo, num sabe?
Ara! Deusde qui a gente era duas mininota bem magrilim, si alembra?
Poi intão! Eu tenho uma curiosidade demdimim a teu respeito.
Curiosidade? Di qui si trata, cumadi?
Tu nunca casô, né verdade?
É. Mai isso né segredu pra ninguém, todo mundo sabe disso.
É. E eu tamém sei. Acontece qui, o qui eu e o povo di lá nunca atinô, é o pruquê, ocê nunca si casô.
Ora, Ora! Num tô intendenu?
Eu quiria sabê o mutivu real, intende?
Mutivu real? I eu sei lá o qui qué isso, cumadi?
Sabe, sabe sim! Mutivu real é ...a verdade verdadera, só isso.
Uai, cumadi, deixa isso pra lá. Vai mexê em casa di marimbondu pucausdiquê? Prumodiquê?
Se ocê mi contá a verdade, eu ti conto minhas confidenças tumém, meus amante, os homi qui eu tive, bem aqui, na parma da minha mão, qui tar?
Eu sei qui ocê tem muita istória pra contá, eu até quiria sabê, mai a minha istória é um trem tão sem graça, qui até fico vexada di contá .
Óia, só tem nóis duas aqui fora, e tá quainahora daquela insôssa da minha neta, qui é dotora letrada, vim aqui pra ponhá a gente pra dentro. E amanhã, ocê sabe qui eu vô vortar pra casa, num sabe? Intão, o que qui custa ocê mi contá, hein?
Tá bão. Tá bão. Eu vô contá. Mai, prestenção, si alembre qui foi ocê qui quis sabê, visse?
Tá certo. Tá certo. Intão conta logo, uai!
Óia, a verdade verdadera mermo, é qui i eu me disincantei cum o amô. Deusde mininota qui eu quiria um amô daqueles di revista, si alembra?
Ô si alembro! Era bão dimais da conta,sô! Era cada istória di amô, némezzz?
Ô si era! Mai eu sonhava dia e noite cum um amô daqueles bão. Mai na minha vida mermo, só apareceu istrupício. Num quis casá cum ninhum deles. Era homi qui bibia, jogava, fumava, andava cum aquelas puta, si alembra da casa rosa?
Ô si alembro! A casa rosa era a casa das muié dama. Elas dizia qui conhecia todos os "trem" dos homi da cidade.
Incrusive o do teu marido.
Uai! Cumé qui cê sabe disso?
Uai! Cumé qui eu sei. Sei pruquê sei, ora!
Pé, pé, pé,péraí, cumadi! Cumaié qui ocê ficô sabenu disso, mi exprica esse trem direito?
Eu sube. Arguém mi contô.
Palmirim, minha flôzinha! Ocê qué mi inganá, é?
Tô vexada.
Fique não. Prestenção, só me diz o qui eu quero sabê?
Bão! Foi ele mezzz qui mi contô... pronto falei.
Ele mezzz ti contô?
Foi.
Quannu?
Um dia qui ele passô lá em casa.
Ele passô na tua casa? E prumódiquê ele havera de i lá?
Foi lá pegar um trem quarquer.
Qui trem,uai?
Uma coisa lá... sei lá!
Sua safada! Tu abriu as perna pro meu marido, num foi?
Eu num quiria falá. Foi ocê qui mi pidiu.
Pódi falá, sua boba! Ele já dizincarnô mezzz. Ocê acha qui eu vô mi zangá cum ocê?
E num vai não?
Cê besta! Mas é craro qui não. Aquilo lá num valia o prato qui comia, sua boba. Aquele homi cunhecia tudo quanto era puta da casa rosa. Cansei de vê marca di batom nas camisa dele.
Uai! E ocê num ligava não? Num brigava cum ele?
Ligá? Brigá cum ele? Ocê tá maluca?
Ora! Pruquê?
Mai si era isso mezzz qui eu quiria. Quanto mai ele mi traía, mai eu gostava.
Num tô intendenu nadica di nada.
Ói só! Quanto mai ele aprontava, mai mutivu eu tinha pra aprontá tumém, intende?
Ah! Agora sim, eu tô intendenu.
Poi intão! E cá pra nóis, ele era bem ruinzim di cama, néra não?
Num sei.
Como num sabe? Ele num amuntô ni ocê não?
Amuntá...amuntô. Mai ele foi o único, num sabe?
O que??????? Ocê tá mi dizenu, qui Pererinha, foi o único homi da sua vida? Todim?
Foi. E nem sei dizê si ele era ruim di cama, pucausdiquê ele mi amuntô... em cima da máquina di custura.
Jesus, Maria e José! Num credito nisso qui ocê tá mi contanu.
Poi foi! Na máquina di custura.
E ocê nunca mai quis outro homi, pruquê?
Mi disiludi. Num gostei.
Num gostô di dá pra ele, é?
Sabe o qui é?
O que?
É qui eu sempre fui muito boba. Sonhava cum homi bunito, cheroso, ropa bunita, bota pulida, qui mi desse frores, me levasse pra passiá, viajá, quiria conhecê outros lugá.
Ocê era muito romântica, né?
É. E, quandu Pererinha foi se acheganu pro meu lado, eu pensei qui ele era o homi qui ia mi dá tudo aquilo qui eu havera sonhadu.
Ele prometeu arguma coisa a ocê?
Nunca. Só queria fazê fuque-fuque. Aí, eu enjoei dele. Aquelas coisa qui a gente ouvia falá, qui as minina contava, qui os homi fazia elas subi nas parede, qui sintia isso, qui sintia aquilo, cum ele, nunca, senti nada daquilo.
Elas falavo era di desejo, tesão.
Era isso aí mezzz.
Intão, ocê nunca gozô?
Bão! Ai, cumadi, ansim ocê mi dexa vexada.
Dexa di sê boba! Óiaqui, ocê tá parecenu uma minina criança. Qué qui tem dimais? Fala!
Bão! Tá bão! Tá bão! Óia...Gozá, eu gozei, né?
Como ansim? Então ocê teve outro homi?
Não!
Já sei! Ocê si tocava cum os dedo, né, sua danadin?
Hum! Hum!
Não? Intão, cumé qui tu gozava, muié?
Num vai ri?
Ri??? Não! Pódi falá.
Eu pegava uma espiga di mio e tochava na bichinha.
Quá!Quá!Quá! Discurpa cumadi, discurpa, mai pur essa eu num esperava. Quá, quá, quá!
Ocê falô qui num ia ri!
Mi adiscurpa, mai essa foi dimais, quá,quá,quá.Mai conta mai, vai!
I eu num sei como aqueles mio num exprudia, de tão quente que a bichinha ficava. Rê,rê,rê!
Já pensô se exprudia? Ia virar pipoca. Quá!quá!Quá!
E foi ansim, cumadi. O meu disincanto cum os homi foi esse.
Ah, mas cumadi, ocê divia tê exprimentado outros homi. Óia, eu tive quantos homi eu quiz, visse? E tive cada um que credincruz! Me dá até calô, só de alembrá.
É mermo, cumadi? Então mi conta aí, qui agora sô eu qui tô curiosa?
Ocê sabe qui Pererinha foi meu marido e primero homi, num sabe?
Bão...eu sei qui ele foi teu marido, agora, si foi teu primero homi, aí eu já num sei, né? Até pruque, sua fama, era di minina muito levada.
Levada? Eu era doidim! Alembra daquele minino, fio do dono da padaria?
O carequinha?
Não. O mai véio. Aquele qui intregava pão, si alembra dele?
Um qui tinha o dente separado, né?
Esse mermo. Óia! Um beldia, ele foi entregá pão lá em casa, mainha tinha saído e meu pai ido trabaiá. Quainahora dele fazê a intrega, eu pus uma camiseta du meu pai e fiquei nuinha pur dibaixo. Quannu ele chegô, qui eu abri a porta, ele quasi caiu da bicicreta. Mandei ele entrá, e ele ficô só mi espianu, me espianu.
Nossinhora! E ocê?
Daí, eu fingi qui ia pegá o dinheru e baxei um poquinho assim di costa pra ele.
Intão ele viu tudo?
Si viu? Quando oiei, ele tava cum as mão na frente da carça, e aí eu disse qui si ele quiria pegar o dinheru, tinha qui pegá com as duas mão.
Vixe, Minhanossinhora! E ele?
Pegô! O danado tava vexado, mai pegô o dinheru.
Iocê?
Ele pegô o dinheru e mi pegô tumém.
Pegô ocê?
Ora! Eu quiria mai era qui ele me pegasse mezzz. Óia, qui trem bão, visse? Nunca vi um trem tão duro e quente qui nem qui aquele. Parecia aquelis ferro de marcá gado, visse?
E quicefêz, muié di Deus?
Bão! Fiz o qui divia fazê, né? Eu sei qui ele foi o primero homi qui eu vi nuzim im pelo.
Então, Pererinha não foi o premero?
Foi. O minino padero não me defrorô não.
Ah, não?
Não. Eu num dexei. A gente passô a si encontrá no garpão de mio. E aí, mantivi minha honra intata, mai em compensação, ele cabava cumigo nas outras parte, intende?
Ô si intendu! E ele era... era...
Ocê qué sabê si ele era "grande"?
É?
Olha, maió qui o dele, só o di Nêgo Manéu, visse?
O que? Tu viu o trem di Nêgo Manéu tumém?
Óia, si eu fô contá quantos "trem" eu vi nessa minha vida, sei não, mai acho que foi pra mai di cem, num sabe?
Vixe Nossinhora! Mai di qui cem?
Acho qui foi bem mai.
Jesus!
Desse eu num vi não. Quá!Quá!Quá!Quá.
Mai Nêgo Manéu já era véio, num era?
Era. Qué dizê... era e num era.
Como ansim?
Eu mi casei cum dizoito ano, e ele tinha uns trinta e cinco, puraí.
Eu alembro qui a gente era minina, e ele já era homi feito.
Intão. Quando ele começô a mi oiá cum aqueles óio di raposa atrás di pinto novo, eu fugia dele.
Ficô cum medo, né?
Não. Medo não. Mai, eu achava qui ele, trabaiando pru meu pai, e ainda por cima nêgo, não tinha nada a vê cumigo.
É. Ocê era novinha, né?
Poi bem! Mai um dia, eu fui atrás do meu cachorro Berro, si alembra dele? Aquele branquinho de mancha preta na cara?
Ò si mi alembro, ele era tão bunitim.
Poi intão! Quandu o Berro correu pra trás do garpão de cana, eu fui atrás dele e, di repente...
O que?
Vi Nêgo Manéu, sabe fazenu o quê?
Não! O que?
Amuntandu em Eulália, si alembra dela? Uma muié branca qui tinha os zóio meio baixo ansim, mei caído, alembra? Era lavadera.
Alembro! Ô si alembro. Era uma gordinha, baxim, né essa?
É. Era essa mezzz.
Mai, Nêgo Manéu viu ocê?
Bão, quandu cheguei, não. Eu fiquei ali, parada, só oiando, oiando, e quantu mai eu oiava, mai quiria oiá.
Ocê teve um choque, né?
Choque? Cê besta! Que choque qui nada. Eu sinti foi uma coisa qui nunca havera sintido antis. Quando vi o tamanho du trem dele, mi subiu um calô lá didentro das minha intranha, qui óia, minha carcinha ficô insopada na ora.
Nossinhora! E foi tão grande o calô ansin?
Grande? Óia, grande é poco, viu? O homi tinha uma verdadera perna de tres sacudinu entre as perna. Uma coidilôco!
E ocê ficô quantu tempo lá oiando?
Bão. Eu fiquei ali parada, abestaiada, oiandu aquela belezura, até que ele mi viu.
Ele ti viu?
Viu.
E o qui qui ele fez?
Ele? Bão, eu pensei qui ele ia se ajeitar correnu, disfarçá, né? Mas sabe o qui qui o dizinfiliz fez?
Não. O que?
Ele virô a Eulália assim mei di lado, prumode dela não mi visse, e ficô ali entranu e sainu di dentro dela, bem divagarim.
Qui safado! Ele quiria qui ocê visse tudim.
E eu num sei. Purisso eu fiquei ali, espianu aquela cena. Cada vez qui ele entrava nela, ele me oiava, sorria, depois murdia e ficavo passanu aquela língua grossa nus beiço.
Vixe! E a Eulália?
Eulália? Óia o qui aquela muié gozô ali, eu gozei dez vez mai, quandu ele mi amuntô, sabia?
Num me diga?
E óia, ele foi o mió amante qui eu tive em toda a minha vida. O homi era bão dimais da conta, visse? Foi o único amante, qui me dexô uma pontin di saudade.
Indabem. O meu... foi um sabugo di mio.... rê,rê,rê, rê.

Vovó! Hora de ir comer sua papinha! Vamos alimentar essa barriguinha, senão a senhora vai ficar com fominha de madrugada, viu? Espera aí que eu já volto, tá?


Num falei qui essa disinchavida ia vim.
Liga não. É tua neta. Só qué fazê carim nocê.
Mai pricisa ficá falanu cumigo ansim, como si fosse uma retardada?
Si ela subesse di Nêgo Manéu...Já pensô? Rê,rê, rê.
Ri,ri,ri...Ela tinha era qui arrumá um igual a ele, pruque aquele marido dela, pra mim, num fedi e nem chera, sabia?
Ocê é di morte, visse?
Eu sô é verdadera.

Vamos, vamos entrar que vai anoitecer, e não quero que minhas belezinhas fiquem no sereno.

Tá si rindo, é? Num ti falei. É uma retardada mezzz... quá,quá,quá,quá!

Meus amores! Estão muito contentinhas hoje. Posso saber o motivo de tanto riso?

Quá,quá,quá,quá,quás!
Rê,rê,rê,rê!




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Autor: Eduardo Silveira


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