Resenha do texto "O que é avaliar? A avaliação entre cotidianidade e ritualismo



Barlow, Michel. O que é avaliar? A avaliação entre cotidianidade e ritualismo. In: Avaliação Escolar: Mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Silvia Janaina Silveira Gomes

O texto O que é avaliar? A avaliação entre a cotidianidade e o ritualismo, capítulo do livro Avaliação escolar: mitos e realidades, de Michel Barlow, aborda a temática avaliação sob outra perspectiva, estabelecendo relação com o cotidiano humano e, portanto, estando sujeita ? assim como qualquer outra prática social ? à influência dos mitos e dos ritos que se fazem presentes tanto na vida dos homens e mulheres quanto no âmbito escolar.
O capítulo está dividido em quatro partes que tratam da avaliação desde os conceitos que esta pode assumir até suas características e usualidade dentro das sociedades.
Na primeira parte do texto, Michel Barlow procura explicitar a gama de conceitos que o verbo avaliar conota, de modo que se torna fácil compreender que esse verbo assume determinada definição de acordo com a sua utilização e/ou finalidade; logo, avaliar acaba por tornar-se uma ação geral que, invariavelmente, remete a um julgamento sobre algo ou alguém.
Estabelecendo relação entre termos como avaliar, educar, ensinar e valor, o autor aproxima-se do conceito que a avaliação assume no contexto escolar: forma de mensurar o conhecimento adquirido pelo aluno. Tal observação aproxima-se do conceito de autoridade, no que respeita à ação docente no ensino: imprimir nos alunos o conhecimento que possui.
O autor demonstra que a avaliação escolar também se fundamenta na ideia do julgamento sobre os conhecimentos que o aluno foi capaz de construir no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, tendo em vista que a avaliação escolar serve para muito mais do que emitir um julgamento a respeito do conhecimento que o aluno adquiriu, mas para atuar como um diagnóstico do processo ensino-aprendizagem, o autor aproxima a avaliação do conceito de feedback.
Desse modo, depreende-se que avaliar não se constitui um ato isolado dentro da prática educativa e depende de toda uma atividade de comunicação para que a resposta dada seja positiva, isto é, a interação entre professor e aluno determina o resultado da avaliação. Logo, a prática avaliativa passa a comportar a função de melhoria da ação educativa, uma vez que aprecia o retorno, a resposta do aluno à atividade docente desenvolvida no ambiente escolar.
Nesta perspectiva, Michel Barlow torna explícita a relevância de se compreender a avaliação como um feedback haja vista a concretização de aprendizagens significativas e, neste contexto, a atuação docente, no que respeita à avaliação fundada numa prática reflexiva e dialógica, como instrumento de melhoria do desempenho escolar do aluno.
O autor não foge à ideia de que a avaliação consiste num julgamento ? de algo ou alguém ? tendo em vista critérios pré-estabelecidos. No entanto, sua preocupação parece residir nos critérios utilizados para se efetivar a avaliação, isto é, na intencionalidade, funcionalidade e até mesmo legitimidade desses critérios. Fica claro que o que interessa é a base que fundamenta o estabelecimento de critérios que sirvam de parâmetros norteadores para o desenvolvimento da prática da avaliação. Preocupar-se com essa questão parece tornar a avaliação uma ação justa posto que esta deve se basear em propósitos que visem à melhoria da aprendizagem.
Contudo, não se deve entender o texto de Michel Barlow como mais uma discussão sobre a avaliação, pois, o autor discute a prática avaliativa para além da escola. Ele situa a ação de avaliar no cotidiano de homens e mulheres inseridos no mundo antigo e moderno. A avaliação torna-se, assim, um instrumento clássico de julgamento, de atribuição de valores, cuja construção histórica determinou suas finalidades, tornando-a muito mais quantitativa (como se o conhecimento construído fosse tão somente mensurável numa lógica matemática e cartesiana) do que qualitativa.
Desse modo, mais do que pertencer à prática educativa, a avaliação pertence ao cotidiano da humanidade, nas mais diversas atividades e para todas elas encerra em seu âmago o julgamento do real a partir do ideal, ou seja, daquilo que é (ou está sendo) a partir do que deveria ser. Isso demonstra que avaliar é uma prática social, presente nas relações humanas e inerente à essência da humanidade.
Barlow ainda coloca, em seu texto, o lugar dos ritos e dos mitos no tocante à avaliação e a forma como é concebida. Neste momento pode-se perceber o quanto as crenças permeiam a vida humana, adentrando todas as suas instâncias, perpassando os limites da escola, gerando verdades que pertencem ao senso comum e que são capazes de gerar diversos modos de enxergar a prática educativa, como também a avaliação de uma forma distorcida.
Quantos mitos e ritos são geradores de hábitos e crenças que acabam por se perpetuar nas sociedades; tornam-se verdades porque explicam muito daquilo que talvez não tenha sido suficientemente explorado a ponto de não mais dar margem à explicações superficiais. O mesmo ocorre na escola que carrega consigo ritos e mitos que acabam por limitar a própria prática educativa. No âmbito escolar tais fenômenos apresentam-se distorcendo a realidade. O (a) aluno (a) preferido (a) do (a) professor (a), o (a) aluno (a) mais e o menos inteligente da sala, a série/ano escolar mais difícil que existe, o (a) professor (a) que é tão difícil de lidar e não se faz compreender... Mitos que se perpetuam e se reproduzem dentro dos muros escolares. Da mesma forma que o ritual de início do ano letivo e sua duração de geralmente nove meses ? fazendo menção à gestação ? se constituem como ritos celebrados e eternizados no espaço escolar.
A avaliação também está exposta aos ritos e mitos que permeiam a escola. A ação de avaliar carece, então de ser desmistificada e faz-se necessário que ela seja entendida como uma prática que visa ao melhoramento da prática educativa. Sua função dentro da escola deve ser reforçar a aprendizagem e que esta ocorra de modo significativo.
O texto de Michel Barlow se revela como diálogo entre autor e leitor e, de forma clara e objetiva, consegue abordar a temática acerca da avaliação sobre um outro prisma, colocando-a no universo humano enquanto prática social e não somente no espaço escolar. É, pois, um texto que interessa a estudantes de graduação e pós-graduação da área de Ciência Humanas, profissionais de educação que pretendem compreender melhor no que consiste a ação de avaliar, tendo em vista melhorar o desempenho de sua prática e o processo de aprendizagem de seus alunos, como também aos estudiosos da avaliação e todas as pessoas que se interessem por entender essa fascinante ação que se faz tão importante e necessária para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.



Autor: Silvia Janaina Silveira Gomes


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