Você pode gostar, mas seu filho não!?




Edson Silva

O título do artigo é alusão à uma música do Chico Buarque supostamente composta para um presidente do Brasil durante a Ditadura Militar. Nela Chico faria referência ao fato da filha do mandatário desafiar o pai (general) e gostar de suas músicas. O compositor teria tascado: ?... você não gosta de mim, mas sua filha gosta..." Aproveito a repercussão na mídia sobre o campeonato da Escola de Samba Beija-Flor com o enredo em homenagem ao cantor e compositor Roberto Carlos para citar passagem vivida em uma emissora de rádio que trabalhei no inicio da carreira jornalística.

Éramos universitários, lutávamos por eleições Diretas Já e não nos conformávamos com programação quase que exclusivamente estrangeira nas emissoras, principalmente nas FM. Para minha satisfação, comecei trabalhar em rádio AM dedicada quase que exclusivamente aos noticiários, depois fui compor equipe de jornalismo de uma FM, que tinha a Música Popular Brasileira (MPB) na totalidade da programação.

Passou algum tempo, e por razões comerciais, a emissora trocou nome, passou integrar rede acredito que nacional, manteve jornalismo, mas a programação musical se internacionalizou em 100% para meu desespero e de outros universitários da equipe. Os apresentadores (anunciadores de músicas) passaram ser chamados de DJs (e gostavam disso) Aliás, vários usavam pseudônimos estrangeiros, alusivos aos nomes de astros da música pop dos Estados Unidos e da Europa.

Não sou xenófobo. Havia grupos e cantores internacionais bons. Michael Jackson, Madonna, Duran Duran, A-Ha, The Police, Cyndi Lauper, Tears For Fears, Whitney Houston, Phil Collins, Culture Club, George Michael, Simply Red, Tina Turner, Lionel Richie, Peter Gabriel etc. O que não me conformava era não ter espaço para talentosos artistas brasileiros. Mesmo assim, cavei espaço para duas horas de MPB de qualidade, que depois (para minha decepção) começou ser mesclada com novas tendências da época, novamente sob alegação de questões comerciais.

O que tudo isso tem a ver com Roberto Carlos? O filho do dono da rádio proibia tocar qualquer música do chamado rei da música brasileira, pois não gostava dele. Certa vez (e deu confusão) emplaquei a "Maria, Carnaval e Cinzas" porque o compositor da música Luiz Carlos Paraná tinha falecido. Outra vez, em dia de fracassada greve geral brasileira, fiz a programação toda de protesto, com direito a Geraldo Vandré e iniciando o programa com "O Dia em que a terra parou", do Raul. Mas esta é outra história....

Edson Silva, 49 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

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Autor: Edson Terto Da Silva


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