Neurose Obsessivo-compulsiva



NEUROSE OBSESSIVO-COMPULSIVA
Dr.Wagner Paulon
2008

O termo "sintomas obsessivas" significa experiências de compulsão subjetiva decorrente de algum pensamento involuntário, sentimento ou idéia, associados com uma resistência interna e consciente aos mesmos.
Uma preocupação contínua e mesmo intensa com uma idéia em indivíduos normais, é, muitas vezes, chamada genericamente de obsessão.

As obsessões são pensamentos recorrentes que interferem com a consciência, sem que o indivíduo seja capaz de fazer nada a respeito. As compulsões são atos repetitivos que devem ser executados, não importando o quão irracionais e inúteis possam parecer. O paciente sente-se extremamente desconfortável com os seus sintomas (geralmente os 2 tipos), tenta sem sucesso resistir-lhes e apresenta ansiedade se for impedido de realizar seus rituais. Como no paciente fóbico, o obsessivo-compulsivo necessita de seus sintomas como um escudo contra a ansiedade. Ao contrário do paciente fóbico, entretanto, ele não pode objetivar seus receios e, portanto, evitar o objeto ou a situação, mas deve enfrentá-los no seu próprio estilo característico o qual se assemelha ao pensamento mágico (esperando que as coisas aconteçam pelo seu desejo e não através de uma atitude ativa ou outros meios lógicos). Torna-se inútil apontar-lhe a irracionalidade de suas obsessões ou compulsões, pois ele o sabe e sofre por isto.

Exemplos: o paciente que receia ter atropelado alguém com seu carro, sem estar certo disto e refaz seu caminho para verificar se há alguém caído na estrada; o paciente que tem uma inexplicável necessidade de matar alguém a quem ama; mas este receio de matar persiste mesmo que a pessoa envolvida esteja fora do país. Do mesmo modo, o medo obsessivo da sífilis não poderá ser desarmado evitando-se o coito ou através de contínuos e repetidos testes sorológicos negativos.

A despeito das tentações e medos obsessivos quase nunca se realizarem, eles freqüentemente levam a execução de certos atos inocentes que parecem servir como contra-medidas. Estes atos (freqüentemente denominados de rituais) geralmente consistem de uma repetição cerimoniosa de atividades diárias comuns, como por ex. - rotinas especiais no lavar-se, vestir e arrumar o quarto. O significado do ato pode parecer claro para o paciente, por ex. - mantendo as mãos escondidas nas mangas do paletó, como um mandarim, como se prevenindo para não agredir a alguém ou então o ato de lavar continuamente as mãos para prevenir contaminação por germes. Às vezes, entretanto, não é claro o que a ação significa, por ex. - o contar ou pisar sobre fendas de modo compulsivo. Quer o ato tenha algum significado ou não, ele procede de uma necessidade interior e a resistência a este ato provocará ansiedade.

Os sintomas obsessivo-compulsivos assumem inúmeras formas. O aspecto mais característico é a vacilação e dúvida que ocorrem como conseqüência de uma contínua luta interna contra o sintoma. A convicção periodicamente renovada de que um sintoma absurdo deve ser enfrentado, sempre provoca uma atitude de dúvida e apreensão pelas possíveis e desconhecidas conseqüências.

Normalmente, a dúvida faz parte do pensamento crítico; na sua forma obsessiva, ela derrota a finalidade do pensamento. Conclusões racionais e decisões lógicas tornam-se impossíveis e os infindáveis ciclos de resoluções frustradas tornam a vida mental do indivíduo um disco quebrado que nunca termina. A área confusa entre a dúvida como cepticismo e a dúvida como ruminação compulsiva, separa o mundo mental do obsessivo daquele da experiência cognitiva normal.

Psicodinamicamente pode-se notar que os mecanismos de defesa característicos do obsessivo-compulsivo são constituídos pelo isolamento e a formação reativa.

O isolamento é um fator primordial na patologia obsessivo-compulsiva. Caracteristicamente, o obsessivo-compulsivo se recorda de inúmeros fatos, inclusive os que apresentam carga emocional evidente, mas ele não reage com afeto a estes eventos. Ao contrário do indivíduo ansioso, que parece estar super carregado de afeto por razões que ele não compreende, o obsessivo-compulsivo conhece os fatos, mas não sente a ansiedade, raiva ou depressão que deveriam estar associados aos eventos psíquicos pertinentes de sua vida pregressa. Seu padrão característico é o de se manter alheio das situações emocionalmente carregadas, de permanecer à distância de pessoas que possam pressioná-lo através de seus sentimentos, ignorando ou não participando das necessidades emocionais dos outros.
A formação reativa, em segundo lugar. O paciente obsessivo-compulsivo está constantemente preocupado em balancear duas proposições opostas. Se um dia é bom, o outro será mau necessariamente; se o progresso é alcançado em uma determinada área, o desastre irá ocorrer em outra. Justificativas complicadas são freqüentemente elaboradas na tentativa de tornar aceitáveis estas crenças supersticiosas. O paciente obsessivo-compulsivo não é na realidade um supersticioso, mas ele se comporta como se o fosse, contra os seus desejos e o seu melhor julgamento.


Autor: WAGNER PAULON


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