Santos Dumont: 100 Anos Do 14-bis



Félix Maier

Foto clássica de Santos Dumont
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Santos_Dumont)

Pai da Aviação e Patrono da Aeronáutica, Santos Dumont recebeu o posto honorífico de marechal-do-ar, atribuído pela Lei 6.636, de 22 de setembro de 1959. No dia 26 de julho de 2006, “Alberto Santos Dumont recebeu a maior honraria cívica da pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade, na Praça dos Três Poderes, Brasília. (...) Alberto Santos Dumont é o nono Herói da Pátria a ser inscrito no Livro de Aço, ombreando com Joaquim José da Silva Xavier, o proto-mártir, Zumbi dos Palmares, Dom Pedro I, marechal Deodoro da Fonseca, Plácido de Castro, almirante Tamandaré, almirante Barroso e o Duque de Caxias” (in Jornal da Comunidade, 9 a 15 de setembro de 2006, pg. B4).

No dia 22 de outubro de 2006, nas comemorações do centenário do vôo do 14-Bis, por volta das 16:45 horas, uma réplica do invento de Alberto Santos Dumont decolou no gramado central da Esplanada dos Ministérios, na Capital brasileira (http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/8-mais/comemora.htm). A data foi antecipada em um dia, para um domingo, de modo que uma grande concentração de pessoas pudesse comemorar o feito histórico de Santos Dumont. No entanto, devido ao mau tempo, apenas umas três mil pessoas compareceram.


Réplica do 14-Bis que “desfilou” em Brasília – 7/9/2006
(http://pt.wikipedia.org/wiki/14_Bis)

O 14-Bis que “desfilou” na Esplanada dos Ministérios na parada de 7 de setembro de 2006 e voou no dia 22 de outubro foi construído pelo empresário Alan Calassa, de Caldas Novas, GO, que há quatro anos se dedica à construção de uma réplica da aeronave pioneira. Com custo superior a R$ 1,5 milhão (parte financiada pela Embraer), Calassa construiu várias réplicas do 14-Bis. Cada aparelho pesa 200 kg, é feito de bambu e seda, as rodas são de bicicleta, aro 26, o comando é manual, com peças de máquinas de costura. A “cabine” do piloto é um cesto de bambu, com 0,93 m de profundidade e 0,75 m² de piso. Inicialmente, o aparelho tinha um motor de 25 HP, porém foi substituído por outro de 50 HP, para ganhar mais potência. Aline Hallem de Paula Calassa, de 23 anos, filha de Alan Calassa, era a principal candidata para dirigir o aparelho em Brasília. Aline tem 1,65 m de altura e pesa 54 quilos, dimensões diminutas que facilitam o vôo. Porém, quem realizou o vôo na Esplanada foi Alan Calassa. Santos Dumont tinha 1,52 m de altura e pesava entre 49 e 52 kg e, embora usasse sapatos com plataforma, era conhecido entre os parisienses como “petit Santos” (pronuncia-se “petí Santôs”), o “pequenino Santos”.

No dia 10 de novembro de 2006, uma réplica do 14-Bis voou no Campo de Bagatelle, em Paris, palco do vôo histórico de Santos Dumont. “No mesmo lugar, em 12 de novembro de 1906, Santos Dumont e seu 14-Bis fizeram o primeiro vôo homologado pela Federação Internacional da Aeronáutica. Esse vôo é tido como mais importante que o anterior (23 de outubro), por ter ultrapassado 100 m de distância” (Correio Braziliense, 17/9/2006, pg. 34). A réplica de Calassa não voou na mesma data em que Santos Dumont realizou o vôo histórico porque o governo francês organizou outro evento para o dia 12 de novembro, segundo informação da Comissão Interministerial para as Comemorações do Centenário do Vôo do 14-Bis.


O gato “Júlio”

Alberto Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873, em Cabangu, hoje Santos Dumont, MG, filho de Henrique Dumont e Francisca de Paula Santos. Seu pai era descendente de franceses da Normadia e sua mãe de portugueses de Trás-os-Montes. Tinha dois irmãos, Henrique e Luiz, e cinco irmãs, Maria Rosalina, Virgínia, Gabriela, Sofia e Francisca.

Henrique Dumont era engenheiro, formado na França, e elaborou o projeto de esgotos e canalização de água em Ouro Preto, MG, e construiu uma via férrea entre Arraial João Gomes e João Aires, da Estrada Dom Pedro II. Depois de viver em Inhaúma, no Rio de Janeiro, e em Ribeirão Preto, compra em Minas a Fazenda Dumont, onde nasceria Alberto.

Na infância, Santos Dumont dividia seu tempo lendo livros de ficção científica de Júlio Verne, ao mesmo tempo em que desmontava máquinas de beneficiamento de café e as reconstruía. “Com o Capitão Nemo e seus convidados explore as profundidades do oceano, nesse precursor do submarino, o ‘Nautilus’. Com Fileas Fogg fiz em oitenta dias a volta do mundo”, afirmou Santos Dumont (JORGE: 2003, 7). “Além dessas obras, um outro livro de Júlio Verne iria impressioná-lo muito: Robur, o conquistador. Neste romance o ficcionista criou uma aeronave ‘mais pesada do que o ar’, o aparelho Albatroz, feito com ‘uma superfície tão dura que mesmo a faca-punhal de Phil Evans não podia risca-la’, e cujas vigorosas hélices, redemoinhando, o sustentavam nas nuvens, perto do ‘rutilante império das estrelas’ (...) Aliás, o próprio Robur, alter ego de Júlio Verne, declara de modo solene e convictamente: ‘O progresso não está nos globos aerostáticos, cidadãos globistas. Está nos aparelhos voadores. O pássaro voa e não é globo. É máquina!” (JORGE: 2003, 7).

“Ao observar que as peneiras das máquinas não eram rotatórias, seu primeiro invento foi bolar uma engrenagem que se movimentava movida pelo vento e assim construiu seu primeiro dínamo aéreo. Fascinado com o movimento, fazia ainda pequenas rodas d’água, balões coloridos para festas juninas, pipas com papel de seda e aviõezinhos de palha, que impulsionava com estilingue” (in Gazeta Mercantil, 22 e 23/09/2001, pg. 1). Nos folguedos que hoje chamamos de “pegadinhas”, junto aos irmãos e amigos, Santos Dumont era o único a admitir que “o homem voa”, sendo, por isso, motivo de troça.

Aos que acreditam em mediunidade: quando Santos Dumont tinha três anos de idade (30/7/1876), o médium Ernesto de Castro recebeu a seguinte mensagem profética do espírito de Étienne Montgolfier, publicada no jornal O Reformador, do Rio de Janeiro, na data de 1º de agosto de 1883: “Vencer o espaço com a velocidade de uma bala de artilharia, em um motor que sirva para conduzir o homem, eis o grande problema que será resolvido dentro de pouco tempo. Essa máquina poderosa de condução não será uma utopia. O missionário que traz esse aperfeiçoamento à Terra já se encontra entre vós” (JORGE: 2003, 4).

Santos Dumont conhecia as façanhas de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o “padre maluco”, a bordo do aeróstato Passarola. Conhecia também os feitos de Montgolfier: “Em 1783, o primeiro Montgolfier tinha alçado o seu vôo; onde o primeiro aeronauta fez a sua primeira ascensão; onde tinha sido lançado o primeiro balão de hidrogênio; onde uma aeronave havia, pela primeira vez, navegado no ar, com a sua máquina a vapor, o seu propulsor, a sua hélice e o seu leme” (JORGE: 2003, 13).

Alguns pioneiros da conquista do espaço chamavam a atenção de Santos Dumont: “os dois irmãos Montgolfier, inventores dos aeróstatos denominados Montgolfières; o mecânico Henry Giffard, que concebeu um injetor de vapor e um novo tipo de dirigível; o físico Jacques-Alexandre-César Charles, que substituiu pelo hidrogênio o ar quente dos balões; e Jean-François Pilatre de Rozier, fundador do Museu de Paris, intendente do gabinete de física do irmão do rei Luís XVI, e que no dia 21 de novembro de 1783, na companhia do marquês de Arlandes, realizou a primeira viagem em balão, do castelo de Muette a Mutteaux-Cailles” (JORGE: 2003, 15). Em 1883, Gaston Tissandier e seu irmão Albert, “construíram um balão dirigível equipado com motor elétrico, e neste balão conseguiram voar contra uma corrente de vento” (JORGE: 2003, 17).

“Em 1880, Santos Dumont fez sua primeira tentativa aeronáutica: pediu a seu amigo Giuseppe que o ajudasse na experiência. Fez uma pipa de tamanho maior que o costume e pediu a ele que subisse no alpendre de sua casa com a pipa e o seu gato Júlio, e do chão ficou com a linha para puxar a pipa com o ‘aeronauta’ Júlio, homenagem ao escritor Júlio Verne. O gato Júlio com suas unhas rasgou a ‘aeronave’ em forma de pipa e caiu no chão, fugindo para o mato. Dessa risível experiência, Santos Dumont passou a admirar os balões juninos e a reler, intensivamente, a ficção científica de Júlio Verne e a exercitar sua imensa capacidade com engenhos mecânicos” (Jornal da Comunidade, 9 a 15 de setembro de 2006, pg. B4).


O “rei do café”

O pai de Santos Dumont tornara-se o “rei do café”. Sua propriedade era uma das maiores daquele tempo, com área igual a 314 milhões de metros quadrados. “Aos 11 anos de idade já dirigia as locomotivas Baldwin que seu pai encomendara na Europa. A fazenda chegou a ter 5 milhões de pés de café e 96 quilômetros de ferrovia interna servida por sete locomotivas” (Gazeta Mercantil, pg. 1). Aos 12 anos, Santos Dumont pilotou uma locomotiva, da fazenda do pai até Ribeirão Preto. Teve contato com o balonismo quando viajou com o pai até São Paulo. Em 1891, quando Santos Dumont tinha 18 anos, seu pai Henrique sofreu sério acidente com uma charrete, batendo a cabeça em uma pedra, provocando uma hemiplagia em todo o lado esquerdo do corpo. Henrique Dumont, que era o maior exportador brasileiro de café, resolve vender a Fazenda Dumont e ir a Paris para buscar tratamento médico. A fazenda foi vendida por 6 milhões de dólares.

No dia 6 de abril de 1891, Santos Dumont embarca no navio Elbe junto com os pais e suas irmãs Francisca e Sofia, com destino a Lisboa, onde moravam suas irmãs casadas com os irmãos Villares. De Lisboa viajam de trem a Paris.

Em Paris, Santos Dumont assistiu as comemorações do primeiro centenário da Revolução Francesa, em 1889, quando foi realizada a Exposição Universal de Paris, com a apresentação do conhecimento tecnológico da humanidade até aquela época. Para o evento, foi construída a Torre Eiffel. Santos Dumont, que só conhecia a propulsão a vapor das locomotivas de seu pai na Fazenda Dumont, passou então a conhecer os motores elétricos e a combustão de petróleo.

Conhecendo os pendores naturais do filho, Henrique orienta Santos Dumont a não cursar estudos universitários formais, mas a se dedicar ao estudo da física, química, eletricidade e mecânica. Para isso, deu-lhe parte da herança que lhe cabia na venda da Fazenda Dumont.

Não obtendo melhora na saúde, Henrique decide voltar ao Brasil, chegando a Santos em 25 de novembro de 1891. No desembarque, chamou a atenção o automóvel Peugeot que Santos Dumont trouxe de Paris, o primeiro a chegar ao Brasil.


Automóvel Peugeot, de Santos Dumont, o primeiro a rodar no Brasil
http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/13-estilo/1-garboso.htm

Para que Santos Dumont tomasse posse de sua herança e pudesse voltar a Paris para completar os estudos, seu pai o emancipou no dia 12 de fevereiro de 1892.


“Por ares nunca de antes navegados”


Dirigível Nº 6 contornando a Torre Eiffel
(http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/3-dirig/05e6/5-deutsch.html)

Em Paris, Santos Dumont recebeu aulas do professor espanhol Garcia, que lecionava ciências. Ele aconselhou Santos Dumont a estudar na Universidade de Bristol, Inglaterra, que tinha o melhor curso de construções mecânicas, aeronáuticas e navais. Depois de freqüentar como ouvinte as aulas em Bristol, Santos Dumont retorna a Paris, onde mantém contato com Hilaire Lachambre e Aléxis Machuron, sócios de uma empresa de balões, que passam a fabricar balões desenhados por Santos Dumont. Essa firma havia construído o enorme balão Águia para a expedição do engenheiro sueco, Salomon August Andrée, ao Pólo Norte, em 1897, que acabou de modo trágico, ocasião em que morreram, além de Andrée, seus companheiros Kurt Fraenkeol e Nils Strindberg. Não morreram de frio, nem de fome, mas foram vítimas das triquinas, vermes intestinais provenientes da carne crua de urso que haviam consumido.

Um dos primeiros projetos de Santos Dumont, um balão construído com seda chinesa pela Lachambre e Machuron, recebeu o nome de “Brasil” e voou por diversas vezes nos céus de Paris com a bandeira brasileira. Santos Dumont, em seu livro Dans l’air, equivocou-se quando afirmou que o Nº 1 havia sido sua primeira aeronave. “Ele se esqueceu do Brasil, construído no mesmo ano, e de um outro, anterior, ao qual não forneceu nome” (JORGE: 2003, 46, nota de rodapé).

Em muitas de suas viagens aéreas com balões, Santos Dumont viu a morte de perto. Em uma dessas ascensões, ele viajou a noite inteira, debaixo de chuva, relâmpagos e trovões, aterrissando de manhã na Bélgica, numa fazenda de criação de carneiros. “De 1898 a 1909, planejou, construiu e experimentou mais de vinte inventos, relativos a balões livres, balões dirigíveis, monoplanos e biplanos” (Mirador, pg. 10201).


Caricatura de Santos Dumont, feita por seu amigo "Sem", para o Jornal "Le Cri de Paris", 11 de Agosto de 1901
(http://www.cabangu.com.br/pai_da_aviacao/1-cronol/acervo_familia/cd02.htm)

Santos Dumont alugou uma casa na esquina da rua Washington com a avenida Campos Elíseos. O inventor, vivia literalmente “nas nuvens”: “Na sala de refeições instalou uma cadeira e uma mesinha, que ficavam penduradas no teto com o auxílio de arames, a uma distância de um metro e oitenta centímetros do soalho. Para se sentar na cadeira, equilibrava-se em pernas de pau, e uma vez ali aboletado, ordenava que lhe servissem o almoço ou o jantar. O criado, esticando os braços, erguia a bandeja até aquelas culminâncias. Mas depois de certo tempo o reboco do teto começou a ceder, a fragmentar-se, e Alberto mudou o processo, desistiu dos arames e mandou fabricar uma mesa e diversas cadeiras bem singulares, pois estes móveis eram dotados de pernas com quase três metros de altura! E por que ele procedia desta maneira? Apenas para se acostumar aos locais elevados. Um aeronauta deve sempre fugir da terra e alcandorar-se nos píncaros...” (JORGE: 2003, 45).

Tendo sempre em mente a Passarola do “Padre Voador” e o lema permanente que guiava seus estudos, “descer sem sacrificar o gás, subir sem sacrificar o lastro”, Santos Dumont não via a Torre Eiffel como um monumento horroroso, como achavam personalidades como Verlaine, Maupassant, Charles Gounod, Alexandre Dumas Filho. Para Santos Dumont, a Torre Eiffel era “um monumento interessante para contornar”. Seria em volta dessa torre, “babel de ferro”, “quinquilharia soberba”, “fanal de naufrágio e de desespero”, que Santos Dumont iria escrever seu nome na História.

Santos Dumont motorizou seu dirigível “Santos Dumont Nº 1” com motor a combustão de gasolina de 3,5 HP. Como, até então, os balões eram esféricos, os críticos estranharam a nova forma inventada por Santos Dumont: “Esse não é um balão, mas um charuto!” E alertaram para um grave acidente que podia ocorrer se alguma fagulha do motor atingisse o balão cheio de hidrogênio, altamente inflamável. Santos Dumont explicou que isso não iria ocorrer, porque havia direcionado para baixo o escapamento do motor e, em testes no chão, havia observado que nenhuma fagulha havia atingido o balão. Numa experiência, o “Nº 1” foi arrastado e chocou-se contra as árvores, dobrando-se ao meio. “Era a primeira vez que se aplicava motor a um balão, coisa até então inimaginável. Dois acidentes marcaram a experiência com o “Nº 1”, mas, graças a ele, ficou cabalmente demonstrada a dirigibilidade dos balões” (Mirador, pg. 10201). Na verdade, já haviam sido realizadas experiências com balões motorizados, porém com motor elétrico e a vapor, muito pesados e impraticáveis. Nos dirigíveis 2 e 3, Santos Dumont teve acidentes quase fatais. No “Nº 3”, foi aplicado pela primeira vez o gás de iluminação, ao invés de hidrogênio, mais caro.

Anteriormente, Tissander havia tentado usar um motor elétrico para impelir um balão, e Giffard, uma máquina a vapor. Ambos fracassaram.

Na época em que fez várias subidas com o Nº 3, Santos Dumont construiu um grande hangar em Saint Cloud, em área pertencente ao Aero Clube da França. O hangar, com portas corrediças em cima de carretilhas – outra inovação do inventor – possuía 7 metros de largura, 11 de altura e 30 de comprimento.

“Em uma reunião no Aeroclube de Paris, o empresário petrolífero e filantropo Henri Deutsch de La Meurthe, defensor de artistas e músicos (ele próprio compositor da ópera Icare), estabeleceu um prêmio de 100 mil francos ao primeiro aeronauta que conseguisse partir do Parque de Saint-Cloud, contornasse a Torre Eiffel e retornasse a Saint-Cloud” (Jornal da Comunidade, pg. B5).

No balão “Nº 4”, Santos Dumont sentava-se numa sela de bicicleta, de onde controlava o motor, o leme de direção e as torneiras do lastro. “E pela primeira vez na história da aeronáutica usou o lastro líquido, guardados em dois reservatórios de cobre, os quais tinham a capacidade de armazenar cinqüenta e quatro litros” (JORGE: 2003, 62). Santos Dumont subiu com grande sucesso em 1º de agosto de 1900, durante a Grande Exposição e o Congresso Internacional Aeronáutico. O inventor brasileiro não conseguiu vencer o concurso La Meurthe com os dirigíveis “Nº 4” e “Nº 5”. A bordo do “Nº 5”, Santos Dumont teve outro acidente, quando se chocou contra as castanheiras do parque de Edmund Rothschild. Resgatado do alto de uma árvore, recebeu um lanche da Princesa Isabel, filha de D. Pedro II e esposa do Conde d’Eu. Alguns dias depois, o inventor recebeu uma medalha de ouro, de São Bento, com uma carta:

“1º de agosto de 1901.
Senhor Santos Dumont:
Envio-lhe uma medalha de São Bento, que protege contra acidentes.
Aceite-a e use-a na corrente do seu relógio, na sua carteira ou no seu pescoço.
Ofereço-a pensando na sua bondosa mãe, pedindo a Deus que o socorra sempre e lhe ajude a trabalhar para a glória da nossa pátria.
Isabel, Condessa d’Eu” (JORGE: 2003, 67).

A partir de então, Santos Dumont nunca mais se separou da medalha, “trazendo-a sempre no pulso, presa a uma correntinha de ouro” (JORGE: 2003, 67).

O deputado federal Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, admirador dos trabalhos de Santos Dumont, mandou fabricar um balão na firma de Lachambre e Machuron. Tinha o nome de “Bartolomeu de Gusmão” e ficava num hangar de Realengo, subúrbio do Rio. “A aeronave, em várias ascensões, demonstrou o equilíbrio perfeito do sistema e a horizontalidade exata do seu eixo de tração” (JORGE: 2003, 70). Em sessão na Câmara, no dia 17 de julho de 1901, Severo pediu para inserir na ata dos trabalhos um voto de louvor a Santos Dumont, “felicitando-o pelo resultado obtido na experiência feita com o seu balão dirigível na tarde do dia 13 do corrente (julho de 1901), em Paris” (JORGE: 2003, 71). Severo afirmou que “pela segunda vez, um aeróstato, de forma comprida, de barca também comprida, suspensa, dotada de hélice e leme, ‘com motor elétrico ou a petróleo, sobe, governa-se e volta ao ponto de partida, fazendo itinerário previamente determinado, ambos sobre a cidade de Paris’. O primeiro, em 1884, era o La France, dos capitães Renard e Krebs, e o outro, em 1901, o Dirigível Nº 5, pertencia a Alberto Santos Dumont” (JORGE: 2003, 72). Severo não sabia que o dirigível de Charles Renard e A. C. Krebs era uma cópia exata de um balão construído pelo aeronauta brasileiro Júlio César Ribeiro de Souza, membro da Société Française de Navégation Aérienne, que havia realizado experiências com os balões Vitória e Santa Maria de Belém. Júlio havia escrito um protesto contra o furto dos capitães franceses, que foi publicado em Belém do Pará, no dia 25 de outubro de 1884, e em Paris, no dia 7 de dezembro do mesmo ano. O vôo dos aeronautas lalaus “partiu de Chalais-Meudon e aí retornou ao cabo de uma viagem de vinte e três minutos, durante a qual eles percorreram sete quilômetros e meio” (JORGE: 2003, 72 – nota de rodapé). Na mesma sessão da Câmara, do dia 17 de julho, Severo leu o projeto do Congresso Nacional, em que o Governo é autorizado a abrir um crédito de 100:000$000 (cem mil contos) ao Ministério da Viação, para doação a Santos Dumont, como prêmio de sua experiência com o “Nº 5”.
Autor: Félix Maier


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