EMBATE SÓCIO-AMBIENTAL: ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA REGIÃO DE ANDALUZIA/ESPANHA E NO LITORAL CEARENSE



1. INTRODUÇÃO

A partir dos anos 1960, o litoral andaluz começou a se destacar como ponto receptor do turismo mundial, devido a vários fatores, como: condições climáticas favoráveis, com verões quentes e invernos brandos, posição geográfica estratégica, investimentos de empresas multinacionais atraídas por subsídios e atuação do governo, por meio da Secretaria de Turismo, além da implantação de programas e ações de marketing com vistas a destacar atributos naturais e culturais. A conjunção desses fatores contribuiu para a consolidação e competitividade do turismo andaluz em relação a outros destinos europeus, fazendo com que, segundo dados da Secretaria de Turismo, Comércio e Desporto da Junta de Andaluzia, em 2007 a atividade turística já representasse mais de 12% do seu PIB.

O litoral possui 836 km de extensão, e foi dividido em: Costa da Luz, que correspondem às províncias de Huelva e Cádiz; Costa do Sol, que banha Málaga, e se estende por Cádiz e Granada e Costa Tropical de Granada. O turismo andaluz possui várias modalidades, de sol e praia, o predominante; turismo cultural, rural, de saúde, de negócios, náutico, de golfe, dentre outras.

O litoral cearense passou por profundas transformações ao longo do processo histórico, passando de um local de uso e ocupação quase essencialmente dos pescadores a um símbolo mundial de turismo de sol e praia (DANTAS, 2006). Para tanto, o processo de urbanização teve papel importante, assim como: a tendência mundial de valorização do litoral como espaço de lazer, a posição estratégica do Ceará, próximo à Europa; a propagação do Ceará como a "Terra do Sol", criada para valorizar e incentivar o turismo, a presença de investidores estrangeiros e a adoção de políticas que favorecessem essa atividade, tendo como exemplo a criação do PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo), na década de 1980, com o objetivo de proporcionar toda a infra-estrutura que viabilizasse os empreendimentos turísticos no litoral.


A "descoberta" do Ceará pelo mercado turístico parece ter ocorrido no final dos anos 1960 e se intensificado na década de 1980, com todos os investimentos locais e entrada de capital estrangeiro. Assim, primeiramente a ocupação começou com a construção de segundas residências e em seguida, com a instalação dos equipamentos turísticos (CORIOLANO, 2001).

2. AS FACES DA MOEDA: ALGUNS IMPACTOS NOS LITORAIS

O uso dos atributos naturais de uma determinada área para gerar o apelo turístico é fato conhecido. Embora o turismo tenha seus impactos positivos, sob os aspectos sociais e econômicos, a exploração intensiva dessas paisagens costeiras acaba por degradá-las, uma vez que devido às particularidades do litoral, nos seus aspectos geoambientais, existe uma significativa vulnerabilidade à degradação, ao desgaste, maculando e destruindo o próprio objeto do turismo. Tal fato ocorre quando a atividade turística é realizada sem um exaustivo planejamento que leve em conta a dinâmica natural ali presente. Sobre os impactos ambientais e sociais decorrentes da expansão turística e ocupação intensa da zona costeira andaluza, as quais se assemelham à nossa realidade, nos afirma Martinez (1994:133):
(...) La creciente presión humana sobre el litoral, relacionada con la "tendência centrifuga de la población española" que ha determinado, aunque no solo por obra del turismo, la transformación, em muy poco tiempo, de los usos tradicionales y el agotamiento de muchos de los recursos. De ahí que el litoral, que ha sido y es siempre un espacio frágil, escaso, y hasta raro, se haya visto restringido y amenazado al máximo, acumulándose las afecciones sobre los recursos hídricos, el paisaje e los valores singulares.


Aqui o autor nos aponta que a tendência de crescimento populacional e a busca incessante por terrenos na costa têm causado transformações bruscas nos modos de uso e ocupação do litoral andaluz. Gomez (1990) afirma também que a Espanha seria um país "barato e exótico", que se beneficiou grandemente da demanda turística, mas na atualidade se ressente de uma infra-estrutura que possa conter a deterioração do meio ambiente e o esgotamento de parte da rede hoteleira que compõe os complexos turísticos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, pode-se concluir que as transformações trazidas pelo turismo no litoral andaluz são similares à realidade cearense no que diz respeito à mudança de usos do litoral; à resistência dos antigos moradores; à presença de capital internacional investindo e apropriando-se de terrenos e de redes hoteleiras; aos impactos ambientais e sociais relacionados ao uso intensivo da zona de praia.


A degradação ambiental que se verifica em ambas as regiões é uma das "faces da moeda" e reflete a tendência mundial de valorização e ocupação dos terrenos litorâneos para residências e para utilização com fins de lazer esporádico. Sabe-se que toda atividade humana gera em menor ou maior grau, algum tipo de impacto, seja ele de ordem positiva ou negativa. Assim ocorre com o turismo, gerador de novos usos e relações no espaço em que se realiza. Porém, acredita-se que seja importante aliar poder público e sociedade civil na gestão da zona costeira, e que haja um cuidadoso planejamento das intervenções, a fim de que todo trato nessas áreas não inviabilize a sua dinâmica natural e cultural, e busque atingir um desenvolvimento mais sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORIOLANO, L.N.M.T. Os limites do desenvolvimento e do turismo. In: Boletim goiano de Geografia. Goiânia, v. 21, n. 2, p. 25-45, 2001.

DANTAS, E.W.C; ARAGÃO, R. F; LIMA, E. L. V; THÉRY, E. Litoral e Sertão: natureza e sociedade no nordeste brasileiro. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2006.

FONTELA, E; GOMÉZ, J.J; MORAND, E. Evaluación econômica de los costes de la degradación ambiental ocasionados por el turismo del litoral y de los benefícios derivados de sú reducción. Disponível em: acesso em 01 out 2009.


Autor: Amanda Benevides


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