Filosofia no Ensino Médio



Filosofia no Ensino Médio: disciplina necessária

Mayra Santos Silva


RESUMO

A filosofia no ensino médio pode ser entendida como importante e necessária, se compreendermos essa disciplina como a forma mais eficaz de se desenvolver o raciocínio crítico dos educandos desse nível de ensino, pois as disciplinas tradicionais que fazem parte do currículo do ensino médio não são capazes e nem possuem a intenção de atingir esse objetivo. O principal objetivo do presente artigo é discutir a importância da inserção da filosofia no currículo do ensino médio e, consequentemente, estabelecer de que forma essa inserção se efetivará.

Palavras-chaves: Filosofia no ensino médio; Pensamento filosófico; Reflexão.


Foram os colonizadores portugueses que, quando chegaram ao Brasil em 1500, implantaram a primeira experiência pedagógica em nossas terras, que tinha sua base na concepção pedagógica da Companhia de Jesus. Essa companhia era dirigida pelos jesuítas que organizaram os seus cursos da seguinte forma: curso elementar, curso de humanidades, curso de artes e curso de teologia.
No curso de artes, também denominado de curso de Filosofia, eram lecionadas disciplinas como: Lógica, Física, Metafísica e Ética, e Aristóteles era o principal autor estudado. O curso de Filosofia tinha como principal objetivo auxiliar o ser humano a dominar a natureza através dos conhecimentos científicos e morais e, por esse motivo, a filosofia era considerada uma disciplina de extrema relevância e, consequentemente, teve sua presença garantida nos colégios e seminários, desde o Período Colonial até a República.
Com a chegada da Primeira República, a educação escolar pública passou a ser de responsabilidade do Estado e não mais dos jesuítas. Com isso, diversas reformas educacionais foram propostas, com a finalidade de incluir disciplinas de caráter cientifico nos currículos escolares. É nesse momento que a filosofia, enquanto disciplina escolar fica ausente do currículo, pois, segundo a orientação positivista (que figurou como a principal influência desse período), a filosofia não era considerada uma matéria doutrinal. Além do mais, para os republicanos, a filosofia era vista com muita desconfiança devido ao caráter ideológico da Igreja Católica. Dessa forma, a filosofia perdeu a sua obrigatoriedade e passou a ser uma disciplina meramente optativa até a chegada do período ditatorial.
Com a ditadura, outras reformas foram implantadas e, com isso, a filosofia foi definitivamente retirada do currículo escolar por se tratar de uma disciplina que está preocupada em formar consciências, que ajudem a refletir sobre as questões que afligem a nossa sociedade, promovendo a discussão de ideias, sistemas e teorias. Como os ideais dos militares eram formar técnicos especializados, para ocuparem cargos nas empresas que foram instaladas no nosso país durante esse período, ou seja, ideais divergentes, logo a filosofia foi repugnada pelos que se encontravam no poder que defenderam sua saída do currículo em nome da Segurança Nacional.
Apesar da oscilação histórica da disciplina de filosofia no ensino do Brasil, a sua presença no ensino médio deve ser entendida como importante e necessária, na medida em que se mostrado a mais eficaz para desenvolver o raciocínio crítico dos educandos, porquanto as disciplinas tradicionais que fazem parte do currículo do ensino médio não são apropriadas à apreensão desse objetivo.
A principal diferença existente entre a filosofia e as outras disciplinas do ensino médio, como a Geografia, por exemplo, está no tratamento filosófico dispensado aos problemas e às questões que nos são apresentadas. A filosofia se concentra nos temas estudados de um modo universal, diferente das outras disciplinas que costumam trabalhar o seu objeto de estudo de uma forma particular.
Portanto, é justo que lutemos pela presença autêntica da Filosofia no currículo do ensino médio, e não apenas como "temas transversais" que são articulados às outras disciplinas, conforme foi proposto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, agora modificados pela Resolução 038/2006, que assegura à filosofia o status de disciplina efetiva.
O estudo da filosofia proporciona aos alunos um primeiro contato com as principais produções teóricas e culturais que foram elaboradas pelos grandes pensadores da humanidade. Além disso, a filosofia concede ao educando os subsídios necessários para que ele possa fazer uma crítica coerente e fundamentada, tanto a essas produções do passado quanto às questões problemáticas da atualidade.
Mas afinal, o que um professor de filosofia deve ensinar aos seus alunos do ensino médio e como ele poderia transmitir tais conteúdos?
A área de conhecimento da filosofia é muito ampla, possuindo diversas abordagens e perspectivas, assim como diferentes métodos para atingir seus objetivos. Como seria impossível trabalhar todos os modelos filosóficos existentes, o mais interessante seria nos determos nos temas que enfocam o momento atual vivido no Brasil e no mundo, a partir dos seguintes conteúdos relevantes e significativos: do mito ao logos, filosofia política, ética, estética, filosofia da ciência, teoria do conhecimento, etc.
Também é relevante o acesso ao pensamento e às teorias dos filósofos, cujo ponto de partida é:

A leitura de textos clássicos da filosofia, a discussão dos temas abordados pelos filósofos, em especial, a forma como trataram tais temas, tendem a "demolir" antigos preconceitos há muito arraigados na consciência, depois de "absorvidos" mecânica e passivamente no ambiente social em que se vive (ALVES, 2002).

A introdução da filosofia no currículo do ensino médio tem como principal objetivo preparar o educando no sentido de habilitá-lo, tanto na teoria quanto na prática, para intervir na sociedade em que vive assumindo suas responsabilidades e exercitando sua cidadania.
No que diz respeito ao ensino e a aprendizagem a filosofia em nada se difere das outras matérias escolares. O mais importante e necessário é que seja transmitido ao aluno o método reflexivo do pensamento filosófico. Devemos, aos poucos, aproximá-los dos textos clássicos, pois, dessa forma, eles terão um maior contato com o pensamento dos filósofos, o que é imprescindível para se compreender a abordagem filosófica significativamente, de modo que,
Nessa trajetória, conhecemos não apenas o que pensaram os filósofos e por que pensaram determinada coisa e não outra, mas, também, como pensaram. Deste modo, entendemos o que é filosofia e aprendemos a filosofar aos poucos, à medida que entramos em contato com as diferentes perspectivas filosóficas existentes, percorrendo os textos dos filósofos, acompanhando o seu raciocínio com rigor e disciplina, ou seja, filosofando.
Assim, metodologias e conteúdos não impendem que o ensino de filosofia se efetive nas escolas do ensino médio, para tal, basta que se preservem os conteúdos mínimos necessários à abordagem filosófica e à construção do pensar crítico.
Finalmente, a filosofia efetiva-se como disciplina necessária ao "aprender a pensar por si mesmo" (UNESCO, 1995), e deve ser assegurada a todos os indivíduos, como pressuposto à construção de espíritos livres e democráticos.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
?ALVES, Dalton José. A filosofia no ensino médio: ambiguidades e contradições na LDB. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2002. p. 122.
?Declaração de Paris para a Filosofia. Paris: UNESCO, 1995.

Autor: Mayra Santos Silva


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