Bem-aventurados os loucos



BEM-AVENTURADOS OS LOUCOS

A loucura é definida pelos especialistas como o estado ou condição de louco; insanidade mental. Ao louco falta o perfeito juízo.

Consoante o título proposto, aos doidos seria possível a bem-aventurança?

Mister se faz iniciar nosso exame pelo episódio do endemoninhado geraseno, para constatarmos que esse homem, mesmo exime de uma identidade, é personagem de uma das mais belas histórias que a humanidade já tomou conhecimento!

Das narrativas apresentadas pelos Evangelhos Sinópticos, a minha dileta é a de Mc.5:1-20, que se inicia em 4:1. O Amor de Deus inunda sobremaneira este episódio, que relata o Senhor Jesus Cristo à beira do mar, transmitindo, como de praxe, seus maravilhosos ensinos a uma grande multidão. Pela perícope somos levados a crer que, enquanto Ele a ensinava, em seu desvelo divinal pensava num doente mental que se encontrava alhures, além-mar. Findos os ensinamentos, Jesus despede-se da grande multidão, deixando-lhe na mente quatro belas parábolas (vv.1-34), e ruma ao encontro de uma única pessoa, alvo do mesmo Amor demonstrado à multidão.

Acaso uma alma vale realmente mais que o mundo inteiro, conforme se depreende de Mt.16:26? Para Jesus Cristo sim, e Ele não perderia aquela alma por nada deste mundo!

Este é o nosso Deus de Amor! Ele se vê cercado de tão grande multidão, alimenta-a com o seu ensino celestial, e parte em busca de um único homem, marcado por recrudescida insanidade...

Hoje, que pregador faria isso? Quem não alegaria cansaço e não voltaria imediatamente para casa, dando por cumprida a missão daquele dia, ainda mais com um considerável trecho de mar para atravessar?

Jesus Cristo, o Mestre Bendito, não. Para Ele, a missão daquele dia estava incompleta. Sob sua Insondável Visão Divina, apenas uma parte do trabalho havia sido feita; faltava-lhe a outra, igualmente importante. E lá vai o Misericordioso Mestre, no mesmo barco em que, sentado, ensinou à multidão: "Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado." (v.35)

Iniciada a viagem, barco singrando de vento em popa, levantou-se "grande tempestade de vento, e as ondas batiam dentro do barco, de modo que já se enchia." (v.37). Ora, Jesus sabia, de antemão, da tempestade preste a desabar. Há um sinal no céu que nos avisa a iminência de um temporal, e Jesus sabia, não só pelo sinal característico, mas sobretudo porque Ele é o Senhor e sabe de todas as coisas (Jo.21:17). E, mesmo sabedor, Ele permaneceu irredutível na sua Inadiável Missão de Amor.

Quem de nós continuaria a viagem? Ou melhor, quem a iniciaria, ao contemplar um céu negrejante e sentir fortes pancadas de vento?

Bem, Jesus Cristo é o Dono do mar; Ele é o Senhor Absoluto! Destarte, Ele o aquieta e, momento depois, aporta com seus discípulos no destino almejado: "Chegaram então ao outro lado do mar, à terra dos gerasenos. E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo." (id.5:1,2). Um homem com uma legião de espíritos imundos (v.9).

Principia, então, a bela História do endemoninhado geraseno. Ocorre o encontro do Amor com a loucura. Da Graça com a desdita. Da Misericórdia com a miséria. Da Luz com as trevas. Do Bendito Salvador com o maldito pecador. Acontece a coisa mais bela que alguém pode descrever: O Inefável Milagre da Salvação Eterna! Certamente muitos observariam no caso apenas a cura física, mas a ênfase está na cura da alma, a Salvação Eterna.

Ficamos pensativos sobre como aquele homem conseguia suportar tamanha desgraça, porque se um único demônio atormenta sobremodo uma pessoa, quanto mais uma legião de demônios!

E quem pode saber com exatidão quantos demônios formam uma legião? Nesse caso, a julgar pela quantidade de porcos receptivos da legião esconjurada, inferimos em nada menos que dois mil demônios (vv.11-13). Mas pode ser muito mais!

De Maria Madalena o Senhor expulsou sete demônios (Mc.16:9; Lc.8:2); do geraseno, uma legião. E, como se não bastasse a desdita da possessão demoníaca, o infeliz morador dos sepulcros era louco (v.15). E, literalmente, doido de pedra (v.5). Tão grave era a sua mazela que ele vivia desnudo (Lc.8:27).

Jesus Cristo foi tachado de louco (Mc.3:21; Jo.10:20), de endemoninhado (Mt.9:34; 12:24; Mc.3:22; Lc.11:15; Jo.7:20; 8:48,52; 10:20). Por conseguinte, nós, seus discípulos, somos igualmente tachados de loucos e de endemoninhados. Foi assim com o Profeta e Precursor João Batista (Mt.11:18; Lc.7:33); com o Apóstolo Paulo (At.26:24; 1Co.4:10); com o jovem Profeta, enviado pelo Profeta Eliseu a Jeú, para ungi-lo rei sobre Israel (2Rs.9:11), e é assim também conosco.

Meu Deus, quantas vezes já fui chamado de louco! Não só chamado, mas reputado como tal. Porém, quão grande bem-aventurança é o crente ser julgado louco!

O Apóstolo Paulo diz que "nós somos LOUCOS por amor de Cristo," (1Co.4:10). E continua: "Visto como na Sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela LOUCURA da pregação os que crêem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e LOUCURA para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, Poder de Deus e Sabedoria de Deus. Porque a LOUCURA de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens. Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas LOUCAS do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes;" (id.1:21-27)

Por que o mundo nos considera loucos?

Ora, é porque pregamos a Palavra da cruz, e ela "é deveras LOUCURA para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o Poder de Deus." (v.18), e porque "o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são LOUCURA; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido." (id.2:14,15)

Por que Jesus foi chamado de desvairado? Dar-se-ia como causa o imensurável desejo de salvar almas perdidas, por seu Inefável Amor? Destarte, seria desvario Ele ir ao encontro do maior endemoninhado de toda a História, para salvá-lo? Seria desvario Ele curvar-se diante de Judas Iscariotes habitáculo do diabo (Jo.13:2,5), no anelo de dar-lhe mais uma oportunidade de Salvação, tendo outrora recusado a proposta do tentador de curvar-se diante dele para uma absurda adoração (Mt.4:9)? Seria desvario Ele orar ao Pai em favor de todos os seus algozes, no momento de seu sofrimento na cruz, dizendo: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem." (Lc.23:34)? Seria desvario Ele se oferecer para morrer em meu lugar; eu, miserável pecador, o principal de todos os pecadores?

Ah, Senhor Jesus, como é difícil compreendermos o teu Infinito e Inefável Amor! Oxalá compreendessem os mortais pecadores ao menos uma centelha desse Amor! Portanto não há, Senhor Jesus, multidão por mais numerosa que seja; não há mudanças bruscas na natureza; não há fúria de mar encapelado; não há hostes demoníacas; não há loucura humana, por mais avançado que seja o seu grau; não há absolutamente nada e ninguém que impeçam o teu Infinito Amor de ser derramado em nossos corações, conforme revela-nos a tua Palavra: "E a esperança não desaponta, porquanto o Amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." (Rm.5:5)

Sim, prezado leitor, aos loucos é possível a bem-aventurança, porque o Sacrifício Salvífico e Vicário do Senhor Jesus Cristo na cruz do Gólgota é para todos: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a Vida Eterna." (Jo.3:16). Deus amou o MUNDO, ou seja, a HUMANIDADE; os loucos inclusive. Ele quer que todos os homens se salvem (1Tm.2:3,4), por isso não deixa ninguém de fora do seu Plano de Salvação, tampouco os doentes, que recebem de Jesus cuidados médicos especiais (Mt.9:12; Mc.2:17; Lc.5:31,32). Na cruz, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades; a loucura inclusive (Is.53:4).

A beleza inexcedível da História do geraseno está em seu epílogo. Primeiro, ocorre sua cura física: "Chegando-se a Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, sentado, vestido, E EM PERFEITO JUÍZO;" (v.15). Segundo, acontece a sua Salvação Eterna, dada por Jesus: "... o quanto o Senhor te fez, e como teve Misericórdia de ti." (v.19). E, finalmente, a Missão que Jesus lhe deu, somente possível aos remidos, salvos eternamente pela Graça de Deus: "Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve Misericórdia de ti. Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiraram." (vv.19 e 20)

O impacto que a Salvação Eterna causou na vida desse homem é mesmo extraordinário, visto que Jesus manda-o anunciar o Milagre em sua casa, aos seus familiares, e ele se retira e começa a publicar a bênção em Decápolis (conjunto de dez cidades)... É que o gozo da Salvação Eterna experimentada pelo crente no Senhor Jesus Cristo extrapola todas as restrições. Não dá para ficar só com a gente!

Recebo, pois, esta belíssima História do louco geraseno com transportes de júbilo, pois ela volve-me ao Livro do Profeta Isaías, fazendo-me saber o quanto o Caminho Santo da Salvação Eterna é claríssimo, a ponto de nele não errar os caminhantes, até mesmo os doidos: "E ali haverá uma Estrada, um Caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo não passará por ele, mas será para os remidos. Os caminhantes, ATÉ MESMO OS LOUCOS, nele não errarão." (Is.35:8). Aleluia!

Lázaro Justo Jacinto


Autor: Lázaro Justo Jacinto


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