Ditadura da Vaidade



Não me preocupo muito por não ter músculos torneados e bem definidos ou ter o corpo "sarado" como a moda exige. Não me estresso por não possuir uma silhueta corporal defendida pelo cinema, televisão e revistas de fofoca.

Não me preocupo com nada disto simplesmente pelo fato de não ser uma marionete das propagandas de empresas de cosméticos, roupas, academias e clínicas de estética. Que nos obrigam a ter um corpo "bombado" ou magérrimo como se fôssemos estrelas dos filmes de Hollywood ou estrelas das passarelas do FASHIONWEEK.

Querem que cada menina e mulher, homem e menino se pareçam com os modelos esqueléticos das passarelas de moda e com os "Arnold Schwarznegger" da vida. Mas estão preocupados não pela nossa saúde mas por que querem nos vender cada vez mais produtos de beleza, vitaminas e cirurgias plásticas.

Não existe mais lugar para pessoas normais?
Não existe mais lugar para as pessoas simples e mortais?
Não existe mais lugar ao sol para as pessoas que mesmo não possuindo a silhueta da Barbie ou a silhueta do Brad Pitt sejam capazes de amar, serem amadas, serem aceitas e serem felizes?

É preciso realmente modelar o corpo ao gosto das academias e ao gosto dos estereótipos que malham o corpo e atrofiam o cérebro? É necessário realmente se vestir, alimentar, e maquiar-se ao gosto dos estereótipos que mostram um rosto falso enquanto escondem o verdadeiro atrás de pesada maquiagem?

Ainda acredito em pessoas que tem a liberdade de serem o que querem e não o que os outros dizem para elas serem. Acredito em um mundo onde as pessoas não são escravas da "cultura de um corpo escultural" criada e mantida por empresas que não se preocupam em transformar as pessoas em pessoas saudáveis mas torná-las pessoas massificadas e manipuladas.

A preocupação da ditadura da vaidade é em escravizar-nos nos tornando consumidores ansiosos, inconscientes, inconseqüentes e insistentes, consumindo cada vez mais produtos que "embelezem" a aparência e enfeiam o espírito. Tornam-nos tão medíocres a ponto de defendermos uma permanente beleza externa e esquecermos do cuidado da beleza interna.

Descuidamos do ser humano dentro de nós para cuidarmos do externo, do corpo, do físico e não da alma e não do espírito. Assim nos tornamos dia após dia pessoas egoístas, autoritárias, dominadoras e incontroláveis no trânsito e na rua. Tornamos-nos dia a dia pessoas narcisistas, orgulhosas, violentas, impacientes e intolerantes com todos os que estão à nossa volta.

Quase todo encontro social acaba por ser uma disputa de quem é o mais belo, o mais magro, o que tem o corpo mais perfeito ou sobre quem está mais bem vestido, maquiado e com melhores acessórios.

Raramente nos reunimos para falar simplesmente da alegria de viver e de ser o que somos ou ter o que temos, ainda que seja menos do que os outros possuem. Reunimos-nos quase sempre para falar da tristeza de querer ser aquilo que não somos e sobre o desejo de ter aquilo que ainda não temos. Reunimos-nos quase sempre para falar das mortes causadas por acidentes de transito ou pelos assassinatos causados pelas brigas e confusões conseqüentes da nossa ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e outras drogas como a cocaína e o crack.

Não nos alimentamos mais pelo prazer de nos alimentar, mas alimentamos-nos preocupados em não engordar. Não vivemos mais por viver, mas vivemos em uma busca eterna das "medidas perfeitas" do "rosto perfeito" e do "par perfeito" Vivemos e nos comportamos como se todos nós fossemos modelos a desfilar diariamente nas passarelas da moda. Vivemos como quem vive em um eterno concurso de beleza, não admitimos mais viver uma vida normal uma vida comum.

Quando nos vestimos, nossas roupas não são simplesmente para nos deixarem confortáveis e bonitos mas nossas roupas transformaram-se agora em expressão de poder sobre as demais pessoas. Nossas roupas e a forma de nossos corpos devem demonstrar agora que estamos antenados com as ultimas tendências mundiais da moda e da malhação.

Vivemos subjugados e escravizados por um gigante insensível que modela nossa vontade própria, nos induzindo ao consumo desnecessário de produtos e nos manipulando entre lançamentos e mais lançamentos de produtos da moda do momento. Vivemos na era do exibicionismo. Era na qual tudo o que fazemos é somente para mostrar ao outro ser humano como nos vestimos melhor e como nos alimentamos melhor, tudo o que fazemos é somente para mostrar ao outro ser humano que possuímos coisas melhores, que ouvimos um som melhor, que moramos em locais melhores e que nos "divertimos" melhor.

Veste-se para exibir a roupa que se veste, alimenta-se para exibir o tipo de alimento consumido, vive-se para exibir o tipo de vida que se vive. Exibe-se o corpo, exibe-se a roupa, exibe-se o consumo do alimento, exibe-se a magreza, exibe-se a nudez e é claro, exibe-se a insensatez.

Insensatez de mentes vazias e prisioneiras de um mercado que explora a falta de confiança e segurança naquilo que somos e possuímos. Levando-nos a crer que devemos ser o que não somos e devemos possuir aquilo que não necessitamos.





Geraldo Goulart. Março de 2011.

Autor: Geraldo Gerraro Goulart


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