TORCEDOR: Desrespeito à Pátria, à Vida e à Morte!



Quando eu era jovem, para situar melhor, entre 1965 e 1975, período no qual passei estudando em escola pública, sabia muito bem o valor do respeito às instituições, aos mais velhos, aos professores, à bandeira e ao hino nacional.

Estudei em uma excelente escola pública estadual, como a maioria das pessoas da minha idade. Sabíamos exatamente como nos comportar diante desses símbolos. Nossos pais eram exigentes em tudo, em especial quando se fazia necessário cumprir algum ritual de respeito.

Além daquelas conhecidas palavras mágicas, obrigado, por favor e com licença, éramos ensinados a não interromper conversas dos mais velhos, portar-se corretamente à mesa, não falar palavrão, etc. Esse era o padrão da família brasileira, independentemente da classe social ou grau de estudo.

Na escola, o professor quando entrava em sala de aula, era recebido em pé por todos os alunos, em absoluto silêncio. E coitado daquele que fizesse alguma gracinha. Era levado para a Diretoria e corria o risco de ser suspenso, expulso ou jubilado, esta última como pena máxima para um aluno em curso num colégio público.

Ao ouvir o hino nacional, em qualquer lugar que estivesse, mandava o padrão da época, que você parasse e ouvisse-o atentamente.
Pois bem, três décadas depois, deparamos com uma situação muito diferente e, lamentavelmente, muito pior.

O Hino Nacional foi banalizado (diferente de popularizado). Ele é desvalorizado e desrespeitado em quase todos os eventos populares. É claro que é desejável vê-lo entoado em todos os lugares e por todos os níveis e classes sociais, mas também gostaríamos de ver preservados os valores que estão embutidos no sentido que ele nos trás. São nesses singelos momentos que o exercício do patriotismo é percebido.

Na última quarta-feira, 16/03, presenciei, juntamente com milhares de pessoas que assistiam ao jogo Uberaba X Palmeiras, na cidade de Uberaba/MG, mais uma cena de desrespeito ao Hino. Enquanto era executado, centenas de torcedores apenas o ignoravam e pulavam nas arquibancadas. Os jogadores, na maioria, apenas simulavam o canto, movimentando os lábios como que perseguindo os versos.

Cena mais chocante ainda veio a seguir. Todos os jogadores se reuniram ao centro do campo para, em um minuto de silêncio, se juntarem ao mundo em prece, em respeito e solidariedade ao povo japonês pela tragédia causada pelos terremotos. Enquanto isso, a torcida permanecia eufórica, gritando e pulando, como se assistissem ao desfile da sua escola de samba preferida.

Não, não é verdade o que estou vendo!

Sim, é verdade. Não sei nem como classificar tamanha violência contra os valores da vida e da sociedade.

Preocupa-me ser esta a geração que nos substituirá nos postos de comando do país, nas instituições militares, nas representações diplomáticas, nas direções escolares, sem, no entanto, apresentar lastro de estima e consideração que valorizem a dignidade e a cidadania.

É bom que se diga que o lamentável episódio não ocorreu apenas no evento mencionado, é apenas uma amostra daquilo que ocorre em todo o país, com a esmagadora maioria dos jovens dessa geração, em eventos dessa natureza. As cenas de violência entre as torcidas denunciam o grau de selvageria que impera nos estádios de futebol, como se a vida fosse apenas um detalhe.

Na sociedade, nenhuma instituição substitui o papel da outra. Os pais não podem, por exemplo, atribuir à escola a obrigação de educar os seus filhos naquilo que é próprio dos núcleos familiares. O papel da família é insubstituível e o que se aprende em casa serve para a vida toda.

Já está passando o tempo dos clubes de futebol, grandes empresas, cumprir melhor o seu papel social. Que deixem de apenas incentivar e oferecer escolinhas de futebol, pensando apenas na formação de novos quadros e bons lucros. Que pensem na formação do caráter do profissional que hoje começa a ganhar muito dinheiro desde aos 16 anos. Nessa idade o jovem tem que pensar em estudar uma faculdade ou um curso técnico, mas os compromissos com o clube acabam por não permitir.

Então, que o clube promova essa oportunidade, criando os meios, viabilizando horários para que o jovem jogador cresça dentro de uma estrutura de formação não só de um atleta fisicamente capaz, mas de um cidadão ciente dos seus deveres para com a Pátria.

O Hino Nacional deve ser cantado por todos, com sentimento e não apenas balbuciado.

Que ocupem uma hora por semana dos seus treinamentos para que seus atletas exercitem a letra do Hino Nacional e aprendam o seu significado.

Tenho certeza que, se os clubes assim o fizerem estarão dando uma grande contribuição à Nação e dando um exemplo dos mais sublimes a sua torcida e à sociedade: a construção do caráter, do respeito e do exercício da cidadania. Eu adoraria ver os grandes clubes de futebol fundando a sua própria Universidade.

Autor: Ailton De Lima Ribeiro


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