Floresta de caqueiras



"FLORESTA DE CAQUEIRAS"


Eu cultivava no quintal da minha casa umas plantas variadas, todas em garrafas PET ou caqueiras improvisadas. Eram mudas de frutíferas e de algumas ervas comuns. Algumas delas eu próprio semeei, outras, colhi ainda pequenas por aí. Ficava pensando, às vezes, o que faria com aquelas mudas quando estivessem no ponto para serem plantadas em um local onde pudessem crescer à vontade; e isto parecia-me um problema difícil de resolver pois eu não possuía nenhum terreno disponível para isso. Olhando ao redor na vizinhança e , enfim, por toda a cidade percebi que as pessoas não têm o hábito de cultivar plantas, de semear árvores; pelo menos a maioria delas. E isso é um problema grande já que esta nossa região é seca na maior parte do tempo e apresenta altas temperaturas que incomodam bastante.
Com o passar do tempo, cuidando dessas plantinhas acabei interessando-me mais pelo assunto. Tomei a iniciativa de pesquisar alguma coisa sobre como preparar o cultivo, fertilizar o solo e até descobri algumas receitas para fazer defensivos contra as pragas de modo doméstico, reconhecendo o valor do princípio de não contaminar as plantas com agrotóxicos, o que é, aliás, uma tendência muito especial para o futuro do agro-negócio. Nessa levada pude compreender como transformar parte do lixo orgânico que se produz numa casa em adubo através do processo de compostagem. Mais do que isso, acabei concluindo que fazendo disso um hobby o conhecimento até pode ser superficial, mas, pensando em algo mais produtivo, comercialmente falando, o domínio das técnicas de manuseio e de produção é imprescindível. Este detalhe me fez refletir sobre como sofrem os trabalhadores rurais que ainda não estão preparados tecnicamente e financeiramente para encararem o campo como um negócio lucrativo, um empreendimento de verdade. Como estão sendo enganados tantos cidadãos brasileiros com essa falácia de reforma agrária resumida a jogar o trabalhador despreparado e desamparado em um lote qualquer de assentamento rural deixado à sua própria sorte.
A essa altura, passados vários meses, não conto mais com a obrigatoriedade de situar cada planta em um terreno, uma praça, quintal ou coisa do tipo. Penso simplesmente que o melhor a fazer é continuar cuidando delas e ampliar o meu humilde canteiro. Em algum momento as colocarei em caqueiras mais apropriadas, maiores, lhes darei um pouco mais de espaço e certamente serão muitos vasos distribuídos pela casa. As frutíferas poderão gerar frutos quando estiverem adultas; eles serão menores é claro, mas, serão frutos, ora!. As flores ornamentais também surgirão no tempo certo, e, as ervas serão muito bem apreciadas como chás ou na cozinha temperando algumas receitas, aliás, cozinhar é outro dos meus hobbies.
Entendo que a questão principal não é o futuro dessas mudas, mas, o presente a que elas pertencem. Hoje elas produzem oxigênio e contribuem com a melhoria da qualidade do ar que respiramos. Elas não estão esperando ficar adultas para só então fazerem o seu trabalho; em vez disso, Agora, elas já fazem parte da realidade importante de ajudar incondicionalmente. Isto não é o que o mundo precisa???
Se todos os moradores desta cidade elegessem a atitude positiva como meta, a comunidade teria menos problemas. Falando acerca do verde; já imaginaram se boa parte dos cidadãos tivessem um jardim em seus lares? Mesmo que não se transformassem em bosques esses jardins abençoariam a paisagem natural. Mesmo que fossem transitórios ainda assim serviriam ao seu propósito original, pois, o revezamento proporcionado pela alternância entre um jardim que morre e outro que começa a ser cultivado faria com que a refrescância das flores não se ausentasse definitivamente, apenas, mudasse de um lar para outro.
Assim é também para com as responsabilidades maiores da moral e dos bons costumes. Todo mundo fica esperando uma redenção ilusória que nunca virá! Ou devemos pensar que ninguém espera nada de fato, apenas segue pela vida sem almejar Chegar a lugar nenhum? Enquanto nos afogamos em conjecturas ou ignoramos a necessidade de racionalizar a própria existência dando-lhe um sentido concreto o mundo pede socorro por nós. As pessoas não escutam esse pedido e agem como se não fosse para elas mesmas o tal pedido de socorro. É irônico; alguém pedindo ajuda por você e o que ele recebe é desdém. Dura e triste a realidade humana.
Uma floresta de caqueiras é motivo de algazarra para muitos observadores ociosos. É um teste de paciência também, na medida em que o semeador não tem necessariamente a perspectiva de vislumbrar um dia uma grande área coberta de verde por suas próprias mãos. Porém, tal circunstância tem a força para produzir um belíssimo momento de reflexão: "Aquele que não semeia a terra porque sabe que nunca receberá os louros pela mata que ali florescerá já está atrofiado no visgo da resina da árvore que nunca plantou..."

Autor: Manoel Florencio Leite Neto


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