MEMÓRIAS DA DANÇA EM ALTAMIRA: O SURGIMENTO DO GRUPO PARAFOLCLÓRICO "COCO VELHO QUE DÁ AZEITE"



MEMÓRIAS DA DANÇA EM ALTAMIRA: O SURGIMENTO DO GRUPO PARAFOLCLÓRICO "COCO VELHO QUE DÁ AZEITE" Débora Santos de Sousa Érika Souza da Cruz Francisca das Chagas Lima Alho Tatielle Lima da Silva Thays Ritter Acadêmicas do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física Universidade do Estado do Pará Emerson Araújo de Campos Esp. Lazer. Universidade do Estado do Pará GTT 7- Memórias da Educação Física e Esporte RESUMO Este estudo relata a história do Grupo Parafolclórico "Coco Velho que Dá Azeite" do município de Altamira-Pará. A metodologia utilizada foi a historia oral, feita com o fundador do grupo Silvino Pantoja de Souza. Foi identificado na pesquisa o surgimento do grupo, bem como as principais justificativas para sua organização na valorização do idoso. Também foi feita identificação de uma série de perspectivas de investigação com a dança na região transamazônica, e de possíveis novos levantamentos de memórias em história oral sobre sua prática nessa região. INTRODUÇÃO Nossa pesquisa visa relatar a história do Grupo Parafolclórico "Coco Velho que Dá Azeite" do município de Altamira - Pará, contada pelo fundador do grupo. Surgido na década de 1970, tem 31 anos de história, e é composto preferencialmente por idosos, apresenta-se no estilo da quadrilha junina. Uma curiosidade é que só podia compor o grupo pessoas idosas, mas hoje, houve abertura para que pessoas com faixa etária superior a 40 anos pudessem dançar. Esse mergulho no processo de formação do grupo foi relatado a partir da história oral, pois é capaz de produzir interpretações sobre os processos históricos referidos a um passado recente, o qual, muitas vezes, só é dado a conhecer por intermédio de pessoas que participaram ou testemunharam algum tipo de acontecimento, é um momento no qual lembranças são ordenadas com intuito de conferir, com a ajuda da imaginação ou da saudade, um sentido a vivência do sujeito que narra a sua história. (SANTOS, s/d) Neste caso, usamos a história oral por entendermos que a memória é necessária a compreensão e percepção da realidade, e é o que torna possível a percepção das transformações operadas na sociedade. Um relato fundado na memória é uma forma de superar esquecimentos, de reelaborar significações e (re) estabelecer relações com o passado, permitindo aprender à dinâmica da própria sociedade. Para tanto, a história oral permite na sua geração de documentos uma característica singular: os documentos são resultados de um diálogo entre o sujeito e o objeto de estudo, o que o leva a buscar caminhos alternativos de interpretação. A instância da memória passa a nortear reflexões históricas e isto acarreta desdobramentos teóricos e metodológicos importantes (PORTELLI E THOMSON, 2002). METODOLOGIA Para a coleta de dados foram feitas entrevistas não dirigidas, pois prezam pela liberdade ao entrevistado, que poderá expressar suas opiniões e sentimentos (MARCONI e LAKATOS, 1999). O entrevistado foi o Sr. Silvino Pantoja de Sousa fundador do Grupo Parafolclórico "Coco Velho que dá Azeite". Para início da coleta de dados, marcamos um encontro, como forma de primeiro contato. Nesse encontro foi apresentada a intenção da pesquisa, e a solicitação de possíveis entrevistas com o Sr. Silvino. Aceitando o convite, marcou-se horário, data e local das entrevistas. A princípio foi formulado um roteiro de perguntas despadronizado. Neste tipo de pergunta o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada resposta de acordo com o que achar importante e primordial para o momento. (MARCONI e LAKATOS, 1999) Os registros dos depoimentos foram anotados no momento da entrevista, para maior fidelidade e veracidade das informações, bem como gravadas e filmadas todas as falas, destacando a importância da história oral do Sr. Silvino, na sua contribuição ao surgimento do grupo de dança. RESUTADOS E DISCUSSÕES Nosso primeiro contato foi com o Sr. Silvino Pantoja de Souza atualmente com 65 anos de idade, e que sempre trabalhou como músico. É fundador do Grupo Coco Velho que dá Azeite. Ele fala principalmente como surgiu o grupo e alguns acontecimentos durante o decorrer dos anos. O Grupo Coco Velho que dá Azeite surgiu em 1979, num bate papo com amigos, a partir dessas conversas eles resolveram fazer uma quadrilha de dança com idosos. A primeira apresentação aconteceu com um grupo de 48 pessoas no dia 24 de julho de 1979, numa antiga quadra do colégio SESI, situada na rua 1º de janeiro, em Altamira-PA. Os principais incentivadores foram o senhor Silvino Pantoja de Souza que até hoje colabora com a organização, e, também é um dos brincantes e passistas substituto, e a senhora Valumira de Souza, (Falecida em 11 de setembro de 2004) sua esposa, que colaborava bastante na elaboração das vestimentas. O Sr. Silvino diz que: "Altamira na década de 70 não tinha muito a oferecer para as pessoas idosas, que muitas vezes, por se sentirem sozinhas e sem terem nenhuma ocupação adicional, acharam através da dança um refugio que lhes propiciavam lazer e animação ao estarem praticando-a". Esse dado é apontado por Rigo (2005, pg. 2) que afirma: Na sociedade capitalista ocidental vê-se o idoso como aquele que não tem mais como colaborar em sua comunidade. Essa ótica vem de encontro com a visão utilitarista, que engrandece a concorrência e descarta o que não é novidade. Portanto, a visão do idoso é de doença, incapacidade, falta de autonomia, colaboração e participação. Envelhecer passa a ser sinônimo de peso para os familiares e para a sociedade. Não satisfeitos com a visão da sociedade e para mostrar à juventude que os idosos ainda têm muito "pique" criou-se então esse grupo com o nome bem sugestivo, pois sabemos que o azeite só é tirado quando o coco babaçu esta velho, quando ele esta novo só se retira leite, por isso o nome "Coco Velho que Dá Azeite" demonstrando que essa idade ainda tem muito a mostrar e fazer. O Sr. Silvino afirma que o principal objetivo da formação desse grupo de dança foi incentivar as pessoas mais velhas, tanto que quando as apresentações encerravam, eles faziam uma festa de confraternização e/ou saiam para passear nas praias de Altamira. A princípio cada participante devia pagar suas roupas, mais tarde, a partir de 2004 a prefeitura do município começou a incentivar o grupo dando as roupas das danças todos os anos. Os ensaios eram feitos nas ruas ou em um antigo clube que existia em Altamira chamado Clube América. Hoje os ensaios são feito no espaço Kasarão, uma casa de festa de Altamira. Com os anos o grupo se fortaleceu, o Sr. Silvino afirma que o grupo nunca teve nenhuma dificuldade, pois segundo ele: "se tiver força de vontade e almejar algo, você consegue, só depende de você". Houve pessoas que tiveram pensamentos negativos em relação ao grupo, mas o pensamento positivo reinava sobre eles, afirma. Durante o curso de vida surge a imagem de um crescente processo de controle sobre o corpo que atinge seu platô na vida adulta e decresce na velhice. Ocorre na idéia de Featherstone (1998) a perda progressiva do controle e da competência sobre as habilidades cognitivas, o corpo e a expressão das emoções. Com esse processo também surgem as doenças que acometem a velhice, por esses motivos, muitos dos participantes desistiam, mas haviam outros que persistiam, e neste caso a maior preocupação do Sr. Silvino é levar durante suas apresentações os remédios necessários, principalmente remédios para a pressão arterial. Nesse grupo entram apenas pessoas com idades avançadas, mas existem exceções para pessoas com idade de 40 anos no mínimo. A quadrilha é bem típica, com marcações antigas, onde não ocorre inovação, como por exemplo, as outras quadrilhas de Altamira: Flor da Juventude, Cisne Branco e Beija Flor; que também são grupos Parafolclóricos, que sempre vêm com novidades todos os anos. Os passos são pegos de quadrilhas antigas, a marcação fica a encargo do Sr. Adelino e para substituto o Sr. Silvino, as músicas utilizadas são as juninas, a organização dos integrantes normalmente é 24 pares, os passos principais são as ondas, o grande círculo e o maxixe. As apresentações e os ensaios duram cerca de 20 minutos para não se tornar cansativo. Eles ensaiam três vezes por semana, dois meses antes de começar as apresentações. Para provar que esse costume irá passar de geração a geração, temos como prova muitas vezes a participação dos filhos ou netos. Quando o parceiro do brincante não pode apresentar-se, é substituído por um deles. Hoje eles são apenas substitutos, mais tarde serão os participantes oficiais. Os idosos que participam do Coco Velho que dá Azeite são bem organizados, todos eles são associados através de fichas de inscrição e carteirinhas oficiais de membros atuantes. Desde quando a quadrilha foi formada as apresentações nunca deixaram de acontecer. No ano de 2004 quando ocorreu o falecimento de Valumira Pantoja, O Sr. Silvino pensou em não se apresentar no ano seguinte, mais alguns brincantes falaram: "vamos fazer!" então o Sr. Silvino, junto ao grupo decidiu dar continuidade a quadrilha. As apresentações são feitas três vezes por ano, normalmente a convite da prefeitura, no bairro onde o Sr. Silvino mora e no 51º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva) em Altamira. Há também convites das cidades vizinhas, tais como, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio e Porto de Moz, todas no Estado do Pará. Houve casos em que o grupo não se apresentou em em alguns municípios por medo de andar de barco, único meio para chegar nessas cidades. Houve um convite para participarem da festa da cultura em Belém, mais devido a falta de incentivo da prefeitura (em meados de 2000 a 2004), o medo dos participantes, e a falta de companhia para os idosos o convite não pode ser aceito. Um acontecimento que marcou muito a história do grupo foi sua apresentação de bodas de prata, seu aniversario de 25 anos, que acorreu em 24 de Junho 2004. CONCLUSÃO No depoimento apresentado compreendemos que o fenômeno estudado foi à quadrilha, sendo os fatores principais os idosos, visto que, buscando algo que lhes tragam prazer observaram na dança a oportunidade dessa expressão e vendo nessa atitude a saída para o comodismo. Percebemos que os depoimentos apontaram a intenção para a formação do grupo, a partir de uma realidade que não apresentava perspectivas culturais e de lazer para a classe dos idosos em Altamira-PA. É importante ressaltar que a historia oral nos possibilitou ver de perto a realidade, conhecendo a memória de quem participou como o Sr. Silvino, e apontando dados que não estão escritos. É notório que a dança para os idosos apresenta limites, por exemplo, o cuidado com a forma de dançar que devem ser com passos lentos e com muita cautela em alguns movimentos, pois como bem disse o Sr. Silvino: "o tempo é muito ingrato com a gente, tempo que nos une, nos afasta e nos envelhece", mas que essa atividade vem gerando satisfação aos idosos que dispõem de seu tempo para praticá-la. Além disso, é importante salientarmos que o estudo indicou uma série de possibilidades investigativas no campo da educação física em Altamira, com o conhecimento dança e de possíveis novos levantamentos de memórias, a partir da história oral, sobre sua prática nessa região. REFERÊNCIAS ALVES, Geraldine. Os conceitos de saúde e doença na representação social da velhice Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/937/717 Acessado em 05 de novembro de2010 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo, Ed. Atlas 2007 PONTIFICIE UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC ? RJ). Metodologia Disponível em: Acessado em 05 de novembro de 2010. PORTELLI, A., THOMSON, A., et all. Usos e abusos da História Oral. 5ª Ed. Rio de Janeiro: RJ Fundação Getúlio Vargas, 2002.
Autor: Erika Souza


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