A Esperança De Pandora



Zeus, o deus supremo da mitologia grega, é fruto de uma complicada teogonia que se assemelha à genealogia humana. Bravo e vingativo, o deus dos gregos casou-se inúmeras vezes gerando uma sucessão de deuses menores: Apolo, Hebe, Hermes, as Musas, etc.

Diz-se do estranho chefe do Olimpo que havia ódio em seu coração e que tinha prazer em castigar os homens. E que certa vez, para vingar-se de Prometeu que roubara uma faísca do sol para com ela iluminar a inteligência humana, o mal humorado superintendente celeste resolve castigar os homens fazendo-os perder-se para sempre por meio de um ser extremamente belo detentor de todos os dons, Pandora, a primeira mulher!

Ela é criada e enviada para Epimeteu (o que vê depois), embora Prometeu (o previdente) houvesse aconselhado seu irmão a não aceitar nenhum presente de Zeus de quem desconfiava muito. Ela traz consigo do Olimpo um presente de núpcias para Epimeteu: uma arca de ouro hermeticamente fechada.

Pandora, a primeira mulher, modelada em argila por ordem de Zeus (o mal-humorado deus dos Gregos), a bela, a irresistível, a que sabia tecer, a que foi educada por todos os imortais, astuta, ardilosa, fingida, a que foi enviada a Epimeteu para desgraçá-lo e a toda a humanidade, trouxe de presente de núpcias a "caixa de Pandora". Levada pela curiosidade feminina, ela abre-a antes do momento combinado; dali se evolam todas as calamidades e desgraças que até hoje atormentam os homens (um verdadeiro presente de grego). Fechando, rapidamente, essa caixa de desgraças, só a esperança ficou presa em seu interior.

As calamidades humanas surgem com Pandora, a precursora de todas as Evas. Com ela surge também a esperança, que no dizer popular deveria ser a última que morre.

Desta história rocambolesca, uma espécie de novela da antiguidade, talvez a precursora de tantas outras que pululam nosso universo televisivo, surge a idéia da esperança, o grande sentimento que se pode contrapor a todo o mal que possa estar acontecendo.

A esperança de poder mudar a vida, de transformar a realidade do dia-a-dia, muitas vezes dura, e não menos instrutiva; de chegar a ser uma pessoa melhor, de ampliar a capacidade de sentir, de deixar de ser indiferente diante do sofrimento alheio. Essa espera por um futuro melhor é um presente de Deus para quem saiba reconhecer tal sentimento superior no próprio coração.

Deus não pode ser o pai vingativo que encomenda desgraças de toda a espécie para seus filhos; nem o causador de guerras insanas promovidas por mentes doentias que evocam Seu nome para justificar os seus crimes; nem propriedade privada deste ou daquele povo que nega Sua excelsa paternidade ao partir em cruzadas assassinas contra seus irmãos. Deus continuará sendo um estranho, o grande ausente para o ser humano que não percebeu que é impossível senti-Lo e compreendê-Lo sem antes sentir, compreender e entender-se com os outros seres humanos, seus irmãos.

Se Deus instilou no coração humano a esperança que é sinônima de paciência inteligente e ativa, e não passiva como a de Jó, é para que se reconheça nela Sua infinita sabedoria que está estampada em toda a Natureza e especialmente manifesta na consciência do homem que jaz adormecida como a bela princesa, mas que poderá ser despertada deste trágico e milenar sono que o tem afastado de si mesmo, de seus semelhantes e de seu Criador.

Nagib Anderáos Neto

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Autor: Nagib Anderáos Neto


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