Vidas Secas
Os dois conjuntos são disjuntos, visto que não há um sistema de trocas apenas um mecanismo de opressão e bloqueio, partindo desta analise Afffonso Sant?Anna subdivide a narração em dois subconjuntos: dos elementos humanos: Fabiano, Vitória e os filhos e os infra-humanos: a cachorra Baleia e o papagaio, ao contrario da distancia existente no Conjunto 1 e o Conjunto 2, os dois subconjuntos são ligados por dois pólos de referencias, os elementos humanos que gira em torno do paradigma Homem e o outro pólo ligado ao paradigma Animal.
Entretanto nestes dois níveis existe uma lacuna na medida em que os elementos humanos encontram-se em um grau mais baixo do nível dos Homens em contra partida os infra-humanos estão acima do nível dos Animais, este fator faz com que os humanos se aproximem dos animais e os animais cheguem a um nível de humanização, dentro de um processo de zoomorficação do humano e antropomorficação dos animais.
A integração entre os elementos simétricos dos dois conjuntos acontece com a relação Fabiano/Baleia, Vitória/Papagaio, Fabiano sente-se um homem para depois se achar bicho, já Vitória é comparada com o papagaio por seu esposo por causa de seus pés e o modo de andar. Fabiano e Baleia permeiam um ambiente de trabalho, ela com a caça ás preás e ele com o trabalho no campo e domínio dos animais, já a relação de Vitória com o papagaio se dá pelo fato de ambos possuírem uma "ponta de língua" algo que Fabiano e Baleia não possuem pois apenas "rosnam" e "grunlhem".
No âmbito das aspirações dos personagens o autor retrata FabianoXTomás da Bolandeira, detentor de uma linguagem culta o qual Fabiano admirava, enquanto o sonho de Sinha Vitória é adquirir uma cama igual a de seu Tomás.
O retrato dos filhos assemelha-se aos pais, e os meninos parecem simétricos uns aos outros e não possuem sequer nome próprio, a questão do animalização é novamente abordada na medida em que os meninos são comparados a todo instante a animais e o cadela Baleia é considerada membro da família,o menino mais novo se relaciona com baleia, as cabras, o bode velho e os periquitos, enquanto o menino mais velho reproduzia animais em forma de barro, retratando o único universo que conhecia.
Outro fator importante está na questão da relação do homem com a natureza, Fabiano se considera "plantado em terra alheia" e compara-se com as "catingueiras e as baraúnas" (pág. 21), as cores da caatinga é transferida para os personagens, seja no soldado amarelo, na saia vermelha de Sinha Vitória ou seu Tomás que "passava, amarelo, sisudo". Não somente ocorre a humanização dos animais como também dos vegetais, objetos e paisagem.
Segundo uma critica de Rubem Braga "Vidas Secas" pode ser definido como uma "novela desmontável", sendo vista como uma historia a-historica, pois não se situa em nenhum tempo especifico.
Os motivos que levaram Graciliano Ramos a escrever sua novela desmontável vão desde o "zôo e antropoformismo", até a questão da "linguagem", nesta sua novela a historia propriamente dita é elemento secundário,já que lhe falta a trama tradicional e os mecanismos de clímax e anticlímax.
A falta de comunicação fez com que Fabiano e Vitória se tornem meros objetos com a natureza por ambos não possuírem capacidade de articulação,sempre que tenta se comunicar Fabiano fracassa, porém como dialogar em uma obra onde não existe diálogos,onde toda a construção é na terceira pessoa do singular. Em Vidas Secas existe o dialogo-a-um / e o monologo-a-dois, desta maneira os pensamentos dos personagens é "desmontável" como a própria estrutura da obra.
SANT? ANNA, Affonso Romano de. Análise Estrutural de Romances Brasileiros. Petrópolis: Vozes, 1994.
Autor: Dilmara Gomes Dos Santos Passos
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