Uma deformação afetiva




É difícil termos que admitir, mas com o passar do tempo nossa formação de caráter e valores vão ficando mais visíveis aos olhos do mundo. São todas aquelas premissas que julgamos essenciais a nossa vida. Podem ser regras ou dogmas, ou ainda, paradigmas que pensamos dar a nós um rumo, uma direção. Mas assim como nossa formação é notada, nossa deformação afetiva também passa a ser vista e sentida. É colocar os sonhos e desejos de mulher (ou de homem) acima das necessidades como pessoa (ser humano). É achar que as preferências e prioridades que temos são maiores ou melhores do que as pessoas que vivem ao nosso lado, ou que estão ao nosso redor. Mas a vida cobra essa deformação afetiva. Seja pelas nossas atitudes egoístas (de pensar única e exclusivamente em nós, esquecendo e deixando de lado quem esteve e está fazendo algo por nós). Seja por acharmos que o amor que recebemos é mais importante do que o amor que doamos (mas tem que ser sem interesse ? doar amor por querer algo em troca desvia o sentido da cruz, por exemplo). É quando colocamos a utilidade acima de qualquer significado (ainda que haja isso, mas fica difícil de acreditar nisso). Não adianta falar, tem que fazer! Palavras são bonitas, mas se tornam vazias se as atitudes e os gestos não as concretizarem. Também não dá para confundir deformação afetiva com deformação de caráter. Mas em ambos algo faltou. É uma lacuna que não foi preenchida. Um vazio que tentamos "tapar" com a primeira pessoa que faz tudo por nós (mas que não conhece essa nossa deformação), entretanto, sofrerá quando sentir que o tudo que faz para que nos sintamos bem (pensando que temos a maior e melhor felicidade do mundo ? e é exatamente assim que pensamos) perde sua utilidade se não der para fazer mais, e mais, e mais... Sempre precisa ter mais, ser mais, fazer mais... É só assim que alguém será bom para nós (porque nossa deformação é assim). E quem percebe isso, afasta-se, passa a nos ignorar, a não atender como nas outras vezes, a não retornar nossas chamadas, a não achar que o "para sempre" é eterno. Porque sabe que não é... Na verdade, faz do "para sempre" algo efêmero. Encerra o ciclo antes que ele desvirtue os caminhos da vida. Daí julgamos quem não nos olha mais com predileção alguém inútil, falamos mal, mal conversamos, somente um oi ou um bom dia, e nada mais... O tempo faz com que a distância se prolongue, o respeito acabe e o fim se aproxime. Mas no fim, é melhor assim... Uma deformação afetiva transforma sentimentos, fecha corações e abre os olhos (isso que é bom). Ninguém vai se atrever a ensinar nada, porque depois disso tudo, somente a vida pode dizer se o que formamos com o tempo se deformará após tantas situações tristes e superficiais (geralmente sim). O que é superficial, quando acaba, dá a chance de renascer algo mais verdadeiro (ainda que simples). Um sentimento que "é para sempre", mas que não precisa ser forjado ou "empurrado guela abaixo" como uma obrigação. E a vida seguirá. Nós, ou poucos de nós, tentarão mudar, tentarão enxergar, mas também não farão nada disso e seguirão a vida, com sua formação e deformação afetiva. Com uma lacuna, um vazio, um lugar que fará eco toda vez que alguém se afastar de nós. Uma dor que vai ficando, vai se instalando, mas que jamais ficará acomodada, porque sempre cobrará de nós essa deformação que não prestamos muita atenção e sobrepujamos com aquilo que só nos faz bem (independentemente se faz alguém ao nosso lado sofrer).

Autor: Johney Laudelino Da Silva


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