Crônica de Viagem



Final-de-semana! Ah, sábado, enfim! Dois homens ? um senhor enxuto e
um rapaz ? conversavam lá pelas tantas da boêmia madrugada carioca. O
rapaz, educado, já ouvia (um tanto desatentamente), em torno de duas horas,
as estórias do velho.
Senhor Magalhães, como gostava de ser chamado, era um "senhor senhor". Não era muito atraente, mas outras possíveis aptidões fizeram-no levar ao altar a sexta jovem esposa. Presidente de uma empresa musical, era um senhor elegantíssimo e requintado ao extremo: usava elegantíssimos mocassins, camisa simples, porém, de fino gosto, tinha a barba feita, cabelos brilhosos e charmosas e elegantes marcas de expressão encobrindo sua tez. O jovem Hades era um rapaz que encontrava-se lá pelos seus vinte anos. Menino muito, muito bonitinho, todavia, infeliz entre as mulheres. Vinha de raízes extremamente simples, cursava História na universidade e ia para a louca sarrafada nos finais-de-semana.
Agora, o leitor se questiona: sobre o que esses dois estariam conversando? Magalhães fora apresentado a Hades por seu filho, amigo deste.
- Ora, mas ainda me recordo claramente das lindas paisagens que vi... ? comentava Magalhães ao bebericar seu conhaque, já meio "alto"
- Nossa, é mesmo? Conte-me mais! ? retrucava Hades
O jovem, muito astuto, evidentemente, não deixava de atentar ao animado ambiente à sua volta: os amigos rindo alto nas mesas, bebendo à vera, as pernas das moças que passavam e até mesmo o reflexo da Lua que caía na Rodrigo de Freitas.
- Escalei o Everest, comi finíssimos chocolates belgas, esquiei na Finlândia, tirei fotos com artistas em Hollywood ? apesar de também me confundirem com um - , comi grilos, cachorros e gafanhotos na China, no Japão e na Tailândia, assisti na área VIP três vezes à ópera em Sidney, fui à corridas de "Fórmula 1" e "Indie" em Mônaco...
O rapaz passou a ser tomado por certo nível de inveja ao ouvir tantos feitos...
- Mas e um bom livro, o senhor já leu? ? inquietou-se Hades
- Claro, meu jovem! Matemática financeira, cálculo, mecânica, física nuclear...
- Refiro-me a uma estória, uma boa estória de verdade! O senhor já leu? Hum? ? o menino o questionava veementemente enquanto o velho silenciava ? Já se aprofundou em romances, sonhou com lindas mulheres, lutou em importantes batalhas, derrotou vilões, salvou princesas e visitou o lugar mais irreal, insólito e insano que sua fascinada mente poderia simular? Hum? ? ele puxou o charuto da boca do velho e tragou
Silêncio. Silêncio absoluto. Magalhães discretamente se retirou dali. E sumiu, de repente. Depois, por anos, nunca mais ouvia-se falar dele. Alguns dizem que faleceu; outros, mais otimistas, dizem simplesmente que ele foi ler um bom livro.

Autor: Jessica Finn


Artigos Relacionados


Oh! Coice.

O ímpio

Meu Amigo Ex-drogado

Cifras Da Léo Magalhães Estão Entre As Mais Destacadas Letras De Canções Do Do Nosso País

A Herança

O Falso DemÔnio

Para Refletir