DE MULHER PARA MULHER



No trascorrer do ano, em especial no mes de março, por força do Dia da Mulher, lemos e ouvimos muitas materias jornalisticas acerca do papel da mulher na historia.
São veiculados em todos os meios de comunicação, estatisticas positivas e negativas á respeito das conquistas femininas sem que sejam esquecidos os numeros assustadores do crescimento da violencia praticada contra a mulher.
Não havendo para essa violencia crescente, distição entre idade, cor, escolaridade ou classe social. Ou seja, a mulher agredida ou assassinada, não tem um perfil definido.
Não sou uma "expert" neste assunto, não disponho de estatisticas realizadas por orgãos oficiais ou não e tampouco sou uma feminista ativa. Porem, vejo em comum entre essas mulheres protagonistas de noticiarios ou não, o medo, o desamparo social e emocional embasados na formação cultural de nossa sociedade ainda fortemente machista.
Tenho notado tambem que, os meios de comunicação de um modo geral e o rarissimos centros de apoio que dão assistencia ás mulheres agredidas e seus filhos, dão mais importancia a violencia fisica e as ameaças de morte, deixando quase esquecida uma outra forma de violencia, a agressão moral, emocional.
Eu, como mulher, vivendo nesta sociedade onde ocupamos á cada dia mais espaço, seja como chefes de familia, (com dupla jornada de trabalho) ou trabalhando para complementar a renda de seus companheiros , vejo tambem mulheres já aposentadas que voltam ao mercado de trabalho para contribuir com o sustento dos netos e até dos filhos. E ainda não nos demos conta de que para que se chegue a agressão fisica, houve antes um periodo de tempo onde se desenvolveu a agressão moral, a violencia emocional.
Creio que é partir daí que se abrem os caminhos para violencia fisica, com espancamentos, mutilações, ameaças e finalmente chegando-se aos assassinatos.
O mais terrivel desses casos, é que a maioria das vezes, são presenciados pelos filhos dessas mulheres, atingindo-os de forma direta ou indireta, fisica e emocionalmente.
Infelizmente essses filhos, provavelmente crescerão sem apoio ou tratamento adequado,tornando-se adultos que acabarão por repetir esse comportamento, sejam como agressores ou vitimas.
O conhecimento que tenho sobre esse assunto, resume-se a minha experiencia de vida, no ouvir e observar no meu dia a dia, as mulheres com quem eu tenha algum contato.
As mulheres desconhecidas, são as que se abrem com mais facilidade, sentem-se menos constrangidas ao falar com uma estranha sobre um assunto que lhes trazem dor e sofrimento.
Noto que a maioria absoluta delas tem vergonha de admitir as agressões fisicas de que são vitimas e ainda há o medo do "castigo" por parte de seus companheiros e ainda existe a dependencia financeira, pois pouquissimas tem condições, coragem e apoio para tentar sustentar a si e a seus filhos sem o dinheiro do companheiro.
A essa altura elas já não tem mais amor proprio, estão convencidas de que merecem as agressões de que são vitimas e sentem-se incapazes de procurar algum tipo de ajuda. E vão sobrevivendo entre a violencia e os "arrependimentos" seguidos de pedidos de "perdão" vindos de seus companheiros ou ainda acabam por encontrar a morte.
Quanto a violencia emocional, que geralmente surge antes da violencia fisica, elas não enxergam, nem sequer sabem de que se trata ou admitem essa pratica.
Por isso sugiro á todas nós, mulheres, que comecemos á prestar mais atenção na qualidade de nossos relacionamentos, seja no ambiente familiar, social e até mesmo no ambiente de trabalho, pois nesse campo tambem se pratica violencia moral contra a mulher, muito mais do que imaginamos; assim, encontraremos coragem para admitir e mudar o quadro de agressão que talvez; eu disse talvez, possamos estar sendo vitimas.

Autor: Sandra Oliveira


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